quinta-feira, outubro 29, 2009

ENRIQUE VILA-MATAS: Bartleby y Compañia



La gloria o el mérito de ciertos hombres consiste en escribir bien; el de otros consiste en no escribir.
JEAN DE LA BRUYERE



Todos conocemos a los bartlebys, son esos seres en los que habita una profunda negación del mundo. Toman su nombre del escribiente Bartleby, ese oficinista de un relato de Herman Melville que jamás ha sido visto leyendo, ni siquiera un periódico; que, durante prolongados lapsos, se queda de pie mirando hacia fuera por la pálida ventana que hay tras un biombo, en dirección a un muro de ladrillo de Wall Street; que nunca bebe cerveza, ni té, ni café como los demás; que jamás ha ido a ninguna parte, pues vive en la oficina, incluso pasa en ella los domingos; que nunca ha dicho quién es, ni de dónde viene, ni si tiene parientes en este mundo; que, cuando se le pregunta dónde nació o se le encarga un trabajo o se le pide que cuente algo sobre él, responde siempre diciendo:
—Preferiría no hacerlo.
Hace tiempo ya que rastreo el amplio espectro del síndrome de Bartleby en la literatura, hace tiempo que estudio la enfermedad, el mal endémico de las letras contemporáneas, la pulsión negativa o la atracción por la nada que hace que ciertos creadores, aun teniendo una conciencia literaria muy exigente (o quizás precisamente por eso), no lleguen a escribir nunca; o bien escriban uno o dos libros y luego renuncien a la escritura; o bien, tras poner en marcha sin problemas una obra en progreso, queden, un día, literalmente paralizados para siempre.
La idea de rastrear la literatura del No, la de Bartleby y compañía, nació el pasado martes en la oficina cuando me pareció que la secretaria del jefe le decía a alguien por teléfono:
—El señor Bartleby está reunido.



Enrique Vila- Matas Bartebly y Compañia

O. PALMER ROBERTSON: O Cristo dos Pactos

A aliança é um pacto de sangue, é uma aliança de sangue soberanamente administrada. preeminência de juramentos e sinais nas alianças divinas realça o fato de que a aliança, em sua essência é um pacto. A aliança estabelece compromisso de pessoa com outra. "No ato de estabelecimento da aliança, as partes se comprometem mutuamente, por meio de um processo formal de derramamento de sangue. Este derramamento de sangue representa a intensidade do comprometimento da aliança. Por meio da aliança elas se ligam para a vida e para a morte" p. 20
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"No caso de uma aliança, a morte está, no princípio da relação entre duas partes, simbolizando o fator maldição potencial na aliança. No caso de um "testamento", a morte está no fim da relação entre as duas partes, efetivando-se uma herança" p. 17
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"Jesus introduziu as estipulações da refeição da nova aliança. Sua intenção era claramente proclamar-se como o Cordeiro Pascal que estava tomando sobre si mesmo as maldições da aliança. Sua morte foi vicária, seu sangue foi derramado pelo seu povo. Suas palavras não eram as de uma disposição testamentária, mas de firmamento e estabelecimento de uma aliança" p. 18
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"A graça de Deus na salvação não é contrária à ordem da criação; é contrária ao pecado. O cristão deve evitar deixar-se ludibriar pela dicotomia natureza/graça quando considera a obra de Deus na criação. A redenção tem o efeito de restaurar a ordem da criação e a solidariedade da família é uma das maiores ordenanças da criação. O caráter genealógico da atividade da redenção sublinha a intenção de Deus em operar de acordo, antes que em desacordo, com a ordenança da criação" p. 43
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Sobre a unidade das alianças: "Jesus, o Filho de Deus e mediador da aliança, não pode ser dividido, também as alianças não podem ser divididas. Ele mesmo garante a unidade delas porque é, ele mesmo, o coração de cada uma das várias ministrações da aliança" p.54
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Capítulo 4: Diversidade das Alianças
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Há alianças pré criação e pós criação, as anteriores tem sido designadas como aliança da redenção, aliança eterna, conselho de paz ou conselho da redenção. Trata-se da intenção de Deus de redimir desde a eternidade, um povo para si mesmo, deve ser certamente afirmada. Antes da fundação do mundo, Deus estabeleceu com seu povo uma aliança de amor. (p. 56)
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Outra distinção é entre aliança das obras e aliança da graça. Trata-se de uma divisão pré queda, e pós queda de Adão. A necessidade absoluta de reconhecer um relacionamento pré-queda entre Deus e o homem que requereria obediência perfeita como base meritória de bênçãos.
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Há problemas com a terminologia, pois esta sugere ainda mais que as obras não teriam lugar na aliança da graça. Mas, da perspectiva bíblica, as obras desempenham papel altamente essencial na aliança da graça. Cristo opera a favor da salvação do seu povo. Sua satisfação da justiça em favor dos pecadores representa aspecto essencial da redenção. Mais ainda, os redimidos em Cristo devem certamente praticar obras. Eles são criados em Cristo Jesus para as boas obras (Ef. 2:10). As escrituras insistem consistentemente em que o julgamento final do homem será de acordo com as obras. Ainda que a salvação seja pela fé, o julgamento é pelas obras. p. 58
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velha aliança e nova aliança
a velha aliança pode ser caracteriza como promessa, sombra, profecia; a nova aliança poder ser chamada de cumprimento, realidade, realização.
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Capítulo 5: A aliança da Criação
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O aspecto geral da aliança da criação relaciona-se com as responsabilidades mais amplas do homem para com o seu Criador. O aspecto focal da aliança da criação relaciona-se com a responsabilidade mais específica do homem decorrente do momento especial de prova ou teste instituído por Deus p. 65
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sábado
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Falar da abolição do sábado sob a nova aliança não envolve meramente a negação da contínua significação do decálogo mosaico. Envolve a ruptura das próprias ordens da criação, da história e da consumação, tais como se acham reveladas nas Escrituras. Ao invés de negar o papel do Sábado na redenção, o participante da nova aliança deve regozijar-se nos privilégios associados com a aliança sabática final de Deus p.69
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é apropriado que nova aliança altere radicalmente a perspectiva sabática. O crente comum em Cristo não segue o modelo sabático do povo da velha aliança. Não trabalha primeiro seis dias, olhando com esperança em direção ao descanso. Ao contrário, começa a semana regozijando-se no descando já cumprido pelo evento cósmico da ressurreição de Cristo. E então entra alegremente nos seis dias de trabalho, confiante no sucesso por meio da vitória que Cristo já alcançou" p. 71
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quarta-feira, outubro 28, 2009

