quarta-feira, fevereiro 19, 2020

E. STANLEY JONES: O ALVO DA VIDA HUMANA


Capítulo 2



O ALVO DA VIDA HUMANA.



A maioria de nós olha para o Sermão do Monte como uma série de exortações éticas desconectas ou, no melhor dos casos, pobremente conectadas. Isto, parece para mim, perder seu ponto e seu propósito. Ele tem um centro, e o Sermão todo gira em torno deste centro, então, ele é todo coordenado. O centro é a afirmação surpreendente: “Sede perfeitos, como o vosso Pai Celestial é perfeito”. Em torno disto como ideia central, o Sermão gira como um pivô.



O Sermão naturalmente desagua em seis grandes divisões:



I.                    O ALVO DA VIDA: Ser perfeito ou completo como o Pai nos Céus é perfeito e completo ( 5:48)

a.      As vinte e sete marcas desta vida perfeita (5:1-47)



II.                  Um diagnostico da razão pela qual o homem não alcança ou não se move em direção a este objetivo: Personalidade Dividida (6:1-6)



III.               A oferta divina de uma moral adequada e reforço espiritual para que os homens prossigam neste objetivo: o Espírito Santo para eles quando o pedem (7:7-11) ]



IV.               Depois fazer a oferta divina, ele reúne e enfatiza em duas sentenças nossa parte para alcançarmos este alvo.  Para os outros, devemos fazer como gostaríamos que fizessem para nós (7:12); para nós mesmos, devemos perder a nós mesmos quando entramos pela porta estreita (7:13).



V.                 O teste para saber se estamos nos movendo em direção ao alvo? Ou, se esta Vida Divina está operando em nós: pelos seus frutos (7:15-23).



VI.               O valor de sobrevivência desta nova vida e falta de valor de sobrevivência de uma vida vivida de qualquer outra forma: a casa fundada na rocha e a casa fundada na areia (7:24-27).





Precisamos, e precisamos desesperadamente, de uma redefinição do que é o objetivo da vida. Se estivermos aptos par ter uma adequada filosofia de vida, devemos estar certos sobre o que desejamos acima de tudo. Devemos ver o alvo se quisermos trilhar o caminho para ele com algum grau de confiança. Mas, o alvo da vida na Cristandade é muito nebuloso e incerto. É geralmente é dado como certo que o alvo é chegar no céu. Nossos hinos expressam nossos anseios mais profundos.  Dirija através deles e note a proporção deles que terminam no ultimo verso com alguma menção sobre o céu. Um hindu, funcionário do governo de alta reputação, certa vez, observou diante de um público muito inteligente: “Agora, os hindus depois de elaborar seu destino através de muitos renascimentos tem como seu primeiro alvo a união com o Divino. Vocês, cristãos, depois desta vida tem o céu concedido a você como recompensa por seguir a Cristo.  Por favor, amplie suas medidas”. Eu me achei contorcendo internamente sobre sua declaração do que se toma por certo como o alvo cristão. Isto me parece barato e moralmente mau colocar como nosso alvo de vida, o céu dado em recompensa por um serviço fiel, juntamente com o majestoso sistema de karma em que o homem trabalha seu destino através de incontáveis renascimentos como resultado do que ele fez e é.

Contudo, contorcidos como podemos, explicado como podemos, não deixa de ser verdade que o céu concedido e o inferno imposto estão no campo da mente da Cristandade como o objetivo final. Eu não quero pretender afirmar que toda a Cristandade afirma esta visão, mas eu acredito que nas mentes da maioria, esta visão tem lugar. Eu digo “na mente da Cristandade”, para quando eu volto para o Novo Testamento para encontrar o que é seu objetivo, e vejo algo distinto. Seu objetivo é que o homem seja perfeito como o Pai nos céus é perfeito. Esta não é uma declaração isolada contida no Sermão do Monte. Ela é o tema do Novo Testamento.

A não ser pelo livro das Revelações, que deixamos de lado por um instante, o Novo Testamento fala trinta e três vezes sobre a perfeição como alvo. Ele menciona o céu, doze vezes como um lugar que o homem vai depois daqui. Não estou incluindo nesta conta, o reino dos céus, que, claramente, não deve ser identificado com céu como um lugar, já que em uma de suas frases, ao menos, se diz que o reino dos céus está entre vós. Mas, em nenhuma das doze vezes é dita que o paraíso é o alvo da vida. O céu é estabelecido como a estrutura para algo mais importante em seu centro, que a coisa central é a perfeição de caráter como o Pai dos céus é perfeito. O céu é um subproduto do ser aperfeiçoado. Volte aos trinta e três lugares onde a perfeição é mencionada e encontrará que isto não é marginal e incidental, mas central e enfático. Veja alguns exemplos: “E ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres, com o fim de preparar os santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado, até que todos alcancemos a unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, e cheguemos à maturidade, atingindo a medida da plenitude de Cristo”.(Ef. 4:11-13). Aqui, o fim do trabalho do apostolo, do profeta, do evangelista, do pastor  e do ensinador é produzir um homem perfeito- perfeito,  não sem qualquer padrão, mas na medida  da estatura da plenitude de Cristo. No Sermão do Monte, sermos perfeitos como o Pai é perfeito  e aqui sermos perfeitos de acordo com a estatura de Cristo, mas como são um, o alvo é o mesmo. Jesus em outro lugar colocou o alvo nestas palavras: “O discípulo não é superior a seu mestre, mas todo o que for perfeito será como o seu mestre”. (Lucas 6:40)

Paulo diz novamente: “Não que eu já tenha obtido tudo isso ou tenha sido aperfeiçoado, mas prossigo para alcançá-lo, pois para isso também fui alcançado por Cristo Jesus. Irmãos, não penso que eu mesmo já o tenha alcançado, mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que ficaram para trás e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo, a fim de ganhar o prêmio do chamado celestial de Deus em Cristo Jesus”. (Fp 3:12-14). Qual seria este prêmio? O prêmio evidentemente era que ele seja perfeito e por nada menos que sito que ele estava correndo ou  confiando em Cristo. De novo: “A quem anunciamos, admoestando a todo o homem, e ensinando a todo o homem em toda a sabedoria; para que apresentemos todo o homem perfeito em Jesus Cristo; E para isto também trabalho, combatendo segundo a sua eficácia, que opera em mim poderosamente”(Colossenses 1:28,29). O fim do trabalho de Paulo  não era que seus convertidos obtivessem o céu, mas que cada homem pudesse ser perfeito. Quando Jesus diz para o jovem rico, Jesus respondeu: "Se você quer ser perfeito, vá, venda os seus bens e dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro no céu. Depois, venha e siga-me". (Mateus 19:21)  Ele não quis dizer que a venda de tudo o faria perfeito, mas  que isso eliminaria os obstáculos  e o colocaria seus pés no caminho da perfeição.

O ideal da perfeição da personalidade humana disposto no Novo Testamento até o livro de Apocalipse foi escrito. Ele foi descrito num período de perseguição e cristãos viam o céu como uma libertação.  Desde então, a ênfase tem sido mudada e céu e inferno agora tomam conta do campo. É mais barato e mais fácil. Não quero dizer que no Livro do Apocalipse não há uma nota de redenção de um caráter moral. Existe sim. Mas, os homens acharam mais fácil tomar a estrutura de um céu lá fora que é retratado do que o fato de uma perfeição interna de caráter que é o centro deste céu. A ênfase do Novo Testamento deve ser restaurada.  Porque se o alvo do cristão é nada menos que a perfeição moral e espiritual individual do caráter então eu posso endireitar meus ombros  e olhar para o mundo cheio de pessoas pensativas diretamente nos ohos, pois meu objetivo não é moralmente barato e nem ruim. Ele é um alvo que posso moralmente respeitar  com todo o meu coração.  Não sei nada melhor.

 Além disso, este objetivo na vida esta alinhado com o desenvolvimento que acontece  na natureza, que parece, nas palavras de Tagore, "levanta as mãos  fortemente  rumo à  perfeição ".

Entretanto, a palavra  perfeição nos deixa um pouco envergonhados. Parecendo  ser algo muito fechado e terminado.  Talvez a concepção de uma vida completa deveria nos fazer menos hesitante que a vida perfeita.  Mas, para ter a concepção do Novo Testamento devemos saber o que é  a vida completa.

O objetivo  final de cada sistemas poderia ser os colocados aqui:

Judaísmo : permanecer  na Casa do Senhor para sempre, assim Jeová o recompensara.


Hinduismo: deve se emergir no Impessoal, mesmo em Brahma, o impessoal. 

budismo:  deve estar na fronteira  entre o Ser e o Nao-Ser mesmo o Nirvana  é  um Ser e Não-Ser.


Islã : deve ter o paraíso de prazer que o próprio  Allah, o todo poderoso  deseja.

Gregos: deve estar entre  os deuses e ser feliz, mesmo porque os deuses são brilhantes e sensualmente felizes.

Humanismo: deve deixar de existir, mesmo porque  todas as coisas devem findar em dissolução.

Cristo: deve ser perfeita como o pai no Deus é perfeito.

Este alvo que Cristo coloca diante de nós é  o  único que não precisamos  nossa desculpar.  Ele diz para o humanista que ele deve ir além do humanismo em sua afirmação dos valores humanos.  Ele afirma que o homem busca perfeição . Isso faz do humanismo com sua pequena  visão do destino final do homem parecer não-humanismo. Isso coloca valor e dignidade e sentido dentro da personalidade  humana.  Um Deus completo e um homem completo devem estar no mesmo universo. Seu alvo não é  uma negação mas uma poderosa afirmação.  O essencial deve ser perfeito. O  Oriente não é  apenas um cinismo do mundo, é  uma personalidade  cínica.  Seu comportamento não é  apenas ficar livre do mundo mas também ficar livre da personalidade seja no Nirvana ou seja no Brahma.  Assim, o mundo é  nada e os valores morais não tem um significado final para qual eles possam pertencer e isso será descartado  na versão final. Por outro lado, o evangelho afirma o mundo e afirma a moralidade porque ele afirma a personalidade.  Jesus disse: "quem quiser salvar sua própria vida  perder-la-à mas quem perder por amor do meu nome, salva-la-à". A personalidade  é  finalmente afirmada, ela salva viva. Budismo  salva se estiver morta. Hinduismo salva ela na perda de sua identidade em Deus.  Somente o evangelho a salva quando viva.

