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segunda-feira, março 02, 2009

Age of Capital




"Even though the Communist Manifesto was less unrealistic than is often supoosed in stating that the workers have no country, it probaly advanced among the working class pari passu with political consciousness, if only because the tradition of revolution itself was national(as in France) and because the leaders and ideologists of new labouror moviments were themselves deeply involved in the national question (as almost everywhere in 1848). The alternative to a national political consciouness was not, in practice, working-class internationalism, but a sub-political consciouness wich still operated on a scale much smaller than, or irrelevant to, that of the nation-state. The men and women on the political left who chose clearly between national and supra-national loyalties, such as the cause of the international proleriat, were few. The internationalism of the left in practice meant solidarity and support for those who fought the same cause in others nation and, in the case of political refugees, the readiness to participate in the struggle wherever they found themselves". p. 93-94






"But the major advance occured in the primary schools, whose purpose was by general consent not onlu to teach the rudminents of literacy and arithmetic but, perhaps even more, to impose the values of society (morals, patriotism,etc), on their inmates. This was the sector of education wich had previously been neglected by the secular state, and its growth was closely linked with the advance of the masses into politics; as witness the setting-up of state primary education expansion of the system in the first decade of Third Republic in France (...) In fact, for new nation-states these institutions were of crucial importance, for through them alone the national language (generally constructed earlier by private efforts) could actually become the vritten and spoken language of the people, at least for some purposes. Hence also the crucial importance for struggling national movements of the fight to win cultural autonomy i.e. to control the relevant part of state institutions, e.g. to achieve school instruction in and administrative use of their language". p. 95-96




Capitulo Derrotados.




Os liberais eram uma elite educada e urbana num continente rural, e na medida em que tivessem um genuíno poder político, ele repousava em generais não muito fiéis e em clãs de proprietários de terras que, por razões que tinham apenas uma remota conexão com John Stuart Mill ou Darwin, escolheram a filiação daquele lado. Do ponto de vis-ta social e econômico, muito pouco havia mudado na América Latina até a década de 1870, exceto que o poder dos senhores da terra tinha aumentado e o dos camponeses enfraquecido. E na medida em que ti-nha-se transformado sob o impacto do mercado mundial, o resultado era subordinar a velha economia à demanda do comércio importação-exportação, operado através de uns poucos grandes portos ou capitais e controlado por estrangeiros. A única exceção de importância eram as terras do Rio da Prata, onde a maciça imigração européia iria pro-duzir uma população inteiramente nova, com uma estrutura social in-teiramente não-tradicional. A América Latina, neste período sob es-tudo, tomou o caminho da "ocidentalização" na sua forma burguesa-liberal com grande zelo, e ocasionalmente grande brutalidade, de uma forma mais virtual que qualquer outro país no mundo, com a exceção do Japão, mas os resultados foram desapontadores. p.135




Os casos da China e do Egito são, nas suas particularidades, típi-cos desta escolha. Ambos eram estados independentes com base em antigas civilizações e uma cultura não-européia, minados pela pene-tração do comércio e finanças ocidentais (aceitas com boa ou má von-tade) e sem poder para resistir às forças militares e navais do Oeste, mesmo que modestamente mobilizadas. As potências capitalistas nes-te estágio não estavam interessadas particularmente em ocupação e administração, na medida em que seus cidadãos tivessem total liber-dade em fazer o que bem entendessem, incluindo privilégios extra-territoriais. Tais cidadãos vieram encontrar-se, de forma crescente, envolvidos nas. questões internas de tais países apenas quando os go-vernos locais começaram a se desintegrar diante do impacto ociden-tal, assim como também devido à rivalidade entre os poderes ociden-tais. Os dirigentes da China e do Egito rejeitaram uma política de re-sistência nacional preferindo – onde tivessem a opção – uma depen-dência em relação ao Oeste que lhes mantivesse o poder político pró-prio. Neste período, relativamente poucos entre os que, nestes países, queriam a resistência através da regeneração nacional, favoreciam a ocidentalização. Em lugar disso, eles optavam por uma forma de re-forma ideológica que lhes permitisse encarnar o que quer que fosse que tivesse feito o Oeste tão formidável dentro de seus próprios sis-temas culturais. p.144-145


