domingo, outubro 04, 2020

GEERHARDUS VOS: CONTEUDO DA REVELAÇÃO ESPECIAL PRÉ-REDENTORA

 


CAPITULO 3

CONTEUDO DA REVELAÇÃO ESPECIAL PRÉ-REDENTORA

QUATRO PRINCÍPIOS

1.       PRINCIPIO DA VIDA: simbolizado pela Arvore da Vida

2.       PRINCÍPIO DO TESTE OU PROVAÇÃO: simbolizado pela Arvore do Conhecimento do Bem e do Mal

3.       PRINCIPIO DA TENTAÇÃO E PECADO: simbolizado na Serpente

4.       PRINCIPIO DA MORTE: refletido na dissolução do corpo.

1.PRINCÍPIO DA VIDA

A arvore esta colocada no meio do jardim.

O jardim é de Deus, um lugar de recepção do homem na comunhão com Deus em sua própria habitação. O caráter teocêntrico da religião encontra sua primeira, mas já fundamental, expressão nesse arranjo (cf. Gn 2.8; Ez 28.13,16).

A vida vem de Deus. A vida pode ser entendida como a comunhão com Deus.

A verdade, portanto, que é claramente estabelecida, indica que a vida vem de Deus; que, para o homem, ela consiste em proximidade de Deus e que o foco central da amizade de Deus com o homem é comunicá-la. Na sequência, o mesmo princípio aparece de maneira negativa por meio da expulsão do homem pecaminoso do paraíso (VOS, 45)

Para VOS,  a Arvore da Vida estava reservada para o futuro, para ser comida após o período de provação, seria um meio sacramental para comunicar essa vida mais elevada.

 

2. PRINCIPIO DA PROVAÇÃO

A Arvore do Conhecimento do Bem e do Mal.

a.       Interpretação mítica:  Enxerga a arvore como uma historia mítica que foi incorporada no registro bíblico, os deuses não querem que os homens tenham um privilegio divino, para alguns o conhecimento do bem e do mal seria a razão. O ponto em comum é a noção de um deus enciumado.

b.       Interpretação – conhecer como escolher: o nome seria a arvore da escolha do bem e do mal. Conhecer aqui significaria “a escolha independente  e autônoma  contra a direção de Deus sobre o que era bem  e o que era mal para o homem”.  O problema desta interpretação é a própria interpretação que ela faz do verbo conhecer que seria mais parecido com uma escolha presunçosa, mais como descrição de um ato do que propriamente de um estado do homem.

c.       Instrumento dado por Deus para conduzir o homem por meio da provação àquele estado  de maturidade moral e religiosa com à qual está relacionada sua bênção mais elevada:  o conhecimento do bem ou do mal não é uma coisa negativa em si mesma, mas deveria acontecer de maneira positiva, com o homem prevalecendo sob a provação. O homem obteria alguma coisa que ele não tinha obtido antes. Ele aprenderia o bem em sua clara oposição ao mal, e o mal em sua clara oposição ao bem (...)A ideia era o homem chegar a esta escolha por causa de Deus somente, por isto mesmo, há apenas o mero comando de Deus sem discussão ou explicações. Mas o propósito da provação era precisamente afastar o homem por um momento da influência de sua inclinação ética própria ao ponto em que sua escolha seria somente em razão de sua ligação pessoal com Deus.

A partir do verdadeiro entendimento do propósito da árvore é que nós devemos distinguir a interpretação aplicada a ela pelo tentador de acordo com Gênesis 3.5. Ela traz em si uma implicação dupla: a primeira é que a árvore tem em si mesma, de um modo mágico, o poder de conferir conhecimento do bem e do mal. Isso rebaixa o todo da transação da sua esfera religiosa e moral para a esfera mágico-pagã. Em segundo lugar, Satanás explica a proibição como tendo sido motivada por inveja. Já vimos que isso é um tipo de interpretação mitológica pagã. De novo, a declaração divina em Gênesis 3.22 faz alusão a essa representação enganosa do tentador. É irônica. (VOS, p.50)

3. PRINCIPIO  DA TENTAÇÃO E DO PECADO SIMBOLIZADO NA SERPENTE.

Há uma diferença entre provação e tentação, por trás, da provação existe o designio bom, enquanto que por trás da tentação, há um designio mau, mas ambos trabalham com mesmo material!

 

Deus não tenta a ninguém com intento maligno -Tg 1:13

Serpente real com poder demoníaco.

Por que a mulher? Talvez, por não ter recebido diretamente a ordem divina – Gn 2:16,17

Tentação

a.       Proposito central é inserir a duvida na mente da mulher que leva a desacreditar na Palavra de Deus. Após isso, a serpente diz que Deus havia proibido todas as arvores do jardim.

b.       A reação da mulher. Na sua primeira resposta, ela  confirma a ordem de Deus, mas estende o escopo da ordem para o não tocar. Ela começa um processo de ruptura entre os direitos de Deus e os seus próprios direitos. Ao ouvir isto, a serpente busca ativar a desconfiança da mulher à Palavra de Deus,

A intenção é fazer que a declaração de Deus seja tida como mentirosa e isso da maneira mais acentuada. E quanto à tentação de acusar Deus de mentiroso, as razões para a probabilidade de ele estar mentindo são acrescentadas: Deus é aquele cujos motivos fazem que sua palavra não seja confiável. A razão de ele mentir é seu egoísmo: “porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal”. (VOS, p. 53)

A mulher age na suposição de que os intentos de Deus não são amigáveis, enquanto Satanás é apresentado como aquele cujo desejo é o de promover o bem-estar dela.

4.PRINCIPIO  DA MORTE SIMBOLIZADO PELA DISSOLUÇÃO DO CORPO

A morte é a penalidade do pecado,                que a raça humana  se tornou sujeita à morte por meio do primeiro pecado.

Primeiro, a árvore da vida é representada como alguma coisa da qual o homem não havia comido ainda; portanto, ele não estava ainda dotado com vida e, consequentemente, sujeito à morte

Para VOS, a ARVORE DA VIDA era um sacramento futuro que seria dado ao homem.

Segundo, em Gênesis 3.19 somos informados de que se afirma de maneira explícita que o retorno do homem ao pó é natural: “até que tornes à terra, pois dela foste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás”.

Para VOS, não é possível usar este verso  para dizer que o homem foi criado mortal porque está dentro da maldição, como também não é possível discernir que a morte prematura como o castigo,pois a frase anterior fala de um processo lento. Para VOS, A explicação simples é que elas não declaram o encargo natural da morte, mas explicam particularmente a forma na qual a maldição da morte tinha sido expressa naquela expressão anterior, a forma de um retorno ao pó.

Terceiro, Gênesis 2.17 prova que o sentido da ameaça não era: o pecado causará a tua morte; mas, simplesmente: o pecado te submeterá a uma morte instantânea, prematura: “no dia em que dela comeres, certamente morrerás”.(VOS, p.54-55)

Quanto ao dia, a ideia é a da certeza do castigo – 1Rs 2:37

MORTALIDADE E IMORTALIDADE

IMORTALIDADE, no sentido FILOSOFICO, a persistência da alma mesmo após a dissolução do corpo com a manutenção da identidade do ser individual. Neste sentido, todos são imortais.

IMORTALIDADE no sentido TEOLÓGICO, o estado do homem no qual ele não não tem nada em si que venha causar a morte. Podemos dizer que o homem foi criado imortal, mas esta foi perdida por conta da Queda.

Nesse segundo sentido, pode-se dizer com propriedade que o homem foi criado “imortal”, mas não depois da Queda, pois mediante o ato pecaminoso o princípio da morte entrou nele. Se antes ele apenas estava sujeito à morte sob certas circunstâncias, agora ele tem de morrer inevitavelmente (VOS, p.57)

IMORTALIDADE no sentido ESCATOLÓGICO: tal imortalidade é propriedade de Deus que a tem por natureza, como também a natureza humana glorificada de Cristo, por conta da ressurreição, e daqueles que foram regenerados já em principio no tempo presente – Jo 11:26.

No primeiro sentido, ele nunca é mortal. No segundo sentido ou período, ele era tanto mortal como imortal, sendo que, em ambos, de acordo com a definição usada, ele era mortal, já que ainda não estava elevado acima da contingência da morte, mas era não-mortal já que não carregava em si a morte como se fosse uma doença. Aqui, portanto, imortalidade e mortalidade coexistiam. No terceiro período, ele é somente mortal, em todos os sentidos (exceção feita ao sentido filosófico): ele deve morrer; a morte está em operação nele. Finalmente, no quarto período, a palavra “mortal” tem apenas uma aplicação qualificada ao homem regenerado, enquanto durar seu estado terreno a morte ainda existe e está em operação em seu corpo, mas ela, em princípio, foi excluída do centro de seu espírito renovado e foi suplantada por uma vida imortal, a qual está destinada, no fim, a vencer e expulsar a morte. Nesse caso, a coexistência da mortalidade com a imortalidade está baseada na natureza bipartida do homem. (VOS, p.57)

Para VOS, a morte afeta o homem de diversas formas por conta de sua natureza bipartida – corpo e alma-.

