sexta-feira, outubro 02, 2020

GEERHARDUS VOS: TEOLOGIA BÍBLICA - antigo e novo testamentos

 


GEERHARDUS VOS – TEOLOGIA BÍBLICA: ANTIGO E NOVO TESTAMENTOS

 

INTRODUÇÃO: NATUREZA E METODO DA TEOLOGIA BÍBLICA.

Teologia é a ciência concernente a Deus baseada em revelação.

a.       EPISTEMOLOGIA

A ciência em relação aos objetos impessoais: eles são passivos, nós ativos.

A ciência em relação a um ser pessoal, somente quando este se expõe é que podemos conhecer.

O conteúdo oculto da mente de Deus pode ser possuído mediante o desvendar dessa mente, feito pelo próprio Deus

a criação foi o primeiro passo para a produção de um conhecimento extradivino.

b.      DIVISÃO DA TEOLOGIA.

A teologia é dividida em quatro áreas: exegética, histórica, sistemática e prática.

- Teologia Exegética

a) o estudo do conteúdo atual da Escritura Sagrada;

b) a investigação da origem dos vários escritos bíblicos, incluindo a identidade dos escritores, o tempo e a ocasião da composição, dependência de possíveis fontes, etc. Isso é conhecido como Introdução e pode ser considerado como um desdobramento do processo de exegese propriamente dito;

c) a colocação da questão sobre como esses vários escritos vieram a ser coletados e reunidos na unidade de uma Bíblia ou livro; essa parte do processo recebe o nome técnico de Canônica;

d) o estudo da autorrevelação atual de Deus no tempo e no espaço que retrocede até o primeiro compromisso de escrita de qualquer documento bíblico, autorrevelação essa que, por longo tempo, continuou a acontecer com o registro escrito do material revelado; esse quarto procedimento é chamado de Teologia bíblica.

TEOLOGIA BÍBLICA

É o ramo que lida com o processo de autorrevelação de Deus registrado na Bíblia.

Revelação é a atividade divina mas não o produto final desta atividade, cujas características são:

a.       PROGRESSIVIDADE HISTÓRICA DO PROCESSO DE REVELAÇÃO:  

A revelação se desdobrou numa serie de atos sucessivos. Ela está ligada a redenção que aconteceu de maneira sucessiva historicamente.  A revelação é a interpretação da redenção, mas a revelação termina antes da redenção.

A redenção é parcialmente objetiva e central (atos redentores de Deus que acontecem a favor da pessoa, mas fora dela) e parcialmente subjetiva  e individual (atos de Deus que atingem o interior da pessoal).

Atos objetivos centrais são encarnação, expiação e ressurreição de Cristo.

Atos subjetivos são a regeneração, justificação, conversão, santificação e glorificação.

 

b.      REAL INCORPORAÇÃO DA REVELAÇÃO NA HISTÓRIA:

 

O processo de revelação não é somente concomitante com a História, mas se torna encarnado na História. Os próprios fatos da História adquirem uma significação reveladora. A crucificação e a ressurreição de Cristo são exemplos disso. Devemos posicionar ato-revelação ao lado de palavra-revelação. Isso se aplica, é claro, aos grandes atos excepcionais de redenção. Em tais casos, redenção e revelação coincidem. Contudo, dois pontos devem ser lembrados nessa relação: primeiro, que esses atos com duplo aspecto não acontecem primariamente para um propósito revelatório; seu caráter revelatório é secundário; primariamente, eles possuem um propósito que transcende a revelação, tendo uma referência divina em seu efeito e, somente em dependência a esse, uma referência humana para instrução. Em segundo lugar, tais atos-revelações nunca são totalmente permitidos falar por si mesmos: eles são precedidos e sucedidos pela palavra-revelação. A ordem usual é: primeiro a palavra, então o fato, depois de novo a palavra interpretativa. O Antigo Testamento traz a palavra preditiva preparatória, os Evangelhos registram o fato redentor-revelatório, as Epístolas suprem a subsequente interpretação final. ( VOS,TEOLOGIA BIBLICA, p. 17-18)

Para Vós, o processo de revelação é concomitante e encarnado na história.

Os fatos possuem um significado revelatorio.

Ele faz uma divisão: ATO-REVELAÇÃO e PALAVRA-REVELAÇÃO.

Nos grandes atos de redenção estão juntos, a revelação e redenção coincidem.

Os atos com redenção-revelação  possuem um proposito que transcende a revelação, são dirigidos a Deus e por causa disso serve para instrução dos homens.

Tais atos não podem falar por si mesmos, eles são precedidos e sucedidos pela palavra revelação, numa ordem que seria : PALAVRA- FATO- PALAVRA INTERPRETATIVA.

O exemplo dele é que o Antigo Testamento seria palavra preparatória, os Evangelhos o registro dos fato-revelação e as Epistolas, suprem a subsequente interpretação final.

BAVINCK falando sobre esse tema:

“O caso, afinal, não é que a revelação contem apenas certos fatos cuja interpretação ela deixa ao nosso próprio critério. A revelação, em vez disso, lança uma luz peculiar sobre esses fatos. Na revelação da Escritura, palavra e fato, profecia e milagre, sempre andam de mãos dadas. Ambos são necessários para que a mente humana e o próprio ser sejam recriados e todo o cosmos seja redimido do pecado. “A luz precisa da realidade e a realidade precisa da luz para produzir ...a bela criação de sua graça. Aplicando a fraseologia de Kant a um tema mais elevado: sem os atos de Deus, as palavras seriam vazias; sem suas palavras, os atos seriam encobertos. Palavra e ato estão fortemente entrelaçados na revelação que um não pode ser aceito ou rejeitado sem o outro. Toda tentativa de explicar os fatos da religião de forma naturalista, ate agora, portanto, sempre acabou no reconhecimento de que, entre a visão de mundo sobrenatural da Escritura e a dos naturalistas há hiatos e um enorme abismo e que a conciliação entre elas é impossível” (BAVINCK, DR,I,p.366)

 

c.       NATUREZA ORGÂNICA DO PROCESSO HISTÓRICO OBSERVÁVEL NA REVELAÇÃO

A redenção é orgânica em seu progresso, não tem um avanço uniforme, mas sim num crescente multiforme.

Exatamente, por ser multiforme, a revelação pode nos mostrar diferentes aspectos da verdade.

Se Paulo tem um ponto de vista e Pedro outro, então cada um só pode, no máximo, estar aproximadamente correto. Isso seria correto se a verdade não carregasse em si mesma uma multiformidade de aspectos. Mas a infalibilidade não é inseparável da uniformidade enfadonha. A verdade é inerentemente rica e complexa porque Deus mesmo o é. Toda contenda, nas argumentações, reside, em última instância, numa visão equivocada da natureza de Deus e sua relação com o mundo, uma visão, no fundo, deísta. Essa visão concebe Deus como estando fora da própria criação e, portanto, tendo que tolerar formas e órgãos imperfeitos, conforme são disponibilizados a ele, para instrumentação de sua fala reveladora. Sendo assim, a mente didática e dialética de Paulo seria um empecilho para a comunicação ideal da mensagem, o mesmo podendo se dizer da mente simples, prática e não instruída de Pedro. Da perspectiva do teísmo, o assunto se delineia de maneira bem diferente. A verdade tendo, inerentemente, muitos lados, e Deus tendo acesso a, e controle de, todos os órgãos tencionados de revelação, modelou cada um desses para o exato propósito a ser servido. Uma vez que o Evangelho tem uma estrutura doutrinal precisa, Paulo, doutrinaria- mente dotado, foi o órgão adequado para expressá-la, porque seus dons foram conferidos a ele e cultivados nele, em antecipação, com vistas a isso. (VOS,18-19)

 

d.      ADAPTABILIDADE PRÁTICA

A autorrevelação de Deus não foi feita para um proposito primeiramente intelectual.

O conhecer Deus no sentido bíblico é a de ter a realidade de alguma coisa interligada com a experiencia intima de vida. (VOS, p.20)

Vos se coloca distante do racionalismo de J P GABLER como também da filosofia da evolução vinculada ao positivismo, há uma certa confusão de terminologia aqui como vemos:

Em segundo lugar, a filosofia da evolução pertence à família do positivismo. Ela ensina que nada pode ser conhecido além do fenômeno, somente o lado impressionista do mundo, não a realidade interior objetiva, as chamadas “coisas em si mesmas”. Tais coisas como a alma, a imortalidade, a vida futura, etc., não podem entrar no conhecimento humano, o qual de fato não é nenhum conhecimento no sólido sentido antigo do termo. Consequentemente, todas essas verdades objetivas vêm a ser consideradas como estando além do campo da teologia. Se o nome teologia ainda é retido, ele é um nome inadequado para a classificação e discussão do fenômeno religioso. A questão não é mais sobre o que é verdadeiro, mas simplesmente sobre o que tem sido crido e praticado no passado. Com essa camuflagem geral de ciência da religião sob o nome de teologia e inseparável dela vem o desligamento interno da teologia bíblica em particular. Essa se torna em fenomenologia da religião registrada na literatura bíblica. (VOS, p.23)

A confusão de termos é que VOS coloca no mesmo quadro, positivismo, evolucionismo, fenomenologia e critica transcendental.

 

Princípios Orientadores.

a.       Reconhecimento do caráter infalível da revelação como essencial a todo uso legitimamente teológico do termo: se Deus é pessoal e consciente que se revela, logo esta revelação deve ser conforme sua natureza e proposito, infalível.

 

b.       Reconhecer a objetividade da base da revelação:  a revelação divina deve ser objetivamente considerada como divina.

 

c.       Reconhecer a inspiração plenária da Escritura: para Vos, o conceito de inspiração parcial é uma invenção moderna sem qualquer respaldo bíblico.

 

A METODOLOGIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

O método é determinado pelo PRINCIPIO DE PROGRESSÃO HISTÓRICA, dai a divisão do curso da revelação em certos períodos.

O principio das sucessivas BERITH- realizações (alianças/pactos).

A partir desta periodicidade, ver a correlação entre os elementos dentro dos limites do período.

 

USOS PRÁTICOS DO ESTUDO DA TEOLOGIA BÍBLICA

a.       Ela demonstra o crescimento orgânico das verdades da revelação especial

b.       Antidoto contra os ensinamentos do criticismo racionalista

c.       Concede nova vida ao mostrar a verdade em seu ambiente histórico.

d.       Ataca a tendência anti doutrinária

e.       Fortalece as doutrinas fundamentais da fé mostrando sua organicidade.

f.        Gloria de Deus.

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