domingo, fevereiro 26, 2012

James Bryan Smith: O maravilhoso e bom Deus.


O livro tem por intenção ser o primeiro de uma trilogia de um currículo de crescimento espiritual. Smith é ligado a Renovare, escreveu um livro simples e profundo que aborda diversas questões da vida espiritual.


A abordagem de Smith é bastante criativa,um capítulo traz um princípio e logo a seguir, vem uma disciplina espiritual a ser praticada em torno daquele tema. O livro de Smith é mais fácil de ser lido que os de seus mentores como Dallas Willard ou Richard Foster, pois é mesmo uma introdução à vida contemplativa.

Para Smith o processo de mudança na vida de uma pessoa envolve a necessidade de examinar o que pensamos - nossas narrativas-, como agimos- nossas disciplinas espirituais- e com quem estamos interagindo - nosso contexto social-. Há quatro elementos básicos: 1. mudar as histórias de nossa mente, 2. engajar-nos em novas práticas, 3. refletir e dialogar com outras pessoas que seguem o mesmo caminho e 4. fazer tudo sob a orientação do Espírito Santo.

A abordagem de Smith diz que precisamos mudar as narrativas de nossa mente, o que lembra o ensino de Peterson. Precisamos descobrir quais as  narrativas que formam o nosso pensamento, e comparar elas com as de Jesus, o livro segue tentando mostrar o Deus que Jesus conhecia em oposição ao Deus das narrativas religiosas.

As disciplinas são vistas como exercícios de treinamento para alma, tratam de sabedoria e não de justiça. 

"O Espírito muda nossas falsas narrativas testemunhando a verdade. nossos dois mais importantes relacionamentos são nosso relacionamento com Jesus, como Senhor- do grego kyrios- e nosso relacionamento com Deus como nosso pai- aba em aramaico, o idioma que Jesus falava-" p.35

A passividade da vida cristã:

"Começaremos a viver como Jesus viveu uma vida perfeita  que não somos capazes de vier e como ele ofereceu essa vida ao Pai em nosso favor, libertando-nos da obrigação de merecer o amor e o favor de Deus" p. 38

Gostei muito do livro, em breve, coloco outros trechos do livro.  A espiritualidade fica claro no livro que está ancorada no amor incondicional de Deus por nós. A nossa transformação está baseada em três coisas, na mudança de narrativa, na disciplina espiritual e comunidade, tudo isto sob dependência do Espíirto Santo. A manifestação disto tudo é uma vida que descansa e frutifica do Espírito Santo, uma vida com paz e contemplação.


quarta-feira, fevereiro 22, 2012

James Houston: 3 livros

Finalmente, acabei de ler três livros de James Houston.






1. Mentoria Espiritual.

Houston coloca três modelos de mentoria em distinção ao mentoreamento cristão, são eles: heróico, estóico e terapeutico. Para Houston, a verdadeira identidade do ser humano está no seu encontro com Cristo, somente a partir do evangelho e da realidade de Jesus, os indíviduos podem se tornarem pessoas de verdade.

Houston escreve o livro sobre três influências, Edwards, Bernardo de Clairvaux e, mais preponderantemente, Kierkegaard.  As formas seculares de mentoreamento criam apenas individuos, que não geram pessoas.

O pensamento secular cria abstrações que não podem completar o ser humano, somente a vida de Jesus Cristo pode dar realidade, fazer do individuo uma pessoa.


Na mentoria cristã, há a vida de Jesus Cristo, que não dá apenas uma noção abstrata de como viver, mas o próprio viver, assim a pessoa se realiza concretamente.


A pessoa está baseada na revelação teológica do imago dei, seres humanos criados à imagem e semelhança de Deus. Somos tornados justos graças à justificação por Deus, e não em ações humanas. A liberdade é definida como auto-transcendência, fundamentada em Cristo, e não numa autonomia. O discipulado é abertura para Deus, com base em seu chamado ao contrário do modelo antropológico de um auto-enclausuramento, iniquidade e desobediência.


A pessoa cristã é alguém que recebe, mas não alcança o mérito. A perfeição cristã não está no ideal grego de não ter falhas, mas numa expressão de crescimento e maturidade.




2. Meu Legado Espiritual


Houston descreve sua formação como cristão, entende que o momento atual é de um cristianismo no fio da navalha, com diversas opções dentro dele que não são exatamente cristãs.


O livro vemos mais uma vez a influência dos mentores do pensamento dele: Kierkegaard, Jonathan Edwards e Agostinho.


Na primeira parte do livro, ele fala da fé cristã como um modo de vida e uma nova identidade, está divida em duas partes, o folego da vida oculta e abertos para um viver visionário de Deus.  Há duas análises, uma sobre a vida interior e outra sobre as expectativas da vida em Cristo.

A prioridade do chamado pessoal sobre a vida institucional, o surrealismo da face visível da vida cristã e tornar-se uma pessoa: uma jornada. Aqui, Houston conta sobre seu ministério, indas e vindas, o caminho que Cristo trilhou. Surrealismo ele chama a vida oca de um cristianismo sem vida, sem cruz. Há uma dupla vocação que são conjuntas, a de discipulo e a profissional.

A jornada é ofensiva para o mundo, é uma dialética entre as duas concepções de mundo, a cristã e a mudana.

A última parte do livro, fala sobre amadurecendo na comunidade, transmitindo a fé em pessoa, fala sobre viver a verdade em amor e a transmissão da fé numa era de ruptura.


3. O Desejo.

Neste livro, Houston fala sobre o coração humano, que é insensato e sedento. Fala sobre os desejos humanos que com a idolatria podem fazer que coisas boas acabem se tornando prejudiciais.

Sobretudo, há uma excelente explicação sobre como os vícios podem afetar o nosso 
coração.

Há uma análise de como descobrir contentamento para os desejos do nosso coração, há mais uma vez a análise de que somente em Cristo, nossos desejos podem nos levar a sermos uma pessoa de verdade.

