REVELAÇÃO GERAL E ESPECIAL.
“Visto
que realidade de Deus é premissa para a veneração humana de Deus, religião tem
por ponto de partida o conhecimento de Deus. Conhecimento de Deus, porem, pode
ser conhecimento verdadeiro, correspondente à realidade de Deus, somente sob a
condição de ter sua origem na própria divindade” (PANNENBERG,
Wolfhart Teologia Sistemática Santo
André:Editora Paulus/Academia Cristã,2009, Vol. 1, p. 261)
Neste texto,
será apresentado alguns conceitos a respeito da Revelação Geral e da Revelação
Especial. O método que será utilizado vem de cinco textos bíblicos citados pelo
professor Franklin Ferreira em sua obra Teologia
Cristã, quando trata a respeito do tema da revelação geral. Que são: Gn
1:1, Sl 19:1-6, At. 17:22-31, Rm 1:18-23 e Rm 1:24-32.
Este é
um trabalho inicial, não tem pretensões de criar teoria, mas tentar expor
diversos pensamentos a respeito do tema seguindo como guia o primeiro do livro Teologia Cristã.
O que seria Revelação.
Alister
McGrath, em seu livro Teologia Sistemática, Histórica e Filosófica, aponta
quatro formas como podemos entender o que significaria revelação:
a.
Doutrina: se refere à informação relativa à natureza
de Deus dada pela Bíblia (Carl Henry, J.I.Packer, Karl Barth)
b.
Presença: seria a junção das informações e a presença
pessoal de Deus (Brunner, Buber).
c.
Experiência: Deus se revela através da experiência
pessoal (Schleirmacher, Ritschl)
d.
História: revelação seria um evento histórico notório
e universal reconhecido e interpretado como um ato divino (Pannenberg).
A Revelação Geral
A
revelação geral é a revelação de Deus para todos os seres humanos, sendo que os
meios tradicionais de revelação geral são três: a natureza, a história e a
constituição do ser humano segundo vaticina Millard Erickson.
a.
No
princípio, criou Deus os céus e a terra (Gênesis 1:1)
A
Escritura sagrada não busca provar a existência de Deus, ela parte do
pressuposto que Deus já existe e se comunica aos homens.
“Contra
a tendência universal das religiões primitivas de deificar a criação. Genesis 1
apresenta um quadro totalmente diferente. Os vários aspectos da criação, como o
mar, o ceu, as estrelas, são apresentados como criações inanimadas que servem
aos propósitos de Deus. Não são seres vivos e muito menos divinos. Não tem
poder de determinar o que será o futuro e não merecem o temor, nem o louvor do
homem. A criação dos animais também aponta sua inferioridade a Deus. Os animais
não são objeto de louvor. A criação revela a glória de Deus, mas não deve
jamais ser confundida com o divino. Deus é distinto da criação” (FERREIRA,Franklin
e MYATT, Alan Teologia Sistemática, p.69)
b.
Os céus
declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos. Um dia
faz declaração a outro dia, e uma noite mostra sabedoria a outra noite. Não há
linguagem nem fala onde não se ouça a sua voz. A sua linha se estende por toda
a terra, e as suas palavras até ao fim do mundo. Neles pôs uma tenda para o
sol, O qual é como um noivo que sai do seu tálamo, e se alegra como um herói, a
correr o seu caminho. A sua saída é desde uma extremidade dos céus, e o seu
curso até à outra extremidade, e nada se esconde ao seu calor. (Salmos 19:1-6)
Segundo
Karl Barth, que não aceitava o conceito de revelação geral:
“a revelação é
uma automanifestação de Deus. Ele se dá a conhecer a si mesmo. A revelação
apresenta ao homem, como suposto e como confirmação, o fato de que as
tentativas humanas para conhecer a Deus por seus próprios meios são vãs. Isto
não é um principio teórico, senão uma realidade prática. Na revelação, Deus diz
ao homem que é Deus e que, como tal, Senhor do homem. Com isto a revelação diz
ao homem algo completamente novo. Algo que, se a revelação, não pode nem saber,
nem dizer aos outros. Que o homem possa conhecer a Deus, somente pode afirma-lo
com verdade a revelação” (BARTH,
Karl Revelação de Deus como sublimação da religião Fonte Editorial, p.44)
A
revelação geral na natureza
A
revelação geral é geral em dois sentidos, segundo Bernard Ramm, primeiro,
porque ela é uma revelação geral para todos os homens sem diferenciar algum
homem ou povo especificamente. E também porque é uma classe geral da revelação,
é aquela que se dá sem linguagem verbal, como vemos no verso 4 do Salmo 19.