RONALDO CORREIA DE BRITO: Galiléia


"Somos aves de arribação. Mesmo quando partimos sem olhar para trás, retornamos; quando imaginamos firmar os pés numa nova paragem, estamos de volta." p. 69





Reproduzo o texto de Tiago Corrêa


As vísceras do Sertão mítico
Um livro sobre o Sertão. Galiléia, romance de Ronaldo Correia de Brito, é um ensaio ficcional sobre essa região que se instalou com tons míticos em nosso imaginário. Nele, o autor usa como pretexto a viagem de três homens (Adonias, Ismael e Davi) ao Sertão dos Inhamuns, no Ceará, para desconstruir essa imagem de um lugar isolado do mundo, preso a um tempo onde os homens adquiriam a aparência rústica da luta pela sobrevivência diária, sob a sombra da vocação para a tragédia.
Autor da peça Baile do Menino Deus e dos livros de contos Faca e Livro dos Homens, Brito estréia no romance, desfrutando a vastidão espacial do gênero como se estivesse vagando no vazio do Sertão. Uma transição textual que se revela num trabalho meticuloso, de construção em cima de longos diálogos, no emaranhado de tramas e em experimentações na linguagem, como o recurso visual de simular a desatenção de Adonias com espaços em branco isolando palavras e em cortes não-lineares.
Dessa forma, Brito explora a travessia à Galiléia - fazenda onde os três primos cresceram e o avô Raimundo Caetano agoniza seus últimos suspiros - como a linha condutora da narrativa. A dubiedade do caráter das personagens e dos sentimentos de reencontro/despedida serve de metáfora à crise de identidade dos sertanejos. À medida que a caminhonete de Ismael avança pela estrada, o escritor promove o encontro de um Sertão conectado à internet, de mulheres emancipas pelo trabalho na confecção de redes e de motocicletas substituindo cavalos; com os cadáveres da memória, desenterrando a origem da região, baseada em teorias migratórias e de miscigenação presentes em nossa formação cultural.
Uma ligação que se dá em sutilezas. Nas primeiras páginas, citações à banda inglesa Radiohead e ao cantor Damien Rice. Referências a laptops, ao Google, bandas de forró estilizado, que logo são substituídas pelo peso da mitologia grega (Minotauro, Elektra, Édipo), das teorias de Freud e do existencialismo, corrente filosófica que tem importância particular no livro. Se o filósofo romeno Emil Cioran é citado, O Estrangeiro, de Albert Camus, aparece disfarçado no sentimento de inadequação dos viajantes e numa cena de violência de Galiléia, que remete ao assassinato da obra camusiana.
Aos poucos, lembranças que levaram os primos a abandonarem a Galiléia são desencavadas na poeira do abandono em que se encontra a região, sugerido na imagem que ilustra a capa do livro. O romance é um diálogo com os mortos, um reencontro com os fantasmas, personificados em Raimundo Caetano, último guardião das angústias sertanejas adormecidas na memória da família Rego Castro.
Thiago Corrêalido em Nov. de 2008escrito em 18.11.2008
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entrevista prosa on line
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Depois de três livros de contos - "As noites e os dias", "Faca" e "Livro dos Homens", o escritor Ronaldo Correia de Brito (ao lado, em foto de Hans von Manteuffel) está lançando o seu primeiro romance, "Galiléia". É um livro que passou oito anos sendo produzido, em uma elaboração lenta e ao mesmo tempo dolorosa e que, quando concluído, deixou o autor em "depressão pós-parto". Não é para menos. A obra parida é um mergulho entre dois mundos: o arcaico, famélico e primevo do sertão e o globalizado. Um universo que é percorrido por três primos que retornam à terra, a Fazenda Galiléia - no sertão do Ceará - para a festa de aniversário do patriarca. Mas o encontram moribundo, com as carnes à beira do apodrecimento. Durante a viagem, os personagens vão se revelando aos poucos, e todas as mazelas da família vão se revelando, desde o estupro do menino David dos quais todos são suspeitos - até o avô - aos fantasmas do passado. Permeiam ainda a obra, as mortes, a vida, o silêncio da caatinga, os barulhos da modernidade, as mazelas da sociedade moderna, a prostituição, o homoerotismo, a discriminação, os laços que se agregam e desagregam nas famílias. Você afirma que está sofrendo uma depressão pós-parto, depois de concluído o livro. Isso se deve à expectativa por parte da reação do mercado e da crítica, ou pela dor de parir um livro como "Galiléia"? A resposta é a segunda pergunta. Na verdade, fiquei com esse livro desde 12 de janeiro de 2000. Naquela data minha mulher, Avelina, colocou em minhas mãos uma reportagem que é um dos temas, um dos motes do livro. E nesse dia decidi que ia escrever um romance. Até então, só tinha publicado um livro de contos, em 1987 – “As noites e os dias” – e achava que eles não tinham muito prestígio. Achava que eu tinha que escrever um romance. Ao longo de oito anos, fiquei com esses personagens, alguns vivos, alguns mortos, muitos mortos, fantasmas mesmo. Esse livro tem um lado extremamente realista, ao tratar de um mundo de hoje, contemporâneo, um Brasil nas suas veias mais finas, nos vasos capilares. Entro em questões bem pequenas, buscando dar uma grandeza trágica a esse cotidiano tão bárbaro, quase brutal, quase miserável. Ao mesmo tempo que tenho personagens tão realistas, tão contemporâneos, esses estão em contato com um mundo mítico, profundamente arcaico, um mundo patriarcal, de um patriarcalismo tão bárbaro, quanto o árabe judaico antigo, da Bíblia. E um mundo habitado de mortos, de fantasmas. Na construção do romance, de repente tem um personagem que é o mais realista possível, mas ele entra em uma casa, pede para ter acesso a um cômodo dela e nesse cômodo está um fantasma de 300 anos. E ele mantém um dos diálogos mais absurdos, talvez o mais provocante desse livro. Do mesmo jeito, outros fantasmas estão sempre movendo os vivos e estão inventando dramas. E sem qualquer clima de realismo mágico como o de Gabriel García Márquez. Não é isso. É quase como se esses fantasmas tivessem realidade. Qual a ligação entre a Galiléia bíblica e a sertaneja, que os três primos foram visitar? Eu não deixo de ter sido um assombrado por esse mundo. Na verdade, tem uma coisa importante no título. Esse seria o "Livro dos Homens", porque à exceção de apenas um capítulo, todos falam de homens. Mas não tinha título para o meu último livro de contos, e achei uma pena usar esse título. Isso porque na Bíblia tem o livro de Jó, o