quinta-feira, fevereiro 11, 2010

Dallas Willard: Conspiração Divina


Convém que estejamos cientes de, grosso modo, cinco dimensões da nossa vida eterna no Reino no Meio de Nós. Essas dimensões se distribuem mais ou menos na seguinte seqüência:

1. Confiança e em Jesus, o "Filho do homem", aquele que foi ungido para nos salvar. As passagens bíblicas relevantes para essa dimensão são Jo 3:15; Rm 10:9-10; e ICo 12:3. Essa confiança é uma realidade, e é ela mesma uma verdadeira manifestação da vida "das alturas", não das capacidades humanas normais. É, como diz Hb 11:1, "a convicção de faros que se não vêem". Qualquer um que verdadeiramente possui essa confiança tem absoluta certeza de estar "lá dentro".

2. Mas essa confiança na pessoa de Jesus naturalmente leva ao desejo de ser seu aprendiz na vida do reino de Deus. Só mesmo um processo histórico contínuo eivado de confusões e falsas motivações poderia nos trazer a esta situação corrente, na qual se considera que a fé em Jesus implica naturalmente ser discípulo dele. A condição de aprendiz de Jesus significa viver no seu mundo, ou seja, colocar em prática os seus ensinamentos (Jo 8:31). E isso gradualmente integra toda a nossa existência no glorioso mundo da vida eterna. Tornamo-nos "verdadeiramente [...] livres" (Jo 8:36).

3. A abundância de vida que se alcança quando se é discípulo de Jesus, "permanecendo na sua palavra", naturalmente conduz à obediência. O ensinamento que recebemos e a experiência de vivê-lo nos leva a amar a Jesus e ao Pai com a plenitude do nosso ser: o coração, a alma, o entendimento e a força (corporal). E assim aprendemos a amar essa obediência a ele, mesmo quando não compreendemos ou até mesmo quando não "gostamos" do que ele exige. "Se me amais", disse Jesus, "guardareis os meus mandamentos" (Jo 14:15). E: "Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele" (v. 21). O amor de Jesus nos sustenta ao longo da prática da disciplina e do treinamento que possibilita a obediência. Sem esse amor, não persistimos no aprendizado.

4. A obediência, com a vida de disciplina que exige, conduz à completa transformação interior do coração e da alma. E, num processo circular, essa mesma transformação sustenta a obediência. A condição permanente do discípulo passa então a ser a de "amor, alegria, paz, longanimidade [paciência], benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio" (Gl 5:22-23; comparar com 2Pe 1:2-11). E é amor autêntico até o nosso âmago mais profundo. Essas virtudes são chamadas de "fruto do Espírito", pois não são conseqüências diretas do nosso esforço, mas nos são incutidas à medida que passamos a admirar e imitar a Jesus, fazendo todo o necessário para aprender a obedecer a ele.

5. Por fim, vem o poder para fazer as obras do reino. Uma das declarações mais chocantes de Jesus, também encontrada no "discurso de formatura", foi esta: "Aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço, e outras maiores fará" (Jo 14:12). É normal que nos sintamos assombrados e incapazes diante dessa afirmação. Mas tenhamos em mente que o mundo em que vivemos precisa desesperadamente que essas obras sejam feitas. Não seria somente por exibicionismo ou para impressionar a nós mesmos e os outros. Mas, francamente, mesmo uma "obra" modesta já é mais do que a vida da maioria das pessoas pode sustentar. Se uma só das nossas orações vier a ser atendida, com efeitos publicamente visíveis, isso já poderia bastar para atolar alguns de nós em semanas de pretensa superioridade espiritual. Grande poder exige grande caráter para que seja uma bênção, não uma maldição, e esse caráter é algo que precisamos adquirir gradualmente.

Nenhum comentário: