The Crucifixion – Cap. 3- The Question of Justice
A condenação de Jesus significa redenção para o mundo, e por
extensão a condenação do pecado de seu povo é parte de seu proposito redentor –
cf. Is. 10:22
A cruz é o lugar onde
podemos ver claramente o relacionamento
entre julgamento (condenação, destruição) e
retidão de Deus (experimentada tanto como julgamento como redenção).
Justiça no Antigo Testamento
Uma coisa que devemos lembrar que a mente e o coração de
Jesus foram formados pelo Antigo Testamento, há uma interação continua com as
Escrituras. A mente de Cristo (1Co 2:16) está no Antigo Testamento.
Quando procuramos uma descrição de Deus entre as pessoas,
normalmente elas dizem que Deus é compassivo, misericordioso, inclusivo e
receptivo. Dificilmente, alguém dirá que Deus é justo. Ainda assim, a revelação
de Deus como justo ou reto forma uma grande parte do Antigo Testamento, que o
povo de Israel tinha como fundamento para sua fé. Mesmo quando a palavra justiça não é usada
literalmente ou explicitamente, a ideia está lá.
'Vocês já caminharam bastante tempo ao redor destas
montanhas; agora vão para o norte. E diga ao povo: Vocês estão passando pelo
território de seus irmãos, os descendentes de Esaú, que vivem em Seir. Eles
terão medo de vocês, mas tenham muito cuidado.
Não os provoquem, pois não darei a vocês parte alguma da terra deles,
nem mesmo o espaço de um pé. Já dei a Esaú a posse dos montes de Seir. Vocês lhes pagarão com prata a comida que
comerem e a água que beberem'. (Dt 2:3-6)
Aqui não há uma menção clara para a justiça de Deus, mas ela
mostra isto mesmo em seus detalhes que Deus está olhando não apenas para as
pessoas corretas ou para os filhos escolhidos de Israel, mas também vela pelos
interesses dos ímpios e rejeitados filhos de Esaú.
Uma
das expressões favoritas do Antigo Testamento, é O Santo de Israel:
Mas
o Senhor dos Exércitos
será exaltado em sua justiça;
o Deus santo se mostrará santo
em sua retidão. (Is 5:16)
será exaltado em sua justiça;
o Deus santo se mostrará santo
em sua retidão. (Is 5:16)
Qual seria o conteúdo da justiça de Deus?
"Para que me oferecem tantos sacrifícios?",
pergunta o Senhor. "Para mim, chega de holocaustos de carneiros e da
gordura de novilhos gordos. Não tenho nenhum prazer no sangue de novilhos, de
cordeiros e de bodes! Quando vocês vêm à minha presença, quem pediu que
pusessem os pés em meus átrios? Parem de
trazer ofertas inúteis! O incenso de vocês é repugnante para mim. Luas novas,
sábados e reuniões! Não consigo suportar suas assembleias cheias de iniquidade. Suas festas da lua nova e suas festas fixas,
eu as odeio. Tornaram-se um fardo para mim; não as suporto mais! Quando vocês estenderem as mãos em oração,
esconderei de vocês os meus olhos; mesmo que multipliquem as suas orações, não
as escutarei! As suas mãos estão cheias de sangue! Lavem-se! Limpem-se! Removam
suas más obras para longe da minha vista! Parem de fazer o mal, aprendam a fazer o bem! Busquem a justiça,
acabem com a opressão. Lutem pelos direitos do órfão, defendam a causa da
viúva. "Venham, vamos refletir
juntos", diz o Senhor. "Embora os seus pecados sejam vermelhos como
escarlate, eles se tornarão brancos como a neve; embora sejam rubros como
púrpura, como a lã se tornarão. Se vocês
estiverem dispostos a obedecer, comerão os melhores frutos desta terra; mas, se resistirem e se rebelarem, serão
devorados pela espada." Pois o Senhor é quem fala! Vejam como a cidade
fiel se tornou prostituta! Antes cheia de justiça e habitada pela retidão,
agora está cheia de assassinos! Sua
prata tornou-se escória, seu licor ficou aguado. Seus líderes são rebeldes, amigos de ladrões;
todos eles amam o suborno e andam atrás de presentes. Eles não defendem os
direitos do órfão, e não tomam conhecimento da causa da viúva. Por isso o Soberano, o Senhor dos Exércitos,
o Poderoso de Israel, anuncia: "Ah! Derramarei minha ira sobre os meus
adversários e me vingarei dos meus inimigos.
