quarta-feira, agosto 18, 2004

jejum

Fiz uma pesquisa sobre o assunto do jejum como ele aparece na Bíblia. Quero que saibam que não defendo barganha, pois o jejum como vemos em Cl 2, não é para se entrar em comunhão com Deus, e sim, para fortalecer a comunhão com o Pai.

A idéia mesma de consagração através do jejum deve ser uma vontade de quem já está ligado no
Pai. Quem quer ligar-se à Igreja, deve aceitar a Cristo e receber dele o dom da comunhão do Espírito Santo, e não praticar jejum ou qualquer outro ato humano para obter sua salvação e justificação. Afinal, somos herdeiros de Lutero e Calvino e acreditamos que somos justificados apenas pela fé (sola fide).

Então, creio que o jejum deve ser teocêntrico, baseado em Deus, na fome Dele e de sua presença, deve começar Nele a vontade e ser ofertado a Ele.

Para Richard J. Foster há o propósito primário do Jejum que é a adoração de Deus, “O jejum deve sempre centrar-se em Deus. Deve ser de iniciativa divina e ordenado por Deus”[i], Para explicar esse ponto, Foster retoma a passagem em Zacarias e cita J. Wesley, conforme passagem abaixo:

“Deus interrogou o povo no tempo de Zacarias: “Quando jejuastes...acaso foi para mim que jejuastes, como efeito para mim?(Zc. 7,5). Se nosso jejum não é para Deus, então fracassamos. Benefícios físicos, êxito na oração, dotação de poder, discernimentos espirituais, estas coisas nunca devem tomar o lugar de Deus como centro do nosso jejum. João Wesley declarou: primeiro, seja ele feito para o Senhor com nosso olhar unicamente fixado nele. Que nossa intenção aí seja esta, e esta somente, de glorificar a nosso Pai que está no céu”[ii].

Há também no jejum, propósitos secundários, para Foster o jejum é uma disciplina que revela coisas que nos controlam, “cobrimos com alimento e com outras coisas boas aquilo que está dentro de nós, mas no jejum estas coisas vêm à tona. Se o orgulho nos controla, ele será revelado quase imediatamente”[iii]. No final do ponto ele (Richard J. Foster) indica que inúmeras pessoas têm escrito sobre os muitos outros valores do jejum tais como aumento de eficácia na oração intercessora, orientação na tomada de decisões, maior concentração, livramento dos que se encontram em escravidão, bem-estar físico, revelações e assim por diante. Nesta, como em todas as questões, podemos esperar que Deus galardoe os que diligentemente o buscam.

Então, quero que saibam que tudo começa em Deus, como diz Rick Wareen, não oro e nem jejuo para outra pessoa ou para mim mesmo, a vontade mesmo de fazer tal coisa começou Nele.

Não pode se ignorar que na Bíblia há dois casos de petição agregadas a um jejum (Es. 8,21-23, II Sm. 12,16 e 22). Jesus quando condena a prática farisaica de se vangloriar da prática do jejum e lembra que o foco deve ser Deus, lembra que o Pai que ouve em segredo, nos recompensará.( não há alusão ali, a qual tipo de recompensa nos será dada).

Contudo, não é só isso, a Bíblia oferece exemplos de outros tipos de jejum ligados a outras coisas mais diversas:

Lamentação e Luto[iv].

Jejum pode ser um sinal comum de lamentação ou luto como está em I Sm 31,13[v]; II Sm 1,12[vi], I Cr. 10,12, Et. 4,3.

Arrependimento.

Jl 2,12-18[vii] ,Ne. 9,1-2[viii], Jn. 3,5, I Sm 7,6

Busca intensa de Deus

Sl. 35,13 e 69,10; 2Cr 20, 3; Ne. 1,4; Dn. 9,3, Jl. 1,14, At. 10,30, Jz. 20,26

Capacitação Espiritual.

Dt. 9,9, Mt. 17,21 e Mc. 9,29.

Para os judeus: jejum ritualista.
“Os hebreus jejuavam no dia da Expiação (Lv. 23,27-32; e Nm. 29,7). Após o exílio babilônico passou a fazer parte das outras festas anuais religiosas (Zc. 8,19)”[ix].

Escolha de missionários, busca da vontade de Deus.
“No livro de Atos observamos que os lideres cristãos costumavam jejuar quando da escolha de missionários e lideres das igrejas locais, o que evidentemente era prática que aplicava o jejum como meio de buscar a orientação divina (v. At. 13,2-3 e 14, 23)”[x].


