segunda-feira, abril 30, 2012

A ortodoxia da igreja

Este livro fala da reflexão de Watchman Nee a respeito das sete cartas de João para as igrejas que estão no capítulos 2 e 3 de Apocalipse. A interpretação de Nee tem sempre um aspecto alegórico, espiritual que traz ao texto bíblico um significado novo, vejamos algumas partes:

Na Bíblia, há dois grupos de sete epistolas. Deus usou Paulo para escrever o primeiro grupo – Romanos, I e II Epistolas aos Corintios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses e a I e II Epistolas aos Tessalonicenses; e Deus usou João para escrever os segundo grupo. As primeiras sete Epistolas falam a respeito da Igreja em tempo de normalidade; as últimas falam a respeito da Igreja em tempo de anormalidade.

 As primeiras sete epistolas contém a verdade que a Igreja deve conhecer; as últimas sete epistolas mostram o caminho que a Igreja deve tomar

A primeira parte de cada epistola diz-nos quem o Senhor é, e a palavra que se segue está baseada nesta revelação do Senhor. Quem não conhece o Senhor, não consegue ver a Igreja. A Igreja é a continuação da cruz; não há tal coisa: conhecer a cruz, mas não conhecer a extensão da cruz.  As sete Epistolas começam com o Senhor e concluem com o chamamento aos vencedores.  Quem são os vencedores? Que são os vencedores?  São elas, pessoas especiais, são aqueles que estão acima do nível?  Na Bíblia, os significado de vencedores, é que eles são os normais, os comuns. Aqueles que não são anormais durante o tempo de anormalidade são os vencedores. Hoje, a maioria das pessoas está abaixo do nível. Os vencedores não estão acima do nível, mas no nível. Deus hoje esta chamando os vencedores para que levantem e andem de acordo com o padrão normal do inicio. À vontade de Deus nunca muda; ela é como uma linha reta. Hoje os homens caem, falham, e continuamente decaem; mas os vencedores são restaurados mais e mais na vontade de Deus. 



Igreja e a Cidade

Timoteo Carriker citando Robert Linthicum em seu livro Proclamando as Boas Novas fala a respeito da relação entre a igreja e a cidade.


IGREJA NA CIDADE.

Não há empatia neste ponto de vista. Não há identificação.Às vezes a igreja se vê na cidade mas não da cidade e a igreja se torna uma igreja não das vizinhanças imediatas mas de pessoas que se deslocam para chegar lá. Está na cidade por razões circunstanciais.

IGREJA PARA A CIDADE.

Muitas igrejas de característica descrita acima eventualmente chegam a conclusão que precisam ministrar às vizinhanças imediatas e se dirigir aos seus problemas, especialmente se as vizinhas são pobres. Entretanto esta perspectiva não têm uma sobrevivência longa por causa da pressuposição que a igreja conhece melhor o que é melhor para as vizinhanças que os próprios habitantes destas vizinhanças. Enquanto a igreja se dispõe de recursos financeiros e de pessoal, estes projetos podem sobreviver, mas mais cedo ou mais tarde  vem o cansaço e a fadiga, e não há quem dentro das vizinhanças que possa dá continuidade ao projeto.

IGREJA COM A CIDADE.

A igreja se encarna dentro da comunidade e se torna parceira com a comunidade para se dirigem juntas às necessidades. Significa que a igreja permite que própria comunidade instrua a igreja na identificação das suas necessidades e na resolução das mesmas

p. 133-134

quinta-feira, abril 26, 2012

Andrew Murray: Permanecei em Cristo (dias 8-14)

dia 8 - Como vossa justiça.




Andrew Murray continua a refletir em 1Co 1.30. Agora, ele busca falar de Jesus como a nossa justiça.  Para ele é a primeira bênção para nos estabelecer, nos dar paz.

"Estávamos em desarmonia conosco mesmos, com os homens e com Deus. Assim, era necessário que a paz fosse o primeiro resultado de nossa salvação, salvação que grandemente nos abençoa" p. 45

Jesus veio para restaurar a paz, tanto sobre a Terra quanto na alma. Ele foi feito nossa justiça da parte de Deus.

Andrew Murray fala sobre duas atrações: a cruz e a pessoa de Cristo.

"No início da sua jornada cristã, quando o pecador é atraído a Cristo e nEle crê para a salvação, a sua atenção, em geral, está mais concentrada na obra do Senhor do que na sua Pessoa" A medida que caminha na fé, o pecador deseja descobrir mais de Cristo, aí sua atenção move em direção a Pessoa de Cristo. "O pecador, então, encontra a resposta no maravilhoso ensinamento das Escrituras: a  verdadeira união com Cristo, o último Adão, de todo aquele que crê. Ele passa a ver que Cristo, se fez um com seu povo e que eles são um com Ele. O pecador entende que , em perfeito acordo com toda lei do reino natural e do reino dos céus, cada membro do corpo deve gozar o pleno benefício da ação, do sofrimento e da vida da cabeça (...) "A obra de Cristo não se torna menos preciosa, mas é a Pessoa de Cristo que passa a ser mais valorizada, pois sua obra é que conduz o pecador ao próprio coração, amor e vida do Deus-homem" (p.46)

"O justo não mais se contenta em simplesmente considerar a justiça recebida como um precioso manto, mas ele deseja vestir-se de Cristo Jesus e anela por ser revestido e coberto com o próprio Senhor e com sua vida. É assim que sentimos que a justiça de Deus é nossa em realidade, porque o Senhor- nossa justiça- é nosso" p.47


dia 9 - Como vossa santificação

Andrew Murray coloca a posição reforma da salvação pela fé, onde a justificação é a base de nossa santificação.  Ambas vêm da nossa posição em Jesus.

"O conhecimento superficial do plano de Deus conduz ao entendimento de que, ainda que a justificação seja obra de Deus pela fé em Cristo, a santificação é obra nossa que deve ser levada a cabo, com o auxílio do Espírito Santo, sob a influência da gratidão que sentimos pela libertação recebida. Mas o cristão zeloso logo descobre que sua gratidão não é suficiente para lhe conceder poder. Ao mais, o cristão se depara com o fato de que, por mais indispensável que a oração seja, ela não é suficiente. Frequentemente, o cristão trava, desesperado, uma luta por anos até que um dia ele ouve o ensinamento do Espírito que, ao glorificar a Cristo mais uma vez, revela que o Senhor é sua santificação, santificação essa que só pode ser apropriada por meio da fé" p. 50.

