GEERHARDUS VOS – TEOLOGIA BÍBLICA: ANTIGO E NOVO TESTAMENTOS
INTRODUÇÃO: NATUREZA E METODO DA TEOLOGIA BÍBLICA.
Teologia é a ciência concernente a Deus baseada em
revelação.
a.
EPISTEMOLOGIA
A ciência em relação aos objetos impessoais: eles são passivos,
nós ativos.
A ciência em relação a um ser pessoal, somente quando este
se expõe é que podemos conhecer.
O conteúdo oculto da mente de Deus pode ser possuído
mediante o desvendar dessa mente, feito pelo próprio Deus
a criação foi o primeiro passo para a produção de um
conhecimento extradivino.
b.
DIVISÃO DA TEOLOGIA.
A teologia é dividida em quatro áreas: exegética, histórica,
sistemática e prática.
- Teologia Exegética
a) o estudo do conteúdo atual
da Escritura Sagrada;
b) a investigação da origem
dos vários escritos bíblicos, incluindo a identidade dos escritores, o tempo e
a ocasião da composição, dependência de possíveis fontes, etc. Isso é conhecido
como Introdução e pode ser considerado como um desdobramento do processo de
exegese propriamente dito;
c) a colocação da questão
sobre como esses vários escritos vieram a ser coletados e reunidos na unidade
de uma Bíblia ou livro; essa parte do processo recebe o nome técnico de
Canônica;
d) o estudo da autorrevelação
atual de Deus no tempo e no espaço que retrocede até o primeiro compromisso de
escrita de qualquer documento bíblico, autorrevelação essa que, por longo
tempo, continuou a acontecer com o registro escrito do material revelado; esse
quarto procedimento é chamado de Teologia bíblica.
TEOLOGIA BÍBLICA
É o ramo que lida com o processo de autorrevelação de Deus
registrado na Bíblia.
Revelação é a atividade divina mas não o produto final
desta atividade, cujas características são:
a.
PROGRESSIVIDADE HISTÓRICA DO PROCESSO DE
REVELAÇÃO:
A revelação se desdobrou numa serie de atos
sucessivos. Ela está ligada a redenção que aconteceu de maneira sucessiva historicamente.
A revelação é a interpretação da
redenção, mas a revelação termina antes da redenção.
A redenção é parcialmente objetiva e
central (atos redentores de Deus que acontecem a favor da pessoa, mas fora
dela) e parcialmente subjetiva e
individual (atos de Deus que atingem o interior da pessoal).
Atos objetivos centrais são encarnação, expiação
e ressurreição de Cristo.
Atos subjetivos são a regeneração,
justificação, conversão, santificação e glorificação.
b.
REAL INCORPORAÇÃO DA REVELAÇÃO NA
HISTÓRIA:
O processo de revelação não é somente concomitante com a
História, mas se torna encarnado na História. Os próprios fatos da História
adquirem uma significação reveladora. A crucificação e a ressurreição de Cristo
são exemplos disso. Devemos posicionar ato-revelação ao lado de
palavra-revelação. Isso se aplica, é claro, aos grandes atos excepcionais de
redenção. Em tais casos, redenção e revelação coincidem. Contudo, dois pontos
devem ser lembrados nessa relação: primeiro, que esses atos com duplo aspecto
não acontecem primariamente para um propósito revelatório; seu caráter
revelatório é secundário; primariamente, eles possuem um propósito que
transcende a revelação, tendo uma referência divina em seu efeito e, somente em
dependência a esse, uma referência humana para instrução. Em segundo lugar,
tais atos-revelações nunca são totalmente permitidos falar por si mesmos: eles
são precedidos e sucedidos pela palavra-revelação. A ordem usual é: primeiro a
palavra, então o fato, depois de novo a palavra interpretativa. O Antigo
Testamento traz a palavra preditiva preparatória, os Evangelhos registram o
fato redentor-revelatório, as Epístolas suprem a subsequente interpretação
final. ( VOS,TEOLOGIA BIBLICA, p. 17-18)
Para Vós, o processo de revelação é concomitante e encarnado
na história.
Os fatos possuem um significado revelatorio.
Ele faz uma divisão: ATO-REVELAÇÃO e PALAVRA-REVELAÇÃO.
Nos grandes atos de redenção estão juntos, a revelação e
redenção coincidem.
Os atos com redenção-revelação possuem um proposito que transcende a revelação,
são dirigidos a Deus e por causa disso serve para instrução dos homens.
Tais atos não podem falar por si mesmos, eles são precedidos
e sucedidos pela palavra revelação, numa ordem que seria : PALAVRA- FATO-
PALAVRA INTERPRETATIVA.
O exemplo dele é que o Antigo Testamento seria palavra preparatória,
os Evangelhos o registro dos fato-revelação e as Epistolas, suprem a subsequente
interpretação final.
BAVINCK falando sobre esse tema:
“O caso,
afinal, não é que a revelação contem apenas certos fatos cuja interpretação ela
deixa ao nosso próprio critério. A revelação, em vez disso, lança uma luz
peculiar sobre esses fatos. Na revelação da Escritura, palavra e fato, profecia
e milagre, sempre andam de mãos dadas. Ambos são necessários para que a mente
humana e o próprio ser sejam recriados e todo o cosmos seja redimido do pecado.
“A luz precisa da realidade e a realidade precisa da luz para produzir ...a
bela criação de sua graça. Aplicando a fraseologia de Kant a um tema mais
elevado: sem os atos de Deus, as palavras seriam vazias; sem suas palavras, os
atos seriam encobertos. Palavra e ato estão fortemente entrelaçados na
revelação que um não pode ser aceito ou rejeitado sem o outro. Toda tentativa
de explicar os fatos da religião de forma naturalista, ate agora, portanto,
sempre acabou no reconhecimento de que, entre a visão de mundo sobrenatural da Escritura
e a dos naturalistas há hiatos e um enorme abismo e que a conciliação entre elas
é impossível” (BAVINCK, DR,I,p.366)
c.
NATUREZA ORGÂNICA DO PROCESSO HISTÓRICO
OBSERVÁVEL NA REVELAÇÃO
A redenção é orgânica em seu progresso, não tem um avanço
uniforme, mas sim num crescente multiforme.
Exatamente, por ser multiforme, a revelação pode nos mostrar
diferentes aspectos da verdade.
Se Paulo tem
um ponto de vista e Pedro outro, então cada um só pode, no máximo, estar
aproximadamente correto. Isso seria correto se a verdade não carregasse em si
mesma uma multiformidade de aspectos. Mas a infalibilidade não é inseparável da
uniformidade enfadonha. A verdade é inerentemente rica e complexa porque Deus mesmo
o é. Toda contenda, nas argumentações, reside, em última instância, numa visão
equivocada da natureza de Deus e sua relação com o mundo, uma visão, no fundo,
deísta. Essa visão concebe Deus como estando fora da própria criação e,
portanto, tendo que tolerar formas e órgãos imperfeitos, conforme são
disponibilizados a ele, para instrumentação de sua fala reveladora. Sendo
assim, a mente didática e dialética de Paulo seria um empecilho para a
comunicação ideal da mensagem, o mesmo podendo se dizer da mente simples,
prática e não instruída de Pedro. Da perspectiva do teísmo, o assunto se
delineia de maneira bem diferente. A verdade tendo, inerentemente, muitos
lados, e Deus tendo acesso a, e controle de, todos os órgãos tencionados de
revelação, modelou cada um desses para o exato propósito a ser servido. Uma vez
que o Evangelho tem uma estrutura doutrinal precisa, Paulo, doutrinaria- mente
dotado, foi o órgão adequado para expressá-la, porque seus dons foram
conferidos a ele e cultivados nele, em antecipação, com vistas a isso. (VOS,18-19)
d. ADAPTABILIDADE
PRÁTICA
A autorrevelação de Deus não foi
feita para um proposito primeiramente intelectual.
O conhecer Deus no sentido bíblico
é a de ter a realidade de alguma coisa interligada com a experiencia intima
de vida. (VOS, p.20)
Vos se coloca distante do racionalismo
de J P GABLER como também da filosofia da evolução vinculada ao positivismo, há
uma certa confusão de terminologia aqui como vemos:
Em segundo
lugar, a filosofia da evolução pertence à família do positivismo. Ela ensina
que nada pode ser conhecido além do fenômeno, somente o lado impressionista do
mundo, não a realidade interior objetiva, as chamadas “coisas em si mesmas”.
Tais coisas como a alma, a imortalidade, a vida futura, etc., não podem entrar
no conhecimento humano, o qual de fato não é nenhum conhecimento no sólido
sentido antigo do termo. Consequentemente, todas essas verdades objetivas vêm a
ser consideradas como estando além do campo da teologia. Se o nome teologia
ainda é retido, ele é um nome inadequado para a classificação e discussão do
fenômeno religioso. A questão não é mais sobre o que é verdadeiro, mas
simplesmente sobre o que tem sido crido e praticado no passado. Com essa
camuflagem geral de ciência da religião sob o nome de teologia e inseparável
dela vem o desligamento interno da teologia bíblica em particular. Essa se
torna em fenomenologia da religião registrada na literatura bíblica. (VOS, p.23)
A confusão de termos é que VOS
coloca no mesmo quadro, positivismo, evolucionismo, fenomenologia e critica
transcendental.
Princípios Orientadores.
a. Reconhecimento
do caráter infalível da revelação como essencial a todo uso legitimamente teológico
do termo: se Deus é pessoal e consciente que se revela, logo esta revelação
deve ser conforme sua natureza e proposito, infalível.
b. Reconhecer
a objetividade da base da revelação: a revelação
divina deve ser objetivamente considerada como divina.
c. Reconhecer
a inspiração plenária da Escritura: para Vos, o conceito de inspiração parcial
é uma invenção moderna sem qualquer respaldo bíblico.
A METODOLOGIA DA TEOLOGIA
BÍBLICA
O método é determinado pelo PRINCIPIO
DE PROGRESSÃO HISTÓRICA, dai a divisão do curso da revelação em certos períodos.
O principio das sucessivas BERITH-
realizações (alianças/pactos).
A partir desta periodicidade, ver
a correlação entre os elementos dentro dos limites do período.
USOS PRÁTICOS DO ESTUDO DA TEOLOGIA
BÍBLICA
a. Ela
demonstra o crescimento orgânico das verdades da revelação especial
b. Antidoto
contra os ensinamentos do criticismo racionalista
c. Concede
nova vida ao mostrar a verdade em seu ambiente histórico.
d. Ataca
a tendência anti doutrinária
e. Fortalece
as doutrinas fundamentais da fé mostrando sua organicidade.
f. Gloria de Deus.
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