Outros

quinta-feira, janeiro 13, 2011

PHILIP ROTH Nemesis

    NEMESIS  fala sobre a morte e sua tragédia, Roth a partir da história real do surto de polio nos EUA durante a segunda grande guerra, narra esta história que tem a ver com os nossos medos, anseios, temores sobre a morte e sua aparente banalidade.







O senhor não anda matando muitos personagens nos últimos livros?
Será? Me conte.
Além do ator em A Humilhação, há o Marcus Messner, em Indignação; Nathan Zuckerman enfartou - mas sobreviveu...
Zuckerman ainda vai morrer. E há a mulher em Homem Comum que também se mata.
Devemos apreender algo disso?
Suponho que sim. Nos últimos anos, tenho me encontrado cercado pela morte de amigos. E, antes disso, meus pais morreram. Mas, nos últimos cinco anos, morreram meus amigos e meu irmão. Então é muita morte. Você começa a passar mais tempo em cemitérios. Passa algum tempo escrevendo tributos e falando nos funerais. E trata com os sobreviventes dos mortos. Volta para casa e se lembra dos mortos. Então, a morte entrou na minha vida com mais força do que em qualquer outro momento. Acho que, nesse período, perdi seis dos meus amigos mais próximos, a maioria 5 ou 10 anos mais velhos do que eu. A minha reação à morte dessas pessoas não foi de raiva. Não. Foi de tristeza e de incredulidade diante do fato de que partiram. Eu sentia, sim, raiva quando era adolescente, com 12, 13 anos, quando primeiro descobri a morte. Mas talvez tenha sido mais medo do que raiva. A ideia da morte me assustava muito.
"Ele perdera a magia." O senhor já disse que começou A Humilhação a partir daí. Por que o romance decola com a frase?
É uma boa frase de abertura. Eu gosto de declarar o que está em jogo logo no começo de um livro. Então, "Ele perdera a magia" é uma grande declaração. E se torna necessário, ao longo do livro, justificar a declaração.
O suicídio do personagem Simon Axler é uma declaração moral?
Minha? Qual seria?
Ele se mata porque é o que lhe restou?
Eu diria que o componente emocional é mais forte.
O senhor acredita na intimidade profunda entre um homem e uma mulher? Não falo de intimidade sexual.
Sim, com certeza.
Os personagens Simon e Pegeen, em A Humilhação, podem ser lidos como duas pessoas constantemente batendo num obstáculo?
Não ficamos sabendo por que ela vai embora. Pode ser porque já estava cheia dele, ou porque a experiência de ser heterossexual se esgotou, ou porque a diferença de idade é grande demais. Ela pode ter ido embora porque seus pais não gostam do relacionamento, há muitas razões potenciais. Mas, sim, eles têm intimidade real, antes de se separarem.
Sei que o senhor pesquisa bastante as tramas e, quando conversamos no ano passado, mencionou que tinha ouvido uma história sobre um ator que não consegue mais atuar.
Sim, ouvi mesmo.
É verdade que Al Pacino comprou os direitos de A Humilhação para viver Simon Axler no cinema?
Sim.
E o que acha disso?
Ele é um ator esplêndido, esplêndido, não é? Maravilhoso. E o que quer que faça é distinto, imaginativo e você quer assistir.
Quem vai escrever o roteiro?
Alguém vai escrever. Acho que ele contratou um roteirista.
O mesmo roteirista escreveu duas adaptações recentes de romances seus, A Marca Humana e O Animal Agonizante.
Ele é horrível! Não fui eu quem sugeriu. A produtora de cinema o contratou.
Não ficou feliz com a adaptação dos dois?
O roteirista é horrível. Arruinou tudo. Nicholas Mayer, é o nome dele? O roteiro dele para A Marca Humana foi um desastre.
Perdão por concordar.
Não, eu sei muito bem. E depois ele escreveu o roteiro para O Animal Agonizante, com o título de Fatal e foi um desastre também. Mas agora a produtora é do Al Pacino.
O senhor não tentou influenciar a escolha de roteiristas antes?
Não conheço nenhum roteirista. Assisto a alguns filmes que aprecio e suponho que devia ter prestado atenção nos nomes dos roteiristas. Mas não entendo nada disso.
Seu próximo romance, Nemesis, que será publicado em outubro, completaria um ciclo de quatro unidos por um tema?
Eles não foram reunidos ainda, a não ser na minha cabeça. Mas pensei em Nemesis como a conclusão de um ciclo de romances curtos. E os chamo de nêmeses, no plural. Eles começam com Homem Comum, em que a nêmese é a doença e a morte - mortalidade. Em Indignação, a nêmese é a indignação e a guerra. No terceiro, A Humilhação, a nêmese é a circunstância fora de controle que aflige o protagonista. E no romance final é a epidemia de pólio em 1944.
Precisa de silêncio para escrever?
Sim. Silêncio absoluto. Quando eu morava em Nova York era um problema, eu me mudava com frequência. Porque havia alguém com o aparelho hi-fi muito alto. Ou um sujeito batendo na mulher toda noite.
O senhor chegou aqui nos anos 70. Por que escolheu este lugar?
Eu me mudei para cá na primavera de 1972. Tinha amigos a meia hora daqui. O Bill, William Styron, e sua mulher moravam próximos. Num verão dos anos 60 eu fiquei hospedado no estúdio do Bill, enquanto eles estavam em Martha’s Vineyard. Passei o verão sozinho, andei de carro por aqui e gostei muito. E, quando comecei a procurar um lugar no campo, eles me ajudaram a encontrar esta casa e eu comprei rapidamente. Chegou até aqui pelo vilarejo?
Sim.
Não é nem uma cidade, é um quarto de cidade. Não tem correio. Meu endereço postal tem que ser na outra cidade, que tem um armazém, uma loja de ferragens e um banco. Aqui não tem nada. Mas vi que abriram um pequeno hotel, com um nome de Galo alguma coisa. E parece que servem jantar lá…
Não dá para sair e comer fora por aqui.
Só se dirigir muito.
O senhor apoiou o Barack Obama e votou nele. Teria imaginado, diante do otimismo que levou Obama ao poder, que o país estaria logo tão dividido, que haveria um movimento de direita como o Tea Party?
Não teria imaginado mas, agora que aconteceu, acho fácil acreditar na realidade.
Por quê?