de Davi, de Esaú, são livros batizados com o nome do livro. Só que tirei o nome deste e botei naquele. Mas ao longo da construção do romance, ele foi virando "Galiléia". E quem me deu a sugestão para esse nome foi a mesma pessoa que me deu o mote para ele, minha mulher Avelina. Ela deu o nome sem ter lido o livro. Até hoje minha mulher não teve a coragem de ler o romance. Ela me via tão fantasmagórico andando dentro de casa que ficou com medo de chegar no livro. Com relação aos mortos, eles sempre permeiam a sua obra e a sua vida. De novo em "Galiléia". Por quê? Falar de morte para mim é falar de vida. Não no sentido religioso, no sentido de que a morte é transcendente. Não nesse sentido. Falar de morte porque ela é presente, ela é real. A sociedade contemporânea nega a morte. Hoje as pessoas levam seus pacientes para morrerem nos hospitais, em UTIs, ou aos cuidados de médicos e elas não velam seus mortos dentro de casa, mas em lugares externos, próprios para isso. Ao meu ver, essa circunstância é uma negação da morte. É a reafirmação desse mundo muito hedonista, que nega a morte. Eu vivi em um mundo arcaico, em que a morte era tratada como um hábito. Os mortos estavam todos retratados e colocados na parede. O meu avô morto no caixão era o quadro mais importante da sala de visitas da casa de minha avó. A morte está presente. É um livro com mortes, histórias de assassinato, mas o que há de fundamental nisso é a afirmação da vida. Um romance inteiramente aberto,que não termina, não tem fim, termina como se continuasse. Tirando o seu teatro, que é festa, queria saber se você sofreu muito na vida porque todos os seus livros têm muito sofrimento. Curiosamente minha vida sempre foi muito boa, tem sido feliz. Os meus sofrimentos são talvez decorrentes não de minha vida, mas sim dos mortos que eu trouxe por herança. E "Galiléia" trata disso. Dessa herança. Você sabe que o personagem Adonias assassina não porque ele quisesse assassinar, mas porque ele tinha que repetir um mesmo assassinato que havia sido cometido. Ele assassina um primo, Ismael, no mesmo lugar em que o tio havia assassinado a esposa Donana há 300 anos. Essa carga hoje inclusive é muito trabalhada na psicanálise, esses ciclos familiares que se repetem. Adonias mata porque tinha que matar, até para alterar uma certa ordem que tenderia para a mediocridade. Ele mata – e nesse sentido é existencialista feito "O estrangeiro", de Camus – para cortar uma ordem de existência, que é medíocre demais. Quer dizer que o assassinato de Ismael foi uma tentativa de Adonias reverter a mediocridade de própria biografia? Em parte sim. A ação trágica de Adonias, esse fato de matar, em parte é para que ele e a família entrem em uma nova ordem. Porque a família vem de um estupro no qual todos eram condenados. Um estupro que não se esclarece, mas é de enorme violência. Cometido contra um menino adolescente, e que marca toda a família. Todos são suspeitos. Até o próprio avô do menino. Esse estupro de certa forma prende muito o leitor, que fica curioso, querendo descobrir quem cometeu a violência. Essa tática foi intencional? Diria que o livro tem muitos caminhos de leitura. Ele pode ser lido na investigação desse estupro, ou dentro dos cacos de modernidade desse mundo arcaico, ou tentando ver como cada personagem fala. Eu criei um ritmo de fala para cada um deles. As pessoas velhas falam com um acento e as mais novas de forma diferente. Você pode ler, ainda, investigando o que ele tem de mais forte: um epifania do feminino. O livro só tem personagens masculinos, em um mundo cheio de hierarquia, a hierarquia da masculinidade, do patriarcalismo, do poder dos machos. No entanto, há um feminismo que caminha subterraneamente, no qual tudo mina. E, no fim, a grande epifania, a grande revelação. Espera-se, por exemplo, a grande revelação de Tobias, que quando nasceu falou imediatamente. E essa fala foi a revelação do futuro da família. E quando Adonias tem em mãos o livro onde estaria isso, ele na verdade, em vez de se encantar com a profecia, se encanta muito mais com o retrato da avó de pés descalços. E, para mim, o momento mais lindo, a grande epifania do livro é quando Adonias tem o encontro com o mundo feminino, tão marcada e austeramente masculino. Por falar nisso, rola um clima meio homoerótico entre Adonias e Ismael.Na sociedade masculina sertaneja, essas amizades são muito fortes. Os amigos se abraçam, se acariciam, nadam nus juntos, montam nas costas dos outros. Isso não pode ser lido como homossexualismo, no viés de uma revista do tipo "G Magazine". Mas é um forte componente homoerótico, como é nas sagas heróicas, como a própria Bíblia sugere, entre Jonathas e Davi. Na "Odisséia", entre Pátropo e Aquiles. Ou seja, nessas grandes amizades masculinas. Sem dúvida nenhuma passa essa emoção. Você tem sido criticado por contestar Guimarães Rosa ao dizer que Diadorim não é uma mulher, mas um homem que deveria permanecer como tal até o final. Mas no seu livro o estupro é um tabu, os personagens têm dificuldades para abordar o assunto. E o homoerotismo ou homossexualismo – se for esse o caso – é tratado de forma bastante delicada, sem a crueza do restante do livro. Isso é um assunto doloroso, um tabu para você? Absolutamente. Sou um psicanalisado em quatro sessões semanais, durante uma década. Apenas quis dar conotação que de fato existe. Como autor não poderia colocar o meu ponto de vista e a forma como encaro isso. Tinha que colocar como a sociedade encara. Nem o fantasma da avó, que tudo via de cima da beira do açude, que seria a única que teria visto mesmo. Quando Donana é assassinada pelo marido, ela fica de pé sobre os artelhos, séculos ali, vigiando os homens para que assassinatos contra as mulheres não se perpetuem, não aconteçam. E Adonias pede a ela. "Você que tudo viu, quem estuprou Davi?" E isso é um mistério dentro do livro. Todos são suspeitos. O menos suspeito é Ismael. No entanto, é sobre ele que recaem todas as suspeitas, porque ele é muito odiado por outros motivos que depois se revelarão. Há muitos incestos nessa família. Por que a pesquisadora da USP, com tanta sapiência, se apaixonou por um homem tão rude quanto Natan, que cheira a poeira e a caatinga? Houve muitos brasilianistas que estudaram famílias do sertão. Houve um antropólogo que veio para um desses estudos e falava para o orientador das experiências sexuais que ele presenciava. O orientador o aconselhou que também as tivesse. Como forma