quarta-feira, maio 17, 2006

Furukawa admite que reunião com Marcola integrava proposta do PCC

GABRIELA MANZINIda Folha Online

O secretário de Administração Penitenciária de São Paulo, Nagashi Furukawa, admitiu nesta terça-feira que o PCC apresentou condições para pôr fim à série de ataques a forças de segurança do Estado e que houve uma reunião entre representantes do governo e o líder da facção, Marcos Willians Herba Camacho, o Marcola; mas voltou a negar que tenha havido acordo entre as partes.Furukawa confirmou ainda que outras duas reivindicações do PCC foram atendidas: a colocação de televisões em áreas comuns dos presídios e a troca da cor do uniforme do amarelo para o cáqui --mais discreto. Segundo o secretário, entretanto, a medida não foi apresentada por Marcola --ela já havia sido adotada 20 dias atrás.Marcola é o principal suspeito de comandar os ataques contra forças de segurança paulistas --251 no total-- e as rebeliões simultâneas que mataram 124 pessoas desde sexta (12). Menos de 24 horas depois da conversa com Marcola, os motins que atingiram mais de 80 unidades prisionais paulistas haviam terminado.Em entrevista coletiva, Furukawa disse que a proposta chegou ao governo por meio da advogada e ex-delegada Iracema Vasciaveo, que atuou como porta-voz da facção. Ela teria dito que o PCC encerraria as ações se tivesse certeza da integridade física de Marcola e se houvesse garantia de que não haveria revanche contra presos da facção.No domingo (14), a advogada; o comandante da PM Ailton Araújo Brandão; o corregedor Antônio Ruiz Lopes, representante da SAP (Secretaria Estadual de Administração Penitenciária); e o delegado da Polícia Civil José Luiz Cavalcante, vice-diretor do Denarc (Departamento de Investigações sobre Narcóticos) reuniram-se com o preso.Eles chegaram à penitenciária de Presidente Bernardes (589 km a oeste de São Paulo), onde Marcola permanecia isolado desde sábado (13) em um avião da própria PM (Polícia Militar).É bastante incomum que presos submetidos ao RDD (Regime Disciplinar Diferenciado) --vigente em Presidente Bernardes-- recebam visitas, mas a exceção não é vista pelo secretário como acordo. Na entrevista, ele atribuiu a supressão da antecedência de dez dias exigida para o agendamento de entrevistas com presos a uma "situação especial".O RDD restringe as visitas recebidas pelos presos, o acesso à televisão, a revistas e a jornais, e prevê somente uma hora por dia de banho de sol.Sem acordoO coro que nega o acordo havia sido iniciado ainda pela manhã pelo governador Cláudio Lembo (PFL) e pelo delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Marco Antônio Desgualdo. "Eu nunca fiz acordo com ninguém, principalmente com bandido", disse o delegado-geral.Mais tarde, também em entrevista coletiva, o comandante-geral da PM, coronel Elizeu Eclair Teixeira Borges, o primeiro a admitir que o governo promoveu um encontro entre Marcola e alguns de seus representantes, uniu-se ao grupo.Durante a entrevista, Furukawa ainda considerou natural o período em que terminaram as rebeliões simultâneas. Para ele, o prazo médio de duração de rebeliões é de três dias --tempo em que terminam os suprimentos de água e alimentos.Em entrevista, a advogada que atuou como porta-voz do PCC também negou o acordo e disse que visitou Marcola para assegurar a integridade física dele a familiares e outros líderes da facção. "Entendo que isto foi uma demonstração de boa vontade [do governo]", disse.SuspeitasReportagem publicada pela Folha nesta terça mostra que, por telefone celular, líderes da facção criminosa determinaram a presos e membros do PCC do lado de fora das cadeias que interrompessem a onda de violência.Segundo o que a Folha apurou, o preso Orlando Mota Júnior, 34, o Macarrão, havia sido um dos principais interlocutores do governo --ele está na penitenciária 2 de Presidente Venceslau (620 km a oeste de São Paulo) desde a última quinta-feira (11). Macarrão e outros líderes do PCC deram a ordem de cessar os atentados.Reportagem publicada pela Folha Online no domingo já indicava a negociação entre o governo e presos. Na ocasião, a Secretaria da Administração Penitenciária negou qualquer acordo."Caça"O comandante-geral da PM, coronel Borges, voltou a dizer nesta terça disse que o medo e a insegurança que marcaram o dia anterior e alteraram a rotina da cidade de São Paulo foram provocados principalmente por boatos. "O que preserva a vida é o medo", defendeu.Borges disse que não irá desmobilizar a polícia que está nas ruas e que "a caça continua". Desde segunda, 71 suspeitos de envolvimento nos ataques foram mortos em supostos confrontos com a polícia --19 deles somente na madrugada desta terça.Os ataques também deixaram 40 mortos --entre policiais, guardas e agentes penitenciários. Durante todo o ano passado, 22 policiais morreram em combate e 40 enquanto estavam de folga. "Isso é uma prova de que o combate existe no dia-a-dia", disse.RetaliaçãoO movimento é uma retaliação do PCC à decisão do governo estadual de isolar lideranças da facção. Na quinta-feira passada (11), 765 presos foram transferidos para a penitenciária 2 de Presidente Venceslau (620 km a oeste de São Paulo), em uma tentativa de evitar a articulação de ações criminosas.No dia seguinte, oito líderes do PCC foram levados para a sede do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado), em Santana (zona norte de São Paulo). Entre eles estava o líder da facção, Marcos Willians Herba Camacho, o Marcola. No sábado, ele foi levado para a penitenciária de Presidente Bernardes (589 km a oeste de São Paulo), considerada a mais segura do país. Na unidade, ele ficará sob o RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), mais rigoroso.Colaboraram MARY PERSIA e TATIANA FÁVARO da Folha Online e o Agora

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