sexta-feira, fevereiro 21, 2020

E. STANLEY JONES: O QUE ELES SÃO EM SI MESMOS (1)


CRISTO NO MONTE

PARTE DOIS 
O NOVO TIPO DE HUMANIDADE.

capítulo 3 - O que eles são em si mesmos -1 



Num primeiro pensamento, perfeição como o alvo da vida parece muito individualista e coisa de outro mundo- os dois pecados teológicos mortais, de acordo com o homem moderno. Tomado fora de contexto, isto é verdade, mas em seu contexto, isto não é verdadeiro.

Jesus estava se dirigindo a um grupo. Enquanto, o "vós" no "seja vós perfeitos" refere-se a eles como indivíduos mas também se refere a eles como um grupo - um grupo que representava a nova humanidade. Tanto o novo homem como a nova sociedade deviam ser perfeitos. Se Jesus tinha apresentado este ideal de perfeição nos versos iniciais do Sermão, isto teria surgido diante dos homens de modo abrupto, como elevado, tão grande como o Monte Evereste- e seria pouco convincente. Ao invés disto, ele gradualmente abriu um tipo de vida tão belo e tão atraente que quando ele chegou no clímax, não haveria nada mais a dizer que:"Seja vós perfeitos, como o Pai nos céus é perfeito" . Qualquer coisa a menos seria um anti-clímax. 

Nos quarenta e cinco versos vivos (Mt 5:3-47), ele despeja dentro do alvo da perfeição tal cuidado, humanidade, e este conteúdo terreno que o alvo, quando colocado, não está além dos limites desta vida, mas sim, firmemente fundado nesta vida e era aquilo que devemos lavrar nas relações humanas. A chave para este verso, "Então, seja vós perfeitos" é a palavra "então". Ela aponta para trás, não meramente para o versículos precedentes como alguns pensam, mas para o todo daquilo que Ele estava dizendo. Isto reúne e coloca no versículo quarenta e oito, todo o conteúdo  dos quarenta e cinco versículos anteriores e faz destes o conteúdo da perfeição. Destes versos, encontramos aqui vinte e sete marcas da vida perfeita, e estas marcas mostram quão profundamente social e, ainda assim, quão profundamente individual é este ideal.

A vida perfeita consiste em ser pobre de espírito, em chorar, em ser manso, em ter forme e sede pela justiça, em ser misericordioso, puro de coração, em ser pacificador, perseguido pelo bem da justiça e ainda se alegrar e ser excessivamente feliz, em ser sal da terra e luz do mundo, ter uma justiça que excede, em ser desprovido de raiva com o irmão, usar nenhuma palavra insolente, permitindo que ninguém tenha algo contra alguém, ter um espírito para a concórdia rápida, sem armazenar pensamentos luxuriosos, ser incansável contra aquilo que ofenda o maior, ter relações corretas na vida do lar, ser verdadeiro em palavra e atitude, virar a outra face , dar o capa também, andar a segunda milha, dar a quem pede e não desviar daqueles que te emprestam,amar mesmo seus inimigos, orar por aqueles que perseguem - então vocês serão filhos do seu Pai e você será perfeito como o Pai no céu é perfeito.

Não há nenhuma destas vinte e sete marcas da vida perfeita que é irrelevante ou insignificante e nenhuma que não seja completamente essencial  para a vida perfeita. Jesus não é apenas maravilhoso no que coloca aqui, mas também naquilo que deixou de fora. Alguém tem sugerido que praticamente tudo que que Jesus ensinou poderia ser encontrado no Talmude. "Sim", é a resposta, "e muito mais além disso". O Talmude contém tesouros em meio a desperdícios. Mas, Jesus acerta o essencial e sempre o essencial. A mente dele era um filtro. Nunca se perdia para um assunto acessório, nem tomou atalhos ou perdeu o ponto. Isto vai vir a luz, eu acredito, quando olhamos mais especificamente para estas vinte e sete marcas.

