Igreja Total está baseado em duas premissas indissociáveis: no Evangelho e na Vida em Comunidade.
Por que o Evangelho?
"Na igreja, o Cristo ressurreto governa por meio da sua palavra. Isso porque a única habilidade exigida dos líderes da igreja é que eles possam ensinar, aplicando corretamente a palavra de Deus. A autoridade deles é uma autoridade mediada. Eles não possuem autoridade em si mesmos. Antes, exercem a autoridade de Cristo no nome dele, na medida em que ensinam e aplicam a palavra. Isso define a incrível extensão da autoridade deles: quando aplicam a palavra, exercem a autoridade do próprio Deus". (p.29)
O evangelho é uma palavra, portanto a igreja deve ser centrada na palavra.
Por que Comunidade?
"A individualidade divina é definida em termos relacionais. O Pai é o Pai porque tem um Filho. Deus é parte de uma comunidade. A individualidade humana também é definida em termos relacionais. A existência de uma pessoa sem relacionamentos é tão impossível quanto a de uma mãe sem filhos ou um filho sem pais" (p. 40)
"Deus é um Deus missionário, e a sua principal metodologia missionária é sua aliança com as pessoas. A humanidade foi feita à imagem do Deus trino. O propósito de uma imagem é representar algo, e fomos feitos para representar Deus na terra. Deus nos fez pessoas que são parte de uma comunidade para sermos o veículo por meio do qual ele revelaria sua glória. Mas a humanidade buscou autonomia de Deus. Caímos sob a maldição de Deus, e a comunidade humana foi quebrada. Os portadores da imagem de Deus não alcançaram sua glória" (p. 47)
A Comunidade se move por todo o globo (um movimento centrífugo), o tempo todo atraindo pessoas para o Senhor por meio da sua vida comum (movimento centrípedo) (p.49)
"Nossa identidade como seres humanos é encontrada na comunidade. Nossa identidade como cristãos é encontrada na nova comunidade de Cristo. E nossa missão é realizada por meio das comunidades da luz. O cristianismo é igreja total". (p. 50)
Evangelismo.
"Por sua vida, criada e transformada pelo evangelho, a igreja revela a natureza do governo de Deus. Por essa vida e proclamação do evangelho, ela chama as nações a adorarem a Deus" (p. 55)
A comunidade cristã é uma parte vital da missão cristã, a missão se dá na medida em que as pessoas veem nosso amor uns aos outros. A vida da comunidade cristã é parte da forma pela qual o evangelho é comunicado. Aqui ele cita Lesslie Newbigin, que diz que a congregação local seria como a hermenêutica do evangelho.
Os três fios do evangelismo seriam: construir relacionamentos, compartilhar o evangelho e apresentar as pessoas à comunidade cristã.
A vida em comum com intencionalidade evangélica, para os autores, a maior parte do ministério evangélico envolve pessoas comuns fazendo coisas comuns com intencionalidade evangélica, o comum precisa ser saturado com um compromisso de viver e pregar o evangelho.
Envolvimento Social
Para os autores, o evangelismo e a ação social são atividades distintas, a proclamação é central e o evangelismo e a ação social são inseparáveis.
"Nossa prioridade em termos de envolvimento social é sermos igreja, uma comunidade de acolhimento e inclusão de marginalizados. Isso precisa ser mais profundo do que um aperto de mão na porta da igreja. As pessoas muitas vezes não têm consciência do quanto da cultura da igreja é adaptada à classe social. Uma pessoa na porta de uma igreja pode, por exemplo, entregar um hinário, uma Bíblia, um boletim a um visitante com um sorriso, cumprimentando-o, sem se dar conta de quão intimidante isso pode ser para alguém que vem de uma cultura não alfabetizada. As atividades sociais para as quais os pobres são convidados, o processo de tomada de decisão da igreja, as regras do vestuário não escritas, o estilo de ensinar - isso tudo pode ser estranho aos marginalizados. Assim, mesmo que haja acolhimento, os pobres podem se sentir tão marginalizados dentro da igreja quanto fora dela" (p.81)
"O mundo estimula o intelecto dos profissionais, a influência dos poderosos e a nobreza das classes mais altas, pensando que essas coisas são importantes. Mas nós nos gloriamos em Cristo Jesus" (p. 83)
Plantação de igrejas.
"A igreja local é o agente da missão. É o contexto em que as pessoas aprendem o discipulado. Não pode haver uma missão cristã sustentável sem comunidades cristãs locais sustentáveis. A vida da comunidade cristã faz parte da mensagem do evangelho de reconciliação e da maneira como essa mensagem é comunicada" (p. 88)
"Reproduzir igrejas constantemente era o modelo das igrejas apostólicas, mas era um modelo que deu plena expressão aos princípios da comunidade cristã. De certa forma, o modelo domiciliar define a igreja. A igreja é a casa de Deus." (93)
Uma visão de crescimento de igrejas deve ser uma visão de plantação de igrejas, toda a igreja local deve ter o objetivo de transplantar e levantar plantadores de igreja.
Missão Mundial
"A esperança é essencial à nossa mensagem. Os não-cristãos promovem a justiça e alimentam os famintos muitas vezes com mais energia do que os cristãos. Mas somente os cristãos podem conduzir as pessoas em direção ao mundo vindouro. Somente os cristãos podem lhes mostrar quão eloquente e relevantemente a Bíblia descreve o mundo que todos queremos" (p.102)
"A igreja é a estratégia missionária de Deus. No coração do plano de Deus para abençoar as nações, está o povo de Deus. A igreja é formada pela missão e para a missão (...) O Novo Testamento fala da igreja em dois sentidos. Primeiro, a igreja é a congregação celestial continuamente reunida ao redor do trono de Deus. Segundo, são chamadas de igreja congregações locais que mostram a realidade dessa igreja celestial. (...) Sabemos que a vinda do Reino de Deus é uma boa notícia devido ao tipo de reino que o Rei exerceu na terra. Sabemos que essa continua sendo uma boa notícia por meio das comunidades que ele cria, as quais vivem uma vida plena e servem de modelo para o seu reino. É por isso que podemos falar da igreja como a estratégia missionária de Deus. E isso significa igrejas locais de verdade!" (p. 103)
Tornou-se comum fazer uma diferenciação entre a a missão de Deus - missio Dei - e a missão da igreja - missio ecclesiae. Contudo, a a missão da igreja deve estar envolvida na atividade de Deus no mundo.
"Hoje, o poder militar e econômico das nações ocidentais lutam contra a ameaça do terrorismo internacional. A derrota de um inimigo composto por células locais, trabalhando em prol de uma visão em comum com grande autonomia, mas valores compartilhados, tem se demonstrado difícil. Eles são flexíveis, interessados, oportunistas, influentes e eficazes. Juntos, parecem ter um impacto muito maior no nosso mundo do que teriam se fizessem parte de uma organização estruturada e identificável. As igreja podem e devem adotar esse mesmo modelo de grande impacto na medida em que trava paz no mundo" (p. 108)
Discipulado e Treinamento.
O batismo é um ato de comunidade e não solitário. É o modo como experimentamos a vida conjunta e compartilhada da Trindade. E nos tornamos parte do povo de Deus.
"Para sermos uma comunidade de luz da qual a luz de Cristo emanará, precisamos ser intencionais nos nossos relacionamentos; amarmos os não amáveis, perdoarmos os imperdoáveis, acolhermos os repulsivos, incluirmos os desajeitados e aceitarmos os excêntricos. É nesse contexto que pecadores são transformados em discípulos que obedecem a tudo que o Rei Jesus ordenou" (p.111)
"Ser centrado na palavra significa que a palavra de Deus tem prioridade com relação à tradição e aos costumes. Muitas igrejas afirmam ser centradas na palavra, na prática, são centradas nas tradições" (p. 114)
A igreja local é o contexto em que podemos obedecer fielmente aos mandamentos e demonstrar o poder do governo do Rei.
Aconselhamento Pastoral
"Este livro é um chamado à dupla fidelidade, à palavra do evangelho e à comunidade do evangelho. Acreditamos que a palavra do evangelho e a comunidade do evangelho não nos decepcionam no que diz respeito ao aconselhamento pastoral! Juntas elas nos fornecem uma estrutura segura dentro da qual é possível abordar questões pastorais" (125)
Então, há a suficiência tanto do evangelho como da comunidade do evangelho. Primeiro, o aconselhamento pastoral é a capacidade de dirigirmos a palavra do evangelho aos problemas das pessoas.
A comunidade cristã fornece o contexto em que aprendemos o significado de sermos pessoas como parte de uma comunidade e o contexto em que casamentos podem prosperar.
Espiritualidade.
Os autores possuem uma visão negativa da contemplação.
"A espiritualidade bíblica não tem a ver com contemplação, mas com a leitura da palavra de Deus e meditar sobre ela. Não tem a ver com o silêncio, mas com uma súplica apaixonada. Não tem a ver com solitude, mas com a participação na comunidade. Em outras palavras, a espiritualidade bíblica reflete a dupla fidelidade que defendemos durante este livro: está centrada no evangelho e radicada no contexto da comunidade cristã" (p. 135)
A seguir, eles colocam alguns constrastes:
a bíblia em vez de contemplação- espiritualidade centrada na palavra.
a súplica em vez do silêncio - espiritualidade centrada na missão.
a comunidade em vez da solitude - espiritualidade centrada na comunidade.
"Não encontramos Deus na quietude, mas sim na sua palavra. Não estamos mais próximos de Deus em um jardim, estamos mais próximos de Deus em sua palavra (Dt 30.14)" (135)
"Na tradição mística e contemplativa, o objetivo da espiritualidade é a união com Cristo. A união com Cristo é alcançada por meio de disciplinas ou uma série de etapas espirituais. A imagem de uma escada é muitas vezes utilizada como ilustração. A espiritualidade evangélica é exatamente o oposto. A união com Cristo não é o objetivo da espiritualidade, mas a base da espiritualidade. Não é alcançada por meio de disciplinas ou etapas, elas nos é dada por meio da fé como a uma criança" (p. 137)
"A espiritualidade bíblica não ocorre em silêncio, mas ao carregarmos a cruz. Não é uma espiritualidade de isolamento, mas de envolvimento. Não a praticamos em um retiro ou em uma casa reclusa, praticamo-la em meio às vidas quebrantadas" (p. 139)