até de ter mais conteúdo para a tese dele. O que está colocado com sutileza dentro do livro é o próprio terror com que a família Rego Castro lida com esse universo, com essas histórias familiares, e como a família tenta esconder. O livro é de ficção, mas os espaços são muito reais. O sertão do Inhamuns, Recife, Ceará. Onde começa a ficção e onde termina a realidade? Quando se lê o livro, praticamente se vê a paisagem do sertão, a descrição é muito cinematográfica.Você questiona uma coisa que é o fundamento do livro. Para criar minha ficção, sempre tenho que estabelecer uma paisagem inteiramente real, que eu conheça, que tenha as referências dela. E que eu situe dentro daquele mundo totalmente real, aquelas ruas são rigorosamente daquele jeito. Tenho que mesclar toda essa realidade, a mais real possível, com o totalmente imaginário. Meu maior diálogo é com o cinema. Aquele começo é muito o "Profissão repórter", de Antonioni. A caminhada de Adonias até o quarto onde está João Domício é "Funny e Alexander", de Ingmar Bergman. Adonias, com aquele santo no braço, rodando na festa completamente perdido, é uma cena de "Ran", de Kurosawa.Com relação aos três personagens principais, foi uma viagem de encontros, desencontros, descobertas? O livro é labiríntico, com muitas possibilidades. Eu tinha um projeto ambicioso. Publiquei muito tarde, porque temia escrever apenas mais um livro. Tinha um projeto ambicioso para esse romance. Queria escrever um que fosse uma paulada. Queria causar um transtorno. Acho que alcancei. Até a metade, ele vai ameno, com discussões psicológicas, personagens vão se apresentando de leve. Há discussão sobre música, mas a intenção do livro era sobretudo quase como uma vingança contra a minha formação. Como eu, um cara da modernidade, que mora em cidade grande como Recife desde os 17 anos, que viu tudo de cinema, participou do movimento de contracultura, foi da geração hypie, ouviu os roqueiros, no entanto, o que aconteceu? Eu era de esquerda, a esquerda cobrou muito da gente, patrulhou para que se fizesse escrita engajada, nacionalista, voltada para as raízes... Parte de minha literatura inicial deixou de fora esse cara contemporâneo, psicanalizado, mais intoxicado, mas envenenado. Acredito que sua formação psicanalítica deve ter lhe ajudado a expor a alma dos personagens como você expõe. Nesse livro finalmente me dou o direito de contrapor a esse mundo arcaico do qual eu vim, sem tomar partido – nem pelo arcaico nem contemporâneo –, colocar os dois para se digladiarem, para destruir mesmo toda essa contemporaneidade, todo esse mundo globalizado em confronto com esse arcaico. Até os nomes das pessoas são diferentes nos tempos em que elas vivem. Sempre estou contaminado com vozes de TV, com barulhos dos laptops, com celulares que não funcionam. O romance me custou um pedaço da alma e os olhos da cara, pelo tempo que olhei o computador. É como se a partir desse livro estivesse apto a começar a escrever. Mas não sei se terei tempo e idade para isso. E os outros livros e peças? "O Baile do Menino Deus" é um dos espetáculos mais encenados do Brasil. A Objetiva fez uma edição para o Programa Nacional de Biblioteca Escolar, que vendeu mais de 500 mil exemplares, e isso divulgou demais o livro no país todo. A música da peça continua com CD em catálogo há 25 anos pela Eldorado. E o "Baile" é só júbilo. O mais alto júbilo. É verdade que além da depressão pós-parto você ficou ao desalento, sem chão, quando acabou de escrever o livro? O editor me disse "a partir de agora você não pode trabalhar no livro. Ronaldo, essa é sua última chance. Está aí a última revisão, a última prova, acrescente o que tiver de acrescentar, tire o que tiver de tirar e depois acabou-se. O livro será impresso." Foi um terror para mim. Como eu ia viver sem aquele manto de Penélope, que eu fiz e desfiz ao longo de oito anos? Na verdade Marcelo Ferroni (editor da Alfaguara) foi extremamente firme em tomar o livro de mim. Ele tomou, disse que ia editar e editou. Se não fosse isso, eu ia continuar não sei até quando com esse livro. Quando ele me faltou foi como se me tivesse faltado terra nos pés. Fiquei em suspenso. Sou médico, tenho propriedade que administro, tenho o espetáculo grandioso que enceno anualmente, escrevo semanalmente para uma revista, tenho muitos projetos. Mas o livro, esses fantasmas, esses personagens – sobretudo Adonias, Ismael e Davi – me acompanharam por oito anos. Dialoguei com eles. Porque o diálogo, na verdade, foi o meu próprio processo de diálogo com esse mundo que tento compreender e que é muito incompreensível. Isso eu queria que você registrasse. Há uma pergunta clássica de Santo Agostinho sobre o tempo. O que é tempo? Ele diz: "se não me perguntam, eu sei. Se me perguntam, desconheço". A mesma coisa digo em relação ao sertão. O que é o sertão? Se não me perguntam, eu sei. Se me perguntam, desconheço. Ao longo desse tempo, trabalhei com essa tentativa de compreender esse mundo de onde eu vim, ao qual estou sempre retornando na minha criação. E a trajetória desses personagens nada mais é do que a minha própria trajetória, uma trajetória interior e nesse mundo. Andando em um bairro negro de Paris encontrei as mesmas dúvidas e perguntas que fiz andando por aqui pelo sertão do Ceará. A minha família foi se desfazendo de todas as grandes propriedades. A última foi uma que era a herança de meu avô materno. Minha avó vendeu as terras. E havia uma casa que era a do meu avô, com uma árvore imensa ao fundo. Eu sempre dizia: vou ser enterrado aqui, debaixo dessa árvore. As terras foram vendidas, passou uma estrada, derrubou a casa, derrubou a árvore. E eu fiquei sem meu lugar de ser fixado, sem meu chão. Então passei a ter quase diariamente o mesmo pesadelo. Chegava lá nesse lugar, o Boqueirão, ninguém me reconhecia. Ninguém sabia quem eu era. E eu de repente começava a chorar e a gritar. Era um pesadelo tão recorrente que minha mulher não tinha nem paciência. Quando achei essas terras em Taquaritinga do Norte comprei uma fazenda. Ela tem uma floresta, um brejo e quando vi um conjunto de cinco pés de pau d´arco seculares, eu disse "eis aqui meu cemitério, é aqui que vou ser enterrado". A partir do instante em que achei o lugar para ser enterrado quando morrer, me acalmei totalmente. E vai escrever na fazenda? No dia em que escrever um livro que me deixará satisfeito, eu não escrevo mais. Vou morar em Taquaritinga. E esse livro ainda não é "Galiléia".

