A segunda parte do livro O homem espiritual, falará sobre a Carne.
Já vimos no post anterior que Nee divide o ser humano em três esferas distintas e ligadas, espírito, alma e corpo.
1. A carne e a salvação.
Nee fala que a carne é usada para a pessoa não regenerada, ao velho eu, o carnal.
Na queda do homem, a alma
se opôs à autoridade do espírito e ficou escravizada ao corpo e suas paixões.
Deste modo o homem se converteu em um homem carnal, não em um homem espiritual.
O espírito do homem foi despojado de sua nobre posição e foi rebaixado à de um prisioneiro.
Há três maneiras de usar carne na Bíblia.
1. parte branda do corpo, aquela com a qual percebemos o mundo.
2. refere-se ao corpo humano, tanto vivo como morto, como em Rm 7.23, carne psiquica e carne fisica.
3. a totalidade da humanidade,
Todo homem é controlado pela
composição da alma e do corpo que chamamos carne, e vai atrás dos pecados de
seu corpo e do eu de sua alma. Por isso sempre que a Bíblia fala de todos os
homens, sua frase característica é «toda carne». Em conseqüência, basar
ou sarx se referem aos seres humanos em sua totalidade.
Como homem se torna carne?
O homem é carne.
O homem não se torna progressivamente com o mal, todo o que nasce é carnal, não é determinado nem pela conduta nem pelo caráter.
A carnalidade de um homem não
vai ser determinada por ele mesmo, mas sim por seu nascimento. Se nascer da
carne, todos os planos para sua transformação serão infrutíferos. Não importa
como mude externamente; seja através de uma mudança diária ou de mudanças
bruscas, o homem continua sendo carne tão firmemente como sempre.
O homem não regenerado.
Embora a carne seja
extremamente forte pecando e seguindo o desejo egoísta, é extremamente fraca em
relação à vontade de Deus. O homem não regenerado é incapaz de cumprir a
vontade de Deus, sendo «debilitado pela carne». E a carne é «hostil a Deus; não
é sujeita à lei de Deus, nem em verdade o pode ser» (Rm. 8:3, 7).
Deus reconhece a impossibilidade de que a
carne seja trocada ou melhorada. Por isso, ao salvar ao mundo não tenta
modificar a carne do homem. Em lugar disso dá ao homem uma vida nova para ajudá-lo
a dar morte à carne. A carne tem que morrer. Esta é a salvação.
A salvação de Deus.
A reação de Deus à
pecaminosidade de todos os homens é ocupar-se Ele mesmo da tarefa da salvação.
Seu método é «enviar a seu próprio Filho à semelhança da carne pecaminosa». Seu
Filho é sem pecado, por isso é o único qualificado para nos salvar. A
expressão: «À semelhança da carne pecaminosa» descreve sua encarnação: como
toma um corpo humano e se une com a humanidade. O único Filho de Deus é
mencionado em outro ponto como «o Verbo» que «se fez carne» (Jo. 1:14). Sua
vinda à semelhança da carne pecaminosa é o «se fez carne» desse versículo. Por
isso nosso versículo em Romanos 8:3 nos explica também de que maneira a Palavra
se fez carne. A ênfase, aqui, é que Ele é o Filho de Deus, e portanto é sem
pecado. Inclusive quando vem na carne, o Filho de Deus não se faz «carne
pecaminosa». Só vem à semelhança da carne pecaminosa». Enquanto viveu na carne,
permaneceu como Filho de Deus e sem pecado. Entretanto, como possui a
semelhança da carne pecaminosa, está estreitamente unido aos pecadores do mundo
que vivem na carne.
Por isso o Senhor Jesus dá
morte ao pecado em sua carne. Por conseguinte, podemos ver em sua morte que não
só são julgados nossos pecados mas também inclusive é julgado o próprio pecado.
Assim, o pecado já não tem nenhum poder
sobre os que se uniram à morte do Senhor e em conseqüência têm o pecado
condenado em sua carne.
A regeneração
Embora Deus não possa
modificar nossa carne, nos dá sua vida. A carne do homem permanece tão corrupta
nos que nasceram de novo como nos outros. A carne de um santo é tal e qual a de
um pecador. Na regeneração, a carne não se transforma. O novo nascimento não
exerce nenhuma influência sobre a carne. Permanece tal como é. Deus não nos transmite sua
vida para educar ou adestrar à carne. Ao contrário, a dá a nós para vencer a
carne.
