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sexta-feira, dezembro 02, 2011

Martin Barcala: Cristianismo Arreligioso




Terminei o livro CRISTIANISMO ARRELIGIOSO escrito pelo Pr. Martin Barcala, - agora retomo o resumo até o final do livro... recolando partes do post original.




O livro tem dois subtítulos que explicam seu propósito, o primeiro, guia para entender o contexto histórico e a produção literária, bem como a recepção e interpretação do pensamento do teólogo alemão, e o outro, uma introdução à cristologia de Dietrich Bonhoeffer.

O livro em português é filho único, não há por aqui nenhum outro título que analise e pense a obra de Bonhoeffer. E é um bom livro. O autor a partir das obras de Bonhoeffer vai analisando a cristologia e sua evolução -ou não- histórica no pensamento do autor alemão.

É bem diferente do livro de Eric Metaxas, que analisa mais a vida mesma de Bonhoeffer, aqui a preocupação é mais com a obra teológica. Se Metaxas escreveu um roteiro de cinema, pintando o alemão como um autor quase envangelical, Barcala traz um autor inovador da teologia radical.

Quantos Bonhoeffers cabe nele mesmo? Acho que isto acontece pela própria diversidade dos escritos do próprio autor, e sua vida e obra inacabada. 


Vale muito a leitura deste livro, é uma contraposição científica a história de Metaxas.


O livro está dividido em três partes, a 1a. - DE CRISTO EXISTINDO EM COMUNIDADE AO CRISTO SENHOR DO MUNDO, a 2a. CRISTIANISMO ARRELIGIOSO NAS CARTAS E ESCRITOS DA PRISÃO e 3a.  DO CRISTIANISMO ARRELIGIOSO À TEOLOGIA DA MORTE DE DEUS.


No primeiro capítulo, De Cristo existindo em comunidade ao Cristo, Senhor do mundo, o autor analisa as primeiras obras acadêmicas de Bonhoeffer e conceito de cristologia apresentado nelas. 


No primeiro, SANCTORUM COMMUNIO, está o conceito de cristologia como Cristo existindo em comunidade, o pecado original se fundamenta e expande sempre desde uma ação egocêntrica  que não aceita afirmar o outro como valor. Há oito princípios que são apresentados por Barcala que são sustentados por Bonhoeffer a respeito da igreja (p. 27-28):


1. a igreja é concebida como ecclesia, que é a plenitude de qahal- termo pelo qual era designada a reunião do povo de Israel no AT-. 


2. existe pela ação de Cristo.


3. existe uma identificação de Cristo com a comunidade, ser em Cristo equivale a ser em comunidade.


4. pessoa coletiva de Cristo,sem que isso seja uma plena identificação com Cristo




5. é Cristo existente como comunidade, a presença de Cristo no mundo


6. é o corpo de Cristo, como anúncio escatológico da nova comunidade de pessoas.


7. visível pelo coletivo no culto e na ação de uns para os outros.


8. ao invés de imposição (totalitarismo), há um serviço mútuo (organicidade paulina).


"a importância dada a igreja como comunidade que representa concretamente a presença de Cristo no mundo; a transcendência  no interior da imanência possibilitada pelo encontro com o semelhante na comunidade da fé e condensada no conceito de ser-para-os-outros como modo de existir de Jesus Cristo e dos cristãos; e a critica à religião como tentativa humana de recuperar seu estado original por meio de rituais e práticas  individualizantes e especulações metafísicas" (p. 41)
A causa do desespero humano e a principal característica de sua existência é a transitoriedade, não é o ser humano que prepara a glória de Deus, ela já está lá na criação e, portanto, não desaparece totalmente com a queda humana. Bonhoeffer ao contrário de Barth, preserva o conceito de ordem de preservação mesmo após a queda, mas como o mestre suiço, nega a ordem da criação. A única continuidade entre Deus e sua criação é sua Palavra, há a transcendência a partir do encontro com o outro, há uma analogia relationis, e não analogia entis entre Deus e o ser humano, ou seja, apenas na relação com o seu semelhante o ser humano se descobre como imagem de Deus e, portanto, conhece a Deus na presença de seu próximo. (p. 46)


A teologia natural seria pretender ir além da palavra dada por Deus, a religião é o produto do ser humano que deixou de ser a imago dei e tornou-se sicut deus, ser religioso é tentar encontrar uma nova forma de ser para Deus que vá além da palavra de Deus, que se origina do conhecimento humano sobre Deus e sobre o bem e o mal. Para Bonhoeffer, o ser humano perde a noção de sua criaturalidade tornando-se seu próprio deus, assim sendo, "a consciência leva o ser humano de Deus para o seu lugar escondido, para que, sentindo-se seguro em seu próprio saber do bem e do mal, o ser humano se erija como juiz e anule, assim, o juízo de Deus. A consciência é esta vergonha diante de Deus, na qual se oculta a própria maldade, na qual o ser humano justifica-se a si mesmo... A consciência não é a voz de Deus no ser humano pecador, senão que é precisamente a defesa contra esta voz" (p.49)


Para Bonhoeffer, o sacramento não é um ritual praticado pela igreja, nem um símbolo da presença de Jesus, como entendia Lutero, mas é a presença existencial de Cristo no meio da comunidade. A linguagem aqui assemelhasse ao existencialismo de Kierkegaard, já que Cristo está presente no mundo em forma de comunidade, não como ideal ético ou princípio religioso. Não é o ato religioso que faz o cristão, mas a participação nos sofrimentos de Deus na vida secular.


Quanto a Tillich e o método da correlação, Bonhoeffer diz que o pecado é uma realidade antropológica do ser humano, nada pode se saber do ser humano antes que Deus se torne ser humano em Jesus Cristo. Cristo não aparece como o portador de uma nova religião, mas o portador de Deus mesmo.


"A morte e ressurreição de Cristo privaram a igreja primitiva do convívio com a presença física de Jesus. Portanto, a missão da igreja passou a ser conquistar o espaço no mundo para o corpo de Cristo que, desde a encarnação até a morte na cruz, foi rejeitado pela humanidade. À semelhança do que disse anteriormente em outras obras, novamente aqui a igreja é concebida por Bonhoeffer como presença física de Jesus Cristo no mundo. A igreja é o corpo de Cristo buscando ocasião para se encarnar no mundo" p. 71
Para Bonhoeffer, a única coisa que devia diferenciar o cristão do mundo, o elemento extraordinário, era a cruz, concebida como amor aos inimigos e participação nos sofrimentos de Cristo pelo mundo. Nenhum privilégio, nenhuma doutrina ou ritual, mas a cruz era o sinal visível dos cristãos no mundo. A pergunta é a mesma de Kierkegaard, o que faz um cristão um cristão? Neste aspecto, a ética cristã vai além de uma modelagem dogmática, somente o agir livre e responsável aliado apenas à vontade de Deus seria capaz de expressar a conformação com Cristo. 


Devido a participação de Dietrich nos planos de assassinato de Hitler, sua própria concepção do lugar de Jesus no mundo transformou-se.  O sofrimento humano além daquele em nome de Cristo deve ser valorizado, a igreja não pode esconder-se sobre a idéia de que os judeus não tinham nada a ver com ela. 


Para Bonhoeffer, a primeira tarefa da ética cristã é suspender o saber do bem e do mal,  a possibilidade do julgamento de bem e de mal está na origem da queda e rompimento com Deus. A vontade de Deus é sempre única, e está na concretização de Jesus no ser humano e no mundo. "Somente o agir livre e responsável, aliado apenas à vontade de Deus seria capaz de expressar a conformação com Cristo, modelo para a ética cristã" p. 83


Cristo como Senhor do mundo.


Chegamos a conclusão do capítulo - que começou com as reflexões de Cristo como existindo em comunidade ao Cristo como Senhor do mundo. Para Bonhoeffer, na visão de Barcala, precisamos entender a diferença entre as coisas últimas e as penúltimas como estão no Discipulado.


"Esforçar-se pela causa justa é tomar a sério a realidade do mundo como criação preservada de Deus e reconciliada em Jesus Cristo. É respeitar a legitimidade das coisas penúltimas.......As coisas últimas não estão ao alcance da humanidade. É a palavra misericordiosa de Deus àqueles que perseveram e caem pelo caminho da justiça. É a graça obtida como resultado do seguimento a Jesus Cristo. Nada que se faça no mundo pode garantir a salvação. Portanto, a última palavra de Deus ao ser humano e ao mundo continua sendo sua misericordia. As coisas penúltimas se referem ao que fazer humano em seu cotidiano no mundo. É o caminho  que deve ser trilhado por aqueles que desejam participar do sofrimento de Cristo. Tudo aquilo que, apesar de não garantir o alcance às coisas últimas deve ser assumido seriamente como preparação para o que é ultimo. Resumidamente, é a relação dos cristãos com o mundo no qual estão inseridos" p. 85
 Bonhoeffer começa a emancipar sua teologia da instituição, a participação no corpo de Cristo não incluia apenas a participação na comunidade eclesiástica, mas também os sofrimentos de Cristo no e pelo mundo todo.


Há um certo desencanto com a situação do germanismo cristão e, em especial, o luteranismo alemão e seu distanciamento da questão nazista ou/e judaica e sua (ausência de) participação na vida  alemã.


2. O Cristianismo arreligioso nas cartas e escritos da prisão.


A segunda parte do livro chega ao momento mais angustiante da vida de Bonhoeffer, seu encarceramento por participar de atividades conspiratórias, a SS não sabia na época de sua prisão de sua participação em planos para assassinar Hitler, coisa que só foi saber com o fracasso da operação  Valquíria.


Barcala acredita em evolução e não ruptura no pensamento de Bonhoeffer, o ponto de partida do teólogo alemão foi velho testamento, num momento em que teólogos liberais a serviço do Reich relativizavam a importância dos escritos do primeiro testamento. Em ruptura a isto, Bonhoeffer passou a dedicar-se ao estudo vetero-testamentário.


Bonhoeffer foi além do conceito prenunciatório de Seeberg ou do conceito preparatório de Troeltsch, para Bonhoeffer o Antigo Testamento era o paradigma hermenêutico mais apropriado para se entender o novo.


Quanto a questão da religião, Bonhoeffer parte da distinção barthiana entre religião e revelação.  Sua posição é mais flexível que a de Karl Barth, mas também luta contra o positivismo da religião. O relacionamento do homem com Deus não deveria estar pautado na necessidade barthiana, mas que  em Jesus Cristo, Deus se revela e nos revela o centro da existência. 


Assim,  a linguagem na pregação cristão não é resultado de um esforço para se encontrar o lugar e a revelância de Deus, antes, é a decorrência de uma compreensão mais adequada de Deus. "A autonomia humana é a condição para a qual Deus conduz o ser humano que aceitou a viver como Jesus Cristo, ou seja, existir para-os-outros" p. 121


Então, é no Deus que se identifica conosco que está baseada a nossa fé, não como os deuses gregos que são expressão de força e vontade, o Deus cristão revelado em Jesus é aquele que sofre e se humilha por amor ao humano.


"Nossa relação com Deus não é uma relação religiosa com o ser mais elevado, mais poderoso, melhor que possa imaginar-isto não é transcendência genuína- mas nossa relação com Deus é uma nova vida na existência para os outros, na participação do ser de Jesus. O transcendente não são as tarefas infinitas, inatingíveis, mas é o respectivo próximo que está ao alcance. Deus em figura humana! Não o monstruoso, o caótico, distante, terrível; mas tampouco nas figuras conceptuais do absoluto, metafísico, infinito, etc; tampouco na figura grega do homem-Deus, do ser humano em si, mas do ser humano para os outros! Por isso o crucificado" (na pág. 126)
Há uma concretude no relacionamento com Deus, ele passa pelo nosso relacionamento com  o outro. A negação de um discurso religioso,metafísico deve ser entendida dentro do contexto histórico de Bonhoeffer, da falência do discurso eclesiástico de sua época, ser religioso é insistir numa concepção errônea de Deus.


3. Do Cristianismo Arreligioso à Teologia da Morte de Deus.


No capítulo 3, Barcala analisa a recepção da teologia de Bonhoeffer, a leitura que muitos fizeram de seu cristianismo arreligioso como uma teologia da morte de Deus após sua morte em 9 de abril de 1945, pouco tempo depois de completar 39 anos.


Bethge, amigo e divulgador póstumo da obra de Bonhoeffer, esforçava para demonstrar que não há uma ruptura na obra, há um amadurecimento de conceitos que já estavam presentes em sua teologia antes da prisão. Para tanto, ele parte da análise da cristologia de Bonhoeffer.  Barcala coloca isto claros nas páginas 136-139.


A cristologia de Bonhoeffer deve ser entendida como anti-especulativa, ou seja, Jesus Cristo é tratado como uma pessoa, a pergunta sobre Ele não deve ser o como se deu a encarnação ou que Ele fez, mas antes, quem Ele é.  Por isto, sua teologia se mistura com eclesiologia, no sentido, da presença física de Jesus no mundo.


Outro aspecto é o relacional, em Cristo, os cristãos recebem sua identidade, e assim estão livres para identificarem com a realidade do mundo em se confundir com ela. 


Outro caráter é o universal, Cristo não é a fronteira da existência humana, mas sim seu sustentador, ele é o próprio  centro da existência. Há em Cristo, uma redenção histórica e universal.


Por fim, ela é aberta, admite a inclusão de novos símbolos, significados e títulos.


Em sua crítica à religião, Bonhoeffer seria completamente incompreendido se a realização de sua interpretação mundana fosse concebida como significando o fim de qualquer reunião comunitária para o culto ou de forma que a palavra, o sacramento e a comunidade pudessem ser simplesmente substituídos por cartas. (p. 147)


Segundo Godsey, citado pelo autor, "em Bonhoeffer nós temos um teólogo cujo pensamento é tão cristocêntrico quanto aquele de Karl Bart, que levanta a questão sobre a comunicação do evangelho tão precisamente como Rudolf Bultmann, que abordou os problemas de nosso mundo pragmático, auto-suficiente e tecnológico tão seriamente quanto Reinhold Niebuhr, mas que, mais do que qualquer um destes homens, refletiu a partir da perspectiva da igreja concreta" (p. 149).


Em sua conclusão, "a dimensão comunitária da fé cristã, entendida por ele como anúncio escatológico da nova humanidade revelada em Jesus Cristo, sempre foi o nascedouro de suas intuições e reflexões teológicas mais profundas" (p. 191)


"Ao confundir seu fundamento com suas doutrinas, ritos ou estruturas, a igreja deixa imediatamente de ser igreja, tornando-se mais uma comunidade religiosa, com um grave risco para sua missão, o esquecimento de que ela não existe para si mesma e, portanto, não deve esgotar seus esforços na tentativa  de preservar um lugar no mundo em que possa existir à parte dos dilemas e das lutas humanas" p. 193














sábado, setembro 17, 2011

Ricardo Quadros Gouveia: Paixão pelo Paradoxo


Pensar em teologia, sem passar pelo pensamento, ou por aquilo que se pensa que é Kierkegaard é um paradoxo hoje.  Ricardo Quadros Gouveia oferece neste livro um trabalho magistral de introdução a obra kieerkegaardiana, busca um pensador além dos seus rótulos e  usos. Sobre Marx, diz-se que os marxitas eram mais marxistas que o próprio Marx, sobre o filósofo dinamarquês a sentença também é verdade.
Kierkegaard, que nunca foi ordenado, e que dizia que seus sermões eram discursos:
"...discursos, não sermões, porque o amor não tem a autoridade para pregar, discursos edificantes, não discursos para a edificação, porque o orador não alega de modo algum ser um professor... Ele também disse, minha tarefa é uludir as pesoas- dentro do sentido de verdade- para o compromisso religioso, que eles lançaram fora, mas eu não tenho autoridade, emlugar de autoridade eu uso o oposto, eu digo, a tarefa toda é para minha própria disciplina e educação. Isto novamente é um modo genuinamente socrático. Exatamente como ele era o ignorante, assim aqui, em vez de ser o professor, sou eu o que deve ser educado" p.22  

 Sobre si mesmo, Kierkegaard fez a seguinte profecia: 

"As condições estão longe de serem confusas o suficiente para que se faça uso correto de mim. Mas isto tudo terminará, como eles verão, com as condições  tornando-se tão desesperadas que eles terão que fazer uso de pessoas desesperadas como eu e meus semelhantes" p. 30

"Kierkegaard é um homem cuja vida do início ao fim desconhece tudo que é chamado deleite...iniciado no que e chamado sofrimento...um homem que na pobreza testemunha a verdade- na pobreza, na humildade, no rebaixamento, e assim não é apreciado, é desprezado e então ridicularizado, insultado, zombado,..um homem que é escorraçado, maltratado, arrastado de uma prisão para outra.... então por fim crucificado, ou decapitado, ou queimado, ou calcinado sobre uma grade, seu corpo sem vida jogado pelo carrasco num lugar ermo... ou queimado até as cinzas e jogado aos quatro ventos, para que qualquer traço do impuro seja obliterado" p. 54
Sobre a semelhança entre Barth e Kierkegaard, Ricardo Quadros Gouveia diz:

" Tanto Kierkegaard quanto Barth tentaram antepor uma theologia crucis contra a predominância de uma theologia gloriae. Outros importantes pontos em comum são o desvelamento da auto-revelação de Deus, uma ênfase na humilhação de Cristo e na possibilidade de Cristo e na possibilidade da ofensa -ainda que Barth estenda e modifique o uso da idéia de Kierkegaard, dizendo que todas as pessoas ofendem-se com Cristo e não apenas os incrédulos, e dizendo que esta ofensa é experimentada também pela própria igreja-" (p.79)

"a renúncia de Barth de tudo que fosse humano, incluindo a assim chamada humanidade renascida, é muito mais radical do que foi a de Soreen Kierkegaard. Isto, por sua vez, significa que a tendência para o ascetismo que aparece gradualmente em Soreen Kierkegaard nunca encontrou eco na mente de Barth... Hans Urs von Balthasar... mostra as atitudes completamente diferentes dos dois teologos em relação a Mozart ... Nos anos 1921, ele Barth podia imprecar contra nossa existência esquecida por Deus em termos tão violentos que não é díficil entender por que ele pode ser acusado de Marcionismo. Mas precisamente a abrangente violência de duas expressões impedem qualquer tendência a escapar para um tipo de ascetismo.  Na prática, o NÃO, totalmente radical tornou-se um SIM. O ponteiro do mostrador da negação girou 360 graus - e parou no ponto de partida.   (,,,)  Na teologia de Hegel há apenas um movimento abstrato de lógica, mas não há necessidade de uma ação ou decisão do indivíduo ou de Deus para reestabelecer um elo, uma relação rompida pelo pecado. Para Kierkegaard, nossa relação para com Deus requer ação divina como ação humana"p. 85


 Para o autor seria exagero dizer que o dinamarques foi precurssor de Barth, como também a afirmação de uma paternidade em relação ao existencialismo, que para o autor seria mais o resultado de uma má leitura do texto de Kierkegaard. 

A nova leitura de Kierkegaard como autor cristão, parte de Gowens, que lê um desenvolvimento religioso em três estágios, primeiro, há fé, que é uma feliz paixão, depois, a esperança, que está relacionada ao sofrimento, e por último, o amor, significaria imitar a Cristo em obras que são frutos de gratidão.

No capítulo 7, Ricardo Quadros Gouveia entra no caráter essencial da obra kierkegaardiana do ponto de vista cristã, um corretivo.  Para o autor,  muitos cristãos de todas as denominações não têm idéia do que seja o cristianismo, pois a verdadeira resolução e transformação interna  raramente é conhecida. Estes precisam ouvir Kierkegaard (p. 122)

Sobre o liberalismo teológico:

"É uma cosmovisão, uma Weltanschauung para a qual uma igreja se move na qual se funde sem perceber, quando ela se rende às tendências culturais de seu tempo (no caso concreto de nosso tempo a mercadologia da sociedade de consumo) e mancha o evangelho com comprometimentos que, ao contrário do que se imagina,. tem mais a haver com orgulho e interesses pessoais (e nacionais) do que com teorias teológicas, filosóficas e científicas" (p.122)
Para Kierkegaard, os dogmas não o problema da igreja, os cristãos é que são. Ele dizia que "A doutrina na Igreja estabelecida e sua organização são muito boas. Mas as vidas, as nossas vidas - acredite-me, estas é que são mediocres" p. 126

A grande questão era saber da existencialidade do tornar-se cristão,  esclarecer o que está envolvido em ser um cristão. Para ele, não é posse garantida de ninguém ser cristão, pois não se é cristão por ter nascido em um país cristão, ou numa família cristã. Nem por ter sido batizado, ou confessado sua fé alguma vez.  O crente não pode se colocar frente a sua fé como mero expectador, deve estar dinamicamente ativo em sua fé, participante da edificação pessoal e espiritual, autor de obras de amor com um empenho nascido da gratidão.

