quinta-feira, março 27, 2014

BRYAN A. FOLLIS: Truth with Love: The apologetics of Francis Schaeffer

O livro é um misto de apresentação da apologética de Francis Schaeffer com uma biografia. Há uma apresentação apaixonada da vida e da obra de Schaeffer que parece ser um homem mais preocupado com as pessoas do que com um sistema de apologética coeso.

O livro é dividido da seguinte forma, na introdução, há um estudo de Schaeffer em seu contexto. O primeiro capítulo trata da influência de Calvino e da tradição reforma, logo após, há uma apresentação dos argumentos e da aproximação de Schaeffer seguida da relação entre a racionalidade e espiritualidade e, por fim, a questão se ele era um acadêmico ou um apologista.

 A linha mestra do livro é considerar o papel da razão e a importância de relacionamentos em amor. Basicamente, Schaeffer estava interessado nas pessoas, por isto, o título de verdade com amor.

Sobre a influência de Calvino em Schaeffer, fica o conceito de imagem de Deus em cada pessoa que foi danificada com a queda como também o valor das Escrituras como o conhecimento salvífico de Deus pela persuasão do Espírito Santo.

Há também uma influência de Abraham Kuyper e o conceito de graça comum como fundamento da sociedade civilizada. Que é comum a todas as pessoas, que traz como benefício a consciência de que há uma diferença entre o certo e o errado.

De Jonathan Edwards, há o conceito de racionalidade, que é essencial, mas que é inadequado para as realidades espirituais.

Follis fala do conflito entre a apologética evidencialista de Warfield., que colocava a apologética como fundamento da teologia e, de outro lado, Kuyper, que colocada a teologia como fundamento da apologética.  

A metodologia de Schaeffer transitava entre estas duas formas de apologética, ora tomava elementos de uma e de outra porque seu principal interesse era evangelístico e via a apologética como um meio para um fim, para que a fé cristã fosse comunicada Schaeffer entendia que era preciso conhecer e entender as formas de pensamento da nossa própria geração.

A verdade era tida como um absoluto. O racinalismo distorceu isto, principalmente, Hegel que relativizou a verdade absoluta na síntese em vez de permanecer na antítese. 

"Colocando a si mesmo, ao invés de Deus, como o centro do universo e fazendo de si mesmo autonomo, o homem desistiria da sua racionalidade para que ele pudesse preservar seu racionalismo, sua autonomia e sua rebelião contra Deus" (p. 37)

Outro alvo de Schaeffer é Karl Barth, que isolou a fé da razão, sua aproximação era meramente uma expressão religiosa da forma de pensamento que prevalecia no homem moderno. 

Se uma pessoa recusa a aceitar que o universo teve um começo pessoal, então ele tem um problema com um começo impessoal, a moral realmente deixa de ser moral. Não há mais certo e errado.

A vida cristã significa viver em duas esferas de realidade: a sobrenatural e a natural. Para ele, a verdade é o relacionamento com Deus que existe. Isto envolvia, uma justificação para sempre e um correto relacionamento momento a momento. A justificação era uma parte essencial da salvação, mas salvação também inclui outras realidades da vida.

Para Follis, Schaeffer era evidencialista, estaria ligado mais a Edward Carnell do que a Van Til. 


Schaeffer adotado muito da pressuposicionalista, Cornelius Van Til, mas ele também diferiu com Van Til em áreas significativas. Uma diferença é que Schaeffer estava mais aberta para permitir que o incrédulo a questionar as alegações de verdade do cristianismo, algo que Van Til oposição.Na realidade, Schaeffer forjou seu próprio método apologético, uma que diz Follis está próximo do método verificational. Esta abordagem começa com hipóteses e submete-los a vários argumentos para ver se elas são verdadeiras.

Uma das partes mais interessantes do livro é a descrição de Follis de como Van Til visto Schaeffer e por que Schaeffer estava relutante em se envolver em disputa pública com Van Til.Follis também avalia os críticos da Schaeffer, como Clark Pinnock e outros, para mostrar que eles largamente mal compreendido Schaeffer. Follis mostra que as tentativas de rotular Schaeffer como um racionalista são equivocadas, especialmente desde que Schaeffer estava tão dependentes de oração e do Espírito Santo. Para Follis, considerar Schaeffer um racionalista é ridículo, porque ele viveu a sua vida tanto à luz do sobrenatural.