segunda-feira, outubro 19, 2009

SIDNEY GREIDANUS: Pregando Cristo a partir do Antigo Testamento 4

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Lutero.
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Sola Scriptura


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"Os ensinamentos dos pais são úteis somente para conduzir-nos às Escrituras como eles foram conduzidos, mas depois devemos manter-nos somente nas Escrituras" p. 133

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A Sola Scriptura liberta a Escritura da sujeição da tradição eclesiástica e declara que a Escritura é a autoridade final na interpretação.

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Lei e evangelho.

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Para Lutero, o principal papel do Antigo Testamento para os cristãos é negativo: torna as pessoas conscientes de sua total incapacidade de obedecer perfeitamente às leis de Deus, a fim de merecer salvação. (p. 137)

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A lei revela a doença, o evangelho ministra o remédio.

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" é um mau costume tratar os evangelhos e as epístolas como se fossem livros de lei, dos quais devemos ensinar o que os homens devem fazer, apresentando as obras de Cristo como nada mais que exemplos ou ilustrações ....Cuidado para não transformar Cristo em Moisés, como se ele nada mais tivesse para nós além de preceitos e exemplos, como outros santos... Devemos subir muito mais alto que isso, embora esse tipo melhor de pregação tenha sido pouco praticado nesses muitos anos. A coisa principal e fundamental no evangelho é esta: antes de se tomar Cristo como exemplo, é necessário reconhecê-lo e aceitá-lo como o dom de Deus para você, de forma que , quando o vir ou ouvir em qualquer de suas obras ou sofrimentos, você não duvide, mas creia que ele , o próprio Cristo, com essa obra ou esse seu sofrimento, é verdadeiramente seu, para que você dependa com tanta confiança como se a obra tivesse sido feita por você...Veja, isso é entender o evangelho de modo certo, ou sej, a infinita graça de Deus...Esse é o poderoso fogo do amor de Deus para conosco, mediante o qual ele torna confiante, feliz e contente a nossa consciência . Isso é pregar a fé cristã. Isso é que faz da nossa pregãção um evangelho, ou seja, boas-novas, felizes, de conforto e alegria"

( Lutero, Chuch Postil, in p. 139)


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"Lutero pregou o evangelho da graça de Deus, ou seja, Jesus Cristo é dom de Deus - sola gratia-, um presente que só podemos receber pela fé - sola fide-. Ele insiste também em Sola Scriptura, ou sea, as Escrituras são a única ( ou final) norma para a vida e a pregação, libertando-as, assim, do domínio da tradição da igreja, para que elas interpretem a si mesmas" p. 145