Voltarei minha mão contra você; tirarei toda a sua escória e removerei
todas as suas impurezas. Restaurarei os
seus juízes como no passado; os seus conselheiros, como no princípio. Depois
disso você será chamada cidade de retidão, cidade fiel". Sião será redimida com justiça, com retidão
os que se arrependerem. (Is 1:11-27)
O Senhor falando através de seu profeta declara em termos
muito fortes que Ele não é mais agradado com a observância religiosa do povo, mesmo através de coisas meticulosas
(vs 11-13).
Como em muitas comunidades hoje, os frequentadores de igreja
são em si mesmos assassinos, e não tem
sangue em suas mãos numa maneira literal, mas indiretamente e o chamado para o
arrependimento é unívoco (vs 16-17).
A justiça de Deus não é algo vago ou amórfico, não é geral
ou indeterminada. Ela é especifica e particular, mostrando que Deus está atento
aos detalhes materiais das necessidades humanas (Ex 23:6, Dt 24:17, Ez 45:9)
A perversão da justiça é odiada por Deus. A justiça dos
indefesos é a própria obra de Deus (Dt 10:17-19). O cuidado dado pela comunidade para seus
membros mais fracos, e mesmo aqueles que são membros é um espelho do próprio
cuidado de Deus pelos israelitas quando eles eram escravos. As atividades da
comunidade não eram tomadas em princípios gerais, mas elas surgiram da vivida
rememoração da iniciativa justa e misericordiosa para com eles (Dt 26:5)
Porque a justiça é uma parte central da natureza de Deus,
ele declarou inimizade contra toda a forma de injustiça. Sua ira vira sobre
aqueles que exploram o pobre e o fraco, ele não permitirá que seu proposito
seja subvertido (Mq 2:1-3, 3:9-12 e Jr 5:27-29)
Como vimos em Isaias 1, a adoração é odiosa para Deus quando
ela está desligada de justiça (Am 5:21-24) Quando a justiça fluir como um rio,
este é um sinal que Deus está em movimento. Além disso, as vitórias
provisionais da justiça neste mundo presente, sejam grandes ou pequenas, são um
antegosto do Dia de Yahweh. O advento do Dia do Senhor quando toda a injustiça
será retificada para sempre é um tema central da literatura profética e
apocalíptica do Antigo Testamento. A promessa de um reinado de perfeita justiça
que trará alegria mesmo agora como uma antecipação dele, como está evidenciado
no salmo 146:5,7,9-10.
O MESSIAS VEM TRAZENDO JUSTIÇA
Quando Jesus vem anunciando o reino de Deus, o Antigo
Testamento forma o plano de fundo desta proclamação. A expectativa deste reino no contexto da sua pregação (Mc 1:15, Jr 23:5, Is 9:6-7)
Jesus tomou este papel messiânico sobre si mesmo de maneira deliberada na ocasião de
seu sermão inaugural que esta em Lc
4:16-21.
Quando fala deste modo sobre o cumprimento da profecia. Os
sinais do reino estão presente no seu ministério com especial ênfase na
intervenção de Deus em favor daqueles que não podem ajudar a si mesmos. Esta é
o desenho da justiça de Deus que reconhecemos nos profetas.
Outro lugar, onde a mensagem profética do Antigo Testamento
mais claramente penetra a historia de Jesus é na canção de Maria, no
Magnificat. Quando entendemos ele, devemos lembrar que Maria está na parte mais
baixa da sociedade (Lc 1:46-48a, 51b-53).
Quando vemos em comparação com a canção de Ana (1Sm 2:1-10),
seu protótipo, o tema da justiça para aqueles que estão na base da escala
social salta aos olhos. A justiça de Deus envolvera uma reversão dramática.
Quando vemos as canções, podemos ver que a vinda do Senhor
não foi projetada como um evento apenas confortável. Aqueles que pensam que
estarão seguros, se enganam. Aqueles que confiam em suas conquistas irão se
surpreender. Aqueles que foram religiosos, descobrirão que Deus esta buscando
outras coisas. A vinda do Messias não trará paz, mas espada (Mt 10:34).
PERDÃO OU
ESQUECIMENTO?
Ele mostrou a você, ó homem,
o que é bom
e o que o Senhor exige:
pratique a justiça, ame a fidelidade
e ande humildemente com o seu Deus.