“Em
essência, é a idéia de que Deus nos deu uma revelação objetiva, valida e
racional acerca de si mesmo por meio da natureza, da história e da
personalidade humana. Ela é acessível a todas as pessoas que queiram
observá-la. A revelação geral não é a natureza interpretada por aqueles que
conhecem a Deus por outros meios, ela já está presente, pela criação e pela
providência contínua de Deus” (ERICKSON,
Millard Introdução a Teologia Sistemática, São Paulo: Edições Vida Nova, 1997,
p.49)
Teologia Natural.
A
revelação geral não faz com que o descrente possa chegar até Deus, não existe a
possiblidade de uma teologia natural, que é uma acomodação do motivo básico
graça-natureza conforme Dooyeweerd:
"Na esfera
natural, uma autonomia relativa foi atribuída à razão humana, que supostamente
seria capaz de descobrir as verdades naturais por sua própria luz. Na esfera
sobrenatural da graça, pelo contrário, o pensamento humano era considerado
dependente da autorrevelação divina" (DOOYEWEERD, Herman No Crepusculo
do Pensamento Ocidental Editora Hagnos p. 96)
Contudo,
"A tentativa tomista de sintetizar os motivos
opostos de natureza e graça, e a atribuição de primazia ao último, encontrou
uma clara expressão no adágio: gratia naturam non tollit, sed perfecit ( a
graça não cancela a natureza, mas a aperfeiçoa) (...) Qualquer ponto de conexão
entre as esferas natural e sobrenatural foi negado. Isso foi a introdução para
uma transferência da primazia para o motivo da natureza. O processo de
secularização da filosofia havia começado" (DOOYEWEERD, Herman No Crepusculo do Pensamento Ocidental Editora Hagnos p. 97)
Por
causa da razão continuar ser autônoma e não foi afetada pelo pecado, o
conhecimento da criação e da história é possível para todas as pessoas. Na
Teologia Sistemática, Franklin e Myatt apontam cinco caminhos tomistas para
Deus: a. o caminho da mutação, b. o caminho da causalidade eficiente, c. o
caminho da contigencia, d. o caminho dos graus de perfeição e d. o caminho do
finalismo.
“Na
teologia natural, a razão usurpa o lugar da fé. Seu resultado é um conhecimento
abstrato e impessoal. Em vez de chegar a Deu, ela agarra um sonho fabricado
pelo diabo. Por outro lado, a cruz de Cristo significa o fim de toda
especulação sobre a natureza invisível de Deus” (FERREIRA, Franklin MYATT, Alan Teologia Sistemática, São Paulo: Edições Vida Nova, p. 60)
c.
E,
estando Paulo no meio do Areópago, disse: Homens atenienses, em tudo vos vejo
um tanto supersticiosos; Porque, passando eu e vendo os vossos santuários,
achei também um altar em que estava escrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Esse, pois,
que vós honrais, não o conhecendo, é o que eu vos anuncio.O Deus que fez o
mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos
feitos por mãos de homens; Nem tampouco é servido por mãos de homens, como que
necessitando de alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, e a
respiração, e todas as coisas; E de um só sangue fez toda a geração dos homens,
para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes
ordenados, e os limites da sua habitação; Para que buscassem ao Senhor, se
porventura, tateando, o pudessem achar; ainda que não está longe de cada um de
nós; Porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos; como também alguns dos
vossos poetas disseram: Pois somos também sua geração. Sendo nós, pois, geração
de Deus, não havemos de cuidar que a divindade seja semelhante ao ouro, ou à
prata, ou à pedra esculpida por artifício e imaginação dos homens. Mas Deus,
não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, e
em todo o lugar, que se arrependam; Porquanto tem determinado um dia em que com
justiça há de julgar o mundo, por meio do homem que destinou; e disso deu
certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos. (Atos 17:22-31)
Transcendência, imanência e
cognoscibilidade.