Mais do que isso,  se somos para sermos perfeitos como o Pai nos céus é perfeito, então as mesmas leis morais que governam o agir de Deus deve governar o nosso. Em outras palavras, as leis morais não estão enraizadas na mudança de costumes dos homens, mas elas estão fincadas na própria natureza do Divino.  Isto nos dá um universo moral estável e isto significa que as distinções morais tem um significado último.  Elas não são lunáticas, para Deus não são lunáticas. Elas são confiáveis e ordenadas. Eu posso ter um respeito moral por um Deus que vai agir em tudo que ele requer do homem. O universo é, então, todo uma peça disto é um universo e não um multiverso.

"Tudo que Deus requer de mim, 
Eu sei que Ele em si mesmo é"

Aqui está a diferença essencial entre o evangelho e os outros modos de vida; Hinduísmo e Budismo baseiam suas éticas na lei do karma, que é independente de Deus; o Islã baseia sua moralidade na vontade de Deus, Cristo baseia isto na natureza e essência de Deus. Estas leis morais são a própria expressão de seu ser e pede ao homem nada que ele mesmo não praticou. Emerson coloca nestas palavras: 

"Não seja meu olhar onde os querubins e os serafins não podem ver,
Mas, nada pode ser bom nele que seja mal em mim"

Um pensativo editor hindu resumiu isto  para mim desta maneira: "Hinduismo é Deus sem moralidade. Budismo é moralidade sem Deus. Cristianismo é Deus com moralidade". 

Isto tem sido sugerido que o Sermão do Monte veio de fontes budistas, mas isto negligencia a essencial diferença entre dois conceitos de moralidade, um que está baseado numa lei impessoal do karma, que não tem qualquer conhecimento de qualquer Deus,  e outro que baseia na natureza e essência própria de Deus. Além disso, em um, a personalidade é finalmente perdida e noutro, a personalidade é afirmada e aperfeiçoada como Deus é perfeito.  As diferenças são muito maiores que as concordâncias.
Muitos que pensaram sobre a perfeição cristã como Wesley, em busca de trazer a perfeição para dentro das fronteiras desta vida, ensinaram que a perfeição falada no Sermão do Monte diz respeito a perfeição em amor e não no caráter ou na conduta. Certamente, a perfeição falada aqui inclui perfeição no amor como seu começo e base e isto pode ser encontrado com as fronteiras desta vida, mas se isto é tudo, então a perfeição não é perfeita o suficiente. Para haver a perfeição no amor, por vezes, é reivindicado junto uma grande imperfeição no caráter e na conduta. Não, a perfeição mencionada mencionada aqui é muito mais abrangente pois devemos ser perfeitos como o Pai nos céus é perfeito, não, claro, na infinitude e quantidade, mas certamente na qualidade. Isto visualiza algo que, enquanto isto começa nesta vida, não pode ser confinada ou pode ser completada com as fronteiras desta vida, mas deixa aberto a possibilidade de eras de crescimento e desenvolvimento.  Um céu em que  de eras de crescimento em perfeição deve  ser um céu que vale a pena. 

Se a perfeição e não o prazer é objetivo, então este universo tem de ser um universo de disciplina, de dor, mesmo de dureza. Eu preciso deste tipo de escola se minha graduação signifca que "Genius é desenvolvido na solitude, mas o caráter é feito na corrente da vida" em meio a bufês e bençãos. Eu aceito o curriculum desta escola, porque acredito que sairá um caráter. Uma das grandes necessidades da vida religiosa moderna na Cristandade é disciplina.  Ela tem sido, de todo, muito barata e fácil. O alvo da perfeição deveria ser colocar esta muito necessária disciplina dentro da vida cristã. 

Seja vós, então, perfeitos como o Pai nos céus é perfeito, que alvo para a vida humana! que profundidade e dignidade e sentido que isto coloca dentro da vida! "Eu sou um girino  de um arcanjo" clamou alguém. Mas, eu sou mais: eu sou o embrião  do homem que é para ser perfeito como o Pai é perfeito. Logo, nada vai me parar. Não posso demorar pelo esquecimento. Ó, pequenez, não ponha cãibra, as mãos em mim, porque fui feito para a grandeza; carne, não me prenda, pois estou indo para um alto destino. Ó mundo, me ensina, mas não me enreda, pois o perfeito me chama. E eu devo ir.

Nenhum comentário: