Flemming Rutledge – The Crucifixion: understanding the death of Jesus Christ
A PRIMAZIA DA CRUZ
A PREEMINÊNCIA DA NARRATIVA DA PAIXÃO NOS EVANGELHOS.
Existem diferentes aproximações em
cada um dos evangelistas a respeito da morte de Jesus, contudo, há uma concordância
na atenção massiva que eles dão à narrativa da paixão e a cruz. Cada um dos evangelhos apresentam a narrativa
da paixão como sua revelação climática que molda o caráter de tudo que foi
descrito até então.
Marcos 2:1-4
Lucas 9:44
Mateus 13:54-57
João 9
As sequencias que descrevem a paixão
são mais detalhadas que as passagens e historias anteriores.
As três predições da paixão que estão
em cada um dos quatro evangelhos oferecem uma ilustração de um método. Estas
passagens chegam com uma gravidade extraordinária:
Desde aquele momento Jesus começou a explicar aos seus discípulos que
era necessário que ele fosse para Jerusalém e sofresse muitas coisas nas mãos
dos líderes religiosos, dos chefes dos sacerdotes e dos mestres da lei, e fosse
morto e ressuscitasse no terceiro dia. Mt 16:21
Estas predições, deliberadas espaçadas
com intervalos nos quatro evangelhos, reunindo força e momentum como narrativas
que ineroxavelmente leve para um clímax. Marcos e Joao, em particular,
arranjaram seus evangelhos para não deixar duvida que a paixão é o evento principal.
Por esta razão, a grande declaração do livro de Marcos é:
Quando o centurião que estava em frente de Jesus ouviu o seu brado e
viu como ele morreu, disse: "Realmente este homem era o Filho de Deus!
" Marcos 15:39
No Evangelho de João, vemos
repetidas referencias para sua hora da glória. Ver João 8:28, 3:14,12:32.
A CRUZ COMO CENTRO CRISTÃO DO ENTENDIMENTO
O lugar da cruz na teologia cristã
tem sido o assunto desde seu começo.
Ensinar sobre a cruz é algo muito
difícil. Vemos isto na Segunda Carta aos Corintios, onde Paulo se esforça para renovar
o evangelho. Tomar sua cruz, como Jesus nos chamou para fazer, significa uma total
reorientação de nos mesmos em direção ao caminho de Cristo.
A crucificação é a pedra de toque
da autenticidade cristã, que dá o real significado a tudo incluindo a
ressurreição. A ressurreição não é uma demonstração
de poder divino isolada, não está desvinculada do primeiro ato. A ressurreição
é a reivindicação do homem que foi crucificado. Sem a cruz como centro da proclamação
cristã, a historia de Jesus pode ser tratada como outra historia de uma figura
espiritual carismática. É a crucificação que marca o cristianismo como algo
definitivamente distinto na historia da religião. É na crucificação que a
natureza de Deus é verdadeiramente revelada. Já que a ressurreição é o poderoso
trans-historico SIM para o historicamente crucificado Filho, podemos declarar
que a crucificação é o evento histórico mais importante que já aconteceu. A ressurreição
é um evento trans-historico plantado com uma história, não cancela a contradição
e a vergonha da cruz na vida presente, ao invés disso, a ressurreição ratifica
a cruz como a maneira que ela aconteceu.
A igreja de Corinto é um caso
teste importante, eles pareciam incapazes de localizar corretamente a historia
da cruz. Eles se colocavam ou para além da cruz como levantados da morte,
super-espirituais – 1Co 2:15, 14:37- ou
abaixo da cruz, no sofrimento que estava antes dela e através dela – 2Co 12:11.
Para Paulo, estes problemas eram deficiências em relação ao amor. Por isto, ele
escreve o capitulo 13. Apenas na perspectiva da cruz pode a verdadeira natureza
do amor cristão ser vista contrario aquilo que o mundo chama de amor.
O DESAFIO DO GNOSTICISMO PARA
TEOLOGIA DA CRUZ
Em suas muitas formas e maneiras,
o gnosticismo tem sido um rival para o cristianismo.