O capítulo final de Follis, "Conclusão: O amor como o Apologetic Final", é poderoso. Aqui ele mostra como a apologética de Francis Schaeffer pode ajudar hoje na era pós-moderna. Com uma visão aguçada, Schaeffer antecipou o que é conhecido agora como o pós-modernismo. Embora é preciso estar ciente da mentalidade pós-moderna de hoje, ele ou ela ainda é feita à imagem de Deus e deve ser desafiada a ver o vazio de sua visão de mundo e abraçar Jesus Cristo.


quarta-feira, março 26, 2014

Francis A. Schaeffer: O Deus que Intervem.

Saldando uma dívida clássica com Schaeffer, me pus a ler O DEUS QUE INTERVEM e TRUTH WITH LOVE: The apologetics of Francis Schaeffer de Bryan A. Follis.

O DEUS QUE INTERVÉM está dividido em 6 partes:
1. O clima intelectual e cultural da segunda metade do século vinte.
2.  A relação entre a nova teologia e o clima intelectual.
3. Como cristianismo histórico difere da nova teologia.
4. Falando do cristianismo histórico para o pensamento do século vinte.
5. Pré-evangelização: não é uma saída fácil
6. Na vida pessoal e coletiva no clima do século vinte.

Na primeira parte, Schaeffer coloca a questão do clima intelectual na segunda metade do século vinte. Ele pontua que o abismo se estabeleceu na Europa por volta de 1890 e nos EUA por volta de 1935. A linha do desespero foi uma mudança gradual que afetou progressivamente: a filosofia, a arte, a música, a cultura geral e, enfim, a teologia.
 Para Schaeffer, a primeira etapa foi a filosofia de Hegel:

"Tenho uma nova idéia. De agora em diante pensemos da seguinte maneira: em vez de causa e efeito, pensemos numa tese e em oposição a ela, uma antítese. E a resposta à relação entre as duas não está num movimento horizontal de causa e efeito, porém é sempre uma síntese" (p. 24)

Ficou de um lado o não racional e não lógico, que é a experiência existencial, a experiência final, a experiência de primeira ordem. E, de outro lado, o racional e o lógico, somente particularidades, nenhum propósito, nenhum significado: o homem é uma máquina. 

A fé fica divorciada daquilo que é racional e lógico. 

Esse hiato se alastrou para as artes,  Schaeffer faz uma análise das obras de Van Gogh, Gauguin, Cezanne e Picasso até o Dadaísmo e os ambientes.  No capítulo quatro, ele fala sobre a cultura geral começando com uma crítica a música concreta e a literatura e até ao cinema:

'Os bons filmes são os sérios, os artísticos, os bem filmados. Os ruins são simplesmente escapistas, românticos e servem só para entretenimento. Porém, se os examinarmos com cuidado, veremos que os bons filmes são na realidade os piores. O filme escapista pode ser horrível em alguns sentidos, mas os chamados bons filmes dos últimos anos foram quase todos feitos por homens que têm a moderna filosofia da falta de sentido da vida. Isto não significa que eles não sejam  homens de integridade,, mas quer dizer que os filmes que produzem são instrumentos de propagação de suas ideias" (p.43).

Sobre o fato que unifica os degraus do desespero, ele diz:

"A linha do desespero é uma unidade e os seus degraus uma marca que os caracteriza e unifica. Com Hegel e Kierkegaard, o homem desistiu de encontrar um campo de conhecimento uniforme e racional. Em vez disso, aceitou a idéia do salto da fé naquelas áreas que fazem o homem ser homem- propósito para a vida, amor, ética e assim por diante. Foi este salto da fé que, originalmente, causou a linha do desespero" (p. 45)

Por outro lado:

" O cristianismo é realista e diz que o mundo está tomado pelo mal e que o homem é realmente culpado, do princípio ao fim. O cristianismo  se recusa a dizer que podemos ter esperanças nas mostras de melhora da humanidade. O cristão concorda com o homem em desespero real, isto é, que o mundo precisa ser olhado realisticamente tanto na área do ser quanto na moral (...) Mas não podemos tirar a vantagem da oportunidade se abandonamos quer em pensamento quer em prática a metodologia da antitese, istoé, que se A é certo , não-A é falso. Se algo é verdade, o contrário não é verdade: se alguma coisa é certa, o contrário é errado" (p. 47). 

