quinta-feira, agosto 30, 2018

CRUCIFICAÇÃO: Anselmo Reconsiderado


ANSELMO RECONSIDERAD
O PARA O NOSSO TEMPO

Entre os capítulos 3 e 4, há um capitulo ponte que vai tratar da obra de Anselmo de Cantuária, a ideia é fazer uma ponte entre a questão da justiça e a gravidade do pecado. A importância de Anselmo está em duas coisas, segundo Rutledge:

1.       A obra CUR DEUS HOMO? tem sido tão influente que é impossível estudar  a historia da doutrina cristã sem ela.

2.       A fama e a influência desta obra tem sido marcada com um quê de escarnio, Anselmo tem sido culpado das Cruzadas até a Guerra do Iraque. Sua teoria da satisfação tem sido considerada como jurídica, feudal, rígida, absolutista, vingativa, sádica, imoral e violenta.

Para Anselmo, teologia não era primariamente um exercício intelectual, a fé precede o entendimento, e a fé está alicerçada na historia de Cristo.

JUSTIÇA DEVE SER VISTA PARA SER COMPLETADA

Algo é terrivelmente errado e precisa ser endireitado. Se existe uma ordem moral, a justiça deve ser realizada e devemos ver ela sendo feita. Na cruz de Cristo, a justiça é, de fato, vista para ser feita, mas ela é uma justiça tão estranha que sua interpretação acaba se amarrando em como ela opera.

Na crucificação, Deus não declarou uma anistia geral. A ênfase cristã no perdão e na redenção deve ser entendida em seu contexto próprio, porque Deus não é a favor  da impunidade. Mesmo sem uma referencia a justiça de Deus, nosso próprio senso humano de justiça requer que reparações sejam realizadas, que sentenças sejam cumpridas, que a restituição seja oferecida quando há uma grande ofensa.

Muitas das tentativas para explicar a cruz surgiram da intuição que na cruz, vemos o mesmo tipo de justiça sendo feito. Se você ou eu fossemos Deus, teríamos arranjado para que os perpetuadores de injustiça sofressem esta sentença, alguém  que achamos que merece a condenação, mas Deus não  faz o que eu ou você teria feito.  Deus arranjou para o seu próprio ser se colocar neste lugar. Jesus, a única pessoa que não merece condenação, se colocou sob uma sentença injusta e se submeteu a uma pena injusta (1Pe 3:18).



Na cruz, vemos a reposta de Deus para as injustiças do mundo.  Na crucificação, vemos alguém não somente pagando uma penalidade mas também sofrendo uma punição? Recentemente, muito se levantaram contra a ideia de uma interpretação punitiva para a cruz. Ainda assim, se aceitamos a ideia de algumas coisas não podem ficar sem ser punidas.



PREDICAMENTO HUMANO UNIVERSAL

Primeiro, Anselmo nos introduz para as dimensões do predicamento humano e a necessidade de um ato de resgate por Deus além de nossa esfera de comando e controle.



Como esta relação totalmente arruinada com Deus é restaurada em Cristo? Esta é a questão que Anselmo discute com Boso. Anselmo coloca dois pontos: primeiro, se um homem deseja restaurar o que deve a Deus a respeito do pecado mas é incapaz de fazer, então está em necessidade.  E segundo, se ele não deseja fazer isto, ele é injusto.

Mas, seja ele incapaz ou injusto, ele não estará feliz. A felicidade para Anselmo é desfrutar o supremo bem, que é Deus (2.1)

A compaixão sozinha não faria certo aquilo que é errado. É necessário satisfazer aquele que foi ofendido e retificar o que está errado.

A verdadeira punição para o pecado é como Paulo descreve em Romanos 1:24-28:

Por isso Deus os entregou à impureza sexual, segundo os desejos pecaminosos dos seus corações, para a degradação dos seus corpos entre si. Trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram a coisas e seres criados, em lugar do Criador, que é bendito para sempre. Amém. Por causa disso Deus os entregou a paixões vergonhosas. Até suas mulheres trocaram suas relações sexuais naturais por outras, contrárias à natureza. Da mesma forma, os homens também abandonaram as relações naturais com as mulheres e se inflamaram de paixão uns pelos outros. Começaram a cometer atos indecentes, homens com homens, e receberam em si mesmos o castigo merecido pela sua perversão. Além do mais, visto que desprezaram o conhecimento de Deus, ele os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem o que não deviam.  Romanos 1:24-28



A punição é o pecado em si mesmo. A consequência da queda tem sido a escravidão da raça humana ao pecado e seu aliados a morte e a lei, e assim, a separação de Deus sem nenhuma esperança de restituição vinda do lado humano.

A retidão de Deus é uma retidão de amor que deve resistir e finalmente eliminar tudo que é destrutivo do seu proposito divino de redencao do mundo. É uma destruição que estabelece, nega e afirma. 

Anselmo coloca a punição eterna como uma necessidade inconsolável. A grande punição é o exilio do desfrutar das bênçãos de Deus.

Nada é mais valioso que a capacidade humana criada por Deus para desfrutar do próprio Deus, então, para que o homem possa desfrutar novamente dessa relação é necessário que haja uma completa expiação do pecado, que nenhum pecador pode fazer por si mesmo.

Assim, uma objeção que o próprio Anselmo levanta através de Boso é que a salvação seria uma necessidade para Deus e não graça, já que estaria compelido a fazer ela por si mesmo, se assim for, porque deveríamos agradecer a Ele já que o fez por si mesmo?

A primeira vista, poderia parecer que Deus está preocupado apenas com sua honra e que tudo é apresentado como se fosse uma necessidade racional sem os elementos de amor e graciosidade presentes.

Anselmo responde dizendo que se alguém é beneficiado sendo tirado de uma necessidade sem sua participação deveria ser menos grato? Mas quando Deus livremente se coloca a si mesmo debaixo da necessidade de beneficiar outro, e sustenta esta necessidade sem relutância, certamente merece graças pelo seu favor. Por isto, não devemos falar em necessidade, mas em graça.

Devemos entender que tanto a culpa precisa de remissão como o cativeiro precisa de libertação.

A ressurreição é a validação de Deus da morte redentora de seu filho, não um rearranjo dela.  

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