Murray critica aquilo que John Piper chama de "a ética do devedor".

"A intensidade e extensão da santidade dependerão de quanto permanecemos nele. À medida que a alma aprender a permanecer totalmente em Cristo, a promessa será cumprida de maneira progressiva".

A seguir, Murray usa a imagem de uma arvore enxertada em outra.  Alguns cristãos tem suas raízes na videira e outras em outros lugares por isto não permanecem.

"Supondo que a velha árvore pudesse comunicar-se e cooperar com o jardineiro, o que este diria a ela?Porventura não seria algo como: "Renda-se agora, completamente, a essa nova natureza com a qual eu a cobri; reprima toda tendência da velha natureza brotar, permita que toda a sua seiva e tudo aquilo que dá força à sua vida subam por esse enxerto que coloquei sobre você e que foi tomado daquela bela árvore. Assim produzirá muito fruto aprazível" p. 51

"Permita também que a fé o encha de confiança, quieta e segura, de que, graças a Cristo que o fortalece, você é capaz de fazer aquilo que o Pai espera de um filho sob a aliança de sua graça. Deixe que essa fé lhe ensine a abandonar a si mesmo e seus serviços sobre o altar como sacrifícios espirituais, santos, aceitáveis a Ele e de aroma agradável.  Não considere uma vida santa como resultado de pressão e esforço, mas como a manifestação natural da vida de Cristo em você. Em fé - quieta, esperançosa e cheia de gozo-, tenha toda a certeza de que, graças à santidade do Senhor Jesus, certamente você receberá tudo o que vier a precisar para levar uma vida santa. Assim, você entenderá e experimentará o que significa permanecer em Cristo como nossa santificação" p. 53

"Portanto, não devemos, em absoluto, labutar com Cristo a fim de produzir santidade em nós mesmos, mas simplesmente devemos recebê-la e usá-la em santo procedimento, pois está disponível a nós" p.54

Dia 10 - Como vossa redenção.

Murray termina a  reflexão de 1Co 1.30.

"O homem seria a obra prima da arte criadora de Deus: em um ser único, a combinação harmoniosa de matéria e espírito, como um tipo da mais perfeita união entre Deus e sua própria criação. O pecado adentrou, aparentemente frustando o plano de Deus: aquilo que era material alcançou primazia sobre o espiritual" p. 57


Mas, a plenitude divina restaurou todas as coisas, por isto, Jesus é a nossa redenção, o propósito de Deus fica para o momento em que sua glória se manifestar completamente.


Dia 11- O crucificado.


Partindo de Galátas 2.19b-20a e Romanos 6:5, Murray reflete sobre a cruz de Cristo e a nossa participação nela.


"Que abençoada deve ser a experiência de uma tal união com o Senhor Jesus! Ser capaz de considerar a sua morte como sendo minha. Ser capaz de olhar para sua perfeita obediência a Deus , sua vitória sobre o pecado e a total libertação do seu poder como sendo minhas"  p. 59


Para Murray, a cruz é o ponto de encontro entre o homem e Deus, somente nEla somos participantes daquilo que Deus quer para nós.


"Sobre a cruz, o filho de Deus experimentou a maior união com o homem, pois foi nessa experiência que se tornou, de maneira plena, um filho do homem, membro de uma raça amaldiçoada. Foi na morte que o príncipe da vida conquistou o poder da morte. Foi tão somente na morte que Ele pode tornar-me participante dessa vitória. A vida que Ele concede é uma vida que surgiu dentre os mortos. Cada nova experiência do poder dessa vida depende da comunhão na morte. Morte e vida são inseparáveis. Toda a graça que o senhor salvador concede, somente pode ser concedida por meio da comunhão com o Senhor Crucificado (...)  Cristo veio e tomou meu lugar, portanto devo colocar-me em seu lugar e ali permanecer. Há somente um lugar que é ao mesmo tempo seu e meu: a cruz. Esse lugar é dele, porque Ele o escolheu espontaneamente, mas também é meu, em razão da maldição do pecado. Ali foi buscar-me, e é somente ali que posso encontra-lo" p. 61


Murray a seguir fala uma verdade profunda que vem deste entendimento da nossa participação na cruz:


" Temo que haja muitos cristãos que se contentam em olhar para a cruz com Cristo morrendo sobre ela pelos seus pecados, mas que não desejam ter comunhão com o Senhor Crucificado. Eles dificilmente sabem que o Senhor os chama para essa comunhão. Talvez eles se contentem em considerar as aflições da vida, compartilhadas também pelos filhos deste mundo, como sendo sua porção da cruz de Cristo. Eles não tem noção do que é ter sido crucificado com Cristo, e que tomar a cruz implica semelhança com Cristo nos princípios que o levaram a trilhar o seu caminho de obediência: a total rendição  de toda vontade própria, a total negação dos desejos e prazeres da carne, a perfeita separação do mundo em todos os aspectos do pensar e do agir, a perda e o ódio à sua própria vida, e o desistir  da própria vida em função dos outros. Essa é a disposição daquele que tomou a cruz de Cristo e que procura dizer: Estou crucificado com Cristo. Permaneço em Cristo. Aquele que foi crucificado" p. 62







dia 12- O próprio Deus vos estabelecerá nEle.


O verso bíblico agora é 2Co 1.21, a obra de nossa união com Cristo é uma obra do próprio Deus.

Não é por esforço, é por fé! Precisamos deixar de lutar em buscar de estabelecer essa posição, devemos permitir que Deus o faça. 




dia 13. A cada momento.


Murray continua a questão da nossa passividade em relação ao permanecer, agora está pensando em Is 27.2-3. Ele pensa sobre a possibilidade real do permanecer em Cristo a todo dia, todo momento.


"Se o permanecer fosse obra nossa e se tivesse que ser executado com a nossa força, a resposta a essas perguntas seria certamente negativa. Mas aquilo que é impossível ao homem é possível para Deus. Se o próprio senhor Jesus guardar a alma de dia e de noite, sim, se Ele a regar e dela cuidar a cada momento, então a comunhão ininterrupta com Senhor Jesus certamente se tornará uma bendita possibilidade para todos aqueles que confiam que Deus fará aquilo que disse" p. 69


A seguir, Murray discute dois argumentos pela impossibildiade, o primeiro a respeito da natureza do homem e o segundo, sobre a a nossa natureza pecaminosa.