“Devemos
notar que um dos argumentos centrais desse sermão é: todas as coisas foram
criadas por Deus, e esse Criador é distinto de toda a criação – aliás, o
argumento é contundente. Ainda que todas as coisas cridas sejam
impressionantes, o Senhor do céu e da terra está acima de toda a criação. E
Deus também não pode ser alcançado pelos
seres humanos. Não é o esforço religioso ou piedoso que leva Deus a incluir os
seres humanos em sua aliança” (FERREIRA, Franklin Teologia Cristã, São Paulo: Vida Nova, p. 39)
Existe a
necessidade da revelação por causa da transcendência de Deus e da sua
incompreensibilidade. Para entender a transcendência divina, devemos lembrar
que Deus é transcendente e imanente, assim, sabemos que Deus é o Senhor da
Aliança e que está envolvido com suas criaturas, mas Deus não é aquele que está
infinitamente distanciado da criação e também não é idêntico à criação.
Quanto a
incompreensibilidade, John Frame nos ensina que “não é inapreensibilidade (ié., incognoscibilidade), porque a
incompreensibilidade pressupõe que Deus é conhecido. Dizer que Deus é
incompreensível é dizer que o nosso conhecimento jamais é equivalente ao
conhecimento que Deus tem, que nunca o conhecemos precisamente como ele se
conhece” (FRAME, John M. A doutrina do
conhecimento de Deus Cultura Cristã, p. 37)
O que
existe é a descontinuidade entre nossas ideias e as de Deus, os pensamentos de
Deus são incriados e eternos e os nossos são criados e limitados, por exemplo.
Por outro lado, há uma continuidade, os pensamentos humanos somente são
verdadeiros na medida de sua conformidade às normas divinas para o pensar o
humano.
“Porque
ele controla perfeitamente a nossa obra interpretativa, todo o nosso pensamento
é uma revelação dele e uma manifestação da sua presença. Assim, não temos
necessidade de temer que a obra da mente humana esteja necessariamente
competindo com a autoridade de Deus, porque o Senhor se revela em nosso pensar
e por meio deste. Dai, a liberdade humana não tem necessidade de bloquear a revelação
de Deus” (FRAME, John M.
A doutrina do conhecimento de Deus Cultura Cristã, p. 45)
d.
Porque
do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos
homens, que detêm a verdade em injustiça. Porquanto o que de Deus se pode
conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as suas coisas
invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua
divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas,
para que eles fiquem inescusáveis; Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o
glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se
desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios,
tornaram-se loucos. E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da
imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis. (Romanos 1:18-23)
Por que todos os homens conhecem a
Deus?
Já vimos
que há conhecimento ainda que não regenerador de Deus na natureza externa e na
história, contudo, há também este conhecer no interior do ser humano, como se
fosse um conhecimento intuitivo de Deus. A passagem paulina é clara os homens
conhecem a Deus mas sufocam este conhecimento com a idolatria. Como é este
conhecimento interior?
Mais uma
vez, Dooyeweerd complementa dizendo que:
Uma vez
que a imagem de Deus no homem relaciona-se com a radix, ou seja, o centro
religioso e raiz de nossa existência temporal total, segue-se que a queda no
pecado pode apenas ser entendida no mesmo sentido bíblico radical. A queda no
pecado pode ser resumida como uma ilusão surgida no coração humano, quando o eu humano creu possuir uma
existência absoluta como o próprio Deus. Essa foi a falsa insinuação de satanás
à qual o homem deu ouvidos - serás como deus". Essa apostasia em relação
ao Deus vivo implicou na morte espiritual do homem, pois o eu humano não é nada
em si mesmo e pode apenas viver da palavra de Deus e na comunhão amorosa com
seu Criador divino. Entretanto, o pecado original não poderia destruir o centro
religioso da existência humana e o seu impulso religioso inato de buscar a sua
origem absoluta. Ele poderia apenas conduzir esse impulso central para um
direção falsa, apóstata, desviando-o em direção ao mundo temporal com sua rica
diversidade de aspectos, os quais, entretanto, têm apenas um sentido relativo" (DOOYEWEERD, Herman No Crepusculo do Pensamento Ocidental Editora Hagnos p. 260)
Por fim,
a conclusão de FERREIRA e MYATT leva a questão do ponto de contato entre o
regenerado e o não regenerado:
“mediante
uma iluminação que atinge todos os homens, cada pessoa percebe claramente a
existência, o poder e a justiça de Deus. Entretanto, nenhuma delas louva e
serve a Deus, por causa do pecado que reina no coração humano. Alias, todos
sabem que Deus existe e reconhecem que ele é o criador, o Rei soberano,
pefeito, infinito e o juiz do mundo. Existe “terreno comum” entre o descrente e
o crente, porque todos têm em comum esse conhecimento de Deus. Conhecimento que
pode ser usado como base para evangelizar o não-crente e para a apologética.