A apresentação da vida perfeita por Jesus se divide em cinco porções maiores:

1. O QUE OS CRENTES SÃO EM SI MESMOS (AS BEM-AVENTURANÇAS) (vs 2-12)
2. O QUE ELES SÃO PARA O MUNDO (SAL, LUZ) (vs. 13-16)
3. O QUE ELES SÃO PARA O PASSADO( AO INVÉS DE DESTRUIR, ELES CUMPREM) (vs. 17-20)
4. O QUE ELES SÃO EM SEUS RELACIONAMENTOS ÍNTIMOS COM OS OUTROS (vs. 21-47)
5. QUE ELES DEVEM SER PERFEITOS COMO PAI É PERFEITO (vs. 48)

Jesus começa com aquilo que eles devem ser neles mesmos. Ele começa no centro. Ele insiste que o homem não pode viver na circunferência a menos que eles estejam vivos no centro. A tentativa moderna é ter quantidade de vida na circunferência apesar da qualidade de vida no centro. Jesus sabia que isto terminaria em futilidade, cinismo e total futilidade.  Quando ele faz novas todas as coisas, antes de tudo, ele coloca suas mãos sob o coração humano. Ele sabia que "vocês não podem criar a idade de ouro a partir dos instintos de chumbo" . Ele falou sobre o que eles deveriam ser (vs 2-13), antes dele falar sobre o que eles fazem ou não fazem (resto do Sermão). Ele começa dizendo: "Bem-aventurados" são vocês que em si mesmos determinam a vida para vocês. Vocês são seu próprio paraíso e vocês são seu próprio inferno.  Ele sabia que o " inferno, por vezes, irrompe no homem como se fosse uma combustão espontânea" e que o céu é um estado da mente antes que isso pode ser um lugar. Ele veio, então, não para colocar o homem no céu, mas, para colocar o céu dentro do homem; não para tirar o homem do inferno, mas, para colocar o inferno fora do homem. Se "conduta são três quartos de uma vida", então o caráter é o todo, pois o "caráter é destino". 

Para descrever o estado daqueles que estão bem alinhados por dentro, ele usa uma palavra que está cheia de significado "bem-aventurado". Esta palavra é "makarios", uma palavra que Aristóteles usou para bênção divina em contraste com a felicidade humana. A palavra ordinária para a felicidade humana era eudamoni, mas, ela passou  a ter um significado como de fraco. Já que nós participantes da perfeição que Deus tem, então somos partícipes da alegria que é divina. A primeira nota do ensino de Buda é Sofrimento, a primeira nota que Jesus coloca é Alegria. Mas, esta alegria não é dependente dos acontecimentos. Suas fontes estão dentro. "Bem-aventurados são". Então,  esta nota de alegria não é uma nota barata de jazz, fácil e superficial. Ela soa as profundezas antes de atingir as alturas. Mas, a palavra bem aventurado é mais do que feliz, ela literalmente significad, não sujeito aos fatos, imortal. Ela apresenta um tipo de vida que se levanta acima do mecanismo fatídico da vida terrena para uma liberdade moral e espiritual. Então, os dois significados são tomados juntos que poderiam dar o significado de abençoado, que é, "ser imortal e feliz".

As Beatitudes são nove em número e elas estão separadas em três grupos de três cada um. O primeiro grupo começa com "Bem-aventurados são os pobres de espírito pois deles é o reino dos céus". Muitos acham que o significado de pobre de espírito foi  tirada do Antigo Testametno  como o pobre remanescente em busca da redenção de Israel, alguns tomam a frase como sinônima de humildade e alguns, como Tertuliano, criam o termo como "pedintes em espírito".  Nenhum destes, me parece, soar sua profundidade. Eles me parecem superficiais. Esperaríamos Jesus soar uma nota mais radical desde o começo. Ele faz. Uma palavra que Lucas usa para pobre é "ani"- um pobre por circunstâncias, mas a palavra usada aqui é, na verdade, um pobre por escolha. A palavra, então, mais próxima de seu sentido original seria um "renunciante em espírito".

Há apenas duas grandes filosofias de vida. Nietzsche resumiu uma delas quando disse:" Afirme-se a si mesmo. Cuide de nada exceto a si mesmo. O único vício é a fraqueza, e a única virtude é a força. Seja forte, seja um super-homem. O mundo vai te pertencer se você puder ter ele". Aqui é o culto da auto-expressão. Aqui é o Darwinismo como uma filosofia de vida. O método de sobrevivência em uma natureza inferior é transformado no método da sobrevivência entre os homens. Em Nietzsche, este culto da auto-expressão é cruel. Em outros, ele é refinado, mas eles sempre apontam para um sentido final que o que importar é buscar os próprios interesses, seja isso uma auto-afirmação insensível ou uma auto-cultura refinada. Jesus permanece como extremo oposto a isto, e diz que o caminho para encontrar a vida é perder a vida, que o caminho da auto-realização é pelo caminho da auto-renúncia.  Ele diz: se qualquer um quiser vir após mim, deve negar a si mesmo (literalmente, se rejeitar a si mesmo) e tomar sua cruz e o seguir. Não há dois caminhos que poderiam ser mais opostos. Nietzsche morreu num hospício e o mundo o seguiu até a beira do inferno na última guerra como uma consequência natural desta atitude de auto-afirmação. Sua gênese é o egoísmo, seu êxodo é o suicídio. 