"Os cristãos estão acostumados a pensarem no pecado como sendo absolutamente inevitável no dia-a-dia, que acreditam ser evidente que ninguém pode permanecer em comunhão com o salvador, pois às vezes, certamente, seremos infiéis e falharemos. O permanecer em Cristo nos foi ordenado como nossa única- mas suficiente- libertação, simplesmente por que nossa natureza nada mais é do que uma fonte de pecado" p. 71


A resposta de Murray é que não devemos nos contentar com nada menos que a perfeita vida de Jesus em nós, a fé nos ensina a crer quando não há razões em nós para tanto, porque quem completa e faz a obra é o próprio Deus momento a momento.


dia 14- Dia a dia.


Partindo de Exodo 16.4, Murray fala a respeito dos nossos dias, da renovação da esperança e do permanecer a cada novo dia.


Ele lembra do sustento do maná que supria o povo no deserto a cada manhã. 


"Que garantia eu tenho de que conseguirei permanecer em Cristo por todos os anos durante os quais tiver que contender com a frieza, tentações e tribulações deste mundo? Essa é uma pergunta que você não precisa fazer. O maná, como seu alimento e força, é concedido apenas diariamente. Sua única garantia do futuro é ser fiel no presente. Aceite e desfrute - e cumpra com todo o seu coração- a porção que lhe cabe realizar hoje. Se você se alegrar na sua presença e graça hoje, ver-se-á livre de toda dúvida e será capaz de confiar a Ele seu amanhã também" p. 75







O problema do mal por Lane Craig -2


http://www.bethinking.org/suffering/advanced/the-problem-of-evil.htm

Num artigo chamado THE PROBLEM OF EVIL para bethinking.org, Lane Craig


God could not have created a world that had so much good as the actual world but had less evil, both in terms of quantity and quality; and, moreover, God has morally sufficient reasons for permitting the evil that exists.
The 'could not' in (5) should be understood to mean that such a world is infeasible for God.  There are doubtless logically possible worlds which are sinless and exceed the actual world in goodness, but such worlds may not be feasible for God.  So long as this explanation is even possible, it proves that God and the evil in the world are logically compatible.
The difficulty with this further move emerges when we recall the distinction between epistemic and metaphysical possibility discussed in connection with the ontological argument.  While (5) is clearly epistemically possible (for all we know, it may be true), the atheist might insist that it has not been shown that (5) is metaphysically possible (that there is a possible world where [5] is true).  The atheist could insist that perhaps (1) and (5) are after all logically incompatible in some way which we cannot discern.  Perhaps in every possible world in which God exists the counterfactuals of creaturely freedom which are true in that world permit Him to create a world having more good but less evil than the actual world.  Now this might strike us as an extraordinarily bold hypothesis; indeed, most atheists today do concede that (5) is metaphysically possible.  Nonetheless, the dogmatic atheist cannot be forced, it seems, from his stronghold.

quarta-feira, abril 25, 2012

A quadratura do círculo: liberdade,sofrimento e milagre segundo Lanne Craig, Queiruga e Lewis.

Hebreus 5:8-11 O qual, nos dias da sua carne, oferecendo, com grande clamor e lágrimas, orações e súplicas ao que o podia livrar da morte, foi ouvido quanto ao que temia. Ainda que era Filho, aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu. E, sendo ele consumado, veio a ser a causa de eterna salvação para todos os que lhe obedecem,  chamado por Deus sumo sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque.   Do qual muito temos que dizer, de difícil interpretação, porquanto vos fizestes negligentes para ouvir.

Em algum momento da vida, uma questão surge em nosso caminho, o problema do mal, do sofrimento. Como um Deus perfeitamente bom permite o sofrimento?

Antes de mais nada, sei que não tenho capacidade para responder esta pergunta.

Acabei de ler o livro de William Lane Craig, chamado Apologética para questões difíceis da vida pela Edições Vida Nova. E estou lendo também a biografia de Clarice Lispector por Benjamin Moser, onde deparei com seguinte texto que ele cita dela falando sobre o problema mal em Spinoza:

"Um Deus dotado de livre arbítrio é menos que um Deus de uma lei só. Do mesmo modo por que tanto mais verdadeiro é um conceito quanto ele é um só e não precisa transformar-se diante de cada caso particular. A perfeição de Deus prova-se mais na impossibilidade do milagre do que na sua possibilidade. Fazer milagres, para um Deus humanizado das religiões, é ser injusto - milhares de pessoas precisam igualmente e ao mesmo tempo desse milagre- ou reconhecer um erro, corrigindo-o- o que, mais do que sua bondade ou prova de caráter, significa ter errado.- Nem o entendimento nem a vontade pertencem à natureza de Deus,diz Spinoza. Isso me faz mais feliz  e me deixa mais livre. Porque a ideia da existência de um Deus consciente nos torna horrivelmente insatisfeitos" p. 199
Clarice teve uma infância judia terrível na Ucrânia, sua vida foi marcada por fatalidades, perda dos pais por doenças e uma série de eventos traumáticos.

Lanne Craig coloca que existem duas questões em relação ao problema do sofrimento, a primeira a questão intelectual, isto é, se Deus é bom e onipotente como pode haver sofrimento, e também, a questão emocional, como ele permite que soframos. Ele explica:

"O problema intelectual do mal diz respeito a como dar uma explicação racional de Deus e do mal. O problema emocional do mal diz respeito a como confortar ou consolar aqueles que estão sofrendo e como dissolver o desprazer emocional que as pessoas têm de um Deus que permite o mal (...) É importante entender essa distinção, porque a solução para o problema intelectual tem a propensão de parecer árida, insensível e desconfortante para alguém que tem passado pelo sofrimento, enquanto que a solução para o problema emocional tem a propensão de parecer deficiente, como uma explicação mal feita por alguém que o contempla abstratamente" p. 86-87

Para Lanne Craig, há duas abordagens ateístas sobre a questão, o problema lógico, mostrar que Deus e o mal são logicamente incompatíveis e o problema probabilístico, se é possível ambos, a coexistência seria altamente improvável. 

"O ateu raciocina que, visto que Deus é todo-poderoso, ele poderia criar um mundo contendo criaturas livres que sempre escolheriam livremente fazer o que é correto. Tal mundo seria um mundo sem pecado, livre de todos os males morais e humanos. Justament por isso, sendo todo-poderoso, Deus poderia também criar um mundo  no qual nenhum mal natural jamais viesse a ocorrer. Seria um mundo livre do mal, dor e sofrimento" p. 88

Lanne Craig aponta que o ateu não diz que um mundo assim seria um mundo de marionetes. O ateu aponta um mundo em que as pessoas poderiam escolher o certo livremente, do ponto de vista cristão, tal mundo seria possível, pois o pecado não é algo necessário no ser humano.

