segunda-feira, janeiro 28, 2008

Machado de Assis: a pirâmide e o trapézio.

Para lembrar os cem anos da morte do escritor -que se completam em 29 de setembro, ou celebrar, vou ler o empoeirado A pirâmide e o trapézio de Raymundo Faoro.

Eis um página a página do livro:

Capítulo 1- A Pirâmide e o Trapézio

1.1 o topo da pirâmide: a classe e o estamento.

Numa relação de coexistência e permeação, há na sociedade brasileira da época e na obra de machado, estes dois fenônemos de convivência de duas camadas sociais: a classe e o estamento.

"A galeria burguesa de Machado de Assis brota do chão, expande-se e enriquece, mas não domina e nem governa. Entorpeche-lhe os passos o filtro interior da insegurança, hesitante na ideologia mal definida de seu destino" (p. 17)

A classe ocupa-se em se firmar, definir e qualificar, de acordo com a ocupação específica de seus membros (...) os estamentos assumem o papel de órgãos de Estado, as classes permanecem limitadas a funções restritas à sociedade" (p. 18)


Na ascensão social, o essencial é " a força indispensável a todo homem que põe a mira acima do estado em que nasceu (Mão e Luva, II). No outro lado vegeta a imensa legião de Rangéis: "o pior é que entre a espiga e a mão, há o tal muro do poeta, e o Rangel não era homem de saltar muros. De imaginação fazia tudo, raptava mulheres e construía cidades. Mais de uma vez foi, consigo mesmo, ministro de EStado, e fartou-se em cortesias e decretos...Cá fora, porém, todas as suas proezas eram fábulas. Na realidade, era pacato e discreto ( O diplomático)" (p. 19)

1.2 sociedade não rígida.

"A subida na montanha, posto que possível, nem sempre é convencionalmente legítima. O sentimento de escárnio, a repulsa velada acompanham, não raras vezes, muitas carreiras triunfantes" (p.20)

A boa sociedade que se corporifica no Imperador, tem dois grandes mmentos: o baile da Ilha Fiscal e as bodas imaginárias de Rubião (Quincas Borbas).

A "burguesia insegura de sua força e de seus poderes, nobilita-se e se afidalga por todos os meios, pel imaginação, falsificação ou imitação. Sob esta sombra, cresceu o constrangido acatamento a uma aristocracia, sem raízes e sem tradição. Burguesia mascarada de nobreza, incerta de suas posses, indefinida no estilo de vida"

"Os homens de nascimento humilde penetram por duas portas: a cunhagem e o enriquecimento. Na cunhagem, o recém-vindo sogre o mesmo processo que o metal ao se amoedar, recebendo a marca e as insígnias do círculo que o aceita. No enriquecimento, a subida, também filha da ambição, deixa um travo de insuficiência e pecado. Aqui, o dinheiro dá tudo, que alça, eleva e doura, não dá tudo, transmite, ao contrário, o sentimento de que houve o escamoteio de quem fura a entrada, sem ser convidado" (p. 25)

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