Jesus dá um golpe na atitude de auto-afirmação  desde o começo. Ele diz que este "self" deve ser renunciado. Em Marcos 9:43, ele diz" que melhor entrar na vida eterna, mutilado e no versículo 47 " que é melhor para nós entrar no reino de Deus com apenas um olho". Aqui a vida  e o reino de Deus são usados de maneira sinônimas. Esta primeira beatitude poderia, então, ser lida da seguinte maneira: "Imortais e felizes são aqueles que renunciaram em espírito para eles é vida". Eles encontraram vida em deixando isso seguir. Esta é outra forma  de colocar este verso que, para mim, é central no ensino de Cristo. Aquele que buscar salvar sua vida a perderá, mas aquele que perder sua vida a encontrará. 

É muito interessante notar que Walter Lippmann, em seu "Preface to Morals", depois de deixar Deus ir, com uma pontada, girando melacolicamente para um humanismo, nos dá o que ele chama de alta religião. Sua alta religião é esta: aprender não a querer nada da vida que a vida  não contém, mas limitar o desejo de alguém até que ele se harmonize com a realidade; encarar a vida num espírito de desinteresse". Nós buscamos por conforto, por sucesso, por vida eterna. A alta religião  é a regeneração destes desejos". É muito notável que Hinduísmo e Budismo, Lippmann e Jesus todos convergem para uma coisa, a dizer, a renúncia do desejo. Lippmann diz:  "limitar desejos", Hinduísmo diz: Abrir mão dos desejos para separar a existência, Budismo diz: "Cortar na raiz do desejo mesmo pela vida", Jesus diz: "abençoados os que renunciam em espírito". Lippmann  poderia limitar os desejos, então num mundo que é claro desapontar-se, você não estaria desapontado se você não buscasse por muito; hinduísmo poderia te livrar do desejo em separar a personalidade  ao adentrar para o sem desejo Brahma; o budismo livraria os homens da tristeza cortando a raiz do sofrimento, a saber, o desejo pela vida em si, alcançando o nirvana, que é um estado de apagar a vela. Jesus libertaria do desejo no nível do self ao trocar isto por um desejo maior que o amor a si mesmo, nos trazendo dentro de um reino de valores maiores.

Lippmann termina numa desilusão para o mundo, o hinduísmo termina em uma perda do mundo e da personalidade num impessoal Brahma, budismo acaba em na extinção do mundo e da personalidade, Jesus termina num reino de valores positivos que encontra a vida de um e de um novo mundo, o reino de Deus na terra. Com a exceção de Jesus, que termina numa completude final, cada um desses termina num vazio final. 

Jesus pede a única possessão que temos: nós mesmos. Auto-renúncia é mais profunda que uma renúncia do mundo, porque um poderia abrir mão do mundo mas não de si mesmo. Eu tenho visto muitos sadhu que são pobres em coisas materiais, mas não pobres em espírito, pois se você cruzar com eles, eles poderia voltar até você em raiva. Nenhum homem é livre até ele  ser livre no centro. Quando ele anda aqui, ele é livre de vez. Quando o self é renunciado, então alguém permanece totalmente desiludido, à parte, procurando por nada. Ele antecipa os sofrimentos, as bofetadas, as rasteiras, as separações, os desapontamentos da vida por sua aceitação nesta grande renúncia. Esta é a estratégia suprema do retiro.  Você pode então dizer para a vida: "O que você pode fazer comigo? Eu não quero nada!" Você pode dizer para a morte: "O que você pode fazer para mim? Eu já estou morto". Então é um homem verdadeiramente livre. No banho da renúncia , ele lavou sua alma de diversos clamores, desejos conflituosos.  Pedindo por nada,  se nada vier até ele, é tudo puro ganho. Então a vida se torna uma constante surpresa. 