Pois se o pecado fosse uma necessidade, essa necessidade em última análise teria sua causa em Deus, então, Deus seria a causa do mal. É aí que os ateístas querem chegar, negar a essência de Deus como  totalmente bondoso e imputar a ele a causa do mal.

Lanne Craig cita David Hume "Se ele quer evitar o mal, mas não é capaz de fazê-lo, então ele é impotente. Se ele é capaz, mas não quer evitá-lo, então ele é malévolo. Ora, se ele quer evitar o mal e é capaz de evitá-lo, então como se explica o mal?" (p. 89)

Para Lanne Craig, há um argumento falacioso aqui:

"Em primeiro lugar, não é necessariamente verdadeiro que um Deus todo-poderoso possa criar exatamente qualquer mundo possível. O fato de Deus ser todo-poderoso não significa que ele possa fazer impossibilidades lógicas, tais como fazer um quadrado redondo, ou fazer alguém escolher livremente tomar uma atitude" p. 89

Ele baseia o problema do mal na liberdade da escolha que Deus deu:

" Assim, se Deus concede às pessoas uma liberdade genuína para escolher o que gostam,então é impossível para ele determinar quais serão as escolhas delas. Tudo que ele pode fazer é criar circunstâncias nas quais uma pessoa seja capaz de fazer uma escolha livre e, então deixar que a escolha seja feita" p. 90

São as criaturas que produzem o mal devido a suas escolhas, e Deus não pode fazer nada a não ser que eliminasse a livre escolha delas. 

Em termos filosóficos, o mal é um acidente na escolha humana, é algo que veio da liberdade. Quanto aos males naturais, Lanne Craig diz que são devidos a atuação de demônios, afinal, como os seres humanos, os seres espirituais também são dotados da mesma liberdade.

Lanne Craig termina a argumentação com a seguinte declaração:

"Assim, a primeira suposição feita pelo oponente ateu- a saber, que um Deus todo-poderoso pode criar qualquer mundo que ele escolha criar- não é necessariamente verdadeira" p. 90

Há também um segundo ataque nesta questão.

"Eles podem admitir que não há nenhuma inconsistência entre Deus e o mal em geral, mas ainda argumentam que a existência de Deus é inconsistente com a quantidade e com a qualidade do mal  no mundo (...) Deus não pode ter razões suficientes para permitir a quantidade e os tipos de males que existem" p. 92

Este argumento me parece o mais próximo do texto de Clarice, a resposta Lanne Craig toma de Alvin Platinga:

"Deus não poderia ter criado um mundo que tivesse tanto bem como o mundo real, mas que tivesse menos mal, tanto em termos de quantidade como de qualidade,e, além disso, Deus tem razões moralmente suficientes para o mal que existe" p. 94

No segundo capítulo sobre sofrimento e o mal, que trata do problema probabilístico, Lanne Craig traz a resposta cristã ao sofrimento, as razões morais de Deus para permitir a dor:

  • 1. O propósito principal da vida não é a felicidade, mas o conhecimento de Deus.
  • 2. A raça humana está no estado de rebelião contra Deus e seu propósito.
  • 3. O propósito de Deus não está restrito a esta vida, mas se derrama além da sepultura para a vida eterna.
  • 4.O conhecimento de Deus é um bem incomensurável.

Ele termina esse capítulo com uma frase que vale a pena ser transcrita:

"Paradoxalmente, então, ainda que o problema do mal seja a maior objeção à existência de Deus, no fim do dia Deus é a única solução para o problema do mal. Se Deus não existe, então nós estamos perdidos, sem esperança na vida e cheios de sofrimentos desnecessários e irreparáveis. Deus é a resposta final para o problema do mal, pois ele nos redime do mal e nos leva para a alegria eterna de um bem incomensurável: a comunhão com ele" p. 121



Concordo com o autor, Deus criou os seres humanos para viverem dependentes dEle, quando saímos da esfera da receptividade, sendo influenciados pelo nosso inimigo, negamos a Ele e damos ocasião ao mal.

C.S. Lewis coloca isto assim:

A condição mínima de autoconsciência e liberdade seria então que a criatura devesse apreender a Deus e, portanto, ela mesma fosse diferente de Deus. É possível que tais criaturas existam, conscientes de Deus e de si mesmas, mas não de seus semelhantes. Caso positivo, sua liberdade é simplesmente aquela de fazer uma única e singela escolha: amar a Deus mais do que ao "eu" ou ao "eu" mais do que a Deus. Mas uma vida assim reduzida aos essenciais não pode ser concebida por nós. No momento em que tentamos introduzir o conhecimento mútuo dos semelhantes encontramos o obstáculo da necessidade da "Natureza".  (p.11)

Meu problema, minha dúvida em relação ao texto de Craig está quando ele diz que Deus não poderia ter feito de outra forma pois está preso as leis que Ele mesmo criou. Por isto, achei interessante o texto da Clarice Lispector, como conciliar Deus, o sofrimento e os milagres.

Afinal, um milagre é uma suspensão da lei que o próprio Deus criou pelo próprio Deus. 

Pode ser uma cegueira da minha parte, mas o texto de Lanne Craig fica confuso, pois ao mesmo tempo ele diz que Deus não pode modificar e ao mesmo tempo, ele lida com as circunstâncias. 


Andrés Torres Queiruga tenta responder esta questão em Repensar a Salvação:

"Dizer que Deus quer e não pode abolir o mal vem a ser igual dizer que Deus quer e não pode fazer um círculo quadrado. Não se trata de uma potência ou impotência de Deus, mas de uma contradição de nossa mente e de nossa linguagem"

"O mal é uma manifestação necessária da limitação e da contradição interna do finito. Pretender um mundo sem mal equivale a postular um mundo estritamente infinito, pois unicamente a infinitude, ao estar por cima de toda possível contradição, ao ser absoluta plenitude, exclui de si a realidade e a possibilidade do mal. Por isso, na realidade, unicamente Deus pode estar livre do mal, porque ele é de verdade: é com essa redonda plenitude cuja intuição admirou, até quase paralisá-lo, o pensamento de Parmenides: é com essa inesgotável riqueza vital que enche de respeito e de esperança toda a piedade bíblica. A humanidade  sempre pressentiu isto em sua experiência religiosa. Daí ter intuído sempre que Deus é o único bom, o único feilz. Tudo mais é nada, pertence ao reino da dor e do pecado. O mundo não é Deus, não pode ser Deus; por isso, o mal aparece necessariamente nele".

