No sétimo capítulo de A Vida Cristã Normal, Watchman Nee nos fala sobre o propósito eterno da criação: a glória de Deus, que temos quando somos feitos filhos de Deus por Deus em Jesus.
Se o pensamento do homem gira em torno da punição que irá advir sobre ele como consequência do pecado, o pensamento de Deus sempre está colocado na glória que o homem perderá se pecar. O resultado do pecado é que perdemos o direito à glória divina.
O objetivo de Deus era que seu Filho, Jesus Cristo, fosse o primogênito de muitos irmãos, que seriam transformados à sua imagem. O propósito divino na criação e na redenção foi fazer de Cristo, o primogênito entre muitos filhos glorificados.
Nee coloca a questão de que Deus não pode ficar sem a gente, citando George Cutting:
"O propósito divino na criação e na redenção foi que Deus tivesse muitos filhos. Ele nos desejava, e não Se satisfazia sem nós. Há algum tempo, visitei o Sr. George Cutting, autor do famoso folheto "Segurança, Certeza e Gozo". Quando fui levado à presença deste velho crente, de noventa e três anos, ele tomou a minha mão nas suas, e, de maneira calma e ponderada, disse: "Irmão, sabe, eu não posso passar sem Ele, e, sabe, Ele não pode passar sem mim". Embora estivesse com ele por mais de uma hora, a sua idade avançada e a sua fraqueza física tornaram impossível manter qualquer conversa, mas o que ficou gravado na minha memória, desta entrevista, foi a sua freqüente repetição destas duas frases: "Irmão, sabe, eu não posso passar sem Ele, e, sabe, Ele não pode passar sem mim"."
Ele também estabelece uma diferenciação entre unigênito e primogênito, Jesus é ambas as coisas, foi enviado como único para ser o primeiro de muitos, conforme o texto de Hb. 2:10. A filiação é o propósito de Deus nos muitos filhos.
No que diz respeito à sua divindade, Jesus permanece como único filho de Deus, mas, Ele também é o primogênito a partir do momento da ressurreição e por toda a eternidade. Se nascemos de novo, somos feitos co-participantes de sua natureza divina, conforme 2Pe. 1:4, estamos na dependência de Deus em Cristo Jesus.
Foi por meio da encarnação e cruz que Jesus tornou possível sermos filhos de Deus, Ele satisfez a Deus em sua obediência e assim, pode nos ter, como seus filhos.
Somos filhos de Adão. Ele foi criado inocente, não possuia o conhecimento do bem e do mal. Nee explica assim:
Qual é, pois, o significado destas duas árvores? Adão, por assim dizer, foi criado moralmente neutro — nem pecador nem santo, mas inocente — e Deus colocou estas duas árvores no Jardim para que ele pudesse pôr em prática a faculdade de livre escolha de que era dotado. Podia escolher a árvore da vida, ou escolher a árvore do conhecimento do bem e do mal.
Ora, o conhecimento do bem e do mal, embora a Adão tivesse sido proibido, não é mau em si mesmo. Sem ele, Adão está limitado e não pode, por si mesmo, decidir em questões de ordem moral. O julgamento do que é certo e bom não lhe pertence, e, sim, a Deus, e o único recurso de Adão, quando tem que encarar qualquer problema, é remetê-lo a Deus. Assim, há no Jardim uma vida que depende totalmente de Deus. Estas duas árvores representam, portanto, dois princípios profundos; simbolizam dois planos de vida, o divino e o humano. A "árvore da vida" é o próprio Deus, porque Deus é a vida, a mais elevada expressão da vida, bem como a fonte e o alvo da vida. O que representa o fruto? É nosso Senhor Jesus Cristo. Não podemos comer a árvore, mas podemos comer o seu fruto. Ninguém é capaz de receber Deus, como Deus, mas podemos receber o Senhor Jesus Cristo. O fruto é a parte comestível, a parte da árvore que se pode receber. Podemos assim dizer, com a devida reverência, que o Senhor Jesus Cristo é realmente Deus, em forma recebível: Deus, em Cristo, pode ser recebido por nós.
Diante de Adão, foram colocados dois planos de vida: a vida divina em dependência de Deus e a vida humana com seus recursos independentes. Adão escolheu a autonomia em relação a Deus. Assim, por sermos seus filhos, nos tornamos pecadores, dominados pelo inimigo, sujeitos à lei do pecado e da morte, merecendo a ira de Deus sobre a nossa vida.
Todos nós devemos ir até a cruz de Cristo, para que a velha vida seja morta, o velho-eu. Deus nos incluiu na morte de Seu Filho, aniquilando o último Adão e tudo que pertencia a ele.
Depois, Cristo ressuscitou em nova forma; ainda com um Corpo mas "no espírito"; não mais "na carne". "O último Adão, porém, é espírito vivificante" (I Co 15.45). O Senhor Jesus agora tem um Corpo ressurreto, espiritual, glorioso e, desde que não está mais na carne, pode agora ser recebido por todos. "Quem de mim se alimenta, por mim viverá", disse Jesus (João 6.57). Os judeus acharam revoltante a idéia de comer a Sua carne e beber o Seu sangue, mas, evidentemente, não podiam recebê-Lo então, porque Ele estava, literalmente, na carne. Agora que Ele está no Espírito, cada um de nós pode recebê-Lo, e é participando da Sua vida ressurreta que somos constituídos filhos de Deus. "A todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus... os quais nasceram... de Deus" (João 1.12,13). Deus não está empenhado em reformar a nossa vida; o Seu pensamento não consiste em trazê-la a certo grau de aperfeiçoamento, porque a nossa vida situa-se num plano essencialmente errado. Naquele plano, Ele não pode agora levar o homem à glória. Tem que criar um novo homem, nascido de Deus, nascido de novo. A regeneração e a justificação caminham juntas.
Então, hoje nossa única esperança é receber o Filho de Deus, sua vida em nós nos faz filhos de Deus. Com Cristo, temos muito mais do que Adão poderia ter:
O que nós hoje possuímos em Cristo é mais do que Adão perdeu. Adão era apenas um homem desenvolvido. Permaneceu naquele plano e nunca possuiu a vida de Deus. Mas nós, que recebemos o Filho de Deus, recebemos não só o perdão dos pecados, mas também recebemos a vida divina que estava representada no Jardim pela árvore da vida. Pelo novo nascimento, recebemos algo que Adão nunca tivera e não chegara a alcançar.
Hoje temos uma vida que Deus tem no céu, porque Ele nos deu aqui na terra, esta é a razão de nossa vida santa, porque não se trata de uma vida modificada ou melhorada, mas uma vida concedida por Deus a cada um de nós.
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