A filosofia grega tenetou fazer um homem invulnerável, mas aqui sempre havia um tendão de Aquiles exposo quando a vida se machucava. O evangelho começa na cruz, então um homem escolhe ser completamente vulnerável, ele fere a si mesmo até a morte. Então, ele é imune às feridas. Não se pode derrotar um homem que já aceitou a derrota; não se pode quebrar o quebrantado, não pode matar um homem que escolheu morrer, ele agora é imortal. Buda viu que o fim da vida era morte e isto pararia ali, Jesus viu que o começo da vida era morte, e não parou mas foi para uma manhã de páscoa.

Eu vi um muito infeliz e raivoso pássaro batendo por horas contra uma janela, lutando com o seu reflexo. Então, ele, de repente, parou, ouviu e pareceu ouvir um chamado das portasm deixando de lutar com si mesmo e voou longe. Depois de um tempo, eu o ouvi cantando num jardim. Jesus vem ao homem que está lutando consigo e com os outros, cheio de choques e confusão, e em palavras, "Imortal e feliz é o homem que renunciou em espírito" dá a eles o chamado para a vida completa. Eles ouvem, deixam a si mesmos para entrar numa vida mais ampla e então, no jardim do paraíso restaurado, eu escuto eles cantarem. 

Deissmann diz do costume em voga que no tempo de São Paulo, a manumissão de um escravo através do rito solene de sua compra  por um e depois contra todo o mundo para sair...templo livre, vender ele para o deus, e recebido do templo, o dinheiro da compra que o escravo tinha depositado previamente ali a partir de suas economias. O escravo então se tornava propriedade do deus, mas contra o mundo ele era um homem livre ( Saint Paul, p. 141). Isto é algo que Jesus quis dizer quando perguntou aos homens, que escravizaram a si mesmos, para venderem-se a Deus, então contra todo o mundo, ficarem como homens livres. 

O empreendimento do homem moderno é encontrar um ajuste. Mas, normalmente ajustam a si mesmo completamente para o universo material que  se tornam mais uma peça, e no fim se tornam um pedaço de um mero mecanismo. As primeiras palavras de Jesus, foi para sairmos deste ajuste num  nível, encontrar um ajuste maior num nível maior. Ali encontrará a vida real. O fim da renúncia em espírito não é renúncia, mas receptividade: Deles é o reino dos céus ou deles é a vida. A auto-renúncia termina na auto-realização.

Tudo pertence  ao homem que busca nada. Tendo nada, ele possui todas as coisas na vida, incluindo a vida em si. Nada vai ser negado para o homem que nega a si mesmo. Tenho escolher ser totalmente sollitário, ele agora toma posse do fato social do universo, o reino de Deus. Religião é o que o homem faz em sua solidão, diz Whitehead. Eu poderia dizer, ao invés, que a real religião começa quando um homem decide ser mais solitário, decide se retirar completamente, não quer nada do mundo do homem ou da matéria.  Ele tem Deus. Isto é suficiente. Agora, ele está pronto para voltar para o mundo. Ele é limpo dos desejos, e com um novo motivo. Este desapego é necessário para um novo anexo. Asceticismo é aqui afim de um asceticismo e ambos em busca de uma nova aceitação do mundo. A vida mais completa e plena vem de uma vida completamente vazia, uma manhã de páscoa vem do Calvário.

"Out of the deep a shadow,
Then a spark;
Out of the cloud a silence,
Then a lark;
Out of the heart a rapture,
Then a pain;
Out of the dead cold ashes
Life again!"
But this attitude of renunciation needs correction.
The fact is that every virtue needs
correction by its opposite virtue. In the tropical
forests of the East Indies is a flower which if
taken by itself smells putrid, but mingled with
the other scents of the forest smells pleasant.
Many a virtue taken by itself smells bad! We
have seen good people who were anything but
attractive, for their virtues were uncorrected
by opposite virtues. Eenunciation in spirit ends
in barren asceticism unless it is corrected and
supplemented by world-participation. Jesus, in
his amazing balance, provided that each of the
virtues laid down in the Beatitudes was to be
corrected by its opposite virtue. But lie went
further than that, for virtues may thus cancel
each other instead of combining in a higher
third. He saw that they combined into a higher
virtue which, summed up the best in each. Hence
the Beatitudes go together, not in pairs, but in
groups of three. This reminds us of Hegel's dictum
that thought moves through three stages:

thesis, antithesis, and synthesis. We find these

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