A parte 2, fala da relação entre a nova teologia e o clima intelectual.

A teologia existencial moderna tem sua origem em Kierkegaard, a teologia não está isolada da cultura do desespero.

"O velhos teólogos liberais da Alemanha começaram por aceitar a pressuposição da uniformidade das causas naturais como um sistema fechado. Dessa maneira rejeitaram todo miraculoso e o sobrenatural inclusive na vida de Jesus Cristo"

Aí buscaram criar um Jesus histórico, sem sobrenatural:

"Por que a teologia seguiu a filosofia neste passo tremendamente importante? Por duas razões: primeiro, o seu velho racionalismo otimista não tinha conseguido produzir um Jesus historicamente crível, uma vez que o miraculoso fora rejeitado; segundo, como o consenso do pensamento da época, que seguiam cuidadosamente lhes era normativo, seguiram a filosofia quando está se encaminhou nesta direção" (p. 52)

A fé é vista como uma experiência-crise de primeira ordem, a fé é um salto otimista que não pode ser verificado e cujo conteúdo não é comunicável, logo, é não racional. Do lado racional, as Escrituras estão cheias de erros.

No segundo capítulo desta parte, Schaeffer fala sobre o misticismo moderno:

"O resultado de não poderem sustentar honestamente o seu desespero em ambos os níveis (o do nihilismo ou da dicotomia total entre razão e falta de significado) fez com que o pensamento moderno se deslocasse para um terceiro nível de desespero, um nível de misticismo sem conteúdo" (p. 56)

O que leva a uma fé sem conteúdo, sem nenhuma racionalidade ou contato com a ciência ou a história. Nenhuma categoria para Deus, todo conhecimento em relação a Deus está morto, o Deus pessoal está morto. A linguagem é sempre uma questão de interpretação, por isto as palavras da Bíblia são uma interpretação de uma coisa desconhecida que ocorreu.

"No cristianismo, o valor da fé depende do objeto para o qual ela está dirigida. Portanto, ela se dirige para o exterior, para o Deus que está presente, e para o Cristo que, na história, morreu na cruz uma só vez para sempre, terminou o trabalho de reconciliação e no terceiro levantou-se novamente no espaço e no tempo. Isto faz com que a fé cristã esteja aberta à discussão e à verificação. Por outro lado, a nova teologia está numa posição onde a fé é introvertida porque não tem objeto definido, e o ensino do querigma aparece como infalível, pois não está racionalmente aberto à discussão. Essa posição, penso eu, é na verdade maior desespero e trevas que a posição daqueles homens modernos que cometem suicídio" (p. 61).

Na terceira parte, Schaeffer vai falar sobre como o cristianismo histórico é distinto da nova teologia. Seu primeiro ponto de diferenciação é a existência ou não de um começo pessoal para tudo ou mero acaso. 

Na possibilidade bíblica estão os fatos verificáveis, um Deus pessoal comunicando-se com o homem proposicionalmente, de forma verbalizada,  comunicação que é verdadeira e mas não exaustiva.

Schaeffer faz questão de ressaltar que a personalidade não implica em limitação. 

Quanto trata da questão do escândalo da cruz, Schaeffer explica:

"O verdadeiro escândalo é que, por mais fielmente ou claramente que preguemos o Evangelho, ao chegarmos em um determinado ponto, o mundo, por estar em rebelião, virará as costas. Os homens viram as costas não porque o que é dito não faz sentido, mas porque não querem curvar-se perante o Deus que existe. Este é o escândalo da cruz" (p. 100)

Sobre a teologia liberal e o universalismo:

"Por não ter lugar para a antítese e pelo fato de o pecado e a culpa serem proponentes em ultima análise de um problema metafísico e não moral, a nova teologia tem um universalismo implícito ou explícito no que se refere à salvação...Não tem uma antítese final entre o certo e o errado e portanto não pode haver tal coisa chamada culpa moral real, portanto, a justificação como uma mudança radical na relação com Deus não tem significado, e por isso ninguém está realmente condenado. Baseado no sistema deles, esta é uma posição perfeitamente coerente e necessária a ser sustentada e o universalismo está relacionado com o seu sistema" (p. 101)

Quanto a racionalidade, ela nunca deve vir exclusivamente, porque o cristão não tenta começar autonomamente de si mesmo e elaborar um sistema a partir daí. 