No sentido filosófico, se considerando apenas a alma, ele seria imortal.

No sentido  teológico, pode ser considerado antes da queda como tanto mortal como imortal, pois não havia ainda o pecado e a semente da morte em si mesmo mas havia a morte como acidente de seu ser – (uma explicação um pouco confusa.)

Após a queda, ele é mortal em em si mesmo e também sujeito a morte.

No homem regenerado, a morte se aplica ao seu corpo, mas o centro de vida agora é imortal, o que dará uma vida após a morte.

Talvez, numa teoria tripartida do homem, estas explicações funcionariam melhor.

 Depois desse período confuso, VOS busca explicar o que significa a morte no texto de Genesis. Primeiro, ele rejeita que o texto diga que a partir daquele momento as pessoas se tornaram mortais ou que começariam a morrer, como vimos acima, ele já considerada que possibilidade da morte como predicado acidental para o sujeito.

Para VOS,  a Raiz da morte está em alguém ser enviado para longe da presença de Deus

Estava anunciado que a morte carregava a separação de Deus, uma vez que o pecado implicava tanto morte como exclusão para fora do jardim. Se a vida consistia em comunhão com Deus, então, pensando em termos de opostos, é possível interpretar a morte como sendo separação de Deus. (p. 58)

sexta-feira, outubro 02, 2020

GEERHADUS VOS: O MAPAMEAMENTO DO CAMPO DA REVELAÇÃO

 


CAPÍTULO 2

O MAPAMEAMENTO DO CAMPO DA REVELAÇÃO

Revelação Especial x Revelação Geral

GERAL: também é chamada de revelação natural

ESPECIAL: sobrenatural

A revelação geral vem a todos, a especial a um circulo mais limitado.

 

REVELAÇÃO NATURAL

Pode ser de NATUREZA INTERIOR- Deus nos revela a si mesmo por meio da consciência religiosa e da consciência moral ou por NATUREZA EXTERIOR  nas obras da natureza exterior.

Para VOS, deve haver algum conhecimento inato de Deus a partir da pressuposição de que o homem foi criado à imagem do próprio Deus.

Esse conhecimento natural deve ser acrescido de uma autorrevelação sobrenatural.

Para VOS, a sobrenaturalidade em revelação não se origina no fato do pecado.

A natureza interior não mais funciona normalmente no homem pecador. Seu senso de Deus, tanto moral como religioso, pode ter se tornado impreciso e cego e a busca por Deus na natureza exterior tem se tornado objeto de erro e distorção. O senso inato de Deus, estando mais perto do ser interior do homem, é mais afetado seriamente por esse do que sua observação externa da escrita (assinatura) de Deus na natureza. Daí a exortação nas Escrituras endereçada aos pagãos para que eles corrijam suas preconcepções tolas sobre a natureza de Deus derivadas das obras da criação (p.ex.: Is 40.25,26; SI 94.5-11). Contudo, a correção principal do conhecimento natural de Deus não pode vir da natureza interior em si; essa correção deve ser suprida pela sobrenaturalidade da redenção (VOS, p.34)

A função mais importante da revelação especial sob o regime do pecado não está tanto na correção da faculdade de percepção humana caída, mas na introdução do homem à verdade da redenção agora disponível.

 

Em virtude disso, é dada ao conteúdo essencial na nova revelação redentora uma forma permanente: primeiro, por meio da tradição; então, por meio do registro da tradição em escritos sagrados e inspirados. Ao final, não haverá nenhum requisito a ser acrescentado no estado aperfeiçoado das coisas seja para essa objetividade de conteúdo ou para essa estabilidade da forma

 

REVELAÇÃO ESPECIAL PRÉ REDENTORA E REDENTORA

Antes da Queda, havia uma revelação especial que transcendia o conhecimento natural de Deus?

A religião é um intercurso pessoal entre Deus e o homem, neste sentido, a religião necessita de um conhecimento baseado em fontes diretas.

O estado original do homem era um estado indefinido sob prova: ele permaneceria de posse do que tinha à medida que não cometesse pecado, mas esse não seria um estado no qual a continuidade de seu status moral e religioso pudesse ser-lhe garantida (...)Contudo, a natureza de um período de provas concentrado e intensificado requereria que o homem devesse estar a par do fato da provação e de seus termos. Daí a necessidade de uma revelação especial com provisão para isso. (VOS,p. 37)

A DIVISÃO ENTRE REVELAÇÃO ESPECIAL REDENTORA “BERITH” E “DIATHEKE”

Pacto de Graça x Pacto de Obras.

O Antigo Testamento não é igual ao pacto de obras. A parte do AT após a Queda pertence a primeira parte do Pacto da Graça, sendo período deste pacto que antecede a vinda do Messias.

A palavra BERITH significa pacto, não há na Bíblia judaica a ideia de um testamento como ultimo desejo.

Inalterabilidade, certeza, validade eterna  e não sua natureza voluntaria  e mutável  caracterizam o BERITH.

DIATHEKE significava uma disposição que alguém fez de si mesmo, no uso legal seria o testamento como expressão de um ultimo desejo.

Eles sentiram que diatheke sugeria uma disposição soberana, nem sempre partindo da natureza de um último desejo, e restauraram esse antigo significado. E, desse modo, eles não somente superaram um obstáculo; também registraram o ganho positivo de serem aptos a reproduzir um elemento muito importante na consciência de religião presente no Antigo Testamento (VOS, p.40)

ANTIGO BERITH X NOVO BERITH

Finalmente, deve-se notar que, quando a Bíblia fala de um duplo berith, uma dupla diatheke, por “antiga” aliança se entenda não o período inteiro que vai da Queda do homem a Cristo, mas o período desde Moisés até Cristo. Entretanto, o que precede o período mosaico na descrição de Gênesis pode ser apropriadamente incorporado sob a “Antiga Aliança”. No Pentateuco, ela tem a função do prefácio à narrativa das instituições mosaicas e o prefácio pertence à capa do livro. De igual modo, a “Nova Aliança”, no sentido periódico, soteriológico da palavra, vai além do tempo de vida de Cristo na terra e da era apostólica; ela não somente nos inclui, mas se estende e cobre o estado escatológico ou eterno. (VOS, 41-42)

O texto de Vos nos deixa assim:

Período Criação até Moisés – Antiga Aliança - PREFÁCIO

Período Moisés até Cristo – antiga aliança  - ANTIGO

Período Cristo até eternidade – Nova Aliança – NOVO

 

Pacto das obras – Até a Queda

Pactos da Graça – dois testamentos, após a Queda.

GEERHARDUS VOS: TEOLOGIA BÍBLICA - antigo e novo testamentos

 


GEERHARDUS VOS – TEOLOGIA BÍBLICA: ANTIGO E NOVO TESTAMENTOS

 

INTRODUÇÃO: NATUREZA E METODO DA TEOLOGIA BÍBLICA.

Teologia é a ciência concernente a Deus baseada em revelação.

a.       EPISTEMOLOGIA

A ciência em relação aos objetos impessoais: eles são passivos, nós ativos.

A ciência em relação a um ser pessoal, somente quando este se expõe é que podemos conhecer.

O conteúdo oculto da mente de Deus pode ser possuído mediante o desvendar dessa mente, feito pelo próprio Deus

a criação foi o primeiro passo para a produção de um conhecimento extradivino.

b.      DIVISÃO DA TEOLOGIA.

A teologia é dividida em quatro áreas: exegética, histórica, sistemática e prática.

- Teologia Exegética

a) o estudo do conteúdo atual da Escritura Sagrada;

b) a investigação da origem dos vários escritos bíblicos, incluindo a identidade dos escritores, o tempo e a ocasião da composição, dependência de possíveis fontes, etc. Isso é conhecido como Introdução e pode ser considerado como um desdobramento do processo de exegese propriamente dito;

c) a colocação da questão sobre como esses vários escritos vieram a ser coletados e reunidos na unidade de uma Bíblia ou livro; essa parte do processo recebe o nome técnico de Canônica;

d) o estudo da autorrevelação atual de Deus no tempo e no espaço que retrocede até o primeiro compromisso de escrita de qualquer documento bíblico, autorrevelação essa que, por longo tempo, continuou a acontecer com o registro escrito do material revelado; esse quarto procedimento é chamado de Teologia bíblica.