Escravidão e Servidão


Entretanto, a abolição do trabalho não-livre não pode ser anali-sada simplesmente em termos de cálculo econômico. As forças da so-ciedade burguesa opunham-se à escravidão e à servidão não apenas porque acreditavam que estas fossem economicamente indesejáveis, nem por razões morais, mas também porque estas formas pareciam incompatíveis com uma sociedade de mercado baseado na busca livre do interesse individual. Por outro lado, proprietários de escravos e se-nhores da terra apoiavam o sistema porque este parecia-lhes a coluna dorsal daquela sociedade e de suas classes. Talvez achassem mesmo impossível suas próprias existências sem escravos ou servos, que de-finiam o próprio status da classe. Os senhores da terra russos não se revoltavam contra o tzar, e nem poderiam, porque este lhes propor-cionava a única legitimação possível contra um campesinato que, se por um lado estava profundamente convencido de que a terra perten-cia a quem nela trabalhava, por outro lado acreditava na sua subordi-nação hierárquica aos representantes de Deus e do imperador. Mas os senhores se opunham à emancipação de forma bastante decidida. Ela era imposta de fora ou de cima e por uma força superior. p.196
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O mundo burguês
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O efeito de choques do famoso quadro de Manet Déjeuner sur l'Herbe (1863) deriva precisamente do contraste entre a enorme respeitabilidade das roupas dos homens e a nudez das mulheres. A verdadeira obsessão com a qual a civilização burguesa insistia que a mulher era essencialmente um ser espiritual implicava que os homens não o eram, e também que a óbvia atração física entre os sexos não ca-bia dentro do sistema de valores. Sucesso era incompatível com prazer, como o folclore do esporte ainda assume, ao sentenciar jogadores à abstenção sexual temporária antes do grande jogo ou da grande luta. De forma mais geral, a civilização apoiava-se na repressão das urgências sexuais. O maior dos psicólogos da burguesia, Sigmund Freud, fez des-ta proposição a pedra de toque de suas teorias, embora gerações poste-riores tenham lido nele uma chamada pela abolição da repressão. Mas por que era este aspecto visto de forma tão passional e até patológica, tão contrastante com o ideal de moderação e juste milieu que definia as ambições e papéis sociais das classes médias?6 Nos de-graus mais baixos das aspirações da classe média a resposta é fácil. Somente esforços heróicos poderiam elevar um homem e uma mulher pobres, ou mesmo seus filhos, para fora da desmoralização, colocan-do-os no lugar firme da respeitabilidade e, acima de tudo, definir ali as suas posições. Para os membros dos Alcoólatras Anônimos, não havia solução de compromisso: era ou a total abstinência ou o colapso completo. De fato, o movimento pela total abstinência do álcool, que floresceu nos países protestantes e puritanos, ilustra esta questão de forma clara. Não era efetivamente um movimento para abolir ou mesmo para limitar o alcoolismo de massa, mas para definir e separar a classe dos indivíduos que tivessem demonstrado pela força pessoal de seu caráter que eram distintos dos pobres não-respeitáveis. O puri-tanismo sexual preenchia a mesma função. Mas este era um fenôme-no "burguês" apenas na medida em que refletia a hegemonia da res-peitabilidade burguesa. Como as leituras de Samuel Smiles ou a prá-tica de outras formas de "ajuda-a-si-mesmo", aquilo substituía o suces-so burguês ao invés de preparar para ele. Ao nível do artesão ou fun-cionário "respeitável", a abstinência era freqüentemente a única gratifi-cação. Em termos materiais dava apenas compensações modestas. O problema do puritanismo sexual burguês é mais complexo. A crença de que o burguês de meados do século XIX era incomumente vigoroso e portanto obrigado a construir defesas incomumente impe-netráveis contra a tentação da carne não é convincente: o que fazia as tentações tão tentadoras era precisamente o extremismo dos padrões morais aceitos, que tornavam a queda igualmente dramática, como o caso do católico-puritano conde Muffat em Nana de Emile Zola, a novela par excellence da prostituição em Paris na década de 1860. Evidentemente, o problema era também de certa forma econômico, como veremos. A "família" não era meramente a unidade social bási-ca da sociedade burguesa, mas também a unidade básica do sistema 243 de propriedade e das empresas de comércio, ligada com outras unida-des similares através de um sistema de trocas mulher-mais-propriedade (o dote do casamento) em que as mulheres deveriam, por estrita convenção derivada de uma tradição pré-burguesa, ser virgines inlactae. Qualquer coisa que enfraquecesse esta unidade familiar era inadmissível, e nada a enfraquecia mais do que a paixão física des-controlada, que introduzia herdeiros e noivas "inadequados" (isto é, economicamente indesejáveis), separava maridos de mulheres e des-perdiçava recursos comuns. Mas as tensões eram mais que econômicas. Elas eram particu-larmente fortes em nosso período, quando a moral da abstinência, moderação e contenção entrava dramaticamente em conflito com a realidade do sucesso burguês. Os burgueses não viviam mais numa economia familiar de escassez ou num nível social remotamente lon-ge das tentações da alta sociedade. O problema era mais o de gastar que o de economizar. Não apenas os burgueses ociosos tornavam-se mais e mais numerosos – em Colônia o número de rentiers pagando imposto de renda cresceu de 162 em 1854 para 600 em 1874 7 – como de que outra forma, exceto gastar, poderiam os bem-sucedidos bur-gueses demonstrar o seu sucesso, tendo ou não poder político enquan-to classe? A palavra parvenu (novo-rico) automaticamente tornou-se sinônimo do gastador destemperado. Se estes burgueses tentavam al-cançar o estilo de vida da aristocracia ou então, como os conscientes Krupp e outros magnatas da Ruhr, construir castelos e impérios feudais paralelos e até mais impressionantes que aqueles dos Junkers, cujos tí-tulos haviam recusado, precisavam gastar, e de uma forma que inevita-velmente fazia com que seu estilo de vida se parecesse mais próximo ao da aristocracia não-puritana, e as mulheres mais ainda. Antes da dé-cada de 1850, isto havia sido um problema relativamente de poucas famílias; em alguns países, como a Alemanha, praticamente nenhuma. Mas agora transformava-se no problema de toda uma classe. A burguesia como classe encontrava enorme dificuldade em combinar aquisições e despesas de uma forma moralmente satisfató-ria, da mesma maneira que era incapaz de resolver o problema mate-rial equivalente de como garantir uma sucessão de homens de negó-cios igualmente dinâmicos e capazes dentro de uma mesma família, um fato que aumentava o papel das filhas, que podiam trazer sangue novo para dentro do complexo de negócios. (p. 242-243)