Essa revelação não é suficiente para salvar porque não revela o evangelho, mas
é suficiente para condenar justamente todos os homens” (FERREIRA,Franklin MYATT, Alan Teologia Sistemática, p. 63)
Em
Apologética para o século XXI, Alister McGrath buscando fundamentar um ponto de
contato em Calvino diz:
“Calvino
afirma que é possível discernir um conhecimento geral de Deus por intermédio de
sua criação: na humanidade, na ordem natural e no processo histórico em si.
Esse conhecimento consiste em duas áreas principais: uma, subjetiva, outra
objetiva. A primeira área é definida como “senso da divindade” (sensus
divinitatis) ou “semente da religião” (semem religionis), implantada em todo
ser humano por Deus (I,iii, I.v.1). Deus dotou os seres humanos de uma
percepção inata ou pressentimento de sua existência. É como se alguma coisa
acerca de Deus tivesse sido gravada no coração de cada ser humano (I,x,3).
Calvino aponta três consequências dessa consciência inata da divindade: a
universalidade da religião (que, se permanecer não informada pela revelação
cristã, degenera em idolatria (I,iii,1), uma consciência perturbada (I.iii.2) e
um temor servil de Deus (I.iv.4). Todas essas coisas, segundo Calvino, podem
servir de ponto de contato para a proclamação cristã” (MCGRATH, Alister Apologética
para o século XXI, Editora Vida, p. 41-42)
O ponto
de contato entre crentes e descrentes é um fato de divisão na apologética
contemporânea, de um lado, há os evidencialistas, que afirmam existir um
terreno comum e, por outro lado, há os pressuposicionalistas, que não admite um
ponto de contato, entretanto, aceitam a ideia de uma revelação geral.
Vejamos
o que diz John Frame, um pressuposicionalista:
"O
ponto não é se os descrentes são simplesmente ignorantes da verdade. Antes,
Deus se revelou a cada pessoa com evidente claridade, tanto na criação - Sl 19,
Rm 1:18-21- quanto na natureza do homem - Gn 1:26ss-. Em certo sentido, o
incrédulo conhece a Deus (Rm 1:21). Em algum nível de sua consciência ou
inconsciência permanece tal conhecimento.
A despeito desse conhecimento, o incrédulo intencionalmente distorce a
verdade, substituindo-a pela mentira (Rm 1:18-32, 1Co 1:18-2:16- observe
especialmente 2:14-,2Co 4:4). Portanto, o descrente é enganado (Tt 3:3). Ele
conhece a Deus (Rm 1:21)e, ao mesmo tempo, não conhece a Deus (1Co 1:21, 2:14).
Evidentemente, esses fatos suportam o ponto de que a revelação de Deus tem de
governar a nossa aproximação
apologética. O descrente não pode ( e não quer) chegar à fé à parte do evangelho da salvação revelado na
Bíblia. Nós também não saberíamos a respeito da condição do incrédulo à parte
da Escritura. E não poderemos alcançá-lo apologeticamente a menos que estejamos
dipostos a ouvir os princípios apologéticos da própria Escritura" (FRAME, John Apologética
para a glória de Deus São Paulo: Cultura Cristã, p.17)
e.