O primeiro passo para entendermos
o que seria o gnosticismo é olhar para palavra grega gnosis que significa
conhecimento. Todas as varias formas de
gnosticismo estão fundadas na crença que um conhecimento privilegiado
espiritual é o caminho da salvação. Esta ideia religiosa familiar não parece
muito estranha, afinal, alguns diriam que até mesmo Jesus reuniu um grupo de
pessoas privilegiadas que foram ensinadas em privado. A dificuldade começa com
a sugestão de que estes privilégios não são para todo mundo. O que Jesus
ensinava para seus discípulos foi para ser conhecido por todo mundo:
Portanto, não os temais; porque nada há encoberto que não haja de
revelar-se, nem oculto que não haja de saber-se. O que vos digo em trevas
dizei-o em luz; e o que escutais ao ouvido pregai-o sobre os telhados. Mateus
10:26,27
Gnósticos são monges do mistério,
eles afirmam que sabem coisas que outras pessoas não sabem. Paulo alertou os cristãos de Corinto: nem todos
possuímos gnosis (1Co 8:7) – as referências sarcásticas para esta suposta
sabedoria – 3:18,4:10,6:5- são parte de sua tentativa de corrigir a soberba
gnóstica que havia naquela congregação. Ele espera vencer fazendo tola a
sabedoria deste mundo. Os corintos tinham aparentemente enviado uma mensagem
para Paulo dizendo que todos possuíam gnosis. Sim, Paulo replica, mas há
limites para a gnosis.
Ora, no tocante às coisas sacrificadas aos ídolos, sabemos que todos
temos ciência. A ciência incha, mas o amor edifica. E, se alguém cuida saber
alguma coisa, ainda não sabe como convém saber. Mas, se alguém ama a Deus, esse
é conhecido dele. 1 Coríntios 8:1-3
Paulo aqui faz duas coisas: 1. Muda
a ênfase de conhecimento para amor e 2. Reverte a direção do conhecer. É Deus
que tem conhecimento de nós, através do amor. (ver 1Co 13:2,8-9,12-13)
Uma leitura cuidadosa de 1Co 13
em seu contexto revela que há ali um texto anti-gnostico. O conceito todo do
privilegio espiritual gnosis é colocado em questão pela iminência do dia do
Senhor, os pares de agora/então apontam para a segunda vinda quando toda gnosis
humana será trocada pela perfeita gnosis de Deus, aquele que nos conhece está
encarnado no amor de Jesus Cristo.
A ênfase gnóstica num conhecimento
esotérico tem varias ramificações. Onde há gnosticismo, haverá uma hierarquia
espiritual. Isto não é sempre obvio porque muitos dos programas gnósticos prometem
bem-estar, crescimento pessoal e acesso ao divino para todos, por vezes, com ênfase
em mulheres e minorias e marginalizados. Mais tarde ou mais cedo, a hierarquia
será conhecida, porque no gnosticismo a realidade mais alta é espiritual, então
o avanço depende de alcançar os degraus espirituais.
Em 1Co 12, há uma correção contra
uma certa soberba espiritual.
Porque os que em nós são mais nobres não têm necessidade disso, mas
Deus assim formou o corpo, dando muito mais honra ao que tinha falta dela; Para
que não haja divisão no corpo, mas antes tenham os membros igual cuidado uns
dos outros. 1 Coríntios 12:24,25
Quando Paulo diz inferior, ele não
está expressando sua opinião, mas refletindo sobre as visões gnósticas. Já que
aqueles que tinham o conhecimento gnóstico se achavam vivendo num plano
superior. O conceito de sofrimento redentivo no mundo tão central para a THEOLOGIA
CRUCIS é estranho ao gnosticismo. Já que esta considera a realidade material
não espiritual, uma conduta no mundo não poderia ser central eticamente como o
é no cristianismo.
1Jo é uma carta anti-gnóstica,
ela é enfática na materialidade da encarnação de Jesus – 1Jo1:1-2- busca
guardar o amor como o verdadeiro texto do conhecimento de Cristo -1Jo 2:4-5, 9.
E até em 1Tm 6:20 aparece a mesma ideia.
Virtualmente, toda a religião humana
é gnóstica. E suas características são:
1. Uma
ênfase no conhecimento espiritual – gnosis
2. A
conquista de uma hierarquia espiritual
3. O
menosprezo da vida física/material e um correspondente evitar das lutas éticas neste
mundo material.
O gnosticismo difere do
cristianismo de diversas formas, por exemplo, vários sistemas gnósticos não fazem
uma clara distinção entre Deus e a humanidade, entre Deus e a criação. Então,
se Jesus é filho de Deus, mas todos nós, potencialmente, também seriamos filhos
de Deus. Há uma confusão entre o homem como imagem de Deus e como uma
substancia igual a divina.