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Calvino

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"Lutero se preocupava principalmente com a questão da salvação e focalizava a justificação pela fé em Cristo. Consequentemente, encontrar Cristo no Antigo Testamento tornou-se prioridade para Lutero. Calvino, embora afirmasse a justificação pela fé em Cristo, tem um ponto de vista mais amplo, que é a soberania e a glória de Deus. Essa perspectiva mais ampla capacita Calvino a se satisfazer com as mensagens bíblicas sobre Deus, a história da redenção e aliança de Deus , sem necessariamente focalizar essas mensagens em Jesus Cristo" p. 148

"Ao comentar as palavras de Jesus "Examinai as Escrituras... e são elas mesmas que testificam de mim (Jo. 5:39), Calvino escreve: "Devemos ler as Escrituras com o intuito de encontrar Cristo nelas. Quem se desviar desse objetivo, embora se canse durante toda a vida no esforço de aprender jamais alcançará o conhecimento da verdade, pois que sabedoria pode haver sem a sabedoria de Deus?" p. 154
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O evangelho não suplantou toda a lei de forma a trazer outra espécie de salvação. Pelo contrário, ele confirmou e satisfez tudo que a lei havia prometido, dado substância às sombras. Ao comentar Mateus 5.21, Calvino declara: "não devemos imaginar Cristo como um novo legislador que acrescente qualquer coisa à justiça eterna do Pai. Devemos ouvi-lo como fiel expositor, para que saibamos qual a natureza da lei, qual o seu objetivo e qual a sua extensão" p. 155
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O terceiro uso da lei
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"Que seria não somente revelar nosso pecado ou restringir os atos de pecado na sociedade. "O terceiro e principal uso, que pertence mais intimamente ao propósito da lei, encontra seu lugar entre os crentes em cujo coração o Espírito de Deus já vive e reina... Eles já tiram proveito da lei nas duas maneiras. Aqui está o melhor instrumento para que aprendam mais completamente a cda dia a natureza e vontade do Senhor a que aspiram, e confirmá-los no seu entendimento dela... Por outro lado, porque não precisamos apenas do ensino como também da exortação, o servo de Deus também se imbuirá do benefício da lei: pela frequente meditação nela para ser despertado à obediência, ser fortalecido nela e ser trazido de volta do caminho escorregadio da transgressão"" p. 136
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Salmo 2:7
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Na verdade, Davi podia com todo acerto ser chamado de filho de Deus em razão de sua dignidade real.. Davi foi gerado por Deus quando sua escolha para ser rei foi claramente manifestada.
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Cristo está presente no Antigo Testamento como Logos eterno, como promessa e como tipo.
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Promessa e cumprimento.
Calvino procura o cumprimento progressivo da profecia. as principais possibilidades de cumprimento são: primeiramente, cumprimento nos tempos do Antigo Testamento, segundo, na vinda de Cristo, terceiro, na igreja contemporânea e, finalmente, na segunda vida de Cristo. (p. 166)
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Spurgeon
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O grande objetivo do ministério cristão é a glória de Deus. Quer as almas se converteam, quer não, se Jesus Cristo for fielmente pregado, o pregador não terá trabalhado em vão, pois é um aroma suave a Deus como também aos que perecem e aos que são salvos. Contudo, como regra, Deus nos enviou para pregar, a fim de que mediante o evangelho de Jesus Cristo os filhos dos homens possam se reconciliar com ele" p. 177
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As jornadas de Israel do Egito para a Canaã são alegoria de nossa peregrinação cristã da escravidão do pecado (egito) para a libertação por meio de Cristo (páscoa) e conversão ( passar o mar vermelho), para as dificuldades e tentações e os triunfos (deserto) até a vida cristã vitoriosa( canaã)" p. 183
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Capítulo 5- Princípios do Novo Testamento para a pregação de Cristo a partir do Antigo Testamento.
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Perigo do Cristomonismo.
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"A ênfase cristocêntrica da pregação luterana...tem sido distorcida de modo tão desproporcional, ainda que não intencionalmente, que, para o povo sentado nos bancos da igreja, o evangelho essencial, a revelação e ato redentor de Deus em Cristo, perderam-se. Aceitar a Cristo como Salvador pessoal aparentemente tem pouco ou nada a ver com Deus" p. 206
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A pregação de Jesus tem como objetivo a glória de seu Pai.
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"Os escritores do Novo Testamento não pensavam em apresentar Cristo como uma alternativa para Deus, como um objeto de culto cristão suficiente em si mesmo... A adoração que pára nele e não passa por ele indo até Deus, o tudo em todos, no final fica aquém do culto cristão" p. 208
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John Piper: "O grande desígnio e a intenção do ofício de pregador cristão é restaurar o trono e o domínio de Deus na alma dos homens. É isso o que as pessoas levam consigo da adoração nos dias atuais? Um sentido de Deus, uma nota de graça soberana, um tema da glória panorâmica, o grande objeto do ser infinito de Deus? Elas entram por uma hora por semana... na atmosfera da santidade de Deus que deixa seu aroma sobre a vida delas durante toda a semana? Os escritores do Novo Testamento, assim como o próprio Jesus, nos ensinam claramente que a pregação centrada em Cristo tem de ter com alvo a glória de Deus "p. 209
