Trata-se do oitavo romance de Pamuk e, em suas palavras, “o primeiro e último político”. A história é realmente política do início ao fim, embora nada tenha de panfletária. O autor cria um microcosmo isolado por uma nevasca, a pobre e decadente cidadezinha de Kars, para encenar ali os conflitos étnicos, religiosos e ideológicos que agitam a Turquia de hoje – sobretudo o abismo que se abre num país dividido entre a modernidade ocidental e o tradicionalismo islâmico. A princípio uma testemunha perplexa do conflito, do qual acaba por se tornar peça-chave, Ka é um jornalista e poeta turco que passou os últimos anos exilado na Alemanha por razões políticas e visita a cidadezinha com dois objetivos: escrever sobre uma estranha epidemia de suicídios entre jovens muçulmanas e propor casamento à bela Ipek, sua colega dos tempos de universidade. No trecho abaixo, Ka reencontra Ipek pela primeira vez e tem com o editor do jornal local uma conversa que traça as linhas gerais da guerra que está por vir.
texto de Sérgio Rodrigues
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