domingo, novembro 29, 2009

ENRIQUE VILLA-MATAS: Bartleby


Ser copista, además, es tener el honor de pertenecer a la constelación Bartleby. Con esa alegría he bajado hace unos momentos la cabeza y me he abismado en otros pensamientos. Estaba en mi casa, pero me he quedado medio dormido y me he trasladado a una oficina de copistas de Ciudad de México. Pupitres, mesas, sillas, butacas. Al fondo, una gran ventana por donde más que verse se dejaba caer un fragmento del paisaje de Comala. Y aún más al fondo, la puerta de salida con mi jefe tendiéndome la mano. ¿Era mi jefe de México o era mi jefe real? Breve confusión. Yo, que estaba afilando lápices, me daba cuenta de que no iba a tardar nada en ocultarme detrás de una columna. Esa columna me recordaba al biombo tras el que se ocultaba Bartleby cuando habían desmantelado ya la oficina de Wall Street en la que vivía.
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ADÉLIA PRADO: O poeta ficou cansado


O poeta ficou cansado


Pois não quero mais ser Teu arauto.

Já que todos têm voz,

por que só eu devo tomar navios

de rota que não escolhi?

Por que não gritas, Tu mesmo,a

miraculosa trama dos teares,

já que Tua voz reboa

nos quatro cantos do mundo?

Tudo progrediu na Terra

e insistes em caixeiros-viajantes

de porta em porta, a cavalo!

Olha aqui, cidadão,

repara, minha senhora,

neste canivete mágico:

corta, saca e fura,

é um faqueiro completo!

Ó Deus,

me deixa trabalhar na cozinha,

nem vendedor nem escrivão,

me deixa fazer Teu pão.

Filha, diz-me o Senhor,

eu só como palavras.


(Adélia Prado, Oráculos de maio)

ALESSANDRO ROCHA: Espírito Santo: aspectos de uma pneumatologia solidária a condição humana


"Ninguém pode entrar no reino de Deus, se não nascer da água e do Espírito. Jesus causa impacto com esta afirmação que o Espírito faz renascer o homem e a mulher, ambos renascem à imagem e semelhança de Deus; é o Espírito que age trazendo vida onde havia morte. Esse aceno contínuo na tarefa de vivificar, gerar e regenerar é próprio do universo feminino. Homens e mulheres novos nascem das entranhas de Deus, nascem desse útero divino que é o Espírito" (p. 29)
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"Deus não sabe nada de antemão porque não quer saber de tudo de antemão; ele aguarda as respostas de suas criaturas e faz vir seu futuro. Deus não é impassível, mas se abre em sua shekinah para as dores de amor que quer salvar o mundo. Isso, de certo modo, torna Deus dependente da resposta de suas criaturas amadas" Jürgen Moltmann na pag. 96
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"A bondade de Deus se revela na decisão de criar um universo fora de si, e vice-versa: adecisão revela sua bondade e o modo de toda verdadeira bondade, que é a difusão, airradiação, o dom de si sem dobras e sem cálculos, por pura expansão de generosidade,deixando livre a graça e o agraciado. Há um significado muito especial no modo de decisão,que revela também o modo de bondade: “de-cisão”, etimologicamente, nos conduz à açãode um corte – uma “cisão” – e de um afastamento, uma separação – “de”. Ou seja: Deus, ao criar algo absolutamente distinto de si, “de-limita-se”, de certa forma, se retrai e renuncia a ocupar todos os espaços para que haja algo fora dele, um espaço de outro, o espaço da criação. Esse gesto criador, que pressupõe essa renuncia inicial por parte de Deus, não é arbitrária e sem significado, pois provém de seu amor: Deus ama o distinto de si e se esvazia, renuncia em favor do outro, dando-lhe espaço e também tempo"
Luiz Carlos Susin, na pag. 93
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"Não existe um testemunho mais seguro, que comprove a veracidade da Bíblia, do que a Palavra viva de Deus, na qual o Pai pronuncia o Filho no coração do homem"
Thomas Müntzer na pag. 153
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"A comunidade evangelizadora deve ser sinal desta vida do Espírito que se manifesta em cada um de seus membros. Mas não é só um exemplo de vida, deve proclamar a vida lai onde existe a morte- não unicamente a morte espiritual, mas todas as manifestações de antivida que se fazem presentes em nosso tempo. Onde impera a fome e a miséria, a angústia e a dor, a tortura e o assasinato...a comunidade deve levar, em sua mensagem e em seu testemunho, a vida do Espírito"
Noberto Saracco na pag. 206

terça-feira, novembro 24, 2009

JACOB BURCKHARDT: A cultura do Renascimento na Itália

A cultura do Renascimento na Itália, considerada a obra-prima de Burckhardt, assinala um ponto crucial na historiografia moderna. Publicado em pequena tiragem em 1860, este livro viu sua importância crescer gradativamente, até se tornar, na virada do século, um texto fundamental de referência não só para historiadores, mas também para filósofos e críticos de arte. A significativa influência de Burckhardt deveu-se também aos cursos que ministrou regularmente, primeiro em Zurique e depois na Basiléia, de 1855 até sua morte, em 1897. A suas aulas concorriam alunos de todos os cantos da Europa - entre outros, Friedrich Nietzche e Heinrich Wölfflin, o futuro fundador da escola crítica da visibilidade pura. Burckhardt foi um conferencista brilhante, tanto que Nietzche afirma ter se entusiasmado pela primeira vez numa palestra graças a ele. A extrema vivacidade da escrita desta Cultura do Renascimento parece reter algo da fala encantatória daquelas aulas.

Companhia de Bolso, 2009, 504 páginas.




ESTADO MODERNO

"A ficção genuinamente moderna da onipotência do Estado: o principe deve cuidar de tudo, construir e manter igrejas e edíficios públicos, conservar a polícia municipal, drenar os pântanos, zelar pelo vinho e pelos cereais, distribuir com justeza os tributos, dar apoio aos desamparados e as doentes e dedicar sua proteção e convívio a eminentes eruditos, uma vez que estes cuidarão da sua glória junto à posteridade" p. 42

VENEZA E FLORENÇA

"Dentre as cidades que preservaram sua independência, duas são da maior importância para toda a história da humanidade: Florença - a cidade em constante movimento, que nos legou testemunho de todas as idéias e propósitos individuais e coletivos daqueles que, ao longo de três séculos, tomaram parte nesse movimento- e Veneza- cidade da aparente ausência de movimento e do silêncio político. A contraposição das duas revela os mais gritantes contrastes imagináveis, ambas, porém, não admitem comparação com nada neste mundo" p. 87

sábado, novembro 21, 2009

Dilma é inocente


Dilma é inocente
seg, 09/11/09
por Guilherme Fiuza

fonte: http://colunas.epoca.globo.com/guilhermefiuza/2009/11/09/dilma-e-inocente/

Ela não tem culpa. Está sendo só ela mesma. Passeia de mãos dadas com o padrinho, reclama da imprensa burguesa, fuxica informações do governo anterior. Isto é Dilma Rousseff.
O problema são os outros. A opinião pública brasileira é comprável com meio slogan. Caetano Veloso, querendo criticá-la, sem querer abençoou a fraude. O mal de Dilma, segundo o compositor, é ser apenas uma gestora, sem experiência política.
Haja paciência. A única verdade incontestável no currículo de Dilma Rousseff – fora as que ela mesma cria – é ser uma militante. Venerável Caetano: política é a única coisa que a ministra-chefe da Casa Civil fez até hoje.
Quem lhe disse que Dilma é gestora? Lula? Os jornais? Procure saber você mesmo. Descubra, se puder, uma única experiência de gestão bem-sucedida da suposta dama de ferro.
A auto-intitulada companheira de armas de José Dirceu fez na vida o que dez entre dez políticos da DisneyLula fazem: buscar o poder, grudar nele, abrir espaços para a companheirada na sombra do Estado brasileiro.
Avalie a gestão mais conhecida de Dilma Rousseff, à frente do Ministério das Minas e Energia (na Casa Civil ela só conspira, faz campanha e brinca de mãe do PAC, portanto não conta). Caetano, você ouviu falar que as concessionárias de energia elétrica estão devendo bilhões de reais ao consumidor, por cobranças excessivas na conta de luz?
Pois bem: isso é uma das obras-primas da famosa gestora Dilma Rousseff.
Copiando o populismo tarifário argentino, a candidata de Lula baixou na marra o preço da energia – como sempre, em nome do povo. É o crime perfeito: o povo fica feliz agora, e se dá mal mais tarde, com a falência das empresas do setor, que acabarão sendo socorridas pelo Tesouro – isto é, por todos nós.
Desta vez, as empresas deram um jeitinho, dentro do fantástico modelo criado pela gestora Dilma, de já ir abatendo o prejuízo no caminho. O contribuinte vai se ferrar lá na frente, e o consumidor já vai se ferrando agora. Um lembrete: ambos são a mesma pessoa – você –, vítima da grande gestora.
Alguém tem notícia de que a cobrança exorbitante e ilegal será devolvida às vítimas? Alguém ouviu alguma garantia nesse sentido da ministra mais poderosa do governo?
Ninguém tem, ninguém ouviu. Por uma razão simples: Dilma Rousseff não é uma autoridade de fato, não está administrando (gerindo!) os problemas do Brasil. Está cuidando do seu projeto eleitoral. Fazendo política – que é o que se dispõe a fazer.
Nada disso aparece na pasmaceira que é o debate político brasileiro. Todos os gatos por aqui têm status de lebre. Maluf inventa o “gestor” Celso Pitta, e a manada só grita depois do cofre arrombado. E lá vamos nós de novo, Caetano.
O verdadeiro analfabeto brasileiro é o eleitor.

A santidade cristã não é uma façanha de Prometeu. Não temos de escalar os muros dos céus e de lá trazer o fogo de Deus, não temos de invadir suas salas de tesouros para obter boas coisas que reservou para nós. Prometeu é o herói de um mito que exprime a profunda desesperança de todas as religiões pagãs. Mas Cristo desceu, realmente, dos céus, tomou nossa carne, re-uniu a raça humana em Si mesmo, iluminou os homens com Sua luz, enviou Seu Espírito ara unir-nos ao Pai. vendo que jamais iriamos a Ele. Deus veio a nós. Sabendo que nunca, por nossas forças, poderíamos ter uma idéia certa sobre Sua verdadeira natureza, ele próprio Se revelou para nós, e mostrou-nos como conquistá-Lo; não pelo conhecimento, mas pelo amor. São segredos que só Deus poderia revelar-nos e Ele o fez, dando-se a nós"


Thomas Merton, Espiritualidade, Contemplação e Paz, p. 113

sexta-feira, novembro 20, 2009

GRACILIANO RAMOS: Angústia











A realidade, nos romances de Graciliano Ramos, não é deste mundo. É uma realidade diferente. Após ter lido Angústia até o fim, é preciso reler as primeiras páginas, para compreendê-las. É um mundo fechado em si mesmo. Que mundo é?
"Há nas minhas recordações estranhos hiatos. Fixaram-se coisas insignificantes. Depois um esquecimento quase completo" — confessa Luís da Silva em Angústia. E depois: "Como certos acontecimentos insignificantes tomam vulto, perturbam a gente! Vamos andando sem nada ver. O mundo é empastado e nevoento." E acrescenta: "Não sei se com os outros se dá o mesmo. Comigo é assim." É assim com todos nós outros, quando entramos no mundo empastado e nevoento, noturno, onde os romances de Graciliano Ramos se passam: no sonho. Os hiatos nas recordações, a carga de acontecimentos insignificantes com fortes afetos inexplicáveis, eis a própria "técnica do sonho", no dizer de Freud. Álvaro Lins, no melhor artigo que se escreveu sobre Graciliano Ramos, observou agudamente a abstração do tempo — "Mas no tempo não havia horas", cita o crítico —, e acrescenta: "Os outros personagens são projeções do personagem principal. Julião Tavares e Marina só existem para que Luís da Silva se atormente e cometa o seu crime. Tudo vem ao encontro do personagem principal — inclusive o instrumento do crime". Estas palavras do crítico constituem a chave da obra do romancista: descrevem perfeitamente a nossa situação no sonho, em que tudo é criação do nosso próprio espírito. Explica-se assim o extremo egoísmo dos heróis de Graciliano Ramos: é o egoísmo daquele que sonha e para o qual, prisioneiro dum mundo irreal, só ele mesmo existe realmente. A mentalidade inteiramente amoral do sonho exclui, decerto, toda "generosidade"; mas a substitui por um sentimento mais vasto de identificação quase mística com as criaturas da própria imaginação, até a cachorrinha Baleia: "Tat twam asi."
O extremo egoísmo do sonho engendra o motivo principal do romancista: cobiça de propriedade. Propriedade de terra, de mulher, em São Bernardo; aqui e em Angústia, a forma extrema desta cobiça, o ciúme. Por isso, nos romances de Graciliano Ramos, esses afetos ultrapassam toda medida; sugerem, ao lado dos afetos análogos na vida real, a impressão de sentimentos patológicos. E quando o autor considera os monstros da sua angústia de sonho, lança o seu grito mais elementar: "Dinheiro e propriedade dão-me sempre desejos violentos de mortandade e outras destruições."
"Ai quando virá o anjo da destruiçãop’ra acabar com a minha memória..."
(Murilo Mendes).
Todos os romances de Graciliano Ramos — e este é o sentido do seu experimentar — são tentativas de destruição; tentativas de "acabar com a minha memória", tentativas de dissolver as recordações pelos "estranhos hiatos" dum sonho angustiado. Trata-se de saber que mundo de recordações se dissolve assim.
A resposta é bastante difícil. Surge, ainda uma vez, o clichê do "sertanejo culto" e sugere aos críticos a idéia de que o romancista está furioso contra o ambiente selvagem do seu passado. Mas não é assim. Não é o sertão o culpado; Vidas secas é o seu romance relativamente mais sereno, relativamente mais otimista. O culpado é — superficialmente visto, numa primeira aproximação — a cidade. O herói de Graciliano Ramos é o sertanejo desarraigado, levado do mundo primitivo, imóvel, para o mundo do movimento. É o vagabundo ("um pobre nordestino..."); e explica-se o seu ódio balzaquiano ao mundo burguês, que conseguiu a estabilidade relativa do comércio de secos e molhados. Esta vagabundagem é o aspecto sociológico do egoísmo do sonho quando se choca com a realidade. É o desejo violento do vagabundo de restabelecer-se na terra: "Como a cidade me afastara de meus avós!" Mas é apenas uma explicação em primeira aproximação: pois Paulo Honório consegue o seu fim, e, contudo, é uma vida malograda. Por quê? Porque o seu criador quer mais do que terra, casa, dinheiro, mulher. Quer realmente voltar aos avós. Voltar à imobilidade, à estabilidade do mundo primitivo. E para atingir este fim, deve antes destruir o mundo da agitação angustiada, à qual está preso.
Os romances de Graciliano Ramos são experimentos para acabar com o sonho de angústia que é a nossa vida. Uma lenda budista conta dum homem que correu, ao sol do meio-dia, para fugir à sua sombra, que o angustiava; correu, correu, sempre perseguido pelo companheiro sinistro, até que encontrou o grande Sábio, que lhe disse: — "Não continues a fugir! Assenta-te sob esta árvore!" E como ele parou, a sombra desapareceu. A sombra sobre o mundo de Graciliano Ramos não é a sombra da árvore da salvação, mas a do edifício da nossa civilização artificial — cultura e analfabetismo letrados, sociedade, cidade, Estado, todas as autoridades temporais e espirituais, que ele convida ironicamente — no começo de São Bernardo — a colaborar na sua obra de destruição. Mas eles mostram-se incapazes de cometer o suicídio proposto. Entrincheiram-se na "dura realidade", imposta a todas as criaturas do Demiurgo, e que se arroga todos os atributos da eternidade. O romancista, porém, não se conforma. Transforma esta vida real em sonho — pois do sonho, afinal, se acorda. Então, as disposições funestas do Demiurgo seriam revogadas, e o destruidor poderia dizer, com o Gide das Nouvelles Nourritures: "Table rase. J’ai tout balayé. C’en est fait. Je me dresse nu sur la terre vierge, derrière le ciel à repeupler."6
O fim é o estado primitivo do mundo — o céu repovoado. Então, a angústia já não assusta.
"Black is night’s cope;But death will not appalOne who, past doubting all,Waits in unhope."
Foi a última sabedoria poética do romancista Thomas Hardy, versos duros, populares e clássicos ao mesmo tempo, rimados em sinal da concordância resignada com o mundo. É possível que o romancista Graciliano Ramos escreva também, um dia, tais versos, duros, populares e clássicos ao mesmo tempo, versos tradicionais, como o velho Hardy. Mas não serão rimados. Serão versos brancos. Pois a primeira rima de Graciliano Ramos já anunciaria o Fim do Mundo.

terça-feira, novembro 17, 2009

Justiça Social e Igreja: um modo bem prático.

FRANK VIOLA: Reimagining Church 2





Capítulo 3 Reimaginando a ceia do Senhor.


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Em alguns aspectos, na ceia do Senhor, estamos participando da Comunidade trinitária, uma leitura cuidadosa da bíblia nos leva a pensar assim - Mt 4.4, Jo 4.3ss, 6.27- . Assim, Deus filho é o alimento para nós - Jo. 1,29, 6,27;. Ele também é a bebida - Jo 4,10; 6,53, 1Co 10,4,12,13, Ap. 22,17-.

Através da eternidade, o Pai e o Filho tem coparticipado em sua vida divina repartindo. O pai é a porção do Filho, e o Filho é a porção do Pai. Na mente divina, cada membro coparticipa na vida divina e está entre eles.



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Capítulo 4: Reimaginando um lugar de encontro
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"A escolha de ekklesia como a designação para a comunidade cristã sugere que os crentes do novo testamento acreditavam que a igreja não era nem um edíficio e nem uma organização. Eles erão pessoas- unidas pelo Espírito Santo- um povo que carregava um ao outro através de Cristo" Stanley Grenz, p. 83
Frank Viola defende o conceito de igreja no lar, como é o conceito chave da igreja orgânica, através do lar, se encontra a humildade de Cristo, reflete a família como natureza da igreja, sendo também o lugar onde há compromisso das pessoas com Deus e também com um ao outro.
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Capítulo 5 - Reimaginando a família de Deus
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A realidade de se viver como família de Deus pressupõem que: os membros tomem conta uns dos outros, gastando tempo entre si, demonstrando afeição, e como sempre se tudo vai bem,naturalmente, uma família cresce
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Capítulo 6- Reimaginando a unidade da igreja.
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"Healthy organic church life is nonsectarian, nonelitist, and nonexclusive. Such churches meet on the ground of Christ alone. Therefore, if Christians in organic churches are willing to go to the cross and refuse to divide from one another over doctrinal differences, God can knit their hearts and minds together" p. 133
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Capítulo 7- Prática da igreja e o eterno propósito de Deus.
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"The older man is the founder of organized religion. Organized religion is built on human ritual and hierarchy. By contrast, Christianity began as organic. But as time went on, it adopted the hierarchical structure of the Roman Empire. All of our denominations have adopted that same organizational structure. This structure can be traced to the old man. It originally came from the Babylonians and was passed on to the other cultures, including the Romans" p. 142
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terça-feira, novembro 10, 2009

PHILIP ROTH: Indignation



"I never heard that said about me before, sir", said I at the very instant I inwardly sang out the most beautiful word in English language: Indig-na-tion!". I suddenly wondered what it was in Chinese. I want to learn it and go around the campus shouting it at the top of my lungs"


Vintage, 2008, p.95





Neste romance, Philip Roth surpreende críticos e leitores com uma história que escapa completamente à temática de seus últimos trabalhos, como Homem comum e o Fantasma sai de cena, que versavam sem meios tons sobre o fim da vida e suas mazelas físicas e espirituais. O que temos agora é a experiência iniciática de um jovem de dezoito anos, Marcus Messner, nascido e criado em Newark, Nova Jersey, esbanjando vigor, ambição, ousadia e desejos irrefreáveis ao ingressar na vida adulta.Filho único de um açougueiro kosher superprotetor, Messner busca uma faculdade do Meio-Oeste americano, bem longe de casa, o que lhe permite escapar da sufocante vigilância do pai, da medíocre universidade local onde cursara o primeiro ano e de suas funções como ajudante no açougue. Corre o ano de 1951, e os Estados Unidos enfrentam uma guerra cruenta na Coreia, conflito que paira como ameaça letal sobre o agora segundanista de direito em risco de ser convocado para lutar no front, caso não consiga se destacar nos estudos acadêmicos e no curso para o oficialato. Furtando-se, pois, a vícios, prazeres e uma vida social universitária, o personagem-narrador se entrega aos estudos de forma a jamais tirar menos que 10 em todas as matérias.Entretanto, um poderoso obstáculo se interpõe nos planos de Messner: seu próprio temperamento, irredutível a convenções hipócritas, como assistir a preleções obrigatórias sobre a Bíblia na igreja evangélica do campus e participar do mundinho das fraternidades. Isso sem contar a irrupção anárquica do sexo e do amor em sua vida, na figura tão adorável quanto enigmática de sua colega de classe Olivia Hutton.Indignação demonstra com sutil maestria as vias insuspeitas que conduzem eventos e escolhas aparentemente banais na vida de um jovem a resultados de uma gravidade desproporcional. Roth exibe neste romance curto, mas de enorme densidade humana, social, política e literária, um inconformismo explosivo de adolescente em busca de seus próprios caminhos na vida, alguns dos quais poderão incitar a ira vingativa de uma sociedade conservadora gerida por mentes tacanhas.


fonte http://www.meiapalavra.com.br/showthread.php?tid=3145

domingo, novembro 08, 2009

After Philip Roth, where next?


Guardian Books


It's sobering to think about how small the world of American letters will look without him



He's just published a new novel, and another is finished and due for publication next year, but the memorialisation of Philip Roth has already begun. The towering American novelist has recently had his works published by the Library of America, giving him an immortal status usually reserved for dead authors. At age 76, his birthdays are now "commemorated" rather than celebrated, with his achievements discussed by awestruck admirers. And Roth himself has been batting off curious journalists probing into his recent meditations on death in The Dying Animal, Everyman and Exit Ghost – are these novels an attempt to come to terms with his own mortality, they ask?But in a sense, those aren't the most interesting questions. Many writers turn instinctively in their later years to the bewilderments of old age. Among Roth's contemporaries, Saul Bellow dealt with the humiliations of dying in his final novel Ravelstein; while John Updike's Seek My Face was as much concerned with ageing as art history. In Roth's case, this shift resulted in one of his best novels. Devoid of the humour which usually leavens his narrators, the stripped down and deadly serious voice in Everyman was dense, lyrical and overwhelmingly powerful.
And this points to the more urgent question that will crop up increasingly in coming years. Despite Roth wanting to have them all shot, critics will be asking: can we imagine a world without Roth? "I can't see an American writer coming along who is replacing Roth," says Jay Prosser, who teaches American literature at the University of Leeds. "He writes with his ear – his novels are completely driven by his voice." There is a singularity of voice in Roth's work which is hard to find elsewhere. The current crop of high-profile American writers – such as Dave Eggers, Jonathan Safran Foer and the late David Foster Wallace – have raised technicality to an art form, but it would be hard to argue that they drive their novels home with the same ferocious intensity.
And a piece of American history will also fall into the sea when Roth goes. Now the last one standing from the big-hitting male American writers who shot to fame alongside him, Roth came of age when writing the Great American Novel was still an embodiment of the American dream. Tom Wolfe wrote in 1972 that the novel was "one of the last of those superstrokes, like finding gold, through which an American could, overnight, utterly tranform his destiny".
Now that novels have to compete in the attention economy along with everything else, younger American writers have found themselves emerging on lower pedestals. David Foster Wallace argued in the 1990s that American fiction writers under 40 operate in a media-saturated realm which separates them from the likes of Roth, Updike and Bellow. It could well be that American novelists never again achieve the same level of mythology as Roth.

sábado, novembro 07, 2009

NICK HORNBY- The Complete Polysyllabic Sprre - Quotes-.

What I´ve always loved about fiction is its ability to be smart about people who aren´t themselves smart, or at least don´t necessarily have the resources to describe their own emotional states. p. 162
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Sobre o livro de Gabriel Zaid, So Many Books:
"Zaid estimates for example, that it would take us fifteen years simply to read a list of all the books ever published (author and title - he´s very precise. You can, presumably, add on another sever or eight years if you want to know the names of the publishers). I think he intends to make us despair, but I was actually rather heartened: not only can I now see that it´s possible- I´d finished some time in my early sixties.- but I´m seriously tempted"(...) Zadie´s finest moment, however, comes in his second paragraph when he says that´the truly cultured are capable of owning thousands of unread books without losing their composure or their desire for more. p. 122

terça-feira, novembro 03, 2009

NICK HORNBY:The Polysyllabic Spree





MAIO DE 2004
TÍTULOS COMPRADOS:
* "Random Family: Love, Drugs, Trouble, and Coming of Age in the Bronx"- Adrian Nicole LeBlanc
* "What Narcissism Means to Me"- Tony Hoagland
* "David Copperfield"- Charles Dickens (duas vezes)
TÍTULOS LIDOS:
* "David Copperfield"- Charles Dickens
Qualquer pessoa que esteja fazendo uma oficina literária sabe que o segredo de um bom texto é enxugá-lo, retirar os excessos, peneirar, cortar, podar, aparar, remover tudo quanto é palavra supérflua, resumir, resumir, resumir. Em toda resenha sobre um escritor como, por exemplo, o sul-africano Coetzee, encontra-se a palavra "econômica" ou "econômico", usada de maneira elogiosa; acabei de entrar no Google, onde digitei "J. M. Coetzee + econômico" e consegui 907 resultados, com raríssimas repetições. "A linguagem econômica, porém rica, de Coetzee", "neutro no tom e econômico no estilo", "uma sucessão de sentenças refinadas e econômicas", "O grande dom de Coetzee-- e trata-se de um dom que ele nos oferece gentilmente --reside em sua bela e econômica linguagem", "linguagem econômica e poderosa", "um livro econômico e arrepiante", "paradoxalmente econômico e ao mesmo tempo ricamente escrito", "beleza econômica e dura". Sacou? Economia é uma coisa boa.
Coetzee, obviamente, é um ótimo romancista, de forma que não considero nenhum pecado ressaltar que ele não é o escritor mais engraçado que existe. Na verdade, quando paramos para analisar, vemos que pouquíssimos romances na tradição Econômica são lá muito animadores. As piadas são praticamente extirpadas, de forma que, em um processo de adequação de registro na prosa, elas são as primeiras coisas a saltarem fora. E, na peneiração, existe um lance que eu simplesmente não entendo. Por que sempre para quando o trabalho em questão foi reduzido a 60 ou 70 mil palavras? Será que esse é o tamanho mínimo para um romance publicável? Tenho certeza de que, com um pouco de esforço, daria para chegar até a 20 ou 30. Na verdade, por que parar em 20 ou 30? Por que escrever qualquer coisa? Por que não rabiscar o enredo e uns dois temas em um envelope e deixar tudo assim? A verdade é que na ficção ou na sua criação não há nada de muito utilitário, e acho que as pessoas ficam loucas para dar a impressão de que se trata de um trabalhão desgraçado, e que dão um duro danado, que é coisa de macho, pois, no fundo no fundo, trata-se de uma coisinha bem "fresca". A obsessão pela austeridade é uma tentativa de compensar, de fazer com que a literatura se pareça com um trabalho de verdade, tipo pegar na enxada ou derrubar árvores. (É também por isso que o pessoal de publicidade trabalha vinte horas por dia.) Mandem brasa, jovens escritores --desfrutem de uma piadinha ou de um advérbio! Deitem e rolem! Os leitores não vão se importar! Vocês já viram a grossura dos livros vendidos nos aeroportos? A verdade é que as pessoas curtem informações inúteis. (E, de forma contrária, os escritores dos escritores, os que podam e peneiram, tendem a depender mais da aprovação dos críticos do que dos direitos autorais para viverem.)
No mês passado, concluí a coluna dizendo que estava precisando de uma nutrição a la Dickens, e talvez isso seja porque eu venha há muito tempo chupando os ossos da redação econômica. O que teria sido de David Copperfield se Dickens tivesse feito aulas de redação? Era bem capaz de o livro ter saído com setenta personagens secundários a menos, isso sim. (Você sabia que se estima que Dickens tenha criado 13 mil personagens? Treze mil! A população de uma cidade pequena! Se você quiser falar de livros em termos de trabalho braçal "para macho", então talvez devêssemos pensar no duro que se dá para se escrever muito - livros compridos, exuberantes, cheios de energia, vida e comédia. Sinto muito se isso parece óbvio, mas não é sempre verdade que escrever duzentas páginas é mais difícil do que escrever mil páginas.) Em um ponto próximo ao início do livro, David foge e acaba tendo que vender as roupas do corpo para comprar comida. Bastaria, talvez, descrever as dificuldades físicas envolvidas; mas como se trata de Dickens, ele consegue encontrar um espacinho para um vendedor de roupas usadas, um cretino que fede a cachaça e que não para de gritar coisas como "Ai, os pulmões, o fígado!" e "Goroo!".
Como disse rei Lear --provavelmente quando convidado a Iowa para fazer uma palestra-- "Oh! não faleis sobre a necessidade". Não há necessidade: Dickens está se divertindo e estende a cena muito além de suas funções. Agora, ao ler novamente, parece ter sido concebido como uma contestação à economia, pois o cara quer a todo custo pagar pela jaqueta de David em parcelas de meia-coroa no curso de uma tarde, e assim acaba ficando por duas páginas inteiras. Será que ele poderia ter sido cortado? Com certeza! Só que chega um ponto no processo de criação literária em que o romancista --qualquer um, mesmo que seja muito bom-- tem de aceitar que o que ele está fazendo é manter um fim de um livro afastado do fim do outro, preenchendo páginas, esperando que elas emocionem, provoquem e divirtam o leitor.
Algumas observações aleatórias:
1) David Copperfield é o Hamlet de Dickens. Hamlet é uma peça cheia de frases famosas; Copperfield é um romance cheio de personagens famosos. Eu ainda não o tinha lido, em parte porque eu estava enganado, achando que eu não fosse desfrutar dos prazeres da narrativa devido à possibilidade de relembrar a série produzida pela BBC à qual fui obrigado a assistir quando pequeno. (Acabou que a única coisa de que lembrei foi a frase "Barkis está disposto", e a disposição de Barkis não é de fato o tema central do livro.) Assim, eu não fazia ideia de que encontraria tanto Uriah Heep quanto Sr. Micawber, Peggotty, Steerforth, Betsey Trotwood, Little Em'ly, Tommy Traddles e os demais. Eu tinha pensado que Dickens reservaria pelo menos uns dois desses personagens para alguns dos outros romances que eu ainda não tinha lido --As aventuras do Sr. Pickwick, digamos, ou Barnaby Rudge. Só que agora ele já deu a mancada. Pode ser um erro, como veremos.
2) Por que será que estão sempre tentando adaptar as obras de Dickens para a TV ou para o cinema? No primeiro número da Believer, Jonathan Lethem nos pediu para imaginar os personagens em Dombey and Son como animais, para sacar a essência deles, e é verdade que apenas os personagens centrais em um romance de Dickens são humanos. Há Quilp, em The Old Curiosity Shop, apavorando a mãe de Kit com "muitas chatices extraordinárias; tais como arriscar a vida pendurando-se ao lado da carruagem e encarando com os olhos arregalados... evitando-a desta forma de uma janela a outra; abaixando-se rapidamente sempre que trocavam de cavalos e enfiando a cabeça na janela com uma sombria piscadela..." E eis Uriah Heep: "Quase sem sobrancelhas, e nenhum cílio, olhos castanhos, tão desprotegidos e expostos, que lembro que fiquei imaginando como ele dormia... ombros altos e ossudos... mãos longas e delgadas... suas narinas, finas e pontudas, contraíam-se e expandiam-se de um jeito singular e muito desconfortável; pareciam que piscavam no lugar dos olhos, que quase nunca piscavam." E aí? Quem você escalaria para fazer esses dois papéis? Se os atores certos existissem, aposto como não seriam pessoas muito legais, por não terem vida social, namoradas nem possibilidades de trabalhar em qualquer outra coisa, com exceção de Copperfield 2: A vingança de Heep. E, de qualquer modo, uma vez que esses duendes infernais tirados de desenhos animados tomam forma corpórea, não faz mais sentido que existam. Aqui vai uma nota para os estúdios: uma combinação de efeitos computadorizados e ação de verdade é a única saída. É verdade que não sairia barato, e igualmente verdade que ninguém ia querer pagar para assistir. Mas se você deseja fazer justiça --e estou certo de que é isso que todos vocês, executivos de Hollywood e assinantes da Believer, querem-- então deve valer a pena tentar.
3) Em The Old Curiosity Shop, descobri que no personagem de Dick Swiveller, Dickens oferece a P. G. Wodehouse praticamente toda a sua obra. Em David Copperfield, Spenlow e Jorkins, chefes de David, parecem ser as primeiras representações ficcionais de policial bom/policial mau realizadas no mundo.
4) Já reclamei nesta coluna sobre como todos querem estragar os roteiros dos clássicos. Tudo bem, eu deveria ter lido David Copperfield antes e mereço um castigo. Só que mesmo o mais arrogante dos críticos/editoras/sei lá o quê deve presumivelmente aceitar que todos nós precisamos, em algum momento, ler um livro pela primeira vez. Sei que a única coisa que as pessoas inteligentes fazem na vida é reler grandes obras de ficção, mas não será que mesmo James Wood e Harold Bloom leram antes de reler? (Talvez não. Talvez só tenham relido mesmo, e é isso que nos separa desses sujeitos. Parabéns a eles.) Bem, logo de cara, no primeiríssimo parágrafo de sua introdução da edição da Modern Library que possuo, o grande David Gates deixa escapar algumas informações importantes de como a narrativa se desenrola (e acho que tenho o direito de ler o primeiro parágrafo, só para pegar alguns detalhes biográficos e contextuais); tentei dar uma conferida nas versões cinematográficas na Amazon, e um crítico qualquer deixou escapar mais coisas em uma resenha de três linhas. Isso não teria acontecido se eu estivesse à caça de uma adaptação de algum livro do Grisham.
5) No final do ano passado, fui premiado com uma primeira edição de David Copperfield, e tive a fantasia de que eu me sentaria numa poltrona, leria algumas páginas e sentiria o poder do grande homem penetrar-me pelas pontas dos dedos. Bem, eu tentei, mas não deu em nada. Além disso, a cópia que ganhei é bem pequena, de forma que fiquei com medo de derrubar o livro na banheira, de dar bobeira e apagar um cigarro nele etc. Na verdade, acabei lendo quatro cópias diferentes do livro. Uma velha edição da Penguin se desfez em minhas mãos, daí comprei uma edição da Modern Library para substituir. Então perdi a cópia da Modern Library, temporariamente, e comprei outra cópia baratinha da Penguin. Custou uma libra e meia! É apenas cerca de noventa dólares! (Essa foi minha tentativa de fazer uma piadinha atualizada. Nem vou me dar ao trabalho novamente.)