Quando o Franklin Roosevelt chegou ao poder, em 1933, para fazer mudanças expressivas no governo, com o país mergulhado na Grande Depressão, a oposição a ele era feroz. Ele ganhou a eleição como o Obama mas a oposição foi imediata e feroz, não menos do que Obama enfrenta hoje. Quando você tem um poderoso novo líder, ele mobiliza a oposição. A oposição não havia desaparecido. Mas Obama conseguiu passar o seguro saúde - foi um começo. E o que ele poderia ter feito sobre o desastre do Golfo do Mexico? Quanto mais descobrimos sobre a BP, mais irresponsáveis eles parecem.
A mídia americana não critica Obama por confiar na força de sua retórica, do discurso eloquente e, em seguida, o critica por não expressar indignação o bastante?
Eu não compreendo este papo da indignação, o importante é oferecer soluções práticas e não tratar de emoções. Ele está sob uma pressão tremenda, sendo muito criticado e a direita está fazendo tudo o que pode para enfraquecer Obama.
O senhor vai muito a Newark, sua cidade natal?
No ano passado, em outubro, fiz uma visita divertida a Newark. É difícil se divertir com Newark. É um lugar devastador. Você deve conhecer o bairro português lá. É a melhor área, no distrito Ironbound, na minha infância era uma favela industrial. Eu me juntei a um tour de ônibus que se chama "A Newark de Philip Roth". Há uma mulher do Comitê de Monumentos e Preservação da cidade que lidera o tour algumas vezes por ano.
Os turistas levaram o maior susto ao vê-lo?
Eles ficaram meio atônitos, sim. Peguei o ônibus e havia uma turma da minha escola secundária, 10 anos mais novos do que eu, celebrando um aniversário de formatura. Parte da celebração era fazer o tour. E o ônibus foi passando por todos estes lugares que aparecem nos meus livros. Nós paramos na frente de um hotel decadente que, na minha época, era o chique Hotel Riviera. Riviera, imagine. Foi onde minha mãe e meu pai passaram a primeira noite do casamento. Se meus pais fossem vivos estariam morrendo de rir. Tenho certeza de que sua primeira noite não foi nada incrível. (Risos) Tenho certeza de que foi uma noite meio quieta. Eu me diverti, desfrutei daquele dia. Passamos por uns 10 ou 12 lugares e acabamos na casa onde passei a infância, na Avenida Summit. Agora há uma placa lá registrando o tombamento da casa.
Quem vive lá?
Uma moça negra que hoje é minha amiga, Roberta Harrington. Um amor, Mrs. Harrington. Agora que puseram a placa, ela quer que a prefeitura tome providências sobre o gramado. Escrevi para o antigo prefeito pedindo ajuda. Na rua, há a Praça Philip Roth.
O senhor deu aula de escrita criativa em Iowa, mas depois criticou esses cursos como "o equivalente a estudar rabiscos".
(Risos) Eu disse isso? Eu dei aula em Iowa de 1960 a 1962.
Foi compensador?
Sim, eu era casado na época, precisava me sustentar e ganhava US$ 5.500 por ano. E já não era muito dinheiro em 1960. Sempre não foi muito dinheiro.
Ainda acredita que seja bobagem ensinar escrita criativa?
Sim. Ensinam isso no Brasil?
Contraímos tudo o que vocês transmitem.
Acho que é uma grande perda de tempo.
Tenho uma confissão a fazer. Este livro encapado no meu colo é Nemesis. Consegui as provas do seu próximo romance com um conhecido seu.
Que bom.
Estou sob o impacto da leitura, acabei durante a noite. Uma beleza.
É mesmo? Agora pode desencapar o livro.
Este romance, bem diferente dos três livros anteriores, é mais evocativo.
Sim, é verdade. De certa forma, ele volta à Conspiração Contra a América. Ali, a comunidade estava ameaçada pelo fascismo, ou o que considerava fascismo. E aqui a comunidade está ameaçada pela pólio. Há ameaças nos três romances anteriores, mas aqui é especial. Quando comecei a escrever Nemesis, eu pensei, o que mais representava uma ameaça no tempo em que eu cresci? Nasci em 1933, em plena Grande Depressão, só que era jovem demais para ter uma experiência direta. A primeira experiência forte que tive foi a Segunda Guerra. Eu tinha 8 anos e era uma criança inteligente. A guerra me assustava e eu acompanhava tudo pelo rádio, jornais, ouvia meus pais e os amigos deles conversando. E perguntei, o que mais nos ameaçava? Lembrei que era a pólio. Era uma ameaça tão grande quanto a guerra. Os nossos pais viviam mais ainda a ameaça. Nós sabíamos que ela existia e saíamos para brincar. A realidade não era compreendida pelas crianças. Até um amigo contrair a doença. O que aconteceu com todo mundo, comigo também, um menino na minha rua contraiu pólio, quando eu tinha 11 anos. E nos forçou a enfrentar o fato de que a ameaça era real. A vacina apareceu em 1955, quando eu fazia mestrado em Chicago. Em dois anos, a doença desapareceu. Portanto, qualquer americano com menos de 50 anos não sabe o que é a pólio, só sabe o que é a vacina.
A pólio formou a sua percepção da mortalidade?
Não só isso, mas percebi que havia coisas sobre as quais não tinha controle. Coisas que chegavam e transformavam a gente num aleijado. Ou nos matavam. E não havia proteção, a doença poderia escolher arbitrariamente quem contaminar e destruir.
O senhor já está trabalhando no próximo romance?
Não.
Por que o senhor disse que preferia escrever um livro só até morrer?
Porque esta história de começar e completar e começar de novo é um inferno.
Não precisa se livrar de um romance depois de algum tempo?
Não, eu preferia ficar escrevendo continuamente e, quando eu morrer, eles publicam.
Não é bom entregar um romance para os leitores?
Mas o problema é que você tem que começar o próximo! E começar o novo livro é puro inferno.
O senhor já disse, com ironia, que o comitê do Prêmio Nobel de Literatura não o tem decepcionado, ano após ano. Há muitos que o consideram o grande injustiçado desta honraria. Alguma vez pensou no discurso que vai escrever se ganhar o Nobel?
Não. (Roth abre um sorriso maroto.) Vamos lá fora que eu lhe dou a resposta. (Paramos no meio do imenso gramado, cercados de árvores centenárias.) Aqui está. Olhe em volta. Eu preciso de um Nobel quando tenho isso tudo? Agora vamos continuar caminhando. Vamos buscar a correspondência na caixa do correio.