No quarto capítulo,  Falando do cristianismo histórico para o pensamento do século vinte, Schaeffer vai  para os pontos de contato entre o cristão e não cristão.  Para ele o ponto fundamental da apologética é o amor:

"O amor não é algo fácil: não é apenas uma necessidade emocional, mas também uma tentativa de nos colocarmos no lugar do outro e ver como os problemas são vistos por ele. Amor é uma preocupação genuína pelo indivíduo. Como Jesus nos lembra, devemos amá-lo como nós mesmos. Este é o lugar que devemos começar" (p. 120).

Schaeffer aborda o tema da impossibilidade de se viver com as conclusões das pressupossições não cristãs:

"É impossível para qualquer grupo ou indivíduo não cristão ser coerente com seu sistema, tanto na lógica como na prática. De maneira que, ao ficar cara a cara com um homem do século vinte, quer seja ilustre ou um simples homem da rua, um homem da universidade ou das docas, você estará olhando para um homem em tensão. E é esta tesão que trabalha a seu favor quando você lhe falar. Se eu não soubesse que isto é verdade através da Palavra de Deus e da experiência pessoal, não teria a coragem de entrar nos círculos em que entro. Uma pessoa pode tentar reprimir a tensão e você talvez precise ajuda-lo a encontrar, mas em algum lugar existe um ponto de incoerência. Ela se encontra numa posição que não pode assumir até o fim. Isto não é somente um conceito intelectual de tensão, mas faz parte daquilo que ele é como homem" (p. 122)

Apesar disto, a apologética nunca pode ser pensada como neutra como evidencialista. Nem tão fechada como a pressuposicional, existe uma possibilidade de diálogo.

"A verdadeira fé cristã se baseia em conteúdo. Não é algo vago que substitui a compreensão do real, nem é a força da crença que tem valor. A verdadeira base da fé não é a própria fé, mas o trabalho que Cristo terminou na cruz. Minha crença não é a base para ser salvo, a base é o trabalho de Cristo. A fé cristã se dirige ao exterior, para uma pessoa real: Crê no Senhor Jesus e serás salvo". (p. 133)


quinta-feira, março 20, 2014

"Apenas a igreja pode ministrar para a pessoa toda. Apenas o evangelho entende que o pecado tem arruinado a nós tanto individualmente como socialmente. Não podemos ser vistos individualisticamente (como os capitalistas fazem) ou coletivamente (como os comunistas fazem) mas como relacionados com Deus. Apenas cristãos, armados com a Palavra e o Espírito, planejam e trabalham para levar o reino e retidão de Cristo podem transformar uma nação como também uma vizinhança como também um coração machucado.

quinta-feira, março 06, 2014

ALVIN PLANTINGA Deus, a liberdade e o mal


ALVIN PLANTINGA Deus, a liberdade e o mal,


A existência de Deus nem é impedida pela existência do mal nem se torna improvável. É claro que o sofrimento e o infortúnio podem, apesar disso, constituir um problema para o teista, mas o problema não é que as suas crenças são logicamente ou probalisticamente incompatíveis. O teísta pode encontrar um problema religioso no mal, na presença do seu próprio sofrimento ou do sofrimento de alguém que lhe seja próximo, o teísta pode ter dificuldade em manter o que considera ser a atitude própria diante de Deus. Diante do grande sofrimento ou infortúnio, o teísta pode sentir-se tentado a rebelar-se contra Deus, agitando o seu punho na face de Deus, abandonando ate sua crença em Deus. Tal problema pede cuidado pastoral e não esclarecimento filosófico. A defesa do livre-arbitrio, contudo, mostra que a existência de Deus é compatível, tanto lógica como probalisticamente, com a existência do mal, assim, resolve o problema filosófico principal do mal (p. 84)