Por isso
também Deus os entregou às concupiscências de seus corações, à imundícia, para
desonrarem seus corpos entre si; Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e
honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito
eternamente. Amém. Por isso Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as
suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza. E,
semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se
inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens,
cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu
erro. E, como eles não se importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os
entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convêm; Estando
cheios de toda a iniqüidade, prostituição, malícia, avareza, maldade; cheios de
inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade; Sendo murmuradores,
detratores, aborrecedores de Deus, injuriadores, soberbos, presunçosos,
inventores de males, desobedientes aos pais e às mães; Néscios, infiéis nos
contratos, sem afeição natural, irreconciliáveis, sem misericórdia; Os quais,
conhecendo a justiça de Deus (que são dignos de morte os que tais coisas
praticam), não somente as fazem, mas também consentem aos que as fazem.
(Romanos 1:24-32)
Por que todos os homens não conhecem
a Deus?
Os seres
humanos não conseguem agir à altura da revelação que eles carregam
interiormente, no coração. O fato de termos sido criados como seres morais nos
torna indesculpáveis perante Deus (FERREIRA,
Franklin Teologia Cristã, p. 42)
“A
natureza moral e espiritual da humanidade reflete, mesmo de forma bastante
inadequada, o caráter moral de um Criador santo e perfeito. Uma consciência
universal (por mais distorcida) da conexão entre a humanidade e Deus é afirmada
repetidas vezes nas Escrituras. Que o diga o teste¬munho dos missionários e
antropólogos.30 Romanos 2 confir¬ma a validade da revelação divina através da
natureza hu¬mana, mesmo à parte de qualquer revelação especial (Rm 2.11-15). Os
que não possuem a Lei Mosaica "fazem natural¬mente as coisas que são da
lei", pois "mostram a obra da lei escrita no seu coração" (Rm
2.14,15). Até mesmo os que se acham alienados de Deus por causa do pecado não
estão destituídos da consciência moral e dos impulsos que refletem as normas de
conduta. A graciosa revelação moral de Deus ao coração humano tem preservado a
raça adâmica de irrefreada autodestruição”. (HORTON,
Stanley Teologia Sistemática Rio de Janeiro:CPAD,
p.40)
A
doutrina da revelação geral nos mostra que Deus já se revelou no mundo, sendo
conhecida a verdade da criação para todas as criaturas na natureza, na história
e no coração (ou mente) do homem, contudo por causa do pecado, há uma
interpretação distorcida destes fatos que leva a todos à condenação por termos
transformado a verdade em mentira, servindo às criaturas e não ao Criador.
A
revelação geral nos leva ao conhecimento do Deus criador, enquanto que somente
a revelação especial pode nos levar ao conhecimento do Deus redentor e salvador.
Outra
questão é a própria natureza finita do ser humano:
“Sendo
os seres humanos finitos e Deus, infinito, não podemos conhecer a Deus, a menos
que ele se revele para nós, ou seja, a menos que ele se manifeste aos humanos
de tal forma que estes possam conhecê-lo e ter comunhão com ele” (ERICKSON, Millard Introdução a Teologia Sistemática,
São Paulo: Edições Vida Nova, 1997, p.41)
A Revelação Especial é uma revelação
remediadora?
Para
Erickson, não:
“É comum
a ideia de que a revelação especial seria um fenômeno posterior à queda,
exigido pelo pecado humano. Com frequência, ela é considerada remediadora (...)
O relato sobre Deus à procura de Adão e Eva no Jardim, após o pecado deles (Gn
3:8), dá a impressão de que esse foi um de vários encontros especiais que
ocorreram. Além disso, as instruções dadas aos homens (Gn 1:28) acerca da
posição e da atividade deles na criação insinuam uma comunicação especial do
Criador para a criatura; não parece que tais instruções fossem meramente inferidas pela observação da
ordem criada. Sendo assim, a revelação especial foi anterior à queda” (ERICKSON, Millard Introdução a Teologia Sistemática,
São Paulo: Edições Vida Nova, 1997, p.57)
Para
Ramm, sim:
“A
revelação especial é remediadora porque é o meio que Deus emprega para alcançar
o pecador com uma verdade que o salve e o restaure; é também, o conhecimento de
Deus ajustado e dado aos pecadores, é a muleta remediadora, a bandagem
curadora, as lentes corretivas, para o pecadores coxos, feridos e cegos. Para
esses pecadores a revelação geral já não
basta. A revelação remediadora é revelação da graça. No pecado há uma terrível
perda: perdeu-se o conhecimento valido de Deus (Rm 1:25)” (RAMM, Bernard REVELAÇÃO
ESPECIAL E A PALAVRA DE DEUS, Fonte Editorial, p. 22)
A necessidade de um novo coração.