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A influência dos métodos judaicos de interpretação
Peshat- um tipo literalista de exegese ...o significado natural do texto é aplicado à vida das pessoas - em particular na aplicação da legislação deuterômica"
Targun uma paráfrase ou tradução explicativa
Midrash- uma exposição de uma passagem cuja finalidade é destacar a relevância do texto sagrado para o presente momento
Pesher - uma interpretação mais centrada do que midrash, refere-se à exposição de textos que vê neles cumprimento escatológico na era atual.
Tipologia - interpretação que vê correspondência etnre pessoas e acontecimentos do passado e do futuro (ou presente).
Alegoria- uma forma mais extrema de midrash que considera o texto como uma espécie de código ou cifra que deve ser decodificado para se chegar ao significado mais profundo.
os únicos exemplos claros são de 1Coríntios 10:1-4, Galátas 4:22-31 e, provavelmente, 2Coríntios 3:7-18
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Mateus 1:17
Devemos saber que 14 é o valor numérico do nome Davi no hebraico, ou seja, DVD. Mateus começa traçando a linha da história redentora com Abraão e o número 14 na linha de gerações é o próprio grande rei Davi. Mas três coisas vêm abaixo aqui: o próprio numero 14 - Jeconias, o cativo 1Cr 3.17- se encontra em exílio na Babilônia. O reino pode ter acabado, mas pelo menos a casa de Davi está viva. Mais gerações vão e vem e, novamente, chegamos a outro número 14, outro Davi, Jesus , que se chama o Cristo (1.15). .(p.219).
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"A tipologia do Novo Testamento é assim essencialmente o traçar dos constantes princípios da operação de Deus através da História, revelando um ritmo recorrente na História passada que é assumido mais plena e perfeitamente nos acontecimentos do Evangelho" p.244
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Complexidade na tipologia
Sobre Romanos 5:2 - "Na confusão universal causada por ele, Adão é, para Paulo, um typos, uma apresentação anterior, pela qual Deus intima o futuro Adão, ou seja, Cristo, em sua obra universal de salvação...O termo typos pode ser a forma vazia que faz uma impressão oposta sobre outro material. Paulo pode adotar o termo, conhecido por ele já no sentido de um molde original, como uso técnico consoante com o significado básico" p. 245
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Sobre Hebreus- "a tipologia é uma relação comparativa que é arranjada qualitativamente em vez de quantitativamente. O tipo não é essencialmente uma versão em miniatura do antítipo, mas uma prefiguração em diferente estágio da história redentora que indica a estrutura ou os fatores essenciais- skia-parabole- eikon- da realidade futura" p. 252
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Capítulo 6: O método cristocêntrico
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"Devemos ler as escrituras com o propósito expresso de encontrar Cristo nelas. Aquele que se desviar desse objetivo, embora possa se afadigar a vida inteira no aprendizado, jamais alcançará o conhecimento da verdade, pois que sabedoria podemos encontrar sem a sabedoria de Deus?
Calvino, Comentário de João 5:9, na p.259
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Toda pregação bíblica deve começar com a exegese histórico-gramatical do texto, com tudo que isso inclui...Qualquer que seja a mensagem legítima para os ouvintes de hoje, deverá surgir de seu significado original e permanecer fiel a ele (p.260)
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A fim de descobrir o significado original e histórico de uma passagem o pregador tem que fazer justiça a três fios entrelaçados do texto: o literário, o histórico e teocêntrico... A mensagem original do autor e a necessidade de seus ouvintes são relacionadas como uma flecha e um alvo. A necessidade de Israel naquele tempo era o alvo que o escritor do Antigo Testamento procurava atingir com sua mensagem...
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Entender a mensagem no contexto do cânon e da história redentora...um sermão cristão sobre um texto do Antigo testamento necessariamente irá na direção do Novo Testamento. Isso é óbvio quando o texto contém uma promessa que é cumprida em Cristo: o pregador não pode parar na promessa, mas, naturalmente, irá prosseguir com o sermão até o seu cumprimento. O mesmo ocorre quando o texto contém um tipo que é cumprido em Cristo: o sermão vai do tipo para o antítipo. Isso também acontece quando o texto relata um tema que é mais desenvolvido no Novo Testamento, no sermão, o pregador vai do tema do AT para seu desenvolvimento mais completo no NT. (p. 263)
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Essencial para a pregação expositiva...O tratamento do texto de tal modo que seu significado real e essencial, conforme existia na mente daquele autor bíblico em particular e conforme existe à luz do contexto geral de todo Escritura, fique claro e seja aplicado às necessidades dos leitores do dias atuais. A pregação expositiva requer três movimentos básicos: 1. determinar o significado original, 2. o significado do contexto de todo o canon e 3. a aplicação desse significado para os nossos ouvintes atuais. (p.264)