Mq 6:8
Esta passagem declara
que a justiça e a misericórdia são dois aspectos fundamentais do caráter de
Deus. Trabalhar a relação entre os dois é uma tarefa essencial da teologia
cristã, da pregação e do cuidado pastoral. Em nosso próprio tempo, isto se
tornou uma questão importante. Há uma impressão comum que o perdão cristão pode
ser construído separado da questão da justiça – que, de fato, o perdão pode ser
ofertado sem referência a justiça-. Contudo, perdão é uma questão complexa. A
questão do perdão e da compensação realmente não deve ser discutida longe da
questão da justiça. Quando um mau terrível foi cometido e uma desculpa é oferecida,
as pessoas erradas talvez sejam justificadas sentindo que muito tem sido
pedidas para elas. As coisas não podem apenas ser esquecidas e perdoadas.
Perdao não é essência do Cristianismo. Perdao deve ser
entendido em seu relacionamento com a justiça se o evangelho cristão for visto
em todo seu escopo.
A injustiça demonstra que há algo errado em nosso mundo e
que pede para ser corrigido. Apesar de toda esta evidencia, há uma crença moderna
tentando nos convencer que a felicidade é um estado natural das nossas
espécies.
A mensagem da cruz de Jesus Cristo é que apenas o criador do
universo pode fazer perfeita justiça vir sobre o mundo que ele criou, que ele
fez isto no corpo do seu próprio Filho e ele fara mais no futuro no Dia do
Senhor:
Não
agirá com justiça o Juiz de toda a terra? Gn 18:25
A RELAÇÃO ENTRE JUSTIÇA E MISERICÓRDIA
Este é o mal que há em tudo o que acontece debaixo do sol: o
destino de todos é o mesmo. O coração dos homens, além do mais, está cheio de
maldade e de loucura durante toda a vida; e por fim eles se juntarão aos
mortos. (Ec 9:3)
Fleming Rutledge coloca dois desafios: primeiro, numa
sociedade da auto estima com a natureza caída humana? Segundo, é ajudar os
cristãos entenderem que mesmo a justiça
secular deve ser e pode ser administrada vindo de um senso profundo de
solidariedade entre todos os seres humanos, então nunca devemos cessar de
lembrar que apenas pela graça de Deus prosseguimos. Isto é paradoxal, mas se
nós pensamos que todos os seres humanos como igualmente necessitados tanto de
justiça como de misericórdia, seremos mais capazes de apoiar um sistema legal que poderá ser
severo sem sentimentalidade, ainda assim oposto a degradação de qualquer tipo.
ALÉM DO PERDÃO
Segundo Reginald Fuller, o perdão é uma palavra muito fraca
para abraçar o escopo pleno daquilo que Cristo fez e o que nos chama a
fazer. Perdão não é o suficiente, deve
haver justiça também.
Existe algo de errado no mundo e deve ser retificado. A cruz
não é puro e simples perdão, mas Deus endireitando o mundo da injustiça e
decepção. Esta correção é chama de
retificação (DIKAIOSIS em grego) pelo apostolo Paulo.
A encarnação do Filho de Deus não deve ser entendida como
uma divina bendição sobre tudo que há. Mas como uma encarnação debaixo da cruz,
e então se coloca como uma questão
contra as coisas como estão.
O Messias não veio para purificar e iluminar o mundo
espiritualmente preparado para sua chegada, mas ao invés disso, para uma
humanidade longe da bondade original que foi criada. A barbaridade da crucificação
revela precisamente este diagnóstico. Do inicio ao fim, as Escrituras
testificam que a condição da humanidade caída é tão séria, tão grave, tão
irremediável que nada senão a divina intervenção poderia retificar ela.
E Caifás, um deles que era sumo sacerdote naquele ano, lhes
disse: Vós nada sabeis, Nem considerais que nos convém que um homem morra pelo
povo, e que não pereça toda a nação. Ora ele não disse isto de si mesmo, mas,
sendo o sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus devia morrer pela
nação. E não somente pela nação, mas também para reunir em um corpo os filhos
de Deus que andavam dispersos. (João 11:49-52)
Há duas ideias aqui neste trecho. A primeira é que uma pessoa seria responsável
por muitas e a segunda é que a grandeza
da ofensa requer algo de igual valor indicando a magnitude da transgressão.
A mensagem bíblica é que o ultraje está antes de tudo no
coração de Deus. Se estamos resistentes a ideia da ira de Deus, devemos pausar
para refletir na próxima vez que ficarmos ultrajados com algo. A ira de Deus é
pura. Ela não é para a manutenção de privilegio como seu objetivo, mas vai em
favor daqueles que não tem privilégios. A ira de Deus não é uma emoção que
surge de tempos em tempos, como se fosse um temperamento. É um modo para
explicar a sua absoluta inimizade contra todo o mau.