"Assim,
o tema central das Escrituras sagradas, ou seja, a criação, queda no pecado e
redenção por Jesus Cristo na comunhão do Espírito Santo, tem uma unidade
radical de sentido que está relacionada
à unidade central da existência humana. Ele efetiva o verdadeiro conhecimento
de Deus e de nós mesmos. se nosso coração estiver realmente aberto para o
Espírito Santo de forma a se encontrar cativo da palavra de Deus e prisioneiro
de Jesus Cristo. À medida em que esse sentido central da palavra-revelação
estiver em questão, encontrar-nos-emos além dos problemas científicos, tanto da
teologia como da filosofia. Sua aceitação ou rejeição é uma questão de vida ou
morte para nós, e não uma questão de reflexão teórica. Nesse sentido, o motivo
central das sagradas Escrituras é o ponto de partida comum, supracientífico,
tanto de uma teologia bíblica quanto de uma filosofia realmente cristã. Ele é a
chave do conhecimento, a qual Jesus Cristo mencionou em sua discussão com os
escribas e doutores da lei. Ele é a pressuposição religiosa de qualquer
pensamento teórico capaz de reivindicar para si, com justiça, a posse de um
fundamento bíblico. Mas, como tal, ele nunca poderá se tornar o objeto teórico
da teologia, assim como Deus e o eu humano não podem se tornar esse
objeto" (DOOYEWEERD,
Herman No Crepusculo do Pensamento
Ocidental Editora Hagnos p. 188)
Finalmente,
a necessidade do novo nascimento para que possamos entender e compreender a
revelação de Deus. Acredito que há
pontos em comum, contudo, não são argumentos que transformam o coração do
descrente, somente a revelação especial realizada pelo Espírito Santo.
Há um
trabalhar da Trindade que deseja ser conhecida por nós. O Pai que conhece tudo
e a todos se revela a nós através do seu Filho que mediante a obra do Espírito
atua em nosso coração.
Concordo
com a noção de James W.Sire a respeito da cosmovisão, que ela “é um compromisso, uma orientação fundamental
do coração, que pode ser expresso como uma estória ou num conjunto de
pressuposições (suposições que podem ser verdadeiras, parcialmente verdadeiras
ou totalmente falsas) que sustentamos (consciente ou subconscientemente) sobre
a constituição básica da realidade, e que fornece o fundamento no qual vivemos,
nos movemos e existimos” (SIRE,
James W. Dando nome ao Elefante Brasília:Editora Monergismo, 2012, p. 179)
“Chamo
piedade à reverência associada com o amor de Deus que nos faculta o
conhecimento de seus benefícios. Pois, até que os homens sintam que tudo devem
a Deus, que são assistidos por seu paternal cuidado, que é ele o autor de todas
as coisas boas, daí nada se deve buscar fora dele, jamais se lhe sujeitarão em
obediência voluntária. Mais ainda: a não ser que ponham nele sua plena
felicidade, verdadeiramente e de coração nunca se lhe renderão por inteiro.” (CALVINO, João Institutas,1.II.1)
Conclusão
Por fim,
termino este trabalho, voltando ao começo, os textos bíblicos. Em sua obra
Teologia Sistemática, FERREIRA E MYATT fazem uma concatenação interpretativa
dos trechos bíblicos aqui levantados:
“Nossa
exegese das Escrituras mostra que Deus é revelado no mundo físico (Sl 19:1-6;
Rm 1:18ss), na lei moral presente no coração do homem (Rm 2:14-15) e na
história (At 17:26-27). A complexidade do mundo, com suas leis, ordem e beleza,
revela os atributos invisíveis de Deus. O invisível é visto através do visível.
A racionalidade suprema e absoluta de Deus é revelada na ordem racional da criação.
Assim, a eternidade, a divindade, o poder, a sabedoria e a glória de Deus são
revelados (sl 29:4, 93:1,4;104:24, Rm 1:20)” (FERREIRA,Franklin
MYATT, Alan Teologia Sistemática, p. 73)
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