quarta-feira, janeiro 12, 2011

JONATHAN FRANZEN: Freedom


Uma das leituras programadas para 2011 é FREEDOM  de Franzen, apontado por lá como o melhor de 2010.

segunda-feira, janeiro 10, 2011

by Malcolm Gladwell OFFENSIVE PLAY

ANNALS OF MEDICINE

Offensive Play

How different are dogfighting and football?

by Malcolm Gladwell



Read morehttp://www.newyorker.com/reporting/2009/10/19/091019fa_fact_gladwell#ixzz1AgsVKoHr








One evening in August, Kyle Turley was at a bar in Nashville with his wife and some friends. It was one of the countless little places in the city that play live music. He’d ordered a beer, but was just sipping it, because he was driving home. He had eaten an hour and a half earlier. Suddenly, he felt a sensation of heat. He was light-headed, and began to sweat. He had been having episodes like that with increasing frequency during the past year—headaches, nausea. One month, he had vertigo every day, bouts in which he felt as if he were stuck to a wall. But this was worse. He asked his wife if he could sit on her stool for a moment. The warmup band was still playing, and he remembers saying, “I’m just going to take a nap right here until the next band comes on.” Then he was lying on the floor, and someone was standing over him. “The guy was freaking out,” Turley recalled. “He was saying, ‘Damn, man, I couldn’t find a pulse,’ and my wife said, ‘No, no. You were breathing.’ I’m, like, ‘What? What?’ ”


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quarta-feira, janeiro 05, 2011

2666 até q se finde.

“ they want to watch the great masters spar, but they have no interest in real combat, when the great masters struggle against that something, that something that terrifies us all, that something that cows us and spurs us on, amid blood and mortal wounds and stench. ”


Amalfitano sobre o gosto de alguns.



o engraçado das resenhas do livro de Bolaño é que elas estão sempre limitadas a primeira das cinco partes do livro, dando quase a entender que o camarada não teve pique de ir mais longe.


No livro, Santa Teresa é a fronteira extrema do faroeste globalizado para onde os personagens de cada capítulo convergem e mal se cruzam: um pequeno grupo de acadêmicos na trilha de um autor alemão recluso e misterioso; um professor universitário viúvo, exilado da Espanha e desesperançado do México; um repórter negro de Nova York enviado para cobrir uma luta de boxe; um investigador de polícia que mantém um caso amoroso com uma psicóloga enquanto cadáveres de mulheres são desovados no atacado pelos enormes terrenos baldios entre as fábricas maquiladoras que pipocam pela fronteira; e, por fim, um capítulo que nos leva até o front russo da Segunda Guerra Mundial e que promete dar a chave para uma montanha de mistérios, mas só faz espalhar mais uma leva de pistas falsas. Os círculos não se fecham, as histórias são deixadas no ar, mas fica-se com a sensação de que todas elas continuam seguindo seus cursos, e se multiplicando na cabeça como uma desova ininterrupta de cadáveres de mulheres violadas, muito depois da última linha. 
revista bravo. 


agora o melhor artigo que li até agora sobre o livro..

In the days before his death, Bolaño asked his editor to publish the five sections of “2666” individually, in order to secure a sizable inheritance for his children. After consultation with Bolaño’s wife, the publisher issued it as a single volume. (The book, which is eleven hundred pages long, is currently being translated by Wimmer.) “2666” has hundreds of characters, but in a sense its protagonist is Santa Teresa, a town in the Sonora Desert where impoverished Mexicans labor in maquiladoras, the low-wage factories that have proliferated in the era of globalization. Santa Teresa is modelled on Ciudad Juárez, where, since 1993, the corpses of more than four hundred young women—many of them mutilated—have been found in garbage containers or vacant lots. (Almost none of these crimes have been solved.) In the novel, a parallel massacre has taken place. The plot of “2666” is byzantine—in a variation on “The Savage Detectives,” it hinges on the hunt for a reclusive Prussian novelist who, admirers believe, has hidden himself in the Sonora Desert. But, at its core, “2666” is a testament to the unredressed evil of the murders. The fourth section, “The Part About the Crimes,” offers a sickeningly comprehensive account of the killings, written in the frigid tone of a forensic report. This litany is interspliced with accounts of corrupt police officials, one of whom jokes, “Women are like laws, they were made to be violated.” More than three hundred pages long, it may be the grimmest sequence in contemporary fiction.