Sempre nos textos de Houston, há a influência de Kierkegaard, na questão da construção da identidade pessoal em Cristo Jesus. Há a crítica de Edwards contra o racionalismo cartesiano. E uma vida de devoção,  com a mentoria de Agostinho e Bernado de Clairvaux.

"O desejo é o incessante pulsar da vida humana. O que ansiamos determina o escopo de nossas experiências, a profundidade de nossas percepções, os padrões com os quais julgmos e a responsabilidade com que escolhemos nossos valores. Por isso é de crucial importância ansiarmos por coisas que ultrapassam o material, que sejam transcendentais"


terça-feira, fevereiro 21, 2012

Amar o que em nós?


A paz que cristo traz é o resultado desta guerra enfrentada e travada na terra; guerra do homem contra si mesmo, em que (pela graça de Deus) ele se vence, se conquista, se pacifica e, afinal, consegue viver consigo mesmo porque não mais se odeia. Contudo, nunca será definitiva esta conquista se não for a entrega a um outro: a Cristo e a nosso irmão em Cristo. Porque o nosso destino é sermos um em Cristo e, para que nos seja possível amar os outros como a nós mesmos é preciso que nos amemos primeiro. Mas, para amarmo-nos precisamos em nós o que amar. E isto é impossível enquanto não descobrimos, tanto em nós como nos outros, a imagem de Cristo".

Thomas Merton  Espiritualidade, Contemplação e Paz, p. 141

domingo, fevereiro 19, 2012

Marcos 10- A Armadilha

10.17   E, pondo-se a caminho, correu para ele um homem, o qual se ajoelhou diante dele e lhe perguntou: Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna? 10.18   E Jesus lhe disse: Por que me chamas bom? Ninguém há bom senão um, que é Deus. 10.19   Tu sabes os mandamentos: Não adulterarás; não matarás; não furtarás; não dirás falsos testemunhos; não defraudarás alguém; honra a teu pai e a tua mãe. 10.20   Ele, porém, respondendo, lhe disse: Mestre, tudo isso guardei desde a minha mocidade. 10.21   E Jesus, olhando para ele, o amou e lhe disse: Falta-te uma coisa: vai, e vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem e segue-me. 10.22   Mas ele, contrariado com essa palavra, retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades. 10.23   Então, Jesus, olhando ao redor, disse aos seus discípulos: Quão dificilmente entrarão no Reino de Deus os que têm riquezas! 10.24   E os discípulos se admiraram destas suas palavras; mas Jesus, tornando a falar, disse-lhes: Filhos, quão difícil é, para os que confiam nas riquezas, entrar no Reino de Deus! 10.25   É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no Reino de Deus. 10.26   E eles se admiravam ainda mais, dizendo entre si: Quem poderá, pois, salvar-se? 10.27   Jesus, porém, olhando para eles, disse: Para os homens é impossível, mas não para Deus, porque para Deus todas as coisas são possíveis.10.28   E Pedro começou a dizer-lhe: Eis que nós tudo deixamos e te seguimos. 10.29   E Jesus, respondendo, disse: Em verdade vos digo que ninguém há, que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou campos, por amor de mim e do evangelho, 10.30   que não receba cem vezes tanto, já neste tempo, em casas, e irmãos, e irmãs, e mães, e filhos, e campos, com perseguições, e, no século futuro, a vida eterna. 10.31   Porém muitos primeiros serão derradeiros, e muitos derradeiros serão primeiros.




O Evangelho de Marcos chega a sua segunda parte. 

hoje em dia, é sempre que olhamos para uma grande riqueza pensamos que ela foi conquistada às custas do sofrimento alheio, poderíamos pensar diante da reprovação de Jesus daquele homem rico, nós chegarmos a Jesus dizendo: é isso aí, não pode explorador entrar no céu!. 

Contudo, naquela época a riqueza era vista como uma recompensa por um bom comportamento moral,  os ricos eram as pessoas que tinham o favor de Deus devido a sua conduta pessoal. A prosperidade material significava que você estava vivendo uma vida agradável a Deus por isto Ele te abençoava, mas a resposta de Jesus mostra que a riqueza não quer significar exploração material e nem um favor de Deus.

Jesus pergunta aquele moço se ele honrava os mandamentos, deixando claro que a riqueza foi conseguida de maneira justa, ele não diz que ter dinheiro é uma coisa ruim por si, ele diz que é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus.

Há muitas tentativas de explicar esta passagem, mas o que Jesus estava dizendo era o ditado da época, algo parecido com um "nem que a vaca tussa", ou seja, é impossível que um rico entre no reino de Deus.

Jesus também não estava dizendo que as pessoas ricas são más e as pobres são boas, ele estava mostrando que há radicalmente errado conosco, mas o dinheiro tem em particular o dom de nos tornar cegos para isto.  Ele tem o poder de nos enganar a respeito do nosso verdadeiro estado espiritual que precisamos da graciosa e miraculosa intervenção de Deus para vermos isto.

Pensando na armadilha

O jovem rico chegou para Jesus e perguntou como ele faria para herdar a vida eterna. Qualquer devoto judeu saberia aquela resposta, obedecer os estatutos de Deus e evite o pecado".  Ele já sabia a resposta, mas, então, por que ele perguntou para Jesus?

A resposta de Jesus que faltava uma coisa para ele, nós dá uma pista da razão da pergunta.  É como se o jovem tivesse chegado para Jesus e tivesse dito: eu sei que o que é, eu tenho feito tudo direitinho. Eu fui bem sucedido moralmente, economicamente, socialmente, religiosamente. Eu ouvi falar que você é um bom rabi e estou me perguntando se não está faltando alguma coisa para mim. Eu sinto que falta alguma coisa".


Claro que está faltando!!! Qualquer um que conta com aquilo que está fazendo, vivendo para herdar a vida eterna vai descobrir  que apesar de tudo que ela conquistou, existe um vazio, uma insegurança, uma dúvida. 


Jesus começa replicando porque me chamas de bom, se bom só é Deus!  E depois, Jesus manda ele vender tudo que tem e dar aos pobres.  Jesus não está dizendo que não é Deus, ele está deixando claro para o jovem rico, que ele não é mais um ensinador, Ele é o próprio Deus e se o jovem rico está dizendo isto também.