TEOLOGIA BÍBLICA

É o ramo que lida com o processo de autorrevelação de Deus registrado na Bíblia.

Revelação é a atividade divina mas não o produto final desta atividade, cujas características são:

a.       PROGRESSIVIDADE HISTÓRICA DO PROCESSO DE REVELAÇÃO:  

A revelação se desdobrou numa serie de atos sucessivos. Ela está ligada a redenção que aconteceu de maneira sucessiva historicamente.  A revelação é a interpretação da redenção, mas a revelação termina antes da redenção.

A redenção é parcialmente objetiva e central (atos redentores de Deus que acontecem a favor da pessoa, mas fora dela) e parcialmente subjetiva  e individual (atos de Deus que atingem o interior da pessoal).

Atos objetivos centrais são encarnação, expiação e ressurreição de Cristo.

Atos subjetivos são a regeneração, justificação, conversão, santificação e glorificação.

 

b.      REAL INCORPORAÇÃO DA REVELAÇÃO NA HISTÓRIA:

 

O processo de revelação não é somente concomitante com a História, mas se torna encarnado na História. Os próprios fatos da História adquirem uma significação reveladora. A crucificação e a ressurreição de Cristo são exemplos disso. Devemos posicionar ato-revelação ao lado de palavra-revelação. Isso se aplica, é claro, aos grandes atos excepcionais de redenção. Em tais casos, redenção e revelação coincidem. Contudo, dois pontos devem ser lembrados nessa relação: primeiro, que esses atos com duplo aspecto não acontecem primariamente para um propósito revelatório; seu caráter revelatório é secundário; primariamente, eles possuem um propósito que transcende a revelação, tendo uma referência divina em seu efeito e, somente em dependência a esse, uma referência humana para instrução. Em segundo lugar, tais atos-revelações nunca são totalmente permitidos falar por si mesmos: eles são precedidos e sucedidos pela palavra-revelação. A ordem usual é: primeiro a palavra, então o fato, depois de novo a palavra interpretativa. O Antigo Testamento traz a palavra preditiva preparatória, os Evangelhos registram o fato redentor-revelatório, as Epístolas suprem a subsequente interpretação final. ( VOS,TEOLOGIA BIBLICA, p. 17-18)

Para Vós, o processo de revelação é concomitante e encarnado na história.

Os fatos possuem um significado revelatorio.

Ele faz uma divisão: ATO-REVELAÇÃO e PALAVRA-REVELAÇÃO.

Nos grandes atos de redenção estão juntos, a revelação e redenção coincidem.

Os atos com redenção-revelação  possuem um proposito que transcende a revelação, são dirigidos a Deus e por causa disso serve para instrução dos homens.

Tais atos não podem falar por si mesmos, eles são precedidos e sucedidos pela palavra revelação, numa ordem que seria : PALAVRA- FATO- PALAVRA INTERPRETATIVA.

O exemplo dele é que o Antigo Testamento seria palavra preparatória, os Evangelhos o registro dos fato-revelação e as Epistolas, suprem a subsequente interpretação final.

BAVINCK falando sobre esse tema:

“O caso, afinal, não é que a revelação contem apenas certos fatos cuja interpretação ela deixa ao nosso próprio critério. A revelação, em vez disso, lança uma luz peculiar sobre esses fatos. Na revelação da Escritura, palavra e fato, profecia e milagre, sempre andam de mãos dadas. Ambos são necessários para que a mente humana e o próprio ser sejam recriados e todo o cosmos seja redimido do pecado. “A luz precisa da realidade e a realidade precisa da luz para produzir ...a bela criação de sua graça. Aplicando a fraseologia de Kant a um tema mais elevado: sem os atos de Deus, as palavras seriam vazias; sem suas palavras, os atos seriam encobertos. Palavra e ato estão fortemente entrelaçados na revelação que um não pode ser aceito ou rejeitado sem o outro. Toda tentativa de explicar os fatos da religião de forma naturalista, ate agora, portanto, sempre acabou no reconhecimento de que, entre a visão de mundo sobrenatural da Escritura e a dos naturalistas há hiatos e um enorme abismo e que a conciliação entre elas é impossível” (BAVINCK, DR,I,p.366)

 

c.       NATUREZA ORGÂNICA DO PROCESSO HISTÓRICO OBSERVÁVEL NA REVELAÇÃO

A redenção é orgânica em seu progresso, não tem um avanço uniforme, mas sim num crescente multiforme.