Como uma pessoa pode
saber que foi regenerada? João nos diz
que o homem nasce de novo ao crer no nome do Filho de Deus e ao recebê-lo
(1:12). O Filho de Deus se chama «Jesus», que significa «salvará o povo de seus
pecados» (Mt. 1:21). Assim, crer no nome do Filho de Deus equivale a acreditar
nele como Salvador, acreditar que morreu na cruz por nossos pecados para nos
libertar do castigo e do poder do pecado. Acreditar nisso é recebê-lo como
Salvador. Se alguém deseja saber se está regenerado ou não, só tem que fazer
uma pergunta: fui à cruz como um pecador necessitado e recebi ao Senhor Jesus
como Salvador? Se responder afirmativamente, está regenerado. Todo o que crê no
Senhor Jesus nasce de novo.
O conflito entre o novo e o velho.
A cruz de Cristo trata com o pecado, e o Espírito Santo trata
com o eu por meio da cruz. Cristo liberta por completo o crente do poder do
pecado por meio da cruz, para que o pecado não torne a reinar, mas Cristo, por
meio do Espírito Santo que vive no crente, capacita-o para vencer o eu dia após
dia e para que obedeça a Ele por completo. A libertação do pecado é um fato
consumado. A negação do eu tem que ser uma experiência diária.
A carne exige soberania
absoluta, igualmente a vida espiritual. A carne deseja ter o homem sujeito para
sempre a ela mesma, enquanto que a vida espiritual quer ter o homem completamente
sujeito ao Espírito Santo. A carne e a vida espiritual diferem por completo. A natureza
da carne é a do primeiro Adão, enquanto que a natureza da vida espiritual
pertence ao último Adão. O mover da primeira é terrestre, mas o da segunda é
celestial. A carne centra todas as coisas no eu; a vida espiritual centra tudo
em Cristo. A carne deseja levar o homem ao pecado, mas a vida espiritual deseja
levá-lo à justiça. Posto que estas duas são tão essencialmente opostas, como
uma pessoa pode evitar se chocar continuamente com a carne?
O propósito de Deus não é, nem será jamais, reformar a carne
mas sim destruí-la. O eu na carne deve ser destruído com a vida de Deus que o
crente recebe na regeneração.
A segunda parte do capítulo vai tratar sobre o crente carnal, muitos são controlados pela carne como se não tivessem morrido e ressuscitado. Nee cita 1Co 3.1-3, segundo ele, Paulo faz uma diferenciação entre o crente carnal e o espiritual.
A regeneração bíblica é um nascimento pelo qual a parte mais
íntima do ser do homem, o espírito, profundamente oculto, é renovado e habitado
pelo Espírito de Deus. Tem que passar um tempo até que o poder desta nova vida alcance o exterior: ou seja, até que se
estenda do centro até a circunferência.
O propósito da redenção de
Cristo é eliminar tudo o que obstaculize o controle do Espírito Santo sobre
toda a pessoa para que desse modo possa ser espiritual. Esta redenção não pode
falhar jamais porque o poder do Espírito Santo é superabundante. Da mesma
maneira que um pecador carnal pode converter-se em um crente regenerado, um
crente regenerado mas carnal pode ser transformado em um homem espiritual. O
que é lamentável é encontrar cristãos que não realizaram nenhum progresso em
sua vida espiritual ao longo de vários anos e até décadas! E estes mesmos se
assombram quando encontram alguém que,
ao fim de uns anos, empreende uma vida do espírito. Consideram isso como algo
muito estranho e não vêem que se trata simplesmente de algo normal, do normal
crescimento da vida.
A principal característica de um crente carnal é a infância prolongada, não acredita que o Espírito Santo o liberta do poder da carne. Outra característica é que são incapazes de assimilar o ensino espiritual, Nee fala de Paulo pregando a Corínto, era a igreja mais instruída, mas toda a compreensão estava apenas na mente. Lembrando que a mente para Nee está na esfera da alma e não do espírito, por isso:
O autêntico conhecimento espiritual não se
encontra em pensamentos maravilhosos e misteriosos mas sim na experiência
espiritual real através da união da vida do crente com a verdade. Aqui a inteligência não serve, e o anseio pela
verdade também é insuficiente. O indispensável é um caminho de total obediência
ao Espírito Santo, que é o único que nos ensina de verdade. Todo o resto é a
simples transmissão de conhecimento de uma mente a outra. Estes dados não tornam
espiritual alguém que seja carnal.