domingo, outubro 18, 2009

Romance



"O autor, envergonhado, pede desculpas. Ele bem sabe já por onde avança o romance moderno, profundo como um bisturi e útil como um médico. O gênero não lhe agrada, porém, porque há muito que fingir nele, e as delícias da criação artistica não compensam a dor de mover-se numa ficção prolongada, com diálogos que nunca se ouviram, entre pessoas que jamais viveram"


José Martí, prefácio de Lucia Jérez (Amistad funesta)




in. BABEL, Isaac O Exército de Cavalaria, p. 227

segunda-feira, outubro 12, 2009

domingo, outubro 11, 2009

Harukiu Murakami: Após o Anoitecer







"Assumimos um ponto de vista para observá-la em perspectiva. O melhor
seria dizer que nossa real intenção é de espioná-la dissimuladamente. Nosso
ponto de vista, agora, assume a forma de uma câmera a pairar no ar, capaz de
movimentar-se livremente dentro do quarto. Neste momento, a câmera posiciona-se
num ponto bem acima da cama e focaliza seu rosto adormecido. A posição de nossa
câmera muda em intervalos regulares como se movimetar num piscar de olhos" p. 29


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Neste romance magistral, Murakami costura uma série de encontros e desencontros pelas ruas de Tóquio, entre o anoitecer e os primeiros raios da manhã. O autor deixa sua marca registrada ao falar da solidão e das dificuldades das relações humanas, mesclando diversas referências ao pop, ao jazz e à vida contemporânea.
No centro da trama estão duas irmãs. Eri é uma top model que, como uma Bela Adormecida moderna, caiu em sono profundo e parece nunca mais acordar. Mari, a mais jovem, é uma menina reservada e solitária que deixou a casa dos pais para vagar sozinha pela madrugada. Mergulhada na leitura de um livro numa lanchonete da cidade, acaba se envolvendo em uma aventura. Primeiro, encontra um trompetista de jazz que jura conhecê-la. Depois, ajuda a socorrer uma prostituta chinesa brutalmente espancada e, ao lado das funcionárias do motel onde o crime ocorreu, tenta descobrir o culpado.
Essas pessoas da noite, perseguidas por segredos do passado e em busca de uma identidade, aos poucos se cruzam nesta narrativa vibrante de Murakami, em que o escritor mistura tempo e espaço, sonho e realidade, compaixão e amor, numa trama inventiva e extraordinária.
Com maestria, Murakami mescla a jornada das irmãs às de outros personagens inesquecíveis: Takahashi é um músico jovem que procura um sentido para a vida; Shirakawa, empregado numa empresa de tecnologia, vara as noites trabalhando e esconde uma segunda personalidade, brutal; Kaoru, gerente de um motel, tenta ajudar uma prostituta que foi espancada e, no processo, acaba se envolvendo com a máfia chinesa.
Enquanto os ponteiros do relógio avançam em tempo real madrugada adentro, as diferentes histórias narradas por Murakami se entrelaçam, se dividem e se fundem, num misterioso e belo romance sobre as complexas relações do amor.



o livro em outra versão:





domingo, outubro 04, 2009

Blog sobre Mansfield Park

Há um blog em inglês totalmente dedicado a Mansfield Park, que é http://mansfieldpark.wordpress.com/








Lá achei esse comentário sobre o livro...




Instead it is a monster of complacency and pride who, under a cloak of cringing self-abasement,


dominates and gives meaning to the novel . What became of that Jane Austen (if she ever existed) who set out bravely to correct conventional notions of the desirable and virtuous? From being their critic (if she ever was) she became their slave. That is another way of saying that her judgement and her moral sense were corrupted. Mansfield Park is the witness of that corruption.
Kingsley Amis, What Became of Jane Austen?, p. 144



Continuando as críticas sobre Mansfield Park- na introdução da edição da Barnes and Nobles-(Introduction by Amanda Claybaugh)


"Mansfield Park is a novel about rest and restlessness, stability and change- the moving and immovable. Mansfield Park is hardly the only Austen novel to take as its subject matter a pair of opposed terms, but typically these terms stand in a dynamic relation to one another, each altering the other until a proper synthesis or balance is achieved" p. XIV
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"Mansfield Park was written at the end of one tumultuos era, the French revolution and the Napoleonic Wars, and at the beginning of an other: the industrialization and urbanization of England. (...) Astringent and despairing at the same time, the novel insists that improvements are urgently needed, even as it registers the enormous costs that these improvements will exact. In this way, Mansfield park stands as Austen´s most profound treatment of politics, her richest response to the revolution and wars of her time" p. xvi
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The critic Franco Moretti has most powerfully described the bildungs roman; he argues that the genre emerged in the nineteenth century because it was only then that youth became what it still remain for us, a time of possibility. Not until the advent of industrial capitalism, not until the the demise of apprenticeship and feudalk farming, could he young imagine that their lives might be different from those of their elders. The imagining of new possibilities offered a kind of compensation, Moretti suggest, for the shattering dislocations that came with such profound economic change, and the bildungsroman sought to make sense of what would otherwise be an overwhelming experience by positing an autonomous self, free to move through this new world at will- indeed, free to remake this new world in his or her own image, as the wponymous titles of bildungsromane suggest (The way of the world). That Mansfield Park is named after a place rather than a person is the first sign, then, that this novel does not fully belong to the genre.
Mansfield comes before Fanny, then, but in order to understand all that Mansfield means, we must pause to consider the tradition of country-house writing, a literary tradition that Mansfield Park both enters into and alters.
The first volume of Mansfield Park thus demonstrates that Mansfield is country house in need of improvement, seduced as it is by the glamour of mercantile London and hollowed-out by the blurring of appearance and reality. The second and third volumes of the novel explire waht improvement should entail. p.xxvi

sexta-feira, outubro 02, 2009

TREMPER LONGMAN III: Como ler Gênesis



Por que ler o livro de Gênesis? Para entendermos nossas origens. Para entendermos quem somos, que sentido fazemos davida. Para compreendermos nosso lugar no mundo, nosso relacionamento com outras criaturas, com outros seres humanos e como próprio Deus. Para reconhecermos o significado do restante dahistória redentora, que culmina no ministério de Jesus Cristo. Em outras palavras, é difícil exagerar a importância de Gênesis para nossas vidas nos dias de hoje. No entanto, conforme é bemilustrado pelas inúmeras controvérsias acerca de sua interpretação, nem sempre é fácil ler Gênesis.

O propósito de Como ler Gênesis é explorar a interpretação do livro de Gênesis. Nesse meiotempo apresentarei uma compreensão geral do livro em si, mas,além disso, quero refletir sobre os princípios de interpretação quesão mais importantes para chegar a uma compreensão adequadado livro. É para esses princípios que dirigiremos nossa atenção nopróximo capítulo.



TRECHOS:

"O narrador menciona que Abel trouxe das primícias do rebanho, enquanto o sacrifício de Caim não é descrito de nenhuma forma equivalente. Parece que conclusão de Waltke está justificada: "o sacrifício de Abel se caracteriza pelo que existe de melhor dentro daquele grupo de animais, e...o de Caim não tem tal característica. Parece que a lição é que o sacrifício representa a adoração feita de coração, enquanto o de CAim representa um gesto inaceitável de mera formalidade" p. 77

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"Os tres primeiros dias descrevem a criação das esferas de habitações. Os três seguintes narram a criação dos moradores dessas esferas, de modo que as esferas criadas no dia um - luz, trevas- são preenchidas no dia quatro - sol, lua, estrelas-, as do dia dois - céu, água- são preenchidas no dia cinco - aves, peixes- e as do dia três - terra- são preenchidas no dia seis - animais terrestres, seres humanos-" p. 127

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"um exemplo aparece em Gênesis 26, que fala de uma fome que atinge a terra, e, por esse motivo, Isaque se muda para Gerar