A vida eterna está no seguimento de Jesus. Se você quiser me seguir e ter a vida eterna. Você tem que se livrar de fazer as coisas erradas em sua vida, mas também você precisa mudar o modo como você se relaciona com seus feitos bons, você tem que se arrepender também de suas boas coisas.


Joachim Gnilka diz que o seguimento de Jesus significa a união com aquele que fez pobre pessoalmente, que não espera consolos neste mundo e que, por conseguinte, vai até a cruz decididamente.


Muitos de nós usamos boas coisas em nossas vidas para esconder imperfeições de nossa vida,  buscamos uma riqueza material para compensar um senso interno de pobreza de identidade.  Buscamos uma beleza física para compensar um sentimento interno  de deformidade.  podemos usar boas coisas em nossas vidas para ter controle sobre Deus e sobre as outras pessoas.


Aquele homem, tinha Deus como seu chefe, mas seu verdadeiro salvador era seu dinheiro e suas conquistas. Jesus, estava dizendo para ele quero que você imagine sua vida, sem dinheiro, onde tudo que você vai ter sou eu. Você pode imaginar isto?


Como o homem respondeu ao conselho de Jesus, a bíblia diz que ele foi embora triste.  A palavra triste aqui tem o sentido de  luto.  A mesma palavra aparece quando fala de Jesus no jardim do Getesemani, quando Jesus estava triste.  A tristeza de Jesus era por causa da perca do seu relacionamento com Deus.


Quando Jesus pede que este homem dê seu dinheiro, ele fica enlutado com isso, é porque o dinheiro era para ele aquilo que o Pai era para Jesus.  Era o centro de sua identidade, perder o dinheiro era perder a si mesmo. 


Joachim Gnilka diz que Calvino interpreta a história a partir de uma visão paulina, Cristo deixa patente que o homem rico é prisioneiro da autopresunção insensata e da hipocrisia que se encontra distante do cumprimento completo da lei, objetivo para el, que segundo o apóstolo, não está capacitado. Seu pecado consiste em avareza, condenada expressamente pela lei, e em sua erronea auto-valorização pessoal.


Os cristãos são pessoas que sabem que sua vida cristã é impossível, é um milagre. Não há nada de natural nela, quando ficamos baseados em nossos méritos pessoais  ou nosso valor moral, isto apenas nos afasta do entendimento da cruz.


Jesus é o perfeito jovem rico que abriu mão de toda a sua riqueza por aqueles que eram pobres, como diz Paulo em 2Co 8.9, enquanto não enxergamos nossa miséria contraposta a imensa riqueza do amor de Deus na cruz, ficamos distantes da vida eterna.






fonte: 


KELLER,  Timothy  The King´s Cross

GNILKA, Joachim  El Evangelio segundo San Marcos, livro II




terça-feira, fevereiro 07, 2012

RICHARD F. LOVELACE

“Os crentes são, portanto, cobertos pela justiça perfeita de Cristo que lhes é atribuída na justificação, fortalecidos pelo poder da vida de Cristo na santificação, dotados de acesso imediato à mente e ao coração de Cristo, pela morada interior do Espírito; e equipados com a autoridade de Cristo  no resistir, expor e expulsar as forças das trevas” (p.42)

O gozo de plena vitalidade espiritual por parte de indivíduos ou igrejas não é um resultado automático de se compreender todas as facetas da redenção, pois isso depende do relacionamento dos crentes com o Senhor soberano. Mover-se em direção à graça é ser aceito e abençoado pela presença de Deus, enquanto que recuar no crescimento gera sequidão espiritual cada vez maior” (p. 45)

A aceitação de Cristo e a apropriação de cada elemento na redenção dependem da percepção da santidade de Deus e da convicção da profundidade do meu pecado” p.47

 

Richard F. Lovelace, p 42

domingo, fevereiro 05, 2012

N.T. Wright: Surpreendido pela Esperança.

 

Desde que li o livro de Tom Wright, pensei em reler o livro e fazer uma revisão dos pontos que o autor coloca em seu livro. O bispo anglicano conhecido por sua releitura paulina, também, chamada de Nova Perspectiva. Tem uma visão sui generis do céu e da esperança cristã. Antes de mais nada, afim de evitar confusões, o pensamento de Wright não é o deste blogueiro.

 

Capítulo 1 – Vestidos e arrumados, mas sem ter aonde ir.

O livro começa falando sobre a confusão atual a respeito do conceito de céu e inferno. O livro tem por objetivo, segundo o próprio autor, abordar duas questões: Qual é a esperança do cristão? Há esperança de mudança, de resgate, de transformação, de novas possibilidades no presente?

“a resposta a essas perguntas precisa levar em conta o seguinte: enquanto entendermos que a esperança cristã é ir para o céu e que a salvação é algo essencialmente distante deste mundo, as duas perguntas parecerão irreconciliáveis. (…) no entanto, se a esperança cristã é para a nova criação de Deus, para novos céus e nova terra- e se essa esperança já se manifestou na vida de Jesus de Nazaré-então estamos certos ao unir as duas perguntas” p. 15-16

A questão para Wright não é só a vida após a morte, mas refletir sobre os propósitos de Deus para este mundo.

Mas, antes de adentrar a questão atual, ele pensa as tradições religiosas e suas respostas para a vida após a morte. Há uma confusão sobre o conceito da vida após a morte e uma percepção geral deste assunto inclusive no meio cristão, há alguns que pensam em anjos, outros em fantasmas.

Capítulo 2: Confusão cristã sobre o paraíso.