"A lógica do milagre não possui nenhuma fronteira: o mundo teria de se converter num milagre total e contínuo; a saber, teria de deixar de ser mundo, para se converter num cenário onde o Criador faria as criaturas de marionetes, privadas de qualquer dinamismo e iniciativa próprios. O sonho da imaginação, ao buscar um mundo perfeito, só conseguiria mesmo com sua própria destruição" (...) "Verdadeiramente, não há escapatória alguma: se existe mundo, aparece o mal, se queremos suprimir totalmente o mal, temos que renunciar o mundo: somente no ser que é sem limitação, no Deus que vive na plenitude de sua felicidade, é pensável a total ausência de mal."  (p. 93-98)"

"O mal não é um ser, não é uma realidade autônoma, mas tampouco se reduz ao nada, posto que se caracteriza por sua oposição à obra de Deus. tentando e buscando destruir o ser humano, será aniquilado na vitória final da graça de Cristo, mas enquanto isso põe-se em batalha e cobra seu duro tributo de dor e de pecado" p. 105

"A resposta à nossa pergunta sobre o mal somente pode chegar-nos pela revelação de Deus. Ele criou livremente  esta realidade contraditória que somos todos nós, e somente ele pode assegurar-nos de que essa contradição se resolve numa síntese definitiva de sentido" (p.116)

"Jesus está, de modo incondicional, ao lado das vítimas diante do mal que as oprime. Sua vida é, por essência, oposição às forças do mal. Sua presença liberta o ser humano tanto da miséria radical que o oprime- o pecado- como de suas consequências- a doença, a fome, o desprezo-. Sua missão consiste, justamente em trazer-nos a boa notícia - Eu-angelion- de que Deus está presente, com seu amor e seu poder, para salvar a todos." (p.126).

"No homem-Jesus torna-se corporalmente visível que o mal não detém a última palavra, que muito além da tristeza da finitude espera-nos a felicidade infinita do projeto de Deus sobre nós" p. 134

"Longe de ser causa ou cúmplice de nosso sofrimento, Deus se mostra para nós, no testemunho irrefutável da cruz, como aquele que pensa somente em nos ajudar, e que, para fazê-lo, está disposto a tudo, até mesmo a entregar seu próprio Filho: Ele que não poupou seu próprio Filho (Rm 8.32)"p. 139

A questão é mais complexa, deve-se levar em conta a questão da liberdade, do sofrimento, da soberania e dos milagres. 

Queiruga responde a questão da relação entre Deus e sofrimento como uma necessidade devido a finitude do ser humano. Ele não coloca o mal como um ente, mas como algo que nasce da nossa contradição, da nossa própria natureza. 

O milagre é refutado como uma suspensão da realidade do mundo, uma ilusão. Não concordo com este ponto, a negação do milagre é mais fácil do ponto de vista da linguagem humana como Queiruga diz sobre a quadratura do círculo, mas a realidade divina está além do nosso pensamento, a infinitude participa e modifica o nosso mundo. 

Se pensarmos que o teísmo é a negação de um Deus pessoal, a negação de um Deus que realiza milagres também é um resquício de teísmo ainda que ele defenda um outro modo de participação.

A salvação está na participação divina no sofrimento,no Deus que sofre conosco. A intervenção divina está na participação no mundo finito e na solução final da infinitude.



Vamos ver como Lewis resolve essa questão em O Problema do Sofrimento:

Com cada avanço em nosso conceito, o ato criativo, e a impossibilidade de manipular a criação como se este ou aquele elemento da mesma pudesse ser removido, se tornará aparente. Este talvez não seja o melhor de todos os universos possíveis, mas o único possível.
Mundos possíveis só podem significar "mundos que Deus poderia ter feito mas não fez". A idéia do que Deus "poderia" ter feito envolve um conceito excessivamente antropomórfico da liberdade de Deus. O que quer que seja o significado da liberdade humana, a liberdade divina não pode significar indeterminância entre alternativas e a escolha de uma destas. A bondade perfeita não pode jamais estar em dúvida quanto ao fim a ser alcançado, e a perfeita sabedoria não pode vacilar quanto aos meios mais adequados para chegar a esse fim. A liberdade de Deus consiste no fato de que nenhuma outra causa além dele mesmo produz os seus atos e nenhum obstáculo externo os impede - que a sua própria bondade é a raiz de que todos eles brotam e sua própria onipotência o ar em que todos florescem. (p. 13)


Lewis deixa mais claro que é a soberania divina e não a possibilidade lógica, pois seria prender a Deus ao conceito antropomórfico de liberdade. Por isto, a concepção do milagre é também uma possibilidade.



Podemos, talvez, conceber um mundo em que Deus tenha corrigido os resultados deste abuso do livre-arbítrio pelas suas criaturas a cada momento: de maneira que uma viga de madeira se tornasse macia como grama se usada como arma, e o ar se recusasse a obedecer-me se tentasse utilizá-lo em ondas sonoras que transmitissem mentiras ou insultos. Num mundo assim, porém, os atos errados seriam impossíveis e, portanto, ficaria anulado o livre-arbítrio; se o princípio fosse levado à sua conclusão lógica, os maus pensamentos tornar-se-iam também impossíveis, desde que a massa cerebral que usamos para pensar se recusaria a fazê-lo quando tentássemos estruturá-la. Toda matéria nas proximidades de um homem perverso estaria sujeita a alterações imprevisíveis. A idéia de que Deus pode modificar, e realmente modifica, ocasionalmente, o comportamento da matéria produzindo o que chamamos de milagres, faz parte da fé cristã; mas a própria concepção de um mundo comum e portanto estável exige que tais ocasiões sejam extremamente raras. (p. 13).

