terça-feira, abril 27, 2004
Não perdi nenhum dos que me deste
“Não perdi nenhum dos que me deste”.
Jo 18,9.
A igreja nos dias de hoje está passando por uma transformação, a cruz de cristo hoje é construída com novos materiais, a vida que é já é curta agora é muito mais rápida, nesses vai e vens da modernidade como podemos conciliar os valores antigos com a nova forma de atuação deles, como não perder nossos laços tradicionais ao ganhar novos espaços de adoração, qual a maneira de não perder vidas santificando coisas que não tem eternidade e nã esquecer de separar aquelas que são santas.
A Bíblia já nos conta em Salmos 90, 4-5 qual é a duração de nossa vida: “eles são com a erva que brota de manhã, de manhã ela germina e brota, de tarde ela murcha e seca”, assim é a nossa vida, essa é a duração dela perante os olhos de Deus, perante a eternidade nada somos se formos pensar em nossa força natural própria, mas perante a eternidade tudo somos se formos pensar na capacidade sobrenatural que Deus nos concedeu pelo Seu Filho amado.
Quero escrever sobre como cumprir com essas duas exigências numa vida tão curta: como ganhar o novo e não perder o velho?
Se a vida é tão rápida,se "quase tudo ao toque da mão desfaz-se entre os dedos mais agéis" como diz Bruno Tolentino. Cada momento desse adiamento da última despedida deve ser vivido numa intensidade eterna, plena da presença divina, dias atrás, lendo Jean-Yves Leloup me deparei com uma frase que até hoje está no meu coração: “Viver sem amor é tempo perdido, viver com amor é eternidade reencontrada”.
Viver com amor é viver com Deus na nossa vida, Deus acreditando em nós, Ele caminhando junto conosco em nossos passos, seguindo os Seus propósitos, podendo dizer que não apenas nós acreditamos em Deus, mas que Ele lá do seu trono celeste acredita em nós, é isso que o Senhor diz em Is 44,2 “Eu sou seu criador. Você estava sob meus cuidados mesmo antes de nascer”.
Assim, devemos terminar cada gesto nosso, cada obra nossa como termina o salmista no mesmo cap. 90, pedindo humildemente ao Senhor que confirme a obra de nossas mãos.
Afinal, “a vida eterna é esta: que eles te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e aquele que enviaste, Jesus Cristo”. S. João 17,3.
Agora, o que os propósitos de Deus na nossa vida tem a ver com a não perca dos discípulos por Cristo?
Tudo.
Era um propósito divino que Jesus não perdesse nenhum dos seus discípulos, pois para eles ainda havia uma missão. Quase todos os discípulos terminaram suas vidas como mártires, mas todos que assim morreram não tomaram a morte como derrota, mas como vitória pela qualidade de vida que tiveram e pela quantidade de almas que conquistaram, pois estavam no centro da vontade divina. Os apóstolos que tanto sofriam diziam que “viam sem cessar o Senhor diante de mim: ele está a minha direita, para que não vacile. Por isso alegra-se meu coração e minha língua exulta. Mais ainda, minha carne repousará na esperança” At 2,25-26.
Aqueles 12 homens cheios pelo poder do Espírito Santo mudaram a história das suas vidas, mudando a história mesma da humanidade, eles ganharam sua vida ganhando vidas para o Reino de Deus, não guardando para si o melhor possuíam em suas vidas, mas repartindo seu maior bem com todos, afinal a vida é a única moeda que se perde se não se dá.
Eles eram 12 homens no inicio, hoje somos milhões.
Para não perder ninguém, “eles mostravam-se assíduos ao ensinamento dos apóstolos à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações” (At. 2,12). Essa comunhão básica entre eles fertilizava um terreno de amor e fraternidade que gerou uma grande colheita onde “o Senhor acrescentava cada dia ao seu número os que seriam salvos” (At. 2,47).
O que devemos guardar para não perder nenhum do que o Senhor colocou diante de nós é o amor que demonstrou Cristo por nós, porque “não há temor no amor; ao contrário, o perfeito amor lança fora o temor, porque o temor implica um castigo, e o que teme não chegou a perfeição do amor”(I Jo 4,19). Não devemos temer o que chega, o que é novo em nosso meio, devemos compreender e aprender com os novos que chegam na igreja e com a novidade de cada novo dia, as novas necessidades que Cristo pede de nós para nos aperfeiçoarmos no seu propósito.