E o jejum parcial, há base bíblica para sua prática:

JEJUM ABSOLUTO
Abstenção de tanto alimento como de água.
40 dias: Dt. 9,9, I Rs 19,8
3 dias:Et. 4,16, At. 9,9.

JEJUM PARCIAL

“Ás vezes, se descreve o que poderia ser considerado jejum parcial; isto é, há restrição e dieta mas não abstenção total. Embora pareça que o jejum normal fosse pratica costumeira do profeta Daniel, houve uma ocasião em que durante três semanas, ele não comeu “manjar desejável, nem carne nem vinho entraram em minha boca, nem me untei com óleo algum”(Dn. 10,3)”. Não somos informados do motivo para este afastamento de sua pratica normal de jejuar; talvez seus deveres governamentais o obstassem”[xi].

Enfim, essa é uma questão muito mais difícil do que gostaríamos que fosse, onde acho que há uma regra de ouro: Sinceridade da Fé em Deus dada pela Graça por intermédio de Cristo Jesus e Santidade do ato movido pelo Espírito Santo. Uma fé sincera em Deus e uma santidade no espírito como motivação para o ato.

“As Escrituras são minha autoridade e jamais devo sair delas. Nada devo lhes acrescentar, jamais; nada devo retirar delas, nunca. As Escrituras são a completa revelação de Deus ao homem, e elas constituem a única autoridade”[xii].
D. Martin Lloyd-Jones.
Paz, Justiça e Alegria (Rm. 14,17).

Allen.

notas
[i] FOSTER, Richard. J. Celebração da Disciplina: O caminho do crescimento espiritual Trad. Luiz Aparecido Caruso Ed. Vida,1983, p. 72.
[ii] FOSTER, Richard. J. Celebração da Disciplina: O caminho do crescimento espiritual Trad. Luiz Aparecido Caruso Ed. Vida,1983, p. 72-73.
[iii] FOSTER, Richard. J. Celebração da Disciplina: O caminho do crescimento espiritual Trad. Luiz Aparecido Caruso Ed. Vida,1983, p.73.
[iv] CHAMPLIN, R. N. & BENTES, J. M. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia vol.3 , São Paulo: Candeia, 1991, p.441.
[v] “E tomaram os seus ossos, e os sepultaram debaixo de um arvoredo, em Jabes, e jejuaram sete dias”. Luto pela morte do rei Saul e dos israelitas pelas mãos dos filisteus”.
[vi] “E prantearam, e choraram, e jejuaram até à tarde por Saul, e por Jônatas, seu filho, e pelo povo do SENHOR, e pela casa de Israel, porque tinham caído à espada”.
[vii] “Ainda assim, agora mesmo diz o SENHOR: Convertei-vos a mim de todo vosso coração; e isso com jejuns, e como choro, e com pranto. E rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes, e convertei-vos ao SENHOR, vosso Deus; porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-se, e grande em beneficência e se arrepende do mal. Quem sabe se se voltará, e se arrependerá, e deixará após si uma bênção, em oferta de manjar e libação para o SENHOR, vosso Deus?
Tocai a buzina em Sião, santificai um jejum, proclamai um dia de proibição.
Congregai o povo, santificai a congregação, ajuntai os anciãos, congregai os filhinhos e os que mamam; saia o noivo da sua recamara, e a noiva, do seu tálamo.
Chorem os sacerdotes, ministros do SENHOR, entre o alpendre e o altar, e digam: Poupa teu povo, ó SENHOR, e não entregues a tua herança ao opóbrio, para que as nações façam escárnio dele; porque diriam entre os povos: Onde está o seu Deus?
Então, o SENHOR terá zelo da sua terra e se compadecerá do seu povo”.
[viii] “E, no dia vinte e quatro deste mês, se ajuntaram os filhos de Israel com jejum e com pano de saco e traziam terra sobre si. E a geração de Israel se apartou de todos estranhos, e puseram-se em pé e fizeram confissão de seus pecados e das iniqüidades de seus pais”.
[ix] CHAMPLIN, R. N. & BENTES, J. M. Op. Cit., p.442.
[x] CHAMPLIN, R. N. & BENTES, J. M. Op. Cit., p.442.
[xi] FOSTER, Richard. J. Celebração da Disciplina: O caminho do crescimento espiritual Trad. Luiz Aparecido Caruso Ed. Vida,1983, p. 66.
[xii] LLOYD-JONES, D. Martín Romanos: Exposição sobre o Cap. 1, O Evangelho de Deus Trad. Odayr Olivetti São Paulo:PES,1998,p.120.

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