O autor começa a partir de um sermão de Scott Holland:

A morte é nada. Ele não conta. Eu só tenho escapuliu para a próxima sala. Nada aconteceu. Tudo permanece exatamente como foi. Eu sou eu, e você é você, ea antiga vida que vivemos tão carinhosamente juntos permanece intocada, imutável.
O que quer que fosse o outro, que ainda estamos. Chame-me pelo antigo nome familiar. Fale de mim da maneira mais fácil que você sempre usou. Não fez diferença em seu tom. Não usam ar forçado de solenidade ou mágoa. Ria como sempre riu das piadas que desfrutamos juntos. Tocar, sorrir, pensar em mim, reze por mim. Deixe meu nome seja para sempre a palavra casa que sempre foi. Que seja falado sem esforço, sem o fantasma de uma sombra sobre ela. A vida significa tudo o que ela sempre significou. É o mesmo que sempre foi. Existe uma continuidade absoluta e inquebrável. O que é esta morte, mas um acidente desprezível? Por que eu deveria estar fora da mente, porque estou fora da vista? Estou esperando por você, mas, para um intervalo, em algum lugar muito próximo, ao virar da esquina.
Tudo está bem. Nada está ferido, nada está perdido. Um breve momento e tudo será como era antes. Como vamos rir do problema de separação quando nos encontrarmos novamente! ”

Holland sugere que devemos pensar a vida após a morte como um crescimento no conhecimento de Deus e na santidade pessoal, o texto citado fora do contexto, parece entender que a morte não tem qualquer significado, contudo, a intenção de holland não é diminuir a morte por si, mas entende-la a partir da perspectiva do cristão que já passou da morte para a vida. Ele não quis diminuir a importância da morte, embora este trecho do texto possa parecer.

A morte definida apenas como um rito de passagem a outro mundo, ela não é mais um inimigo, ela é simplesmente um ciclo para alma imortal escapar do ciclo mortal. Por isto, a idéia cristã da ressurreição é importante, pois acreditamos na ressurreição dos corpos e não numa libertação dos espíritos.

Há uma oscilação dentro do cristianismo, por um lado, a morte é encarada como um inimigo vil e por outro, como uma amiga benvinda.

Wright começa aqui seu ponto mais polêmico:

“De certo modo, as pessoas ficam admiradas quando alguém lhes diz que a Bíblia fala muito pouco sobre “ir para o céu quando morrer”, e menos ainda sobre um inferno após a morte. As imagens medievais de céu e inferno, estimuladas pela obra clássica de Dante, têm exercido uma enorme influência na imaginação dos cristãos. Muitos crêem que céu no novo testamento é o lugar para onde vão os salvos após a morte. Quando o Evangelho de Mateus se refere ao reino de Deus, essa expressão é traduzida nos outros evangelhos como reino dos céus. Como muitos inicam a leitura dos Evangelhos pelo livro de Mateus quando leem o que Jesus falou sobre entrar no reino dos céus, imaginam que ele na verdade estivesse se referindo a como ir para o céu quando morrer, o que certamente não é o que Jesus ou Mateus tinham em mente. Isso tem dado margem a tantas suposições que precisamos saber distinguir o que a Bíblia ensina e o que os cristãos acreditam” p. 34

 

Para Wright, o reino de Deus não é um destino após a morte, mas o governo soberano de Deus sobre a terra e o céu.Essa interpretação errada para ele é um resquício do platonismo, numa desvalorização da vida presente como corrupta e vergonhosa. Mesmo a leitura do céu em Apocalipse está equivocada, a cena dos anciões nos capítulos 4 e 5,  trata-se de uma descrição da realidade presente. Quando  a bíblia fala no céu, não está falando do nosso destino futuro, mas de uma realidade oculta da nossa vida comum do presente, uma dimensão divina.

“Quando chegamos a verdadeira imagem do dia final nos capítulos 21 e 22 de Apocalipse, não encontramos as almas resgatadas sem corpo, andando pelo céu, mas a nova Jerusalém descendo do céu e unindo-se a terra em um abraço eterno” p. 35

Tom Wright também critica uma visão errada a respeito do inferno que leva a muitos a acreditar que ele não existe, ou, numa espécie de jornada pós morte com purgatório. E também, a recuperação do universalismo, uma idéia de que Deus oferece contínuas oportunidades para o pecador se arrepender até vê-lo sucumbir ao amor divino.

Os efeitos da confusão.

A confusão está presente segundo Wright nos hinos cantados e nos modos de celebrarmos as datas religiosas. John Henry Newman coloca num dos seus hinos, a expectativa de virarmos anjos após a morte no céu. Há alguns que colocam a morte como uma noite agradável, mas no novo testamento não há esta referência a morte, ela é o inimigo que foi conquistado por Jesus, mas que ainda aguarda sua derrota final.

A inversão de importância do natal em vez da páscoa, para Wright é uma prova da confusão cristã atual.

A aceitação de cremação, mostra uma influência das doutrinas budistas e hinduístas, em uma clara ignorância a esperança de uma nova vida em um novo corpo.

O autor coloca seu pensamento claramente na página 45, quando diz:

"Aqueles que veem a morte como o esperado momento de ir para casa, em que seremos chamados à paz eterna de Deus, não tem motivo para entrar em conflito com pessoas sem escrúpulos, dispostas a destruir o mundo se isso lhes trouxer algum benefício. A crença na ressureição sempre vem acompanhada por uma forte visão da justiça de Deus. Essa crença não leva a uma tolerância passiva diante das injustiças do mundo, mas a uma firme determinação de lutar contra as injustiças do mundo. É como dizer que os evangélicos inglesses desistiram de tentar melhorar a sociedade (veja o exemplo de Wilberforce, no final do sec. 18 e início do 19) ao mesmo tempo que deixaram de crer na ressureição e se conformaram com um céu sem corpos encarnados"

A explanação defendida por Wright  é baseada na sua valorização da ressurreição de Cristo, sua visão coloca a páscoa como um evento profético em relação ao que será feito com a humanidade, não uma passagem para um mundo além deste, mas uma consumação da vontade de Deus tanto na terra como no céu.

3. A esperança cristã primitiva em seu contexto histórico.

Tom Wright começa com a seguinte pergunta, podemos crer na ressurreição de Jesus? Com a páscoa, o que aconteceu naquele dia foi algo novo e que se desenvolveu de uma maneira totalmente distinta.

No mundo pagão antigo, a morte possuia poderes ilimitados,  ninguém conseguia escapar ou resistir a esta realidade. A crença era ou ter um novo corpo ou como os platônicos, uma alma sem corpo.

Ressurreição tem o sentido de uma nova vida corpórea depois da vida após a morte, a ressurreição não era algo que aconteceria logo após a morte, mas representava uma situação que poderia acontecer algum tempo depois da morte.  Quanto ao conteúdo, para o autor, a ressurreição se refere  especificamente a algo que acontece ao corpo. Hoje, a palavra significa vida após a morte quase sem ligação com o aspecto corpóreo.

"”Quando os cristãos primitivos afirmavam que Jesus havia ressuscitado dentre os mortos, eles sabiam que estavam falando de algo que havia acontecido exclusivamente com ele, e que ninguém esperava que acontecesse com outros. Eles não estavam se referindo à alma de Jesus indo para a glória do céu, nem estavam dizendo, confusamente, que Jesus havia se tornado divino. Nada do que eles diziam tinha essa conotação.” p. 55

A maioria dos judeus da época acreditavam na ressurreição final, que Deus no último dia daria a seu povo novos corpos, como diz Marta em João 11.24. Os saduceus não acreditavam na ressurreição corpórea, mas a exemplo de Filo, acreditavam no futuro da alma.

Jesus não acrescentou a visão judaica padrão – Mc. 12.18-27, Mt. 22:23-33, Lc. 20.27-40, falou da ressurreição como um evento futuro. Jesus não disse que na ressurreição que as pessoas se tornariam anjos, mas seriam em certo sentido como anjos – Mt. 22:30, Mc 12:25 por não se darem em casamento e por serem justos.

Os discípulos não entendiam que o messias deveria morrer, como esta em Lc. 24.11, esperávamos que fosse ele quem haveria de remir a Israel, mas como ele foi crucificado, então não era ele. Os discípulos viram a crucificação como o fim da jornada. Daí, surgiu algo completamente novo.

O aspecto surpreendente da esperança cristã primitiva.

A esperança cristã primitiva concentrava-se na ressurreição, não acreditavam simplesmente na vida após a morte e ir para o céu não era o assunto principal. Se referiam ao céu como um estágio temporário, enquanto esperavam a ressurreição final do corpo.

Tom Wright não acredita no paraíso como destino final dos cristãos, mas conforme ele diz:

“Quando Jesus disse ao ladrão que eles estariam juntos no paraíso naquele mesmo dia, paraíso aqui não indica que este seria o seu destino final, como Lucas 24 deixa claro. Paraíso é o delicioso jardim de descanso para o povo de Deus à espera da ressurreição. Quando Jesus declarou que havia muitas moradas na casa de seu Pai, ele usou a palavra moné, que tem o sentido de moradia temporária. Quando Paulo disse que desejava partir e estar com Cristo, o que é muito melhor, ele estava de fato pensando em uma vida de delícias ao lado do Senhor, em seguida à morte, mas esta seria apenas o prelúdio da ressurreição (Lc.23.43, Jo 14.2, Fp 1.23 c/c 3.9-11, 20-21) [ … ] os cristãos primitivos acreditavam em dois estágios no futuro: primeiro, a morte e o que visse logo após, segundo, uma nova existência corpórea em um mundo refeito” p. 58-59

Para o autor, os cristãos organizaram uma crença  totalmente nova baseadas em sete modificações:

1o. Não havia debates acerca da ressurreição no cristianismo primitivo, a negação da ressurreição não durou muito tempo, cf. 1Co 15.12. “"Somente no fim do século segundo, cerrca de 150 anos depois da epoca de Jesus, algumas pessoas começaram a usar a palavra ressureição com um significado diferente do que ela tinha no judaísmo, isto é, como uma experiência espiritual no presente, levando a uma esperança desligada do corpo no futuro. Durante os dois primeiros séculoss, a ressureição, no sentido tradicional, mateve-se no centro das discussões" p.60

2o. Para o judaísmo do segundo templo, a ressurreição não era uma questão importante. É impossível conceber o pensamento de Paulo ou João sem falar da ressurreição.

3o. A importância para o cristianismo e em oposição ao lugar da questão no judaísmo na época. Como diz o autor, “o cristianismo primitivo sempre afirmou que o novo corpo ressurreto, apesar de ser um corpo no sentido físico, ocupado assim um lugar no tempo e no espaço, seria também um corpo transformado, com novas características. houve muitas discussões sobre o que a ressurreição realmente envolvia” Em 1Co 15, Paulo fala disto, onde se refere a dois tipos de corpos, alguns pensam mal o texto, colocando como um corpo espiritual sem sentido físico, contudo, “"O contraste que ele está fazendo não é entre o que entenderíamos por um corpo físico presente e um corpo espiritual futuro, mas entre um corpo presente animado pela alma humana normal e um corpo futuro, animado futuro pelo Espírito de Deus" (p.61)

O novo corpo será incorruptível, nem carne e nem sangue podem herdar o reino de Deus por sua corruptablidade, mas a criação será refeita e não abandonada.

4. A ressurreição é um evento que deve ser pensado em duas partes, o texto de 1Co 15 é a base de Wright.  A ressurreição era um evento que iria abraçar todo o povo de Deus, as exceções como Enoque e Elias não contam por dois motivos, primeiro, eles não morreram, assim a ressurreição – nova vida após a morte física- não seria importante e também, que eles estavam no céu, não em um novo corpo, na terra. Para Wright, "Não podemos esquecer que ressuscitar não significa ir para o céu ou escapar da morte ou ainda desfrutar de uma existência gloriosa após a morte, mas voltar à vida física depois de uma morte corpórea. É por isso que, logo depois da transfiguração, quando Jesus diz a seus discipulos para não mencionarem a visão até que o Filho do homem tenha ressuscitado dentre os mortos, eles ficam confusos, e se perguntam o que isso poderia significar, se seria um evento que lhes permitiria falar as pessoas sobre detalhes da vida de Jesus, ou um evento que todo o nosso mundo de Deus renasceria" p.63

