Continuando a segunda seção sobre CIDADE, o capítulo 8 fala sobre Contextualização Balanceada, dentro da terceira parte sobre a Contextualização do Evangelho.
Keller começa citando John Stott, Between Two Words, que coloca que alguns sermões são como uma ponte para lugar nenhum, eles possuem uma base bíblica para nunca chegam a terra. Outros sermões são como uma ponte de lugar nenhum, eles falam de problemas da vida comum mas falham em colocar a resposta bíblica para eles.
Devemos ter em mente sempre estes dois lados da ponte: o texto bíblico e o contexto cultural do leitor/ouvinte. A escritura tem autoridade suprema, não pode estar errada e nem precisa ser corrigida. Mas, o entendimento de um comunicador cristão pode estar equivocado. Muitos enxergam que a comunicação do evangelho é levar a mensagem bíblica até a nova cultura, é uma ponte de uma mão só, eles não gostam da idéia que informações podem vir da outra mão. Esta visão não consegue ver que somos pecadores e finitos, então, não podemos ter um conhecimento claro de nada, nossa cultura molda nosso entendimento das coisas.
Como podemos conciliar isto? Quando nos aproximamos de um texto bíblico, vamos com um pré-entendimento, um cojunto de crenças pré estabelecidas sobre os assuntos apresentados na Bíblia. Estas crenças são fortes e profundas, e muitas são tácitas, difíceis de serem reconhecidas. Elas vêm da nossa cultura. Isto não significa que não podemos ter um suficiente e verdadeiro conhecimento do ensino bíblico. Contudo, não é um processo simples, nossas crenças tornam difícil para nós lermos as escrituras corretamente, deixar que ela corrija nosso pensamento e leve fielmente sobre a ponte para alguém que precisa disto.
Por causa de nossa cegueira cultural, precisamos não só falar, como também ouvir. Precisamos ouvir o que estão dizendo, suas questões, objeções, esperanças e aspirações. Esta interação nos mostra muitas coisas importantes na Bíblia. Nossa interação com culturas diferentes nos leva a pergunta questões ao texto que nunca tínhamos feito e ver coisas mais claras que nunca vimos antes.
Uma das formas que nosso entendimento continua distorcido é o chamado “cânon dentro do cânon”, nós tratamos algumas partes da Escritura como mais importante que outras e ignoramos ou descartamos as outras. Todos os cristãos são vítimas disto dependendo de seu temperamento, experiência e cultura. Keller cita D.A. Carson, que diz, por exemplo, a bíblia fala que Deus ama a todos no mundo com seu amor providencial e também nos ensina que ele ama o salvo com seu amor gracioso e odeia o perverso. Culturas diferentes vão responder diferentemente aos aspectos bíblicos do amor divino. Membros da cultura ocidental gostam do conceito do amor de Deus para todos e se ressabiam diante da ira de Deus. Membros de uma cultura mais tradicional, tribal entendem a o julgamento de Deus, mas tem problemas com o fato de amar as pessoas igualmente. Cada cultura tende a sublimar certos ensinos bíblicos e ignorar outros, criando um mini-cânon das Escrituras.
Outros exemplos disto são a visão sobre a propriedade privada, algumas culturas têm um visão positiva, outras não. O que há é reducionismo, nossa localização socio-cultural nos leva a ressaltar ou menosprezar alguns ensinos das Escrituras. A ponte deve correr nas duas direções, enquanto que a Bíblia não pode ser corrigida por culturas não-cristãs, o entendimento cultural da bíblia pode e deve ser corrigido.
A ponte e a a espiral.
Assumir que o cristianismo ocidental é verdadeiro, sem distorção e uma expressão universal da fé, que transportá-lo pela ponte somente precisa de algumas poucas adaptações, este modelo, segundo Harvie Conn, está baseado numa visão funcionalista da cultura, que vê a cultura como algo sem práticas relacionadas que ajudam a um grupo de pessoas se adaptar ao ambiente, você pode alterar a religião sem mudar nada no resto da cultura da pessoa.
Na visão de Keller, evangelical, a Bíblia continua suprema, os dois lados da ponte não são iguais. A interação com a cultura ajuda a nos adaptar e mudar nosso entendimento da Bíblia para melhor, mas em última análise,a Bíblia deve ser vista como a grande autoridade sobre a cultura e sobre a nossa consciência. Não é um produto falível.
Se buscamos uma relação relativa, de igualdade, no fundo, estamos considerando nossa cultura como autoridade sobre a Bíblia. Ou Ela determina o que na cultura é aceitável ou não, ou a cultura irá ter uma autoridade final sobre a Bíblia e determinar no texto o que é pode ser aceito ou não. Então, a imagem de um círculo não funciona, por isto, alguns defendem a idéia de uma espiral. Usando este método, os evangelicals buscam evitar os exageros, seja de um culturalismo fundamentalista, que crê que podemos ler a Bíblia de modo culturalmente livre e universal, e o relativismo cultural, que o texto bíblico somente pode ter o sentido permitido por uma cultura que o lê.