Nee conclui que na realidade carnal o que se necessita não é de mais ensino, mas de um coração obediente que esteja disposto a obedecer dando sua vida ao Espírito Santo. Um maior ensino espiritual só servirá para enganar seu coração se considerando espiritual.
Outra característica é o pecado do ciúme e da rivalidade, as divisões nascem da falta de amor e da carnalidade.
Pecados da carne.
Quando permanece na carne, o cristão é vencido constantemente pelas tentações.
Para Nee, a primeira tentação está no campo da comida.
Inclusive no jardim do Éden o
pecado da gula provocou imediatamente concupiscência e vergonha. Paulo põe
juntas estas duas coisas em sua primeira carta aos Coríntios (6:13, 15) e relaciona
claramente a embriaguez com a maldade (vs. 9,10).
Depois a reprodução.que se tornou em desejo carnal ou concupiscência.
E enfim, a defesa própria, a vaidade , irritação e rivalidade.
As coisas da carne.
As obras da carne estão listadas em Gálatas 5:19-21, são os desejos do corpo e da mente (Ef. 2:3).
Podemos dividir estas obras
da carne em cinco grupos:
1) pecados que mancham o
corpo, tais como a imoralidade, a impureza, a libertinagem;
2) comunicações sobrenaturais
pecaminosas com as forças satânicas, tais como a idolatria, a bruxaria;
3) temperamento pecaminoso e
suas peculiaridades, tais como inimizade, lutas, ciúmes, ira;
4) seitas e bandos
religiosos, tais como o egoísmo, as dissensões, o espírito partidarista, a
inveja; e
5) lascívia, tais como a embriaguez
e as orgias. Cada uma destas é facilmente observável. Os que as fazem são da carne.
A necessidade da morte.
Muitos crentes, ignorantes da
salvação de Deus, tentam conquistar a carne brigando com ela. Acreditam que a
vitória depende da força que possuem. Por conseguinte, contam seriamente com
que Deus lhes concederá um grande poder espiritual para que possam dominar a
sua carne. Normalmente esta batalha se estende por um longo período de tempo,
com mais derrota que vitórias, até que finalmente se vê que uma vitória total sobre
a carne é irrealizável.
Durante este tempo o crente continua
por uma parte guerreando, e pela outra tentando melhorar ou disciplinar sua
carne. Ora, esquadrinhando a Bíblia, estabelece muitas regras («não faça, não
prove, não toque»), na vã esperança de dominar e domar à carne.
Inconscientemente cai na armadilha de tratar o mal da carne como um resultado
da falta de regras, educação e civilidade. Acredita que se pudesse dar a sua
carne alguma preparação espiritual se livraria de seu problema. Não vê que
semelhante tratamento é inútil (Cl. 2:21-23).
Por causa da confusão em que
se acha o cristão, desejando, na aparência, a destruição da carne, mas ao mesmo
tempo procurando melhorá-la, o Espírito Santo deve lhe permitir que lute, que
seja derrotado e que sofra sob suas próprias acusações. Só depois de ter
passado por esta experiência repetidamente, o cristão compreenderá que a carne
é irredimível e que seu método é vão. Então procurará outro tipo de salvação.
Deste modo conhecerá por experiência o que antes só conhecia mentalmente.
O único caminho é a morte, e
não há outro. Preferiríamos domar a carne com nosso esforço, com nossa vontade
ou com outros inumeráveis meios, mas a prescrição de Deus é a morte. Se a carne
morre, não ficam resolvidos todos os problemas de maneira automática? Não temos
que conquistar a carne: ela tem que morrer. É muito razoável, se considerarmos
a maneira com que passamos a ser carne já no princípio: «o que nasce da carne é
carne». Nos tornamos carne ao nascer dela. Agora bem, a saída simplesmente
segue a entrada. A maneira de possuir é a maneira de perder. Como nos fizemos
carne ao nascer da carne, se depreende facilmente que nos liberaremos dela, se
morrer. A crucificação é o único caminho.