Depois de ler mais ou menos um terço do livro, chegou um momento em que pensei que David Copperfield pudesse se tornar meu novo romance favorito do Dickens --o que, vendo que acredito que Dickens seja o maior romancista que já existiu, significaria que eu poderia estar no meio do melhor livro que eu já tinha lido. Essa forma superlativa de pensar vai perdendo o efeito dramático à medida que a idade avança, de forma que, quando essa ficha caiu, não fiquei tão empolgado quanto você possa imaginar. Compreendi a lógica, assim como você compreende a lógica daquelas discussões antológicas que os velhos filósofos travavam para provar que Deus existe: Se Dickens = o melhor escritor do mundo e DC = seu melhor livro, logo DC = o melhor livro já escrito, sem senti-lo. Mas, no final, tinha muita coisa errada. As jovens, como sempre, são fracas. Os corpos começam a empilhar-se em uma proximidade desconfortável --há quatro mortes, se for contar com o cachorro chato de Dora, o que eu não faço, mas Dickens conta-- entre as páginas 714 e 740. E bem no momento em que você está louco para que o livro chegue a uma conclusão, Dickens adiciona um capítulo chato, sem pé nem cabeça, sobre reforma penitenciária, faltando vinte páginas para acabar o livro. (Ele é contra o confinamento na solitária. O negócio é bom demais para os caras.)
O que emparelha David Copperfield a Bleak House e Grandes esperanças, contudo, é sua natureza doce e sua modernidade surpreendente. Há uns lances metaficcionais, tipo: David cresce e se torna romancista, e o título completo do livro, segundo a biografia de Edgar Johnson (não que eu consiga achar qualquer indício disso em algum lugar), é História, experiência e observações pessoais deDavid Copperfield, o caçula dos Blunderstone Rookery, que ele nunca teve a intenção de publicar. E o lance metaficcional não acontece do nada. O último refúgio do crítico picareta é qualquer versão da seguinte sentença: "Em última análise, esse livro é sobre a própria ficção/esse filme é sobre o próprio filme." Eu mesmo já usei essa frase, na época em que escrevia críticas sobre vários livros, e posso dizer que é tudo balela: invariavelmente o negócio significa apenas que o filme ou o romance chamou a atenção para seu próprio estado ficcional, o que não nos leva a lugar nenhum, e é o motivo pelo qual o crítico nunca nos diz exatamente o que o romance tem a dizer sobre a própria ficção. (Da próxima vez que você se deparar com a frase, o que é provável de acontecer nos próximos sete dias caso você leia muitas resenhas, escreva para o crítico e peça que ele esclareça o que quer dizer.)
Bem, a profissão de David Copperfield permite que ele tenha alguns desses momentos agudos de arrependimento e nostalgia; o que não falta no livro, aliás, são recordações, e em um romance autobiográfico, a memória e a ficção se entrelaçam. Dickens utiliza esse entrelace a seu favor, e não consigo me lembrar de já ter ficado tão emocionado com um de seus romances. Outra coisa que me parece diferente em David Copperfield é a sofisticação de dois personagens e relacionamentos. Dickens não é o escritor mais sofisticado que existe, e quando ele realmente consegue atingir certa complexidade, é porque já existem várias camadas de enredos secundários, e mais e mais camadas de personagens, até que ele fica sem saída e tem de fazer alguma coisa acontecer. No entanto, há uma consciência surpreendentemente moderna da insatisfação matrimonial em Copperfield, por exemplo, um reconhecimento de falta e de um desejo não específico que associaríamos mais a Rabbit Angstrom do que a alguém que passa metade do romance enchendo a cara de ponche com Sr. Micawber. Dickens acaba retirando o estilo vitoriano do mal-estar do século XX, mas mesmo assim... Ao fazer anotações para esta coluna, acho que escrevi que "ele é de outro planeta"; David Gates pergunta na introdução: "Será que o cara era marciano?" E pensar que algumas pessoas não o estimam! Pensar que algumas pessoas o descreveram como "o pior escritor a amaldiçoar a língua inglesa"! Pois é. A decisão é sua: ou você acredita nesse povo ou fica do lado de Tolstói, Peter Ackroyd e David Gates. E do meu lado também.
Pela primeira vez desde que comecei a escrever esta coluna, a conclusão de um livro me deixou desolado: estou com saudade de todos os personagens. Ah, vamos ser sinceros: geralmente ficamos felizes da vida só de concluirmos mais um da lista, mas passei o último mês num mundo hiper-real, repleto de pessoas inesquecíveis e excêntricas, risadas (espero que você descubra que Dickens é engraçadíssimo) e histórias cheias de reviravoltas que dão vontade de acompanhar. Desconfio que será difícil ler um romance econômico, sequinho e objetivo por um tempo.