Em sua obra específica sobre Milagres, Lewis visualiza um Deus mais soberano ainda:



Dizer que Deus a criou não é afirmar que ela é irreal, mas justamente o contrário. Você acredita que Deus seja menos criativo do que Shakespeare ou Charles Dickens? O que Ele cria é criado por inteiro. Os teólogos certamente nos dizem que ele criou a natureza livremente, indicando que não foi forçado por qualquer necessidade externa nesse sentido. Não devemos, porém interpretar negativamente a liberdade, como se a natureza fosse uma simples construção de partes arbitrariamente ligadas. A liberdade criativa de Deus deve ser concebida como semelhante à do poeta: liberdade para criar uma coisa consistente, positiva, com seu próprio e inimitável sabor. Shakespeare não precisava criar o seu personagem Falstaff: mas se faz isso, ele deve ser gordo. Deus não precisava criar esta natureza. Poderiam ter criado outras, e pode mesmo tê-lo feito. Mas concedida à existência desta natureza, então não há dúvida de que a menor parcela da mesma ali se acha para expressar o caráter que ele escolheu dar-lhe. Seria grave erro supor que as dimensões de espaço e tempo, a morte e renascimento da vegetação, a unidade na multiplicidade de organismos, a união na oposição de sexos, e a cor de cada maçã neste outono, foram simplesmente uma coleção de eventos úteis forçosamente associados. Trata-se do próprio idioma, quase da expressão facial, o cheiro ou gosto, de uma coisa individual. A qualidade da natureza se acha presente em todos eles, assim como a latinidade do latim está presente em toda inflexão ou a "Corregiosidade" de Correggio em cada golpe do pincel. (p. 41)

Lewis coloca certamente um Deus ao mesmo tempo onipotente e sofredor:

Quando o cristianismo diz que Deus ama o homem, isso significa que Ele o ama realmente; não se trata de um interesse indiferente quase um "desinteresse" em nosso bemestar, mas que, numa verdade terrível e surpreendente, somos os objetos do seu amor. Você pediu um Deus de amor, e já tem. O grande espírito que invocou tão levianamente, o "Senhor de terrível aspecto", está presente: não uma benevolência senil que sonolentamente deseja que você seja feliz à sua própria moda, nem a gélida filantropia de um magistrado consciencioso nem mesmo o cuidado de um hospedeiro que se sente responsável pelo conforto de seus hóspedes, mas o próprio fogo consumidor, o Amor que fez os mundos, persistente como o amor do artesão pela sua obra e despótico como o amor do homem por um cão, providente e venerável como o amor do pai pelo filho, ciumento, inexorável, exigente, como O amor entre Os sexos.
Como isto pode ser, não sei: supera nosso poder de raciocínio explicar como quaisquer criaturas, para não dizer criaturas como nós, possam ter um valor tão prodigioso aos olhos de seu Criador. Trata-se certamente de um peso de glória não só além de nossos méritos mas também, exceto em raros momentos de graça, além de nosso desejo; estamos inclinados, como as donzelas na velha peça teatral, a protestar contra o amor de Zeus. (p.56)



Lewis dá uma resposta a Clarice:



O problema de reconciliar o sofrimento humano com a existência de um Deus que ama só é insolúvel enquanto associarmos um significado trivial à palavra "amor" e considerarmos as coisas como se o homem fosse o centro delas. O homem não é o centro. (p.57) 




De tudo isto, fico com Lewis este é o melhor dos mundos possíveis. O sofrimento foi fruto da escolha humana que Deus escolheu pode ser assim, não que o quisesse assim. Basta lembrarmos da história de Adão e Eva, havia as duas árvores,  Deus queria que nos alimentássemos dEle,mas escolhemos a escassez da nossa própria vontade.


Este mesmo Deus intervém na história, seja compartilhando cada dor de nossa vida seja operando milagres. Ele é um Deus que ouve, está atento a cada sofrer e um Deus que muda a história. Acredito num Deus maior que qualquer lei, pois é um Deus que irá redimir o mundo por si mesmo, sem qualquer merecimento ou causa neste mundo para esta redenção, a não ser este amor.


O sofrimento existe e não pode ser negado como fazem os pastores da teologia da prosperidade, o milagre é como diz Lewis uma exceção, que está sob o domínio da soberania divina.


A vida cristã não pode ser pensada como uma vida sem sofrer, vida de total vitória como mostra o vídeo a seguir, mas uma vida real onde há tristezas e alegrias.








Para terminar, fico Timothy Keller em Reason for God, busca uma resposta mais humilde:


"Therefore, though Christianity does not provide the reason for each experience of pain, it provides deep resources for actually facing suffering with hope and courage rather than bitterness and despair" p. 28

terça-feira, abril 24, 2012

A língua: o teste iso 9000 do cristão

O capítulo 3 de Tiago é um dos textos bíblicos mais direcionados em relação a questão da língua. Mas, antes de começar a pensar no terceiro capítulo, é bom lermos o verso 18 do primeiro capítulo.

1.18   Segundo a sua vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como primícias das suas criaturas.

Deus nos gerou em Jesus Cristo pela palavra da verdade, fomos resgatados pelo seu amor para demonstrarmos essa novidade de vida para todos, inclusive através das nossas palavras. Fomos gerados pela palavra de Deus que é seu filho unigênito, Jesus Cristo para recebermos o amor de Deus em nossa vida e manifestá-lo aos homens. Por isto mesmo, o verso 19 diz:

1.19   Sabeis isto, meus amados irmãos; mas todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar.

Tudo que somos em Deus recebemos dEle. O problema do pecado é quando deixamos de permanecer neste amor, de receber e confiar nas palavras que ouvimos dEle sobre nós e passamos a confiar em nós mesmos, ou até mesmo, naquilo que o inimigo fala.

Não é a toa que em todo Apocalipse está sempre a recomendação, quem tem ouvidos para ouvir, ouça!

Então, a vida cristã é aquilo que recebemos de Jesus, como isto transforma a nossa vida nos fazendo parecidos com Ele e assim, como o que ele quer falar se manifesta em nossas vidas, o amor. 


Para sabermos se tudo isto é verdade em nossa há um teste que chamei de ISO9000, a nossa língua. O próprio Tiago deixa isto bem claro

1.26   Se alguém entre vós cuida ser religioso e não refreia a sua língua, antes, engana o seu coração, a religião desse é vã.

Uma fé verdadeira gera uma conduta verdadeira, pois se estamos usando nossa língua para o mal é porque estamos nos alimentando com o mal.  Pensando no que ensina o pastor Carlos McCord, quando deixamos de lado a abundância que há em Cristo Jesus caminhamos para a escassez que há em nossas próprias vidas.

Como o médico que pede para ver a nossa língua num exame e descobre se há doenças ou se a pessoa está sã, a nossa língua mostra qual é a fonte que está alimentando a nossa vida.


Jesus também disse a respeito da língua em Mateus 12:

12.33   Ou dizeis que a árvore é boa e o seu fruto, bom, ou dizeis que a árvore é má e o seu fruto, mau; porque pelo fruto se conhece a árvore. 12.34   Raça de víboras, como podeis vós dizer boas coisas, sendo maus? Pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca. 12.35   O homem bom tira boas coisas do seu bom tesouro, e o homem mau do mau tesouro tira coisas más. 12.36   Mas eu vos digo que de toda palavra ociosa que os homens disserem hão de dar conta no Dia do Juízo. 12.37   Porque por tuas palavras serás justificado e por tuas palavras serás condenado. 