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segunda-feira, janeiro 03, 2011

a leitura lerda-lenta de 2666

faz quase um ano que estou tentando ler 2666, até agora já li conforme o kindle, 22 por cento do livro, ja pulei para varios livros e voltei a ele- já caminhei mais longe no suite française,

2666 está ficando como submundo do don dellilo, livro que sempre começo e nunca termino.

as mil e uma citações de outros autores, que nem sempre se sabe se são ou não autores, falta arcabouço literário para ler o livro...será, ou paciencia para chegar ao fim.

havera um fim- onde está o ponto de interrogação neste netbook

neste momento, me deparo com um texto do new yorker, do book bench, sobre a velocidade da leitura de 2666:


NATIONAL READING “2666” MONTH: DAY TWO
Posted by Ligaya Mishan
Welcome to National Reading “2666” Month. A confession: I started reading Roberto Bolaño’s “2666” on December 27th, out of fear that I wouldn’t be able to finish it in thirty-one days. I’m reading it almost entirely in the dark, clutching the hand of my six-month-old daughter, whose deeply idiosyncratic sleeping patterns require me to lie next to her while she naps. I squint at the words, translate shadows. It seems fitting.
My first impression: Borges, hovering, like a guardian angel. I’m curious. I want to know what happens next. But there are an awful lot of dream sequences. Didn’t Paul Bowles once say that there’s nothing so boring as other people’s dreams?
Thanks to all the readers who’ve written in to wish us luck in this venture. Matthew Reese assures us that the book won’t be as difficult as we think:
“2666” is fairly large and intimidating-looking, but it reads like a breeze (except the gruesome Book 4, but that has more to do with emotional fortitude, rather than stylistic difficulty). I’m a pretty slow reader and read it in about ten days.
Meanwhile, James Showalter, who as of last night was on page 881, raises a question that we will be struggling with for the rest of the month, and probably beyond:
Bolaño is a poet more than a novelist. He deals in open-ended images, one after another after another after another, their weight burying us in “2666” with dark meaning…well, some sort of dark meaning…yes, there has to be a meaning to all of this…there has to, but…what? I’ve read review after review of this novel that praise it to the heavens but haven’t yet found a critic who can say what this novel means. It’s as though Bolaño wanted people to labor over it, to praise it, to parse it, to cite it, to puzzle it, and for what end? So we can say we believe we know what it’s about?
Anyone care to take a stab at that?


Read more http://www.newyorker.com/online/blogs/books/2009/01/national-readin.html#ixzz1A1KuoqKN


em outro post, há uma questão sobre o que um romance significaria, mais do que um enigma como parece ser o caso dos críticos, o romance para Bolaño estaria mais ligado ao prazer. O autor brinca com a sua própria imagem:

Meanwhile, James Showalter, who threw down the gauntlet in our previous post with the question “What does this novel mean?,” elaborates:
Bolaño is all too aware of himself, which makes parts of this novel very funny. I’ll let someone else call it ironic because, among other things, I think he was having fun with the reader who takes literature seriously, and not just writing a heavy tome full of semiotic clues. He jokes with us. He laughs at us.
Pages 119-123 (hardcover edition) are an example. The European critics have descended on Santa Teresa and meet with Professor Amalfitano. They wonder why Archimboldi would come to Mexico. Amalfitano launches into a long, rambling meditation on literature in Mexico and intellectuals and power. It is a speech that is full of images, the central one being a stage in front of a mine with “stage machinery” that “hides the real shape of the opening from the gaze of the audience” and “only the spectators who are closest to the stage, right up againt the orchestra pit, can see the shape of something behind the dense veil of camouflage, not the real shape, but at any rate it’s the shape of something.” Amalfitano’s speech continues with “roars coming from the opening of the mine and the intellectuals [who] keep misinterpreting them,” intellectuals whose “best words are borrowings that they hear spoken by the spectators in the front row.” He ends his thoughts with these words: “And so on until the end.” The European critics are confused and one tells Amalfitano that he doesn’t understand. Amalfitano replies: “Really I’ve just been talking nonsense.”
How true. And so much of 2666 seems to be just that, nonsense that we invest with our own beliefs. And so on until the end.
And then there’s the refreshingly hardboiled attitude of Josh Lagle:
It’s a damn fine mystery (all kinds of mysteries, really), just don’t go in expecting answers.

Read more http://www.newyorker.com/online/blogs/books/2009/01/national-readin-1.html#ixzz1A1omLAWF  

LIVROS PARA KINDLE

Alguns livros para baixar para o Kindle através do 4shared.

 

 ROBERTO BOLAÑO 2666

 

 

IVAN TURGENEV – A NOBLEMAN´S NEST

 

 

WATCHMAN NEE – A OBRA DE DEUS

EDUARD LE ROY – A NEW PHILOSOPHY: HENRI BERGSON

A MULHER DO FARMACEUTICO - Anton Pavlovich Chekhov

 


A Morte da Razao - Francis Schaeffer

A Microfisica Do Poder - Michel Foucault

A Long Way Down - Nick Hornby

A justica de Deus - Watchman Nee

 

A Invencao de Morel - Adolfo Bioy Casares

 

A INSUSTENTVEL LEVEZA DO SER - Milan Kundera

A Imaginacao e arte na infancia - Lev Vigotsky


 

A House of Gentlefolk - Ivan Sergeevich Turgenev

 

A Hora da Estrela - Clarice Lispector

 


http://www.4shared.com/file/ioh88Xoy/A_Hora_da_Estrela_-_Clarice_Li.html

A Filosofia Na Epoca Tragica Dos Gregos - Friederich Nietzsche

http://www.4shared.com/file/GRGotyZ9/A_Filosofia_Na_Epoca_Tragica_D.html

Por que o Kindle é tão bom?

 http://blog.antonioxerxenesky.com/
Ler no Kindle não é tão bom quanto ler no papel. É muito melhor. E-ink é uma tecnologia de “tinta digital”. O Kindle não tem cores ou brilho. Ele funciona por contraste. Dá para ler com sol forte batendo que não há reflexo. Não rola aquela dor de cabeça de ler textos longos no PC (eu sou muito fresco com isso, nunca consegui ler ebooks no PC). Só vendo para crer. Meu amigo Ductilissimo já me alertara: não tente tirar o papelzinho que vem grudado quando abrir a caixa do Kindle. Não entendi direito, mas não deu outra. Fui abrir o Kindle assim que chegou e pensei: “hmm, como eu tiro esse coisa grudado aqui na tela com instruções de como ligar pela primeira vez?” Não era um papel grudado: era a própria tela em modo de descanso (com as explicações de como ligar pela primeira vez). Mas o que realmente impressiona é a readability. Mudar o tamanho de fonte, o espaçamento, quantas linhas por página &c. Ao limitar a quantidade de texto por página, não existe “edição ruim” ou desagradável. Os livros ficam adequados à preferência pessoal de cada um. Tenho inclusive a impressão de que estou lendo com mais atenção, pois processo as informações em blocos mais comedidos de texto. É impossível fazer a chamada “leitura diagonal”, quando você está meio desatento no livro e vai lendo a página “diagonalmente”, “preguiçosamente”.

domingo, janeiro 02, 2011

2666- Roberto Bolaño

Abaixo segue várias colagens que tentam contar a história das estórias de 2666..



