quarta-feira, março 07, 2007

L´enfer

As pessoas simplesmente se matavam, era duas barricadas sem barricadas, apenas uma parede de janelas quebradas e, de vez em quando, duas fileiras humanas se formavam, viradas uma contra a outra sem que se pudesse enxergar claramente a outra, porque a morte era tão rápida. Enfim, uma janela toda estrilhaçada no meio, e tiros para lá e para cá.

No meio deste enxame de tiros e sangue, porque os corpos sumiam, como as balas dentro deles. Um homem de terno preto, camisa branca, chapéu coco, rosto de adolescente saído do Laranja Mecânica, conversando com o que parecia ser o comandante do lado de cá da janela, mandava seus homens, dando conselhos que não podia ouvir, já que os tiros enchiam todo espaço.

O que se via e ouvia era a sua calma, uma tranquilidade que parecia não saber de nada que é ao redor, uma contemplação que adorava e encorajava os homens a ficarem em pé para serem alvos e alvejados. Quando, finalmente, olhava em seus olhos, via um riso discreto a cada morte a canto de boca, a cada dilaceramento. Contudo seu prazer era menor do que sua calma, porque estava ali para manter os homens excitados com a sua paz, assim, mantinha sua calma para ajudar os homens a continuar se matando.

Numa fotografia slow-motion, vi um deles daquele lado da janela, matou dois desse lado, e foi atingido, quando viu a bala penetrar seu estômago, saciou-se com o prazer da dor, contudo não estava ainda com fome, num riso histérico e sem timidez, ergueu o revolver para dentro da boca, virou os olhos como quem come algo estragado e deu seu último riso ao apertar o gatilho, completando a refeição.

Foi aí que entendi quem era o homem de preto, que não tinha nenhum respingo vermelho sobre a camisa branca, parecia ser o próprio maligno, colecionando quedas, buracos e prazeres dado pelos homens tanto de um lado como do outro da janela se divertindo matando uns aos outros quando jogavam seu corpo matando a si mesmo.

Eu estava do lado da janela do homem bem vestido, do outro lado, uns doidos pulavam e atiravam como se fossem peões de videogame ou aqueles inimigos facéis de filme de ação, mas o sangue e a dor não era maquiagem.

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