sábado, fevereiro 07, 2009

Era dos Extremos

O roteiro deste livro segue esse preceito. Ele começa com a Primeira Guerra Mundial, que assinalou o colapso da civilização (ocidental) do século xix. Tratava-se de uma civilização capitalista na economia; liberal na estrutura legal e constitucional; burguesa na imagem de sua classe hegemónica característica; exultante com o avanço da ciência, do conhecimento e da educação e também com o progresso material e moral; e profundamente convencida da centralidade da Europa, berço das revoluções da ciência, das artes, da política e da indústria e cuja economia prevalecera na maior parte do mundo, que seus soldados haviam conquistado e subjugado; uma Europa cujas populações (incluindo-se o vasto e crescente fluxo de emigrantes europeus e seus descendentes) haviam crescido até somar um terço da raça humana; e cujos maiores Estados constituíam o sistema da política mundial. (p. 16)




Parte 1- A Era da Catastrofe.














1. A Era da Guerra Total.


A Primeira Guerra Mundial envolveu todas as grandes potências, e na verdade todos os Estados europeus, com exceção da Espanha, os Países Baixos, os três países da Escandinávia e a Suíça. E mais: tropas do ultramar foram, muitas vezes pela primeira vez, enviadas para lutar e operar fora de suas regiões. Canadenses lutaram na França, australianos e neozelandeses forjaram a consciência nacional numa península do Egêu Gallipoli tornouse seu mito nacional e, mais importante, os Estados Unidos rejeitaram a advertência de George Washington quanto a complicações européias e mandaram seus soldados para lá, determinando assim a forma da história do século 20. Indianos foram enviados para a Europa e o Oriente Médio, batalhões de trabalhadores chineses vieram para o Ocidente, africanos lutaram no exército francês. Embora a ação militar fora da Europa não fosse muito significativa a não ser no Oriente Médio, a guerra naval foi mais uma vez global: a primeira batalha travouse em 1914, ao largo das ilhas Falkland, e as campanhas decisivas, entre submarinos alemães e comboios aliados, deramse sobre e sob os mares do Atlântico Norte e Médio. É quase desnecessário demonstrar que a Segunda Guerra Mundial foi global. Praticamente todos os Estados independentes do mundo se envolveram, quisessem ou não, embora as repúblicas da América Latina só participassem de forma mais nominal. As colônias das potências imperiais não tiveram escolha. Com exceção da futura República da Irlanda e de Suécia, Suíça, Portugal, Turquia e Espanha, na Europa, e talvez do Afeganistão, fora da Europa, quase todo o globo foi beligerante ou ocupado, ou as duas coisas juntas. Quanto aos campos de batalha, os nomes de ilhas melanésias e assentamentos nos desertos norteafricanos, na Birmânia e nas Filipinas, tornaram-se tão conhecidos dos leitores de jornais e radiouvintes e essa foi essencialmente a guerra dos noticiários radiofônicos quanto os nomes de batalhas no Ártico e no Cáucaso, na Normandia, em Stalingrado e em Kursk. A Segunda Guerra Mundial foi uma aula de geografia do mundo. Locais, regionais ou globais, as guerras do século 20 iriam darse numa escala muito mais vasta do que qualquer coisa experimentada antes. Das 74 guerras internacionais travadas entre 1816 e 1965 que especialistas americanos, amantes desse tipo de coisa, classificaram pelo número de vítimas, as quatro primeiras ocorreram no século 20: as duas guerras mundiais, a guerra do Japão contra a China em 1937-1939, e a Guerra da Coréia. Cada uma delas matou mais de 1 milhão de pessoas em combate. A maior guerra internacional documentada do século 19 pósnapoleônico, entre PrússiaAlemanha e França, em 1870-1871, matou talvez 150 mil pessoas, uma ordem de magnitude mais ou menos comparável às mortes da Guerra do Chaco, de 1932-1935, entre Bolívia (pop. c. 3 milhões) e Paraguai (pop. . 