O livro é composto de cinco romances - A primeira história narra a saga de quatro críticos europeus em busca de Benno von Archimboldi, um escritor alemão recluso do qual não se conhecem fotos. Na segunda, há a agonia de um professor mexicano às voltas com seus problemas existenciais. O terceiro romance conta a história de um jornalista esportivo que acaba se envolvendo com crimes cometidos contra mulheres da cidade de Santa Teresa, no México. Na quarta parte do livro, os crimes de Santa Teresa são narrados com o distanciamento próprio da linguagem jornalística das páginas policiais. E, na quinta história o leitor é conduzido de volta à Segunda Guerra, tornando-se testemunha do passado misterioso de Benno von Archimboldi. A parte dos críticos - Quatro intelectuais e críticos literários: um francês, um espanhol, um italiano e uma inglesa, especialistas em literatura alemã contemporânea, mais especificamente obcecados pelo misterioso e fictício autor Benno von Archimboldi, um escritor alemão recluso do qual não se conhecem fotos ou dados biográficos, resolvem seguir uma pista que os leva até a cidade de Santa Teresa, no México (ficcionalização de Ciudad Juárez). Na violenta cidade mexicana, entram em contato com uma realidade local bem diferente da que estavam acostumados em suas respectivas capitais européias e as relações entre eles são influenciadas pelo novo ambiente. O tema dos assassinatos é apenas introduzido de passagem neste capítulo.
A parte de Amalfitano - Este capítulo, o mais curto do livro, é dedicado aos problemas existenciais do melancólico professor de filosofia Oscar Amalfitano que relembra a sua relação na Espanha com a ex-mulher Lola que o abandonou por um poeta. Amalfitano sofre o início de um processo de loucura quando começa a escutar vozes e agir estranhamente. Ele teme pela segurança de sua filha Rosa devido aos assassinatos em Santa Teresa.
Em primeiro lugar, a interessante representação da loucura. Em uma prosa poética que não chega a constituir um exemplo de realismo fantástico, vemos um professor universitário questionando-se sobre seu estado mental. Os sonhos estranhos, a paranoia relativa à segurança de sua filha, as vozes que ninguém mais ouve, o Testamento geométrico que ele usa numa experiência à Duchamp, a degradação do corpo em um ambiente estranho – a água do lugar, que provoca o amarelecimento dos dentes, lembrou-me deAreia nos dentes, de Antônio Xerxenesky, lido no mesmo período desta parte –, tudo corrobora o clima de insanidade.O ambiente mexicano modifica as vidas de outros personagens, à maneira da de Amalfitano: há os que passam a ter sonhos bizarros, os que mudam de pensamento e os que se dão conta de uma realidade totalmente diferente da que tinham presenciado. Mais uma característica que permeia toda a obra.
Finalmente, a segunda coisa à qual me referi. Lá pelo final dessa parte, Amalfitano divaga sobre a literatura, por causa de um farmacêutico que lhe confidencia seus gostos literários: Escolhia A metamorfose em vez de O processo, escolhia Bartleby em vez de Moby Dick, escolhia Um coração simplesem vez de Bouvard e Pecúchet, e Um conto de Natal em vez de Um conto de duas cidades ou As aventuras do sr. Pickwick. Que triste paradoxo, pensou Amalfitano. Nem mais os farmacêuticos ilustrados se atrevem a grandes obras, imperfeitas, torrenciais, as que abrem caminhos no desconhecido. Escolhem os exercícios perfeitos dos grandes mestres. Ou o que dá na mesma: querem ver os grandes mestres em sessões de treino de esgrima, mas não querem saber dos combates de verdade, nos quais os grandes mestres lutam contra aquilo, esse aquilo que atemoriza a todos nós, esse aquilo que acovarda e põe na defensiva, e há sangue e ferimentos mortais e fetidez. (p.225)
No momento da leitura desse trecho, não conseguia parar de pensar em como estava gostando de ler um livro tão longo e bem escrito, em como tinha agido como o farmacêutico ultimamente e em como deveria dar mais chances a diversos “combates de verdade” clássicos, como Um conto de duas cidades – que comprei há anos. Enfim
A parte de Fate - O repórter negro americano Oscar Fate, após o falecimento de sua mãe, vem cobrir uma luta de boxe em Santa Teresa e acaba se envolvendo com o narcotráfico local, em um clima de literatura noire tendo um caso com Rosa. Bolaño, como em todos os capítulos, costura narrativas secundárias que podem se conclusivas ou não, histórias se desdobrando em outras histórias.
 Só depois de algum tempo n’A parte de Fate é que me dei conta que estava diante de um “Fêite” (destino, em inglês), não um “Fáte”: um jornalista cultural, cuja mãe acabou de morrer – sua reação à morte dela me lembrou d’O estrangeiro, de Camus –, enviado ao México para cobrir uma luta de boxe, pois o jornalista especializado na área estava morto. Como sempre, um resumo sem muitos detalhes.
Assim como demorei pra sacar a provável pronúncia do nome do cara, só depois de algum tempo percebi que ele era negro. Ele chega a se questionar em um momento a razão de ter dito que era “americano” a uma vendedora de cachorro quente, e não “afro-americano” – se ele não estava nos Estados Unidos, ele passava a ser outra pessoa? A parte de Fate, ao partir do ponto de vista do estadunidense – politicamente correto pro que todo mundo chama de americano – abre espaço pra uma série de questões sobre a alteridade. A relação entre negros e brancos, entre mexicanos e americanos, ou entre mexicanos de diferentes classes sociais, tudo passa em algum momento pela cabeça de Fate. E o confronto entre os boxeadores Count Pickett e Lino (“El Merolino”) Fernández é apenas uma das peças duma metáfora maior.
Outro detalhe que esperei este momento para comentar é um complemento à comparação que fiz anteriormente com LostMonster e A história sem fim. Quem já viu Lost, por exemplo, sabe que há diversas cenas em que vemos um personagem conversando com outro, oculto na cena e cuja voz ouvimos antes de finalmente vermos o rosto e sermos surpreendidos com uma faceta nova do caráter de alguém que achávamos que conhecíamos. Complicado demais? Concordo. Outro exemplo: duas pessoas, que só se conheceram na ilha, já tinham se esbarrado anos antes e não lembravam. Tá, o exemplo foi bobo demais.
Essas estranhas coincidências e conexões entre personagens também estão presentes em 2666 e, de vez em quando, ocorrem da mesma maneira com que descrevi Lost: às vezes uma característica mínima denuncia que estamos lendo sobre um personagem que já conhecemos: físico, pensamento, atitudes ou voz. Voz? Sim, voz. Mesmo com tantas pessoas habitando as 848 páginas, Bolaño escreveu um 2666repleto de individualidades críveis: tem muito escritor por aí com 15 personagens que são exatamente os mesmos. Se isso já é difícil de fazer, imagina criar uma teia de conexões entre eles que não soe forçada?
N’A parte de Fate, por exemplo, Rosa Amalfitano, filha do protagonista da segunda parte, não só aparece, como se torna essencial para o avanço da trama de Fate no México. Vários outros personagens se cruzam, têm breves encontros, cada um deles imerso em si e sem ideia de seu papel no grande panorama que se forma. Igual a tudo na vida.
A parte dos crimes - É o capítulo mais violento do livro, com descrições dos cadáveres de mulheres violentadas que são abandonados nos enormes terrenos baldios e lixões clandestinos próximos às inúmeras fábricas maquiladoras da região. Chama a atenção o nome do maior desses lixões:El Chile, homenagem estranha ao país natal do autor. As investigações não conseguem ser conclusivas.
 A parte dos crimes
Na primeira parte, a situação não passa de um ruído no televisor ligado, em que ninguém presta atenção; na segunda, é motivo de preocupação para um pai, que não consegue discernir direito se o que ocorre é um fato externo ou mais um sintoma de sua sanidade mental questionável; na terceira, isso incomoda um jornalista de tal forma que ele chega a pensar em investigar o assunto, só para descobrir que os seus editores não querem a pauta por não ser sobre negros, nem sobre americanos.
Mais de duzentas mulheres foram mortas violentamente, a maioria depois de estuprada, em Santa Tereza. Alguns suspeitos foram presos, mas os crimes continuam ocorrendo.
Esta é a parte mais esquemática e jornalística do romance. Após a descrição dos corpos encontrados, com vocabulário médico legal, pouco dá pra saber das vidas das vítimas. A maior parte trabalhava nas diversas maquiladoras, fábricas que utilizam mão-de-obra barata e que tornam a taxa de desemprego da cidade uma das menores do país. Muitas são jovens, entre 18 e 30 anos, mas crianças com pouco mais de 10 anos também entram nas estatísticas. Em geral, são encontradas com as roupas como que intocadas, como se o(s) estuprador(es) e assassino(s) calmamente as houvesse despido e vestido novamente.
Como disse Fernanda Takai, “a gente se acostuma com tudo”. Com parágrafos técnicos sobre os laudos intercalados com outros que dão continuidade à trama, acabamos em situação semelhante à de um dos policiais encarregados do caso do serial killer: (…) e então Juan de Dios Martínez deixava a xícara de café em cima da mesa, cobria a cabeça com as mãos e de seus lábios escapava um ulular tênue e preciso, como se chorasse ou lutasse para chorar, mas quando finalmente retirava as mãos apareciam, iluminada pela tela da tevê, suas fuças de sempre, sua pele infecunda e seca de sempre, sem o mais ínfimo rastro de uma lágrima. (p. 511)
Quem me conhece sabe que eu não sou nada fã de arte engajada: não funciona comigo, fico com os dois pés atrás; panfleto eu guardo no bolso até chegar próximo de uma lixeira, pra não jogar na rua. A questão é que o livro conta tão bem suas histórias que não tem como não pensar em desigualdades e no descaso dos mais ricos com a situação dos mais necessitados. A situação de Fate e o editor de sua revista é uma das menores metáforas para a situação do México na América do Norte, por exemplo. Há também posicionamentos políticos dos personagens, características muito próprias de cada um, mas nada que tenha me parecido doutrinário, o que me causou alguma admiração.
A parte de Archimboldi - Neste capítulo final, o mais perfeito do ponto de vista literário no meu entendimento, o mistério sobre a biografia de Benno von Archimboldi é desvendado e Bolaño, com a sua cultura invejável, nos leva a uma convincente história que tem início no front oriental da Segunda Guerra até revelar os motivos que levam Archimboldi a Santa Teresa.


A parte de Archimboldi
Limito-me a dizer que praticamente tudo que os críticos queriam saber sobre seu escritor alemão favorito está nesta parte. De 1920 até os dias atuais, o panorama é o maior dentre as cinco partes do romance. Belíssimo, violento, poético, criador de novos sentidos e de novas lacunas e pontas soltas, o pedaço final reservado à Archimboldi potencializa o que a obra já tinha apontado.
Li em um mês e duas semanas, mas, além de ter alternado com outras leituras, admito que fiz uma pausa de cerca de duas semanas na metade d’A parte dos crimes, por causa da Bienal do Livro, principalmente. Apesar de longo, o livro tem uma linguagem gostosa de ler e merece ter um tempo reservado só pra ele. Não recomendaria que a leitura se estendesse por muito tempo: há interessantes temas que são retomados, conexões sutis que são feitas e que se notam mais facilmente quando se está devorando o livro.
Podia citar algumas dezenas de coisas que a leitura de 2666 me provocou, mas 1) só vou lembrar quando tiver postado no blog; e 2) já estou escrevendo esse post há quase 10 dias, tentando editar mentalmente o que escrever. Resumindo tudo, diria que a obra me fez quebrar uma série de preconceitos, que já vinham sendo quebrado aos poucos – só não digo como, a respeito da cultura latino-americana e a língua espanhola. Preconceitos relacionados a outros, mais brasileiros, e que durante muito tempo me impediram de ser uma pessoa melhor.
Elipse? Mais uma influência do Bolaño.