Jesus deixa claro que toda palavra nasce do coração, não existe uma palavra que não saia daquilo que não está no coração. O coração é a fonte de nossas palavras, e para onde o coração busca sua justiça e de lá que sai suas palavras.

Ele acaba com a história do sem querer, toda a palavra que sai da nossa boa tem uma origem: o nosso coração.  Falamos o que falamos com intenção de falar aquilo, não existe o sem querer.

Jesus leva as nossas palavras muito a sério, antes, ele diz quem não está com ele, está contra ele. (vs. 30).  Isto quer dizer que quando deixamos nossa língua ser usada para o mal é porque na verdade estamos sendo realmente instrumentos do mal e não de Deus. Não há meio termo aqui, é a questão do sim, sim e não, não.

Tanto que o pecado sem perdão, a blasfêmia contra o Espírito Santo, o espírito da verdade está bem aqui neste contexto.

 Por falar em perdão, um cristão com problemas com a língua e que ofende as pessoas, Deus não aceita suas ofertas, porque sua confiança está mais em si mesmo do que em Deus, Ele detesta as pessoas que se auto-justificam, a alegria do céus são pecadores salvos pela graça.

Nossas palavras são muito mais importantes que pensamos. São tão importantes que Ele diz que no dia do juízo todas as palavras inúteis que dizemos seremos julgados por elas.

Voltemos a Tiago, ao capítulo 3:

3.2   Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça em palavra, o tal varão é perfeito e poderoso para também refrear todo o corpo. 3.3   Ora, nós pomos freio nas bocas dos cavalos, para que nos obedeçam; e conseguimos dirigir todo o seu corpo. 3.4   Vede também as naus que, sendo tão grandes e levadas de impetuosos ventos, se viram com um bem pequeno leme para onde quer a vontade daquele que as governa. 3.5   Assim também a língua é um pequeno membro e gloria-se de grandes coisas. Vede quão grande bosque um pequeno fogo incendeia. 3.6   A língua também é um fogo; como mundo de iniqüidade, a língua está posta entre os nossos membros, e contamina todo o corpo, e inflama o curso da natureza, e é inflamada pelo inferno. 3.7   Porque toda a natureza, tanto de bestas-feras como de aves, tanto de répteis como de animais do mar, se amansa e foi domada pela natureza humana;

Todos nós estamos sujeitos ao pecado, assim também, todos nós estamos sujeitos a tropeçar em nossas palavras.Tiago faz uma lista de comparações do poder da língua: a força dos cavalos, um leme de um grande navio, um fogo que incendeia um grande bosque, inflamado pelo fogo do inferno. 

A epístola é clara que não podemos negar o poder maligno que existe quando deixamos nossa língua ser aquecida pelo nosso inimigo, ela destrói relacionamentos, pessoas, famílias, cidades e nações.

O poder dela como fogo é um poder que foge ao nosso controle, levando a estragos bem maiores que a maldade quis realizar.

Como não tropeçar?

Devemos nos atentar para aquilo que Jesus diz, que nossas palavras são efeito daquilo que está em nosso coração. Então, antes de fazer uma higiene bucal, devemos fazer uma limpeza em nosso coração.

Quando o nosso coração está voltado para as necessidades do nosso próprio eu, sua fonte é escassez, e os tropeções da língua serão cada vez mais constantes. O que devemos fazer é tirar o foco da nossa vida em nós mesmos como pontos de segurança, paz e salvação.

 Permanecer em Cristo é o único remédio para nossa língua,  quando estamos sendo alimentados pela fonte da vida eterna, somos ramos da videira e toda a vida que flui da nossa é a dEle.

Alguma dicas práticas:

1. Lembre-se sempre da presença do Espírito Santo de Deus em sua vida; Ele é o espírito da verdade, é o único pode guiar a sua vida que agora é Jesus. Toda necessidade e injustiça que você sofra pode encontrar consolação em Cristo.

2. Esteja pronto para ouvir e tardio para falar, antes de condenar, busque conhecer. Misericórdia vem antes da Justiça.

3. Tudo que falamos agora é em nome de Jesus, então cada palavra deve glorificar a Deus afim de que não seja uma palavra ociosa. Lembre-se da sua trave antes de falar do cisco.

4. Perdão, sempre esteja pronto a perdoar (ouvir) e tardio para combater(falar). 

5. Não existe essa de sem querer - cuidado com palavras inúteis.

O próprio Tiago dá uma dica de como viver sem tropeços:

1.5   E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e não o lança em rosto; e ser-lhe-á dada.

sábado, abril 21, 2012

William Lane Craig: Apologética para questões difíceis da vida.

Por causa de um "post" no facebook, adquiri e li esta semana o livro de Craig, que recentemente esteve presente no congresso da editora Vida Nova.

Craig é famoso por causa de seus vídeos de contestação e seus debates com Hitchens e Dawkins, devo confessar que sabia e não sabia dele até o tal post.

É um livro de apologética que tenta lidar com algumas questões da vida: fracasso, dúvida, oração não respondida, sofrimento, aborto, homossexualismo e Jesus como único caminho.

Gostei do livro porque não é um livro que tenta convencer seu leitor com argumentos de autoridade, mas tenta convencer o leitor não-cristão da veracidade de seus pontos.

O modo como ele trata os temas parece muito com Lewis, com um pouco mais de dados. Ao mesmo tempo, acho que as questões sobre sofrimento são melhor explicadas em outras obras como a N.T.Wright.

O livro tem dois capítulos fantásticos a respeito tanto do aborto e como do homessualismo, busca basear sua apologia não somente em conceitos bíblicos, mas morais. Estabelecendo um ponto de contato, no dizer de Allister McGrath, entre a sociedade pós-cristã e o cristão.

Gostei do livro no que tange a esses assuntos, nos demais(sofrimento, fracasso, oração), prefiro The Reason for God do Timothy J Keller.




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O livro.


Na sua apresentação, o autor fala do estado geral ruim do ensino intelectual no mundo de hoje. Da estagnação intelectual, e a falta de compromisso de ministros em buscarem uma enriquecimento cultural.


1. Dúvida.


O primeiro capítulo é sobre a dúvida, para o autor a dúvida não deve ser engrandecida como algo especial em nossas vidas, para ele deve ser encarada e respondida no caminhar intelectual.