5. Escatologia colaborativa, conforme o próprio autor:

"Minha compreensão do que isso significa, em sintonia com o pensamento de Crossan, é que como os cristãos primitivos acreditavam que a ressureição teria começado com Jesus,e seria concluída na grande ressureição final no último dia, eles acreditavam também que Deus os havia chamado para serem seus colaboradores, no poder do Espírito Santo, na realização da obra de Jesus na vida pessoal e política, na missão e na santificação, antecipando assim a ressureição fianl. Deus não estava apenas iniciando o fim, se Jesus, o Messias, era o próprio fim e o futuro de DEus manifestado no presente, então aqueles que pertenciam a ele, que eram seus discípulos, capacitados pelo seu Espírito, deveriam transformar o presente, à luz do futuro." p. 63

 

6.  O uso metafórico na crença judaica distinto da ressurreição.

 

7. Associação com o messianismo, dentro do judaísmo, ninguém esperaria que o Messias morresse. O Messias era alguém que deveria conquistar a vitória de Deus sobre os pagãos,  reconstruir e purificar o templo e trazer a justiça divina ao mundo, Jesus não fez nada disso,  morreu nas mãos dos pagãos, falou em destruição do templo.  Mas, por causa da sua ressurreição, ele era o Messias.

 

Capítulo 4: A Estranha história da Páscoa.

Algumas características são levantadas por Wright para descrever a novidade do evento pascoal. A primeira coisa é a ausência de referências bíblicas na história da ressurreição, não há uma derivação de narrativas antigas judaicas, remotando-se mesmo as tradições do evento único da história que foi a ressurreição de Jesus de Nazaré.  A segunda característica é a presença de mulheres como testemunhas principais,  elas não eram consideradas confiáveis no primeiro século, mas o texto da ressurreição elas tem lugar de destaque. A terceira coisa diz respeito ao modo como Jesus é tratado nos Evangelhos,  alguns revisionistas dizem que foi uma construção posterior,  contudo, Jesus chegou a ser confundido um jardineiro ou um companheiro de viagem, o corpo de Jesus nem sempre foi reconhecido, passou por portas trancadas, e no fim, desapareceu no céu. O quarto ponto é o fato  de elas nunca mencionarem a esperança cristã futura, não há menção disto nos evangelhos,  não se trata de uma construção posterior.

A única maneira de explicar a páscoa passa por dois pontos paralelos, o sepulcro estava vazio e os discípulos estavam convencidos de que ele não era um fantasma ou uma alucinação.  Se a tumba não estivesse vazia, os discípulos rapidamente teriam dito que os encontros com Jesus não passariam de alucinações.

Contudo, o sepulcro vazio também nada significa. Maria pensou que tinham roubado o corpo de Jesus, os líderes judeus achavam que os discípulos tinham escondido o corpo. 

A ressurreição não estava ligada a isto, era mais metafórica conforme vimos, então, não tinha como os discípulos acreditarem na ressurreição corpórea se ela não tivesse acontecido. Há provas demasiadas da ocorrência histórica do evento.

Outra tentativa moderna é de espiritualizar o evento,como se fora uma experiência que aconteceu apenas na mente e no coração dos discípulos, contudo, a palavra ressurreição no primeiro século significava que alguém fisicamente morto tinha voltado a viver no sentido físico.

 

A partir da ressurreição, Tomé foi chamado a viver um novo tipo de fé. Paulo foi chamado para uma esperança renovada. E Pedro para um novo tipo de amor.

"A realidade é que a ressurreição nõa pode simplesmente ser percebida a partir do velho mundo de fraqueza e negação, tirania e tortura, desobediência e morte. Repetindo: a ressurreição não é, nem nunca foi, um evento particularmente estranho dentr do mundo presente (embora também seja isso), ela é, principalmente, o evento definidor da nova criação, o mundo que está nascendo com Jesus" p.88

A esperança nasce com a descoberta de que uma visão de mundo diferente é possível, uma visão de mundo na qual os ricos, os poderosos e os inescrupulosos não terão, afinal, a última palavra. A mudança de visão de mundo requerida pela ressurreição de Jesus também nos capacitará a transformar o mundo” p. 90

 

PARTE 2- O PLANO FUTURO DE DEUS

Capítulo 5: futuro cósmico- progresso ou desesperança?

A segunda parte do livro, Wright quer responder a seguinte pergunta- qual o propósito de Deus para este mundo. Neste capítulo ele vai analisar duas opções bem populares. A primeira opção é o Evolucionismo-otimista, baseado no mito do progresso, de acordo com essa visão, os seres humanos estão evoluindo, em vez de depender da graça de Deus, nós desenvolveremos todo nosso potencial por meio da educação e esforço pessoal. Muitos cristãos adotaram o chamado “evangelho social”, que gerou boas obras, mas que não eram a solução definitiva.

Teilhard  de Chardin é a mais famosa expressão cristã do mito do progesso, através da figura do Cristo cósmico, um processo de evolução levará a perfeição cristã do mundo.

 

Opção  2: Almas de Passagem.

Seria uma influência do platonismo, a realidade seria a forma eterna, sendo o muito presente apenas uma ilusão.  A influência no cristianismo se deu no gnosticismo,  o mundo material é dado como inferior, decaído. O mundo criador é na melhor das hipóteses um lugar irrelevante, escuro, onde as almas imortais, que existem originalmente em uma esfera diferente que aguardam o momento de retornar a elas.

Há uma suposição geral, entre os cristãos do ocidente, de que o motivo principal para alguém se tornar cristão é a garantia de poder ir para o céu quando morrer. Textos que não se referem ao céu muitas vezes são interpretados como referindo-se a ele, e textos que dizem o oposto, como Romanos 8.18-25 e Apocalipse 21-22, são simplesmente ignorados, como se não existissem” p. 106

Para Wright,m a ressurreição  declara que a obra que Deus fez em Jesus, a ressurreição, é a mesma que ele deseja fazer pelo mundo.

Capítulo 6. O que o mundo inteiro aguarda.

Os crentes primitivos não tinham a idéia de progresso, não achavam que o mundo estivesse ficando melhor, por outro lado, também não acreditavam que o mundo estava piorando e que a melhor coisa seria sair dele.