TRECHOS

Besides Archimboldi, there was one thing Morini, Pelletier, and Espinoza had in common. All three had iron wills. Actually, they had one other thing in common, but we'll get to that later.


My friend (if I may still call him that) believed in humanity, and so he also believed in order, in the order of painting and the order of words, since words are what we paint with.

go to work for an American university, where the literature departments are just as bad as in Mexico, but that doesn't mean they won't get a late-night call from someone speaking in the name of the state, someone who offers them a better job, better pay, something the intellectual thinks he deserves, and intellectuals always think they deserve better. 


 POR  EM 05/09/2010 ÀS 05:15 PM

Anotações sobre ‘2666’

publicado em 
Roberto Bolaño Se me pedissem um resumo de “2666”, com suas 852 páginas, eu responderia citando Carlos Fate: “2666” é sobre “a variedade interminável de formas com que destroçamos a nós mesmos”. Ou ainda: “Um retrato do mundo industrial do Terceiro Mundo, um ‘aide-mémoire’ da situação atual do México, uma panorâmica da fronteira, uma narrativa policial de primeira magnitude, porra”. É um resumo bastante incompleto, por isso aponto abaixo alguns aspectos do livro de Roberto Bolaño — acredite no hype! — que se relacionam às falas de Fate.
Das cinco partes de que é composto, “2666” vale por três. A primeira, cerca de 160 páginas alucinantes sobre quatro acadêmicos que estudam Benno von Archimboldi, a figura-chave do romance monumental. A quarta, sobre a centena de assassinatos das mulheres em Santa Teresa, versão fictícia de Ciudad Juarez — em que pese algumas partes chatas e dispersas. E finalmente a quinta parte, que amarra algumas, não todas, pontas do livro.
Bolaño tem um poder narrativo excepcional e uma capacidade espantosa para a criação de personagens. De certo modo, é como se ele dispusesse de um orçamento infinito para ter à sua disposição os melhores atores da história do cinema, sendo que a maioria deles faz apenas pequenas participações.
O autor de “2666” põe em cena uma ampla galeria de personagens para abandoná-los depois sem necessidade de explicá-los ou retomá-los. É mais ou menos como se Greta Garbo fosse contratada apenas para aparecer tomando um drinque como figurante enquanto Johnny Deep diz uma fala enigmática e desaparece para sempre. De um parágrafo para outro, o foco da narrativa muda, sem garantias de que voltará ao ponto de onde foi cortado de modo brusco.
Esse processo não é novo na obra de Bolaño. Remete, de imediato, para a segunda parte de “Os Detetives Selvagens”, na qual dezenas e dezenas de personagens contam sua ligação com Arturo Belano e Ulisses Lima.
Em “2666”, mais do que em “Detetives Selvagens”, Bolaño abre a narrativa para um sem-número de possibilidades: novos personagens, novas histórias. Assim como a vida, muitas delas não têm explicação, o que pode soar misterioso para alguns, ou simplesmente frouxo para outros.
A ideia de que “nada fica para trás” é central em “2666”, mesmo que o passado não explique o presente, mesmo que a busca seja fracassada ao final. Assim, o papel do escritor se identifica com o de um indagador: “Fazer-se essa pergunta, uma pergunta que não pensava responder de nenhuma maneira, já o deixou feliz, o encheu de uma felicidade que de certo modo o justificava como pessoa e como escritor”.
O papel do leitor, óbvio, é refletir sobre as indagações perpetradas pelo escritor: “é sempre preciso fazer perguntas, e é sempre preciso se perguntar o porquê das nossas próprias perguntas. Sabe por quê? Porque nossas perguntas, ao primeiro descuido, nos dirigem para lugares aos quais não queremos ir. Consegue enxergar o miolo do assunto, Harry? Nossas perguntas são, por definição, suspeitas. Mas necessitamos fazê-las. E isso é o mais foda de tudo. A vida é assim, disse Harry Magaña”.
Roberto Bolaño também discute o papel da escrita e da leitura, reforçando as ideias acima: “A leitura é prazer e alegria de estar vivo ou tristeza de estar vivo, e sobretudo é conhecimento de perguntas. A escrita, em compensação, costuma ser vazio. Nas entranhas do homem que escreve não há nada”.
Numa conversa entre Ingeborg e Reiter, a moça se refere ao fato de as estrelas estarem mortas e continuarem brilhando para nós. A resposta de Reiter é um dos mais belos elogios jamais feitos aos livros: “Um livro velho também é o passado, um livro escrito e publicado em 1789 é o passado, seu autor já não existe, tampouco existe seu impressor nem seus primeiros leitores nem a época em que o livro foi escrito, mas o livro, a primeira edição desse livro, ainda está aqui”.
Um dos temas fundamentais de “2666” é a oposição entre aparência e realidade. Essa discussão ocorre em todas as partes do livro, envolvendo prostitutas, acadêmicos, discos mágicos de brinquedo, letras de bolero, escritores russos, etc. Na quinta parte, depois de contar uma parábola envolvendo essa oposição, agora aprofundada em desejo x realidade, um personagem finca a bandeira ética do romance: “Não se trata de acreditar (na parábola) — disse Ansky, trata-se de compreender e depois de mudar”.