Exatamente, por ser multiforme, a revelação pode nos mostrar diferentes aspectos da verdade.

Se Paulo tem um ponto de vista e Pedro outro, então cada um só pode, no máximo, estar aproximadamente correto. Isso seria correto se a verdade não carregasse em si mesma uma multiformidade de aspectos. Mas a infalibilidade não é inseparável da uniformidade enfadonha. A verdade é inerentemente rica e complexa porque Deus mesmo o é. Toda contenda, nas argumentações, reside, em última instância, numa visão equivocada da natureza de Deus e sua relação com o mundo, uma visão, no fundo, deísta. Essa visão concebe Deus como estando fora da própria criação e, portanto, tendo que tolerar formas e órgãos imperfeitos, conforme são disponibilizados a ele, para instrumentação de sua fala reveladora. Sendo assim, a mente didática e dialética de Paulo seria um empecilho para a comunicação ideal da mensagem, o mesmo podendo se dizer da mente simples, prática e não instruída de Pedro. Da perspectiva do teísmo, o assunto se delineia de maneira bem diferente. A verdade tendo, inerentemente, muitos lados, e Deus tendo acesso a, e controle de, todos os órgãos tencionados de revelação, modelou cada um desses para o exato propósito a ser servido. Uma vez que o Evangelho tem uma estrutura doutrinal precisa, Paulo, doutrinaria- mente dotado, foi o órgão adequado para expressá-la, porque seus dons foram conferidos a ele e cultivados nele, em antecipação, com vistas a isso. (VOS,18-19)

 

d.      ADAPTABILIDADE PRÁTICA

A autorrevelação de Deus não foi feita para um proposito primeiramente intelectual.

O conhecer Deus no sentido bíblico é a de ter a realidade de alguma coisa interligada com a experiencia intima de vida. (VOS, p.20)

Vos se coloca distante do racionalismo de J P GABLER como também da filosofia da evolução vinculada ao positivismo, há uma certa confusão de terminologia aqui como vemos:

Em segundo lugar, a filosofia da evolução pertence à família do positivismo. Ela ensina que nada pode ser conhecido além do fenômeno, somente o lado impressionista do mundo, não a realidade interior objetiva, as chamadas “coisas em si mesmas”. Tais coisas como a alma, a imortalidade, a vida futura, etc., não podem entrar no conhecimento humano, o qual de fato não é nenhum conhecimento no sólido sentido antigo do termo. Consequentemente, todas essas verdades objetivas vêm a ser consideradas como estando além do campo da teologia. Se o nome teologia ainda é retido, ele é um nome inadequado para a classificação e discussão do fenômeno religioso. A questão não é mais sobre o que é verdadeiro, mas simplesmente sobre o que tem sido crido e praticado no passado. Com essa camuflagem geral de ciência da religião sob o nome de teologia e inseparável dela vem o desligamento interno da teologia bíblica em particular. Essa se torna em fenomenologia da religião registrada na literatura bíblica. (VOS, p.23)

A confusão de termos é que VOS coloca no mesmo quadro, positivismo, evolucionismo, fenomenologia e critica transcendental.

 

Princípios Orientadores.

a.       Reconhecimento do caráter infalível da revelação como essencial a todo uso legitimamente teológico do termo: se Deus é pessoal e consciente que se revela, logo esta revelação deve ser conforme sua natureza e proposito, infalível.

 

b.       Reconhecer a objetividade da base da revelação:  a revelação divina deve ser objetivamente considerada como divina.

 

c.       Reconhecer a inspiração plenária da Escritura: para Vos, o conceito de inspiração parcial é uma invenção moderna sem qualquer respaldo bíblico.

 

A METODOLOGIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

O método é determinado pelo PRINCIPIO DE PROGRESSÃO HISTÓRICA, dai a divisão do curso da revelação em certos períodos.

O principio das sucessivas BERITH- realizações (alianças/pactos).

A partir desta periodicidade, ver a correlação entre os elementos dentro dos limites do período.

 

USOS PRÁTICOS DO ESTUDO DA TEOLOGIA BÍBLICA

a.       Ela demonstra o crescimento orgânico das verdades da revelação especial

b.       Antidoto contra os ensinamentos do criticismo racionalista

c.       Concede nova vida ao mostrar a verdade em seu ambiente histórico.

d.       Ataca a tendência anti doutrinária

e.       Fortalece as doutrinas fundamentais da fé mostrando sua organicidade.

f.        Gloria de Deus.