A declaração de Jesus que a carne
e o sangue não podem herdar o reino de Deus pode ser interpretada num sentido gnóstico
como dizendo que o corpo em si mesmo é não-espiritual, mas a intenção de João é
claramente anti-gnostica, o que ele quer dizer que sem ajuda o ser humano não tem
naturalmente ou qualquer potencial inato para o conhecimento espiritual a não ser
por dom imerecido de Deus. Alguns podem interpretar esta passagem como carne
sendo sinônimo de maldade ou insignificância, o problema é que a palavra carne
(sarx) nunca é usada desta forma no Novo
Testamento. Em João, carne carrega a conotação de incapacidade não maldade. O Espírito dá vida; a carne não produz nada que se aproveite (Jo
6:63). De fato, é exatamente a mesma palavrava que Jesus nos dá para comer: Porque
a minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é
bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece (Jo 6:55-56).
Paulo também
combateu essa depreciação da materialidade como má: 1 co 6:15-19.
Em todas as variantes
gnósticas, esta a crença que o ser humano por meio de um conhecimento especial
pode alcançar Deus, normalmente, negando sua natureza física.
GNOSTICISMO E A
CRUZ
Em todas as suas
formas, o gnosticismo nos impede de enxergar a cruz por completo. Estes ensinos
religiosos que recomendam uma satisfação pessoal espiritual sem o custo da luta
e do conflito. No cristianismo gnóstico, a iluminação da mente permite que se
evite o sofrimento. Nos evangelhos, o
caminho para a gloria passa por um sofrimento real, pela cruz.
Em tudo somos atribulados, mas não
angustiados; perplexos, mas não desanimados. Perseguidos, mas não desamparados; abatidos,
mas não destruídos; Trazendo sempre por toda a parte a mortificação do Senhor
Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também nos nossos
corpos; E assim nós, que vivemos,
estamos sempre entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se
manifeste também na nossa carne mortal. De maneira que em nós opera a morte,
mas em vós a vida. 2 Co 4:8-12
A CENTRALIDADE DA
NARRATIVA DAS PAIXOES
Hoje em dia, a
grande questão é a respeito da divindade de Jesus, já na igreja primitiva, a
grande questão era a respeito de sua humanidade – a heresia chamada de
DOCETISMO-.
Precisamos enxergar
que a cruz foi conquistada com a condição humana de Jesus, lembrando de sua
dor, limitação, abandono e desespero. Assim, a igreja deve entender a si mesma
como uma comunidade da cruz que sofre junto
(compaixão).
(compaixão).
“a distinção básica
entre religião e a fé cristã é a propensão das religiões em evitar,
precisamente, o sofrimento: ter luz em trevas, visão sem risco, esperança sem
desespero” Douglas John Hall
Devemos lembrar
que pregação da igreja primitiva estava centrada na cruz e ressurreição, que
significou uma mudança no pensamento daquelas pessoas, o que a gente vê na
frase “mas, agora” – 1Pe 1:12, 2:10,2:25 – Rm 3:21-22, Ef 2:11-13
É a cruz, somente
a cruz que sela sua missão e ilumina e explica tudo que Jesus fez. Está
consumado –João 19:30
A cruz é o novo
fator na experiência humana, o ato definitivo de Deus que mudou o mundo que faz
da proclamação do novo testamento algo único no mundo todo.
nós, porém, pregamos a Cristo crucificado, o qual, de fato, é escândalo
para os judeus e loucura para os gentios mas para os que foram chamados, tanto
judeus como gregos, Cristo é o poder de Deus e a sabedoria de Deus. 1 Coríntios 1:23,24
é a tarefa do pregador manter Cristo crucificado
como símbolo de loucura e escândalo, um sinal de contradição, e mostrar assim a
turbulência que deve haver na alma para que a palavra seja poder de salvação. A
proclamação da morte de Cristo envolve um engajamento com o Cristo ferido, o
Cristo que sofre.
Quando Paulo escreve aos corintos, reprovando
o modo como participavam da santa ceia, ele nos lembra que a base da unidade da
igreja é a proclamação da morte do Senhor até que Ele venha – 1Co 11:26-.
Discernir o corpo aqui tem um significado duplo: o corpo de Cristo crucificado
dado por nós (11:24) e o corpo de Cristo como a igreja em si. Naquela situação,
eles estavam negligenciando os membros mais humildes.
Nos evangelhos, vemos uma ligação ainda mais
clara da ceia com a cruz como em Jo 13:1. Mesmo no modo como Lucas constrói o
capitulo 22, com a conspiração dos sacerdotes e a entrada de satanás em Judas –Lc
22:2-6. O mesmo termo é usado por Paulo em 1Co 11:23-26, a noite que foi traído.