No meio do livro, um personagem faz uma defesa dos chamados tijolos, os livros enormes. No Brasil, Paulo Roberto Pires, editor da Planeta e da Ediouro, afirmou em seu blog que não lê mais tijolões. Num tempo em que a leitura é cada vez mais rara, em que predominam os microcontos, ler um catatau é uma tarefa para poucos mesmo.
2666A decisão do editor de “2666”, Ignacio Echevarría, de publicar a obra em volume único se revelou acertada no final das contas. Mas a extensão do livro, repita-se: 860 páginas, muitas vezes é prejudicada por certo gosto de Bolaño em ‘retardar’ a narração, divertindo-se em fatos supérfluos, dispensáveis, que cansam o leitor e pouco sentido conferem à narrativa.
Se fossemos nos basear numa das propostas de Italo Calvino para a literatura deste milênio — a velocidade — Bolaño não passaria no teste. “Nos tempos cada vez mais congestionados que nos esperam, a necessidade da literatura deverá focalizar-se na máxima concentração da poesia e do pensamento”, defende Calvino. O que prova que não há um caminho único a trilhar quando se fala em arte.
Quanto ao estilo, Roberto Bolaño gosta de ‘inchar’ o texto, muitas vezes repetindo a palavra quase até o esgotamento ou reiterando a mesma ideia com palavras diferentes, num processo que, na falta de expressão melhor, poderíamos chamar de ‘enumeração tripla’. Um exemplo tirado ao acaso: “chegou a se perguntar seriamente se aquela gente não estava lhe pedindo nas entrelinhas que caísse fora, que parasse de enchê-los, que não voltasse mais”.
Esse inchaço do texto se manifesta em todos os níveis: seja na própria frase; seja nos capítulos; seja nos acontecimentos — é um ritmo de suspense, lento, que vai num crescendo. A informação principal é retardada ao máximo (“as palavras costumavam se exercitar mais na arte de esconder do que na arte de desvelar”, defende um personagem na Parte de Fate). O próprio processo de repetir as palavras como se buscasse se aproximar do objeto, de rodear a coisa na tentativa de fixá-la.
Aqui, entramos no território da ‘coincidência’. Como é óbvio, em algum momento, espera-se que todas as partes do livro se combinem, se iluminem, se respondam. Um personagem que enlouqueceu defende a seguinte ideia: “Meu amigo acreditava na humanidade, portanto acreditava na ordem, na ordem da pintura, na ordem das palavras (...). A coincidência, pelo contrário, é a liberdade total a que estamos expostos por nossa própria natureza. A coincidência não obedece a lei, e se as obedece nós as desconhecemos. A coincidência, se me permite a comparação, é como Deus que se manifesta a cada segundo em nosso planeta. Um Deus incompreensível com gestos incompreensíveis dirigidos a suas criaturas incompreensíveis. Nesse furacão, nessa implosão óssea, se realiza a comunhão. A comunhão da coincidência com seus rastros e a comunhão de seus rastros com os nossos”. O que volta ao ponto já discutido: o de que a vida não tem explicação, de que o quebra-cabeça nem sempre se encaixa, de que algumas coisas não têm resposta, apenas acontecem.
Notar também as apresentações dos personagens. Em uma frase Bolaño é capaz de resumi-los, sem gastar tempo e sempre de uma maneira original. O inchaço do texto como contraponto à economia de descrições e apresentações.
Os nomes também são um capítulo à parte. A escolha não parece ser gratuita. Lalo Cura, que já havia participado de um conto em “Putas Assassinas” chamado “Prefiguração de Lalo Cura”, é o mais são e racional dos policiais que investigam os assassinatos em Cidade de Juárez.
A aproximação entre cultura e barbárie. Dito de outra forma, o fato de que a cultura não é garantia de civilização, ou antes: o fato de que a violência é parte da civilização, de que pessoas cultas não estão imunes à prática da violência. Uma cena, em especial, reforça tal ideia — quando dois acadêmicos, a representação da cultura, da tolerância, da ciência ‘par excellence’, agridem um taxista por um motivo estúpido. Daqui, sai uma frase instigante sobre a violência: “Uma mistura de sonho e desejo sexual”. Convém, também, não esquecer a epígrafe, uma citação de Baudelaire: “Um oásis de horror no meio de um deserto de tédio”. Sempre a violência, sempre a cultura.
Não é de estranhar, portanto, a aproximação entre os crimes ocorridos no México e a Segunda Guerra Mundial, com os campos de concentração nazistas. Os leitores brasileiros ficam à espera da tradução de “La Literatura Nazi em America” para aprofundar tal relação.
Bolaño parece trabalhar com a ideia de que a literatura não tem nenhum valor, nenhum poder, diante da barbárie e da violência. Sua obra, no entanto, é o grande contra-argumento sobre o assunto: ao afirmar essa desimportância da palavra em face da violência do mundo, a própria palavra termina por ser uma afirmação dela mesma como arte, visto a excelência de Bolaño como escritor. Se o mundo é um lugar inabitável, somente na leitura do romance o leitor pode sentir-se integrado ao mundo novamente.
Para encerrar, um pensamento de Amalfitano que também é um resumo de tudo que Bolaño se propôs a fazer em “2666”: “Transformava um bárbaro relato de injustiças e abusos, um ulular incoerente sem princípio nem fim, numa história bem estruturada onde sempre cabia a possibilidade de suicidar-se. Transformava a fuga em liberdade, inclusive se a liberdade só servisse para continuar fugindo. Transformava o caos em ordem, mesmo que a preço do que comumente se conhece como sensatez”.