terça-feira, março 13, 2007

Vale a pena ler

"a questão no Brasil não é a fome: no Brasil o percentual de pessoas emagrecidas, único indicador que realmente mede a quantidade de famintos, é inferior ao limite máximo considerado normal. Se é assim, eu acredito que o Brasil tem necessidades mais urgentes. Investir em educação é uma delas, porque somente ela é capaz de emancipar uma pessoa. A outra é investir na infra-estrutura do país de modo a superar os gargalos que impedem o nosso desenvolvimento"

Ali Kamel em Não Somos Racistas p. 127



Não somos racistas é um livro nascido do espanto. Movido pelo instinto de repórter, Ali Kamel, diretor de jornalismo da Rede Globo, começou a perceber que a política de cotas proposta pelo Governo Lula — e que pode ser aprovada em breve pelo Senado — divide o Brasil em duas cores, eliminando todas as nuances características da nossa miscigenação. Ali constata, estarrecido, que, nesta divisão entre brancos e não-brancos, os "não-brancos" são considerados todos negros: “Certo dia, caiu a ficha: para as estatísticas, negros eram todos aqueles que não eram brancos. Cafuzo, mulato, mameluco, caboclo, escurinho, moreno-bombom? Nada disso, agora eram brancos ou negros. Pior: uma nação de brancos e negros, onde os brancos oprimem os negros. Outro susto: aquele país não era o meu”.

A tentativa de entender e reconhecer este novo país fez com que o jornalista, ex-aluno do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ, revisse antigas leituras e pesquisasse documentos, livros e teses. O primeiro capítulo de Não somos racistas mostra como a política de cotas começou a ser construída no governo Fernando Henrique Cardoso. Mostra, ainda, como o jovem sociólogo Fernando Henrique foi uma das cabeças de um movimento que dominou parte da intelectualidade nacional nos anos 1950. Um movimento que se afastava do conceito de multiplicidade e democracia racial proposto por Gilberto Freyre em obras como Casa grande & senzala e dividia o Brasil entre duas cores: negros e brancos.

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