O modo que Cristo exige que levamos a nossa vida é a excelência, a perfeição da obra é o que ele pede daquilo que sai de nossas mãos imperfeitas, porque é o que iremos levar a diante de Cristo no seu julgamento e como poderemos levar diante dele coisas corrompidas?
O que vamos levar diante dele é o quanto e o como amamos a Deus e ao nosso próximo, no cristianismo o meio é tão importante quanto o fim, as intenções e os atos são pesados pelo Nosso Mestre do mesmo modo. O importante então é nos esforçarmos para fazer o nosso melhor pela Obra do Pai.
Ás vezes, algo que é novo nos incomoda e achamos mais fácil pensar logo no final do versiculo 1 I João 4: “examinai os espíritos para ver se são de Deus pois muito falsos profetas vieram ao mundo”, julgamos logo pelo final do versículo esquecendo do examinai, partindo logo para o julgar como falso, como estranho a nós, por isso mesmo, impuro. Nos tomamos como Deus puro e santo e justo e decretamos mal aquilo que não é nosso.
Quem faz assim, acaba se esquecendo do que está no versículo 6, de quem conhece a Deus: ouve.
Ouvir, refletir, examinar sem um coração duro (Hb 3,7-11) é a única coisa que permite a gente escutar a voz de Deus, conhecer e reconhecer o espírito da verdade. Ouvir é que nos faz reconhecer Deus, é que nos torna capazes de amar, de compreender de crescer.
Porque ouvir é compartilhar, é entregar sua atenção, dar seu tempo,abrir sua vida para receber aquilo que está afligindo ou alegrando seu irmão, ouvir é ter coração aberto para amar, é esvaziar o coração de si mesmo para poder receber a unção de Deus, reconhecer a Deus, ver na situação atual aquilo que já conhecemos: Deus. Como poderíamos reconhecer Deus se não estamos abertos para ouvir o dia de hoje e ficamos preso aquilo que outrora conhecemos, o maná assim como o pão nosso é diário, devemos estar sempre famintos pela fracção diária do pão divino em nossa vida.
Um ouvido aberto a escutar é sinal de uma pessoa sem mágoa, sem ira, pronta para amar, para acolher, pronta para receber o pão da vida, pronta para não perder nenhum dos seus, mas sempre poder receber eles em seu coração com os olhos fixos não no seus defeitos ou vantagens, mas “com os olhos fixos naquele que é o autor e realizador da fé, Jesus, que, em vez da alegria que lhe foi proposta, suportou a cruz, desprezando a vergonha, e se assentou à direita do trono de Deus.(Hb 12, 2).
Abrimos nossos lábios para pedirmos ao Senhor nesse tempos de mudança, de muito falatório, mas também nesse tempo onde seu avivamento está aquecendo nossos corações: um bom ouvido. Um coração pronto a escutar a voz do Senhor, pronto a escutar a dor do nosso irmão, pronto a comemorar a sua alegria como se fosse a nossa. Porque o Senhor nos pede que vasos vazios para que possam ser enchidos e para que “com alegria tirareis águas das fontes da salvação. E direis naquele dia: Louvai ao Senhor, invocai o seu nome”.(Is 12,3-4).
É o seu óleo que nos ungi, e sua alegria que nos transborda (Sl 23,5), é a Sua Palavra que permanece e não nós, porque “não como se fôssemos dotados de capacidade que pudéssemos atribuir a nós mesmos, mas é de Deus que vem a nossa capacidade” (II Co 3,5) mesmo porque “um homem nada pode receber a não ser que lhe tenha sido dado do céu” ( Jo 3,27).
Então ouçamos o que Espírito diz a igrejas e assim reconhecer a voz de Nosso Pai Celeste para que ele coloque suas leis em nossa mente, as inscreva em nosso coração e assim, Ele seja o nosso Deus, Pai dos nossos irmãos, Senhor do nosso povo e todos seremos tão irmãos, tão filhos, um só povo onde “ninguém mais ensinará ao seu próximo e nem o seu irmao, afirmando: “Conhece o Senhor”! Porque todos hão de me conhecer, do menor até o maior. Porque terei misericórdia de suas faltas, e não me lembrarei mais dos seus pecados”. (Hb. 8, 10-12).
E que possamos nos alegrar como São Paulo perante a assembléia dizendo: “eis-me aqui com os filhos que Deus me deu”(Hb 1,13).
Allen dia 26 de Abril pensando no presente e no futuro de Pinda.