1,4 milhão). Em suma, 1914 inaugura a era do massacre (Singer, 1972, pp. 66 e 131).


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FACISMO




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Não é fácil discernir, depois de 1933, o que os vários tipos de fascismo tinham em comum, além de um senso geral de hegemonia alemã. A teoria não era o ponto forte de movimentos dedicados às inadequações da razão e do racionalismo e à superioridade do instinto e da vontade. Atraíram todo tipo de teóricos reacionários em países de vida intelectual conservadora ativa — a Alemanha é um caso óbvio —, mas estes eram elementos mais decorativos que estruturais do fascismo. Mussolini poderia facilmente ter dispensado seu filósofo de plantão, Giovanni Gentile, e Hitíer na certa nem soube nem se importou com o apoio do filósofo Heidegger. Também o fascismo não pode ser identificado com uma determinada forma de organização do Estado, como o Estado corporativista — a Alemanha perdeu logo o interesse por tais ideias, tanto mais porque elas conflitavam com a ideia de uma única, indivisa e total Embora o governo italiano também demonstrasse uma conspícua ausência de zelo no assunto, cerca de metade da pequena população judia italiana morreu; alguns, porém, mais como militantes antifascistas do que como simples vítimas (Steinberg, 1990; Hughes, 1983). 720 Volksgemeinschaft, ou Comunidade Popular. Mesmo um elemento aparentemente tão fundamental como o racismo no início estava ausente do fascismo italiano. Por outro lado, como vimos, o fascismo compartilhava nacionalismo, anticomunismo, antiliberalismo etc. com outros elementos não fascistas da direita. Vários desses, notadamente entre os grupos reacionários franceses não fascistas, também compartilhavam com ele a preferência pela violência de rua como política. A grande diferença entre a direita fascista e não fascista era que o fascismo existia mobilizando massas de baixo para cima. Pertencia essencialmente à era da política democrática e popular que os reacionários tradicionais deploravam, e que os defensores do "Estado orgânico" tentavam contornar. O fascismo rejubilava-se na mobilização das massas, e mantinha-a simbolicamente na forma de teatro público — os comícios de Nuremberg, as massas na piaz-za Venezia assistindo os gestos de Mussolini lá em cima na sacada — mesmo quando chegava ao poder; como também faziam os movimentos comunistas. Os fascistas eram os revolucionários da contra-revolução: em sua retórica, em seu apelo aos que se consideravam vítimas da sociedade, em sua convocação a uma total transformação da sociedade, e até mesmo em sua deliberada adaptação dos símbolos e nomes dos revolucionários sociais, tão óbvia no Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores de Hitier, com sua bandeira vermelha (modificada) e sua imediata instituição do Primeiro de Maio dos comunistas como feriado oficial em 1933.(Pág. 121)




Pacto Moscow- Ribbentrop










Embora os governos — todos os principais reconheceram a URSS depois de 1933 — sempre estivessem dispostos a chegar a um acordo com ela quando isso servia a seus propósitos, alguns de seus membros e agências continuavam a encarar o bolchevismo, interna e externamente, como o inimigo essencial, no espírito das guerras frias pós-1945. Os serviços de espionagem britânicos foram sabidamente excepcionais ao concentrarem-se de tal forma contra a ameaça vermelha que só a abandonaram como seu alvo principal em meados da década de 1930 (Andrew, 1985, p. 530). Apesar disso, muitos conservadores achavam, sobretudo na Grã-Bre-tanha, que a melhor de todas as soluções seria uma guerra germano-soviética, enfraquecendo, e talvez destruindo, os dois inimigos, e uma derrota do bolchevismo por uma enfraquecida Alemanha não seria uma coisa ruim. A relutância pura e simples dos governos ocidentais em entrar em negociações efetivas com o Estado vermelho, mesmo em 1938-9, quando a urgência de uma aliança anti-Hitier não era mais negada por ninguém, é demasiado patente .Na verdade, foi o temor de ter de enfrentar Hitier sozinho que acabou levando Stalin, desde 1935 um inflexível defensor de uma aliança com o Ocidente contra Hitier, ao Pacto Stalin-Ribbentrop de agosto de 1939, com o qual esperava manter a URSS fora da guerra enquanto a Alemanha e as potências ocidentais se enfraqueciam mutuamente, em proveito de seu Estado, que, pelas cláusulas secretas do pacto, ficava com uma grande parte dos territórios ocidentais perdidos pela Rússia após a revolução. O cálculo se revelou incorreto, mas, como as fracassadas tentativas de criar uma frente comum contra Hitier, demonstrou as divisões entre Estados que tomaram possível a ascensão extraordinária e praticamente sem resistência da Alemanha nazista entre 1933 e 1939. (página 152)








Linha Maginot








E no entanto os governos, e em particular o francês e o britânico, também tinham ficado marcados de forma indelével pela Grande Guerra. A França saíra dela dessangrada, e potencialmente uma força ainda menor e mais fraca que a derrotada Alemanha. A França não nada podia sem aliados contra uma Alemanha revivida, e os únicos países europeus que tinham igual interesse em aliar-se a ela, a Polónia e os Estados sucessores dos Habsburgo, se achavam fracos demais para isso. Os franceses investiram seu dinheiro numa linha de fortificações (a "Linha Maginot", nome de um ministro logo esquecido) que, esperavam, impediria os atacantes alemães pela perspectiva de perdas como as de Verdun (ver capítulo l). Fora isso, só podiam voltar-se para a Grã-Bretanha e, depois de 1933, para a URSS. Os governos britânicos tinham igual consciência de uma fraqueza fundamental. Financeiramente, não podiam se dar o luxo de outra guerra. Estrategicamente, não tinham mais uma marinha capaz de operar ao mesmo tempo nos três grandes oceanos e no Mediterrâneo. Ao mesmo tempo, o problema que de fato os preocupava não era o que acontecia na Europa, mas como manter inteiro, com forças claramente insuficientes, um império global geografica-mente maior do que jamais existira, mas também e visivelmente à beira da decomposição (p.154-155)