"Sob uma ótica cristã, a ênfase não é sobre a que ponto ou quão longe uma pessoa chegou para alcançar ou preencher os requisitos, se ele realmente se empenha... de modo q1ue ele aprenda mesmo a ser humilhado e a confiar na graça. Reduzir os requisitos de forma a estar apto a melhor preenche-los ...a isto o cristianismo em sua mais profunda essência se opõe. Não... humilhação infinita e graça, e então um empenho nascido da gratidão - isto é cristianismo" p. 130
A Fé em Kierkegaard

"Parece-me que a fé é também o conceito teológico em referência ao qual a teologia cristã se sustenta ou cai. Portanto, sob uma ótica cristã. só há uma única fé que pode ser depositada em Deus ou idolatricamente e rebeldemente em algo que não é Deus. A fé é sempre e unicamente um posicionamento em relação ao Criador e nunca, como sugerem alguns compêndios de teologia, uma realidade psicológica ou antropológica pré-religiosa ou pré-confessional" p. 147
A fé tem uma concepção relacional, de fidelidade ou lealdade a uma pessoa,  como relação pessoal direta.  Significa um ato pessoal e subjetivo de acreditar - fides qua creditur. Também designa a religião cristã, fides quae creditur. 

"No cristianismo, a fé envolve não apenas entendimento doutrinal - notitia-, confiança ou confidência (fiducia) e submissão obediente (assensus),mas também outras noções paralelas como crença (credulitatis), fidelidade (fidelitas), esperança (spes), e firme convicção (persuasio), todas as quais têm seu lugar sob a palavra valise fé" p. 148
A fé não é somente sobre Cristo, ou meramente em direção a Cristo, mas em Cristo. É uma atividade que vive de Cristo, do saber de Cristo e querer Cristo, uma vida de união com Cristo.  Não é algo que acontece num evento isolado da vida, mas uma ação contínua, que representa um modo de ser no mundo. Seria a alegre  e consensual afirmação da mente, coração e vontade à verdade daquilo que não visto empiricamente, que é a auto-revelação de Deus. Seria uma visão espiritual, a contemplação do invisível. Sendo um presente de Deus, enquanto é totalmente desejada pela vontade humana. "A tensão desta dialética entre receptividade e atividade é vista na prece "Senhor, ajuda-me na minha falta de fé - Mc. 9,24-e repetidamente aparece nas epístolas paulinas, cf. Cl 2,6 Fp. 3, 7-9" (p 151).


A justificação pela fé, tendo em vista, a fé como recepção da graça, pode levar a um engano já que sugere que a nossa fé salva, e não a graça de Deus. a salvação depende da fé dada pela graça, e não da absoluta claridade das definições da fé.

A fé e subjetividade.

"O caminho da reflexão objetiva torna o indíviduo subjetivo em algo acidental e com isto torna a existência  em algo diferente, desvanescente. O caminho para a verdade objetiva afasta-se do sujeito, e enquanto o sujeito e a subjetividade se tornam indiferentes,  a verdade também 

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sexta-feira, julho 08, 2011

Kierkegaard: Eternal

The temporal has three times and therefore essentially never is completely nor is completely in any one of the periods; the eternal is. A temporal object can have a multiplicity of varied characteristics; in a certain sense it can be said to have them simultaneously, insofar as in these definite characteristics it is that which it is. But reduplication in itself never has temporal object; as the temporal disappears in time, so also it exists only in its characteristics. If, on the other hand, the eternal is in a man, the eternal reduplicates itself in him in such way that every moment it is in him it is in him in a double mode: in an outward direction and in an inward direction back into itself, but in such a way that it is one and the same, for otherwise it is not reduplication.

quinta-feira, julho 26, 2007

Kierkegaard - Faith and Tremble.


Faith is precisely the paradox that the single individual as the single individual is higher than the universal, is justified before it, not as inferior to it but superior—yet in such a way, please note, that it is the single individual who, after being subordinate as the single individual to the universal, now by means of the universal becomes the single individual who as the single individual is superior, that the single individual as the single individual stands in an absolute relation to the absolute. This position cannot be mediated, for all mediation takes place only by virtue of the universal; it is and remains for all eternity a paradox, impervious to thought. And yet faith is this paradox...


The difference between the tragic hero and Abraham is very obvious. The tragic hero is still within the ethical. He allows an expression of the ethical to have its telos [end, goal] in a higher expression of the ethical; he scales down the ethical relation between father and son or daughter and father to a feeling that has its dialectic in its relation to the idea of moral conduct. Here there can be no teleological suspension of the ethical itself.

Abraham's act is different. By his act he transgressed the ethical altogether and had a higher telos outside it, in relation to which he suspended it.... It is not to save a nation, not to uphold the idea of a state that Abraham does it; it is not to appease the angry gods.... Therefore, while the tragic hero is great because of his moral virtue, Abraham is great because of a purely personal virtue