A nova criação de Deus deve ser justa, ou as promessas de
Deus para correção do mundo seriam ignoradas (Is 10:1-2)
A ira de Deus se coloca contra tudo aquilo que se põe contra
seu proposito redentor. Não é uma emoção, é a retidão de Deus ativa em corrigir
aquilo que está errado. É a intervenção de Deus em favor daqueles que não podem
salvar a si mesmos.
Ao se tornar um dos pobres que tiveram seus direitos
privados, ao morrer como um que foi injustiçado pela justiça, o filho de Deus
se submeteu a mais extrema humilhação, entrando em total solidariedade com
aqueles que não tem ajuda. (Mc 15:31).
Ele se submeteu a esta humilhação e vulnerabilidade não
apenas por aqueles que foram vitimizados mas também pelos perpetuadores. Na
cruz, Deus colocou a si mesmo debaixo de sua própria sentença. Então, nem
vitima nem aquele vitimiza podem alegar exceção do julgamento por seus próprios
méritos, mas penas nos méritos do Filho.
DIKAIOSYNE: Justiça e a Retidão de Deus
Os sistemas humanos de justiça são cruciais para o funcionamento da
sociedade, mas ela não pode endireitar o
que está errado.
Uma coisa que precisamos entender é que dikaiosyne é
traduzido na bíblia tanto por retidão, justificação, justo, reto. Então,
precisamos entender que a justiça de Deus e a retidão de Deus são a mesma ideia
dentro do contexto bíblico.
A ideia de retidão na cultura hebraica não esta ligada a nossa
ideia de legalismo ou moralismo, é mais uma ideia de verbo do que substantivo,
porque se refere ao poder de Deus para endireitar aquilo que está errado.
A ideia é de retificação
DIKAIOSYNE como meta, como agressão.
O movimento de Deus em nossa direção quando deixamos Ele de
lado é descrito de muitas formas biblicamente. Oseas coloca em termos de
paternidade e filhos, a retidão seria um aspecto do amor parental (Os 11:1-9)
A retidão de Deus o leva a buscar redimir, assim ela se opõe
aquilo que procura destruir o que ele ama, declarando inimizade contra tudo que
se resiste ao seu proposito redentor. A
retidão divina não é estática, não é retributiva, mas restauradora.
Nesse sentido, Is 1:24-27,
a retidão não se refere a uma virtude humana ou a um comportamento
correto, mas a ação de Deus em restaurar a justiça e a retidão para Israel. Não
é tanto que Deus seja retidão, mas que Ele pratica retidão. O objetivo é restauração e renovação. Na
plenitude dos tempos, o povo da aliança se tornará um espelho da própria
fidelidade de Deus com sua aliança, isto não vai acontecer por causa da
competência humana, mas somente a partir de Deus.
Os escritos do Novo Testamento pressupõe a queda da raça humana e a ordem da criação decaida estão doente ate a morte além dos recursos humanos. O fator crucial aqui é precisamente identificado na parábola Jesus lhes contou outra parábola, dizendo:
"O Reino dos céus é como um homem que semeou boa semente em seu campo.
Mas enquanto todos dormiam, veio o seu inimigo e semeou o joio no meio do trigo e se foi.
Quando o trigo brotou e formou espigas, o joio também apareceu.
"Os servos do dono do campo dirigiram-se a ele e disseram: ‘O senhor não semeou boa semente em seu campo? Então, de onde veio o joio? ’
" ‘Um inimigo fez isso’, respondeu ele. "Os servos lhe perguntaram: ‘O senhor quer que vamos tirá-lo? ’
"Ele respondeu: ‘Não, porque, ao tirar o joio, vocês poderão arrancar com ele o trigo.
Deixem que cresçam juntos até à colheita. Então direi aos encarregados da colheita: Juntem primeiro o joio e amarrem-no em feixes para ser queimado; depois juntem o trigo e guardem-no no meu celeiro’ ". Mateus 13:24-30
O reino do pecado e da morte sobre o cosmos é inseparável da questão sobre por que as três pessoas da trindade concordaram com essa maneira tão cruel para a morte da segunda pessoa? O que o método nos fala sobre o significado desta morte?
A cruz mostra que não somente as vitimas da opressão e da justiça precisam de Deus como também os malfeitores.
A perversidade e monstruosidade da natureza da injustiça no mundo nos força a compreender que o perdao somente não dá um desenho claro do proposito de Deus.
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