A dúvida nunca é somente intelectual, buscar uma relação adequada entre fé e razão, conforme a exposição do ensino de Lutero pelo autor, a razão tem dois usos: magisterial e ministerial, no primeiro a razão se coloca acima do evangelho funcionando como um juiz, no segundo, a razão se submete ao evangelho e o serve como criada. Devemos ter em mente este segundo uso para sanar nossas dúvidas.




2. Orações não respondidas.

O autor coloca a dificuldade de haver orações que Deus não responde.


Para ele, existem alguns obstáculos bíblicos para Deus responder uma oração: 1. pecado em nossa vida, 2. motivos errados, 3. falta de fé, 4. falta de sinceridade e 5. falta de perseverança.


3. Fracasso


Ele faz uma diferenciação entre fracasso na vida cristã e fracasso na vida de um cristão. Sendo a primeira o abandono da fé e a segunda, as circunstâncias de perda que acontece na vida de um cristão.


4. Sofrimento.
O autor tem uma linha de entendimento bem parecida com C.S. Lewis.


5. Aborto.


Gostei do modo como ele apresenta o tema, antes de tudo, uma questão de moral. A primeira coisa a saber é o que é o ser humano, se um feto, embrião podem ser considerados como seres humanos? E se os seres humanos possuem valor intrínseco, o aborto é nada mais do que homicídio.


O autor coloca dados sobre a questão do aborto, e responde alguns dos preconceitos principais de pessoas favoráveis ao aborto.


6. Homossexualismo.


Mais uma vez, o autor trata do problema como uma questão moral, ele mostra e demonstra que as relações homoafetivas são auto-destrutivas. 


Como também fala da não flexibilidade bíblica dos ensinamentos em relação a questão homossexual, conforme apregoam alguns cristãos homossexuais, se é que isso existe mesmo.




Andrew Murray: Permanecei em Cristo

Existem autores que possuem a capacidade de resumir, sintetizar, simplificar numa só sentença milhões de perguntas. Eles não perdem a profundidade quando o fazem nem caminham para alguma frase manjada, eles simplesmente são simples. Andrew Murray tem essa capacidade.


Recentemente aderi ao grupo permanecer de leitura, criado pelo Pr. Carlos McCord, vamos ler 7 livros neste ano, o primeiro deles é PERMANECEI EM CRISTO de Andrew Murray.

Vou colocar algumas destas frases, pensamentos que tanto iluminam nossa vida vindas deste homem que escreveu mais livros que eu vou ler na vida.






Dia 1. Todos vós que viestes a Ele.


Andrew parte de dois convites de Jesus Cristo, vinde a mim e permanecei em mim. Por vezes, os convites são tratados como situações distintas, mas para uma verdadeira vida com Jesus, um leva ao outro, são complementares.

A simples vinda a Jesus sem permanecer nEle não leva a nada. Muitos perdem as bênçãos e a felicidade do encontro com Cristo por não permanecer nEle.


dia 2. E encontrarás descanso para a vossa alma.


O permanecer em Jesus Cristo precisa ser entendido com obra do próprio Cristo em nós, por isso, seu resultado é um descanso na comunhão com Deus.




dia 3. Confiando que Ele o guardará


como é possível uma vida de comunhão ininterrupta com o Senhor? Muitos se sentem fracos  e impotentes para viver uma vida de comunhão plena com Deus, contudo, não percebem que o habitar  e o permanecer em Cristo não quer grandiosidades de nossa parte, mas esse mesmo reconhecimento de fraqueza e impotência.




dia 4. Como ramo da videira


Pensando em João 15, Murray nos conta algumas verdades:


Sem a videira, o ramo nada pode fazer, o cristão vive somente em Cristo e sempre depende de Cristo somente.


Sem o ramo, a videira tampouco pode fazer nada, essa é a maravilhosa condescendência de Jesus que escolheu ser dependente de nós, porque Ele não pode frutificar nesse mundo a não ser através das vidas de seus discípulos, que maravilhosa graça é esta.


Tudo aquilo que a videira possui pertence aos ramos, toda a riqueza e plenitude de Cristo são para os cristãos, tudo o que o Senhor Jesus é nos céus, Ele o é para nós, Ele não interesses próprios ali, apenas os nossos, porque Ele intercede junto ao Pai a todo tempo em nosso favor.


Tudo que o ramo possui pertence a videira, o ramo não existe para si mesmo, mas vive para produzir fruto, que manifeste a excelência da videira.


dia 5. Como viestes a Ele, pela fé.


Baseando em Cl 2:6,7, Murray fala que a fé que é tão essencial para o começo da vida cristã é também para o permanecer.


A única responsabilidade do discípulo é crer, pois crer é o único meio pelo qual a graça  e a força divina fluem pára o coração do homem. Estamos em Cristo agora, essa é a nossa declaração de fé, é tudo que precisamos.




dia 6. Fomos unidos a Deus por Ele mesmo.


Estamos em Cristo, Murray analisa essa afirmação refletindo nos próximos dias no versículo de 1Co 1.30



Mas vós sois dele, em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção;



"O firme fundamento do cristão é que seu direito a Cristo e a toda a sua plenitude são o propósito e a obra do Pai. Nisso deve o cristão descansar" p. 38


"Tais cristãos devem crer e aceitar, com todo gozo, a maravilhosa revelação de que Deus, ao uni-los com Cristo, tornou-se pessoalmente responsável pelo seu crescimento espiritual cheio de fruto. Ao perceber isto, toda hesitação  e preguiça desaparecerão e, sob a influência desse poderoso motivo- a fé na fidelidade dEle, por causa de quem está em Cristo- toda a sua natureza se erguerá para aceitar e consumar seu glorioso destino" p. 39


dia 7. Como vossa sabedoria.


Murray continua a reflexão no versículo 30 de 1Co 1, a primeira característica que ele busca comentar é de que Jesus é a nossa sabedoria, o nosso conhecimento.


"Precisamos aprender a entender melhor a conexão que existe entre aquilo que Cristo se tornou para nós e o fato de que só podemos usufruir dessa realidade à medida que permanecemos nele. As bênçãos, preparadas para nós em Cristo, não podem ser obtidas com dons especiais, concedidas por causa de uma oração e desassociadas do permanecer nele" p. 41


Murray aqui vai ponto crucial, a graça de Deus não está na capacidade pessoal do discípulo de viver a vida cristã, mas na absoluta suficiência da obra de Jesus Cristo.