Tom Wright coloca algumas estruturas básicas da esperança para explicar seu ponto de vista.

O primeiro é a excelência da criação. Diante das diferentes visões de  mundo disponíveis no primeiro século, é realmente extraordinário o modo como cristianismo primitivo se recusou a cair no dualismo cosmológico, que não considera a criação uma boa dádiva de Deus. No entanto, a criação é boa por ser criação de Deus, e não pela sua natureza independente ou autossuficiente(…) A criação foi, desde o princípio, um ato de amor, de reconhecimento da bondade de Deus. Deus viu tudo o que fez, e viu que tudo era muito bom, porém, não divino. O ponto alto da criação que de acordo com Genesis 1 é a criação dos seres humanos foi projetado para ser o reflexo de Deus na adoração ao próprio Deus e no cuidado com a criação”. (p. 110)

O segunto ponto está relacionado a natureza do mal. É a idolatria rebelde praticada pelos seres humanos ao adorar e honrar elementos do mundo natural e não ao Deus criador.  Assim, abandonar a adoração ao Deus vivo significa voltar-se para aquilo que não tem vida em si mesmo, quando adoramos o que é transitório, isso só pode resultar em morte. A idolatria se espalha pelo mundo.

O terceiro ponto é o plano da redenção, para Wright, ela não pretende jogar no lixo tudo foi feito até o presente para começar uma ficha nova, partindo do zero. A redenção é libertar o que está escravizado. O mal não está na matéria, mas na rebelião contra Deus. “A escravidão é quanto ao pecado, cuja redenção deve, por fim, envolver não apenas a essência da alma ou do espírito, mas uma nova vida em um novo corpo” p.112

Partindo de Colossenses 1, Wright explica que a redenção implica a renovação da criação, tratando o mal que a desfigura  corrompe. Quem realiza é o mesmo Deus, revelado em Jesus, por meio de quem ela foi feita. Há uma dimensão cósmica em sei temas.

1. plantação e colheita.

Segundo Wright, em 1Co 15, Paulo usa a imagem de primeiros frutos- Rm 8.23,11.16, 16.5;1Co 16.15, 2Ts 2.13, Tg. 1.18-. O oferecimento dos primeiros frutos tinham a ver com a grande colheita que ainda estava por vir. Na páscoa, Jesus se coloca como os primeiros frutos, o primeiro a ressuscitar dentre os mortos.

2.Batalha Vitoriosa.

Em 1Co, Paulo coloca a imagem de um rei estabelecendo seu reino e sujeitando todos os inimigos possíveis.

o evangelho de Jesus Cristo anuncia que o que Deus fez por Jesus na páscoa, ele fará, não somente pelos que estão em Cristo, mas pelo cosmos inteiro. Este será um ato da nova criação, paralelo e derivado do ato da nova criação, quando Deus ressuscitou Jesus dentre os mortos” p. 115

A  morte é o último inimigo,  ela deve ser derrotada para que o Deus doador da vida seja reconhecido como o verdadeiro Senhor do mundo.

3.Cidadãos do céu –colonizando a terra.

Partido de Fp. 3:20-21, a explicação de Wright é que “quando Paulo diz, nossa pátria está nos céus, ele não quer dizer que em seguida a morte iremos morar no céu. Ele está dizendo que o salvador, o senhor, o rei Jesus –todos esses títulos, evidentemente, são imperais- virá do céu para a terra, para mudar a condição atual e a situação do seu povo. p.116

4. Deus será tudo em todos.

Pensando no vs. 28 de 1Co 15, este é um momento da vitória final sobre o mal e sobre a morte.

se a criação foi um ato de amor, então isso deve tê-la envolvido a criação de modo a torná-la distinta de Deus. Esse amor, portanto, permite que a criação seja ela mesma, sustentando-a em providência e em sabedoria, mas não em domínio e poder. “ p.117

o universo foi planejado pra receber o amor de Deus –Is. 11.9

5. Novo nascimento

Em Romanos 8,  a imagem do novo nascimento está inserida na própria criação.

6. Casamento do céu e da terra.

Esta é grande peculariedade da escatologia de Wright,  ele a baseia em Ap. 21-22.  São duas realidades distintas, não é panteísmo. É a união destas duas realidades, os novos céu e terra não serão criados a partir do nada, mas da transformação de Deus.

 

Minha proposta é que o novo testamento nos oferece uma imagem tão coerente da esperança futura de todo o cosmos, fundamentada na ressurreição de Jesus, quanto necessitamos ou poderíamos ter de um futuro prometido ao mundo inteiro.  Nesse futuro, sob a soberania e o sábio governo do Deus criador, a corrupção e a morte serão eliminadas e uma nova criação nascerá , para a qual a criação presente será como uma mãe para o filho [ …. ] A criação não é um projeto que deve ser abandonado nem um processo evolutivo. O que ela precisa é de redenção e de renovação; e isso é prometido e garantido pela ressurreição de Jesus dentre os mortos. É isso que o mundo inteiro está aguardando” p.123

Capítulo 7.  Jesus, o céu e a nova criação

A distinção entre ressuscitou dentre os mortos e subiu aos céus.  Para Wright, céu e terra na cosmologia bíblica não são dois lugares distintos dentro da mesma sequencia espaço e tempo, trata-se de duas dimensões diferentes da mesma criação. Sendo que o céu tem uma dupla dimensão.

Primeiro, o céu se relaciona com a terra tangencialmente, de modo que quem está no céu pode estar presente, simultaneamente, em qualquer parte da terra. A ascensão, portanto, significa que Jesus está disponível, acessível, sem que as pessoas tenham que ir a determinado lugar na terra para encontrá-lo. Segundo, o céu é uma espécie de central de comando para a terra, é a sala do diretor, o lugar de onde saem as decisões” p. 127

Jesus então está administrando tanto o céu quanto a terra,  até que reino esteja completo no dia final. A igreja é serva do Senhor, não é igual a Jesus. Então, “somente quando compreendemos e celebramos o fato de que Jesus seguiu na nossa frente para o espaço de Deus, para o novo mundo divino, e já está governando o mundo presente e rebelde como seu senhor por direito e também intercendo por nós à direita do Pai- ou seja, quando compreendemos e celebramos o significado da ascensão em relação à continuação da obra humana de Jesus no presente- somente então somos libertados de uma visão equivocada da história do mundo e equipados para a tarefa da justiça no presente”.

Assim, temos uma visão clara que Jesus é o nosso mediador e não a igreja ou qualquer outra coisa. Para Wright, “reconhecer a ascensão é suspirar aliviado, é desistir de lutar para ser Deus e  com inevitável desespero diante de nosso constante fracasso, é poder desfrutar de nossa condição como criaturas de Deus, criaturas que trazem em si a imagem divina, mas, ainda assim, criaturas” (p.130)

Quando a bíblia fala de céu e terra é um mistério, não é uma divisão entre um mundo não material e outro material. São dois tipos diferentes de matéria, e também de tempo. Algo além da nossa compreensão. Contudo, o espaço de Deus e o nosso estão inter-relacionados e integrados  de muitas maneiras. Um dia serão unidos.

O ponto polêmico de Wright é que, segundo ele, não há menção de que Jesus foi para o céu e nós devemos segui-lo,  a idéia cristã primitiva é que Jesus estava nos céus, mas governando o mundo inteiro, para um dia ele voltar e estabelecer seu reino.

O significado da segunda vinda.

Segundo Wright, o dispensionalismo de J N Darby, se espalhou rapidamente e deturpou a mensagem bíblica. A crença dispensionalista é que estamos vivendo o final dos tempos,  e que Jesus voltará em pessoa e levará os verdadeiros cristãos deste mundo perverso para estarem com ele. E, depois, retornará para reinar sobre o mundo todo.

Dentro do dispensionalismo, está a idéia do arrebatamento,  que para Wright é um preconceito norte-americano.

 

 

 

 

sábado, fevereiro 04, 2012

Kevin DeYoung:Faça alguma coisa.



Kevin DeYoung é um autor reformado, não sei se podemos chamá-lo de neo-puritano. A ortodoxia calvinista numa roupagem mais contemporânea. Enfim, no livro, ele defende que a vontade de Deus tem duas formas clássicas calvinistas, a vontade decretiva e a vontade preceptiva, a decretiva é que os planos de Deus não podem ser frustados e a segunda, seria aquela que é a sua vontade para nós, o amor e a justiça. A tal vontade diretiva, que é plano de Deus para o futuro pessoal, esta é mais uma invenção que uma realidade bíblica.

A questão em torno da vontade específica e de uma revelação especial desta vontade tem, segundo o autor, alguns fundamentos: o desejo de agradar a Deus, a timidez de viver a vida, uma realização perfeita, um monte de opções para escolher e que somos covardes.

Queremos uma antecipação do futuro por parte de Deus, como se fosse uma bola de cristal. Queremos saber, muito mais do que ter fé em Deus, queremos um plano pronto de vida e não caminhar o caminho e descobrir as realidades que Deus tem para nós.

Ele nota que buscamos esta antecipação em questões não morais, buscamos o conselho de Deus não no aspecto de uma vida de santidade e temor, mas para questões sobre dinheiro, família e emprego. O fato é incredulidade e falta de obediência, buscamos a tal vontade de Deus para postegar decisões em nossa vida, o que gera dentro da igreja ansiedade em vez de esperança.

Esperar que Deus, através da apreensão subjetiva que temos das coisas, nos aponte a direção para toda e qualquer decisão que tenhamos que tomar, por mais trivial que seja, não só não é prático,  como também é irreal. É receita certa para a decepção e falsa culpa. Além disso, está muito longe do que deve ser a intimidade com Jesus” p. 59

Onde está a vontade de Deus, no quinto capítulo, o autor aponta algumas direções: é que vivamos uma vida santa, separada; devemos sempre nos alegrar, orar e dar graças; nos é revelada para que demos frutos e conheçamos melhor, sejamos cheios do Espírito Santo. A vontade de Deus é que cresçamos a imagem e semelhança de Jesus Cristo.

No sexto capítulo, há uma lista de princípios para isto acontecer em nossa vida: 1. Deus nos guia por meio de sua providência invisível, 2. fala de formas diferentes, e guia em uma cooperação consciente, 3. Deus se comunica conosco através de Seu Filho, 4. continua a falar por meio do Seu Filho através do Espírito Santo, 5. A atuação do Espírito através das Escrituras.

Aqui, ele entra na questão que devemos buscar a sabedoria de Deus nas escrituras para vivermos o dia após dia, e não em nossas impressões ou buscar inesperados. Há uma falsa impressão de que há um caminho perfeito que precisa ser descoberto antes de ser andado, isto é apenas desculpa furada para uma vida de desobediência a Deus e falta de temor.

Ele cita a história de porta aberta e porta fechada. Como usamos isto, quando dizemos que Deus fechou uma porta tem mais a ver com nossa incapacidade ou falta de obediência do que com Deus, e quando abre a porta, tem mais a ver com o nosso desejo e com o próprio ego do que em servir a Deus. No fundo, o problema é que queremos ser os senhores da nossa vida e Deus poderia colaborar não deixando a gente se dar mal tentando fazer isto.

Mike Wells dizia que Jesus era o caminho, a verdade e a vida. Precisamos andar o caminho para descobrir a Verdade de Deus acima das nossas verdades e assim, encontrar a vida eterna. Crer é obedecer e obedecer é crer.
Acima das nossas expectativas e de nossos planos, mais satisfatório que nossa realização pessoal, mais abrangente que nossa sabedoria, crer é confiar naquilo que ainda não vimos, obediência nasce da esperança que Deus confirma os nossos passos quando andamos e nos movemos nEle, melhor que nossa ansiedade é viver sabendo que a verdadeira vontade de Deus está no meu próximo passo.
O livro é curtinho, mas muito bom, o melhor que li do autor, é super-hiper recomendado para pessoas que estão ansiosas com suas vidas ou achando que já sabem tudo sobre Deus.