Guerra Fria


Mas não explica o tom apocalíptico da Guerra Fria. Ela se originou na América. Todos os governos europeus ocidentais, com ou sem grandes partidos comunistas, eram empenhadamente anticomunistas, e decididos a proteger-se de um possível ataque militar soviético. Nenhum deles teria hesitado, caso solicitados a escolher entre os EUA e a URSS, mesmo aqueles que, por história, política ou negociação, estavam comprometidos com a neutralidade. Contudo, a "conspiração comunista mundial" não era um elemento sério das políticas internas de nenhum dos governos com algum direito a chamar-se democracias políticas, pelo menos após os anos do imediato pós-guerra. Entre as nações democráticas, só nos EUA os presidentes eram eleitos (como John F. Kennedy em 1960) para combater o comunismo, que, em termos de política interna, era tão insignificante naquele país quanto o budismo na Irlanda. Se alguém introduziu o caráter de cruzada na Realpolitik de confronto internacional de potências, e o manteve lá, esse foi Washington. Na verdade, como demonstra a retórica de campanha de John F. Kennedy com a clareza da boa oratória, a questão não era a académica ameaça de dominação mundial comunista, mas a manutenção de uma supremacia americana concreta.* Deve-se acrescentar, no entanto, que os governos membros da OTAN, embora longe de satisfeitos com a política dos EUA, estavam dispostos a aceitar a supremacia americana como o preço da proteção contra o poderio militar de um sistema político antipático, enquanto este continuasse existindo. Tinham tão pouca disposição a confiar na URSS quanto Washington. Em suma, "contenção" era a política de todos; destruição do comunismo, não. Embora o aspecto mais óbvio da Guerra Fria fosse o confronto militar e a cada vez mais frenética corrida armamentista no Ocidente, não foi esse o seu grande impacto. As armas nucleares não foram usadas. As potências nucleares se envolveram em três grandes guerras (mas não umas contra as outras). Abalados pela vitória comunista na China, os EUA e seus aliados (disfarçados como Nações Unidas) intervieram na Coreia em 1950 para impedir que o regime comunista do Norte daquele país se estendesse ao Sul. O resultado foi um empate. Fizeram o mesmo, com o mesmo objetivo, no Vietnã, e perderam. A URSS retirou-se do Afeganistão em 1988, após oito anos nos quais forneceu ajuda militar ao governo para combater guerrilhas apoiadas pêlos americanos e abastecidas pelo Paquistão. Em suma, o material caro e de alta tecnologia da competição das superpotências revelou-se pouco decisivo. A ameaça constante de guerra produziu movimentos internacionais de paz essencialmente dirigidos contra as armas nucleares, os quais de tempos em tempos se tomaram movimentos de massa em partes da Europa, sendo vistos pêlos cruzados da Guerra Fria como armas secretas dos comunistas. Os movimentos pelo desarmamento nuclear tampouco foram decisivos, embora um movimento contra a guerra específico, o dos jovens americanos contra o seu recrutamento para a Guerra do Vietnã (1965-75), se mostrasse mais eficaz. No fim da Guerra Fria, esses movimentos deixaram recordações de boas causas e algumas curiosas relíquias periféricas, como a adoção do logotipo antinuclear pelas contraculturas pós-1968 e um entranhado preconceito entre os ambientalistas contra qualquer tipo de energia nuclear. Muito mais óbvias foram as consequências políticas da Guerra Fria. Quase de imediato, ela polarizou o mundo controlado pelas superpotências em dois "campos" marcadamente divididos. Os governos de unidade antifascista que tinham acabado com a guerra na Europa (exceto, significativamente, os três principais Estados beligerantes, URSS, EUA e Grã-Bretanha) dividiram-se em regimes pró-comunistas e anticomunistas homogéneos em 1947-8. No Ocidente, os comunistas desapareceram dos governos e foram sistematicamente marginalizados na política. Os EUA planejaram intervir militarmente se os comunistas vencessem as eleições de 1948 na Itália. A URSS fez o mesmo eliminando os não-comunistas de suas "democracias populares" multipartidá-rias, daí em diante reclassificadas como "ditaduras do proletariado", isto é, dos "partidos comunistas". Para enfrentar os EUA criou-se uma Internacional Comunista curiosamente restrita e eurocêntrica (o Cominform, ou Departamento de Informação Comunista), que foi discretamente dissolvida em 1956, quando as temperaturas internacionais baixaram. O controle direto soviético estendeu-se a toda a Europa Oriental, exceto, muito curiosamente, a Finlândia, que estava à mercê dos soviéticos e excluiu de seu governo o forte Partido Comunista, em 1948. Permanece obscuro o motivo pelo qual Stalin se absteve de lá instalar um governo satéliteTalvez a elevada probabilidade de os finlandeses voltarem a pegar em armas (como fizeram em 1939-40 e 1941-4) o tenha dissuadido, pois ele com certeza não queria correr o risco de entrar numa guerra que podia fugir ao seu controle. Ele tentou, sem êxito, impor o controle soviético à lugoslávia de Tito, que em resposta rompeu com Moscou em 1948, sem se juntar ao outro lado. As políticas do bloco comunista foram daí em diante previsivelmente monolíticas, embora a fragilidade do monolito se tomasse cada vez mais óbvia depois de 1956 (ver capítulo 16). A política dos Estados europeus alinhados com os EUA era menos monocromática, uma vez que praticamente todos os ii partidos locais, com exceção dos comunistas, se uniam em sua antipatia aos soviéticos. (p. 234)