quarta-feira, abril 28, 2010

Edmund Wilson: Manuscritos do Mar Morto

O livro de Edmund Wilson vale como uma introdução a história e documentos encontrados nas cavernas do Qumran em 1947 no Mar Morto.

A descoberta, em 1947, dos manuscritos do mar Morto, datados de algo em torno de dois mil anos, foi um dos mais sensacionais acontecimentos arqueológicos do século. Desde então, os antiqüíssimos pergaminhos têm sido tema de acirrada polêmica entre os estudiosos da História Sagrada. Mas não foram apenas eles que se apaixonaram pelo tema. Um exemplo disso é este Os manuscritos do mar Morto (1949-1969) , escrito por um dos mais respeitados intelectuais americanos de todos os tempos.
O próprio Edmund Wilson esclarece seu princípio básico de investigação: "Se o Velho e o Novo Testamentos representam a Revelação Divina, tais investigações não têm importância. Se eles são obra puramente humana, então é a curiosidade humana que nos impele a investigar como foram escritos e qual é sua relação com um culto de imenso prestígio"

Alguns trechos:

“No século III a.C., passou-se a conceber a lei judaica do Pentateuco “como a revelação final  e suprema de Deus” diz ele; “agora não havia mais possibilidade de representantes independentes de Deus aparecerem diante dos homens, como profetas anteriores ao exílio”. De acordo com Zacarias (13:1-5), que escreveu por volta de 500 a.C. a partir do ponto de vista sacerdotal conservador, um homem podia ou devia ser morto por arvorar-se em profeta. O resultado disso era que um autor que tivesse uma nova revelação se via obrigado a atribuir seu relato a um dos profetas canônicos ou a um dos patriarcas do Pentateuco. Os últimos apócrifos são apresentados, em muitos casos, como expressão de Henoc ou Moisés, Jeremias, Baruc ou Isaías” p. 62

ALGUMAS SIMILITUDES ENTRE A COMUNIDADE DO QURAM E O CRISTIANISMO.

“Hoje, contudo, resta pouca dúvida quanto à fonte não só de As Duas Vias, como também da segunda parte do Didachê, que é um manual de preceitos eclesiásticos. Temos aqui, tal como no Manual da Disciplina do mosteiro do Mar Morto, os dois caminhos de luz e trevas que conduzem respectivamente à vida e à morte, cada qual sendo presidido por seu anjo, e a linguagem similar da “luta” que se trava entre eles e da “coroa” que o homem bom poderá ganhar. Temos o batismo )precedido de jejum no Didachê), que, como sabemos, era fundamental para o ritual da seita, e o sacro repasto, que envolve o pão partido e uma taça de vinho, porém no qual o vinho representa “a Santa Videira de Teu (de Deus) filho de Davi” e pão simboliza a “vida e o conhecimento que nos transmite através de Jesus, Teu Filho” . Cabe notar que, embora mencione Jesus, o texto nada diz sobre o perdão cristão. Até então alguns acreditavam que a cerimônia do pão e do vinho realizada na Santa Ceia e descrita nos Evangelhos se baseava na bênção do pão e do vinho da celebração da Páscoa judaica; entretanto num estudo da evolução da Eucaristia o professor Karl Georg Kuhn, de Göttingen, assinalou que a cerimônia da Páscoa judaica é familiar: dela participam homens e mulheres, e o pai preside; já a Comunhão cristã primitiva na tradição de Santa Ceia era exclusiva de homens que pertenciam a um círculo restrito e presidida pelo líder de uma congregação. Já vimos que os banquetes eram sagrados e constituiam parte importante de seu ritual. O professor Kuhn acredita que a Comunhão cristã deriva de tais banquetes e que o próprio Jesus acrescentou o perdão. Mas este não se encontra na Didachê, como vimos, e outros julagm que foi acrescentado posteriormente.

Dentre os fragmentos, encontrados na primeira caverna de Qumran constam duas colunas do Manual de Disciplina que tinham desaparecido e ainda não haviam sido publicadas quando o professor Kuhn elaborou seu estudo; tal descoberta favorece a teoria que o ritual da Santa Ceia deriva, em última análise, da seita. Prescreve-se aqui um procedimento que se assemelha de modo ainda mais impressionante ao da Comunhão cristã. Sempre que dez homens se reunirem para um banquete, sentar-se-ão por ordem de precedência, e o sacerdote e o Messias presidirão. Os convivas não tocarão o pão nem o vinho até que o sacerdote os abençoe e os tome- depois do que o Messias  se servirá, seguindo-se os outros em ordem hierárquica. Pode ser que a cerimônia descrita aqui seja um antecipação litúrgica de um banquete esperado no Céu, que o Messias não esteja de fato presente, mas o sacerdote aja em seu nome, como o sacerdote cristão em nome de Cristo. Afirmou-se ainda que um incidente na Santa Ceia narrado por Lucas tem um significado que só se pode compreender relacionando-o com o ritual do Manual.

 

xd“As purgações pela aspersão que nele figuram levaram os estudiosos a pesarem de imediato em João Batista, e a princípio julgou-se até que ele poderia ser o Mestre da Retidão. Supõe-se que João Batista nasceu não muito longe do mosteiro, talvez em Hebrom; “a palavra de Deus” conta Lucas, chegou-lhe, “no deserto”, o que devia indicar as montanhas áridas, situadas abaixo do nível do mar, que se erguem entre o mosteiro e a civilização; e seu ministério, segundo Lucas, exerceu-se “em toda a terra do Jordão”. Ele não só tinha em comum com os membros da site a prática do bagtismo, mas também parece seguir seus princípios (lucas 3:11), quando prega às multidões que o procuram que as batize” p. 89

Um comentário:

Oiced Mocam (Pseudônimo do Escritor) disse...


"Para compreender a importância dos manuscritos do mar Morto e a obstinada incredulidade dos estudiosos deve-se notar que, exceto um ou dois fragmentos, nosso texto mais antigo da Bíblia hebraica — o chamado texto massorético —, embora tivesse sido datado do século ii a.C., não é anterior ao século ix d.C.; e que antes disso nossas principais versões das Escrituras são a dos Setenta de Alexandria, a tradução para o grego que se julga ter começado no século Iii a.C. e concluída só duzentos anos depois, e a Vulgata de são Jerônimo, elaborada no século iv. Todo o nosso conhecimento literário do mundo bíblico baseou-se nesse antigo texto cristão e nessas duas traduções posteriores, bem como num Pentateuco samaritano, em alguns excertos de versões aramaicas primitivas e nas citações gregas de Justino, o Mártir, em seu diálogo com o rabino Trífon. Todas essas fontes foram muito discutidas, pois diferem entre si de maneiras que parecem indicar que surgiram de outras versões hebraicas que não o texto massorético".

(Os Manuscritos do Mar Morto; Wilson, Edmund Os manuscritos do mar Morto : 1947-1969; tradução Hildegard Feist. — São Paulo : Companhia das Letras, 2009 Editora Schwarcz ltda, 2009

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