ANSELMO RECONSIDERAD
O PARA O
NOSSO TEMPO
Entre os capítulos 3 e 4, há um
capitulo ponte que vai tratar da obra de Anselmo de Cantuária, a ideia é fazer
uma ponte entre a questão da justiça e a gravidade do pecado. A importância de
Anselmo está em duas coisas, segundo Rutledge:
1. A
obra CUR DEUS HOMO? tem sido tão influente que é impossível estudar a historia da doutrina cristã sem ela.
2. A
fama e a influência desta obra tem sido marcada com um quê de escarnio, Anselmo
tem sido culpado das Cruzadas até a Guerra do Iraque. Sua teoria da satisfação
tem sido considerada como jurídica, feudal, rígida, absolutista, vingativa,
sádica, imoral e violenta.
Para Anselmo, teologia não era
primariamente um exercício intelectual, a fé precede o entendimento, e a fé
está alicerçada na historia de Cristo.
JUSTIÇA DEVE SER VISTA PARA SER
COMPLETADA
Algo é terrivelmente errado e
precisa ser endireitado. Se existe uma ordem moral, a justiça deve ser
realizada e devemos ver ela sendo feita. Na cruz de Cristo, a justiça é, de
fato, vista para ser feita, mas ela é uma justiça tão estranha que sua
interpretação acaba se amarrando em como ela opera.
Na crucificação, Deus não
declarou uma anistia geral. A ênfase cristã no perdão e na redenção deve ser
entendida em seu contexto próprio, porque Deus não é a favor da impunidade. Mesmo sem uma referencia a
justiça de Deus, nosso próprio senso humano de justiça requer que reparações
sejam realizadas, que sentenças sejam cumpridas, que a restituição seja
oferecida quando há uma grande ofensa.
Muitas das tentativas para
explicar a cruz surgiram da intuição que na cruz, vemos o mesmo tipo de justiça
sendo feito. Se você ou eu fossemos Deus, teríamos arranjado para que os
perpetuadores de injustiça sofressem esta sentença, alguém que achamos que merece a condenação, mas Deus
não faz o que eu ou você teria
feito. Deus arranjou para o seu próprio
ser se colocar neste lugar. Jesus, a única pessoa que não merece condenação, se
colocou sob uma sentença injusta e se submeteu a uma pena injusta (1Pe 3:18).
Na cruz, vemos a reposta de Deus
para as injustiças do mundo. Na
crucificação, vemos alguém não somente pagando uma penalidade mas também
sofrendo uma punição? Recentemente, muito se levantaram contra a ideia de uma
interpretação punitiva para a cruz. Ainda assim, se aceitamos a ideia de algumas
coisas não podem ficar sem ser punidas.
PREDICAMENTO HUMANO UNIVERSAL
Primeiro, Anselmo nos introduz
para as dimensões do predicamento humano e a necessidade de um ato de resgate
por Deus além de nossa esfera de comando e controle.
Como esta relação totalmente
arruinada com Deus é restaurada em Cristo? Esta é a questão que Anselmo discute
com Boso. Anselmo coloca dois pontos: primeiro, se um homem deseja restaurar o
que deve a Deus a respeito do pecado mas é incapaz de fazer, então está em
necessidade. E segundo, se ele não deseja
fazer isto, ele é injusto.
Mas, seja ele incapaz ou injusto,
ele não estará feliz. A felicidade para Anselmo é desfrutar o supremo bem, que
é Deus (2.1)
A compaixão sozinha não faria
certo aquilo que é errado. É necessário satisfazer aquele que foi ofendido e retificar
o que está errado.
A verdadeira punição para o pecado
é como Paulo descreve em Romanos 1:24-28:
Por isso Deus os entregou à
impureza sexual, segundo os desejos pecaminosos dos seus corações, para a
degradação dos seus corpos entre si. Trocaram a verdade de Deus pela mentira, e
adoraram e serviram a coisas e seres criados, em lugar do Criador, que é
bendito para sempre. Amém. Por causa disso Deus os entregou a paixões
vergonhosas. Até suas mulheres trocaram suas relações sexuais naturais por
outras, contrárias à natureza. Da mesma forma, os homens também abandonaram as
relações naturais com as mulheres e se inflamaram de paixão uns pelos outros.
Começaram a cometer atos indecentes, homens com homens, e receberam em si
mesmos o castigo merecido pela sua perversão. Além do mais, visto que
desprezaram o conhecimento de Deus, ele os entregou a uma disposição mental
reprovável, para praticarem o que não deviam.
Romanos 1:24-28
A punição é o pecado em si mesmo.
A consequência da queda tem sido a escravidão da raça humana ao pecado e seu
aliados a morte e a lei, e assim, a separação de Deus sem nenhuma esperança de restituição
vinda do lado humano.
A retidão de Deus é uma retidão de
amor que deve resistir e finalmente eliminar tudo que é destrutivo do seu
proposito divino de redencao do mundo. É uma destruição que estabelece, nega e
afirma.
Anselmo coloca a punição eterna
como uma necessidade inconsolável. A grande punição é o exilio do desfrutar das
bênçãos de Deus.
Nada é mais valioso que a
capacidade humana criada por Deus para desfrutar do próprio Deus, então, para
que o homem possa desfrutar novamente dessa relação é necessário que haja uma
completa expiação do pecado, que nenhum pecador pode fazer por si mesmo.
Assim, uma objeção que o próprio Anselmo
levanta através de Boso é que a salvação seria uma necessidade para Deus e não graça,
já que estaria compelido a fazer ela por si mesmo, se assim for, porque deveríamos
agradecer a Ele já que o fez por si mesmo?
A primeira vista, poderia parecer
que Deus está preocupado apenas com sua honra e que tudo é apresentado como se
fosse uma necessidade racional sem os elementos de amor e graciosidade
presentes.
Anselmo responde dizendo que se alguém
é beneficiado sendo tirado de uma necessidade sem sua participação deveria ser
menos grato? Mas quando Deus livremente se coloca a si mesmo debaixo da
necessidade de beneficiar outro, e sustenta esta necessidade sem relutância, certamente
merece graças pelo seu favor. Por isto, não devemos falar em necessidade, mas
em graça.
Devemos entender que tanto a
culpa precisa de remissão como o cativeiro precisa de libertação.
A ressurreição é a validação de
Deus da morte redentora de seu filho, não um rearranjo dela.
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