A
terceira parte falará sobre a cruz e o Espírito Santo, existem duas obras da cruz, a substitutiva e a identificativa para Nee.
Ele começa falando da libertação da cruz, fala do crente que trabalha para controlar os pecados, enquanto esquece de tratar da própria carne.
Os recém-nascidos em Cristo
precisam se apropriar do profundo significado da cruz porque ainda são carnais.
O objetivo de Deus é crucificar junto com Cristo o velho homem do crente, com o
resultado de que os que pertencem a Cristo «crucificaram a carne com suas
paixões e desejos».
Aí, Nee fala das duas obras da cruz: a substitutiva e a identificativa.
Primeiro Cristo morreu na
cruz pelo pecador para perdoar seu pecado. Portanto, o Deus santo podia perdoá-lo
com justiça. Mas a seguir está o fato de que o pecador também morreu na cruz
com Cristo para que não possa ser controlado mais por sua carne. Só isto pode
fazer que o espírito do homem recupere seu próprio domínio, que o corpo seja
seu servidor externo e que a alma seja sua intermediária. Desta forma, o
espírito, a alma e o corpo são restaurados a sua posição original anterior à
queda. Se ignoramos o significado da morte que descrevemos, não seremos libertados.
Que o Espírito Santo seja nosso Revelador!
Para Nee não importa se conseguiu vitória ou não, não é uma questão moral, nem coisa da vida, conhecimento ou obras espirituais. A crucificação da carne não depende das experiências, mas sim depende da obra terminada de Deus.
«Os que pertencem a Cristo
Jesus» — tanto os fracos como os fortes — «crucificaram a carne com suas paixões
e desejos».
Dizeis que ainda pecais, mas
Deus diz que fostes crucificados na cruz.
Dizeis que vosso mau gênio
persiste, mas a resposta de Deus é que fostes crucificados.
Dizeis que vossas paixões continuam
sendo muito poderosas, mas novamente Deus replica que vossa carne foi crucificada
na cruz.
De momento, façam o favor de parar
de olhar suas experiências e ouçam o que Deus lhes diz. Se não escutarem sua
Palavra e em lugar disso observarem continuamente sua situação, jamais viverão
a realidade de que sua carne foi crucificada na cruz. Não façam caso de seus sentimentos
e de sua experiência. Deus declara crucificada sua carne, e conseqüentemente,
ela foi crucificada. Respondam simplesmente à Palavra de Deus e terão
experiência. Quando Deus lhes diz que «sua carne foi crucificada», devem
responder: «Amém, é verdade que minha carne foi crucificada.» Atuando desta
maneira, segundo sua Palavra, comprovarão que sua carne está verdadeiramente
morta.
Sejam quais forem nossas experiências
pessoais, Deus declara que «os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a
carne». Para possuir esta morte não devemos dedicar muita atenção a investigar ou
observar nossas experiências. Em vez disso devemos acreditar na Palavra de
Deus. «Deus diz que minha carne foi crucificada e por isso acredito que está
crucificada. Reconheço que o que diz Deus é verdade.» Respondendo desta maneira
logo nos encontraremos com a realidade disto. Se primeiro olhamos o ato de
Deus, nossa experiência virá a seguir.
O Espírito Santo e a experiência.
A carne já não tem poder sobre nós, pois acreditamos e reconhecemos que ela foi crucificada na cruz.
Nossa união com Cristo em sua
morte significa que é um fato em nossos espíritos. O que o crente deve fazer
agora é tirar esta morte de seu espírito e aplicá-la a seus membros cada vez
que suas paixões despertem. Esta morte espiritual não é coisa para uma vez e pronto.
Se o crente não se mantiver vigilante ou se perde a fé, é indubitável que a
carne entrará em um frenesi de atividade. Que deseje ser totalmente conformado
à morte do Senhor, deve fazer morrer sem cessar as ações de seus membros para
que o que é real no espírito se realize no corpo.
A existência da carne.
É um tremendo engano pensar
que já eliminamos a carne e deduzir que a natureza do pecado está completamente
aniquilada. Este falso ensino engana às pessoas. A vida regenerada não modifica
a carne. A crucificação conjunta em Cristo não suprime a carne. O fato de que o
Espírito Santo habite em uma pessoa não a impossibilita para andar segundo a
carne. A carne, com sua natureza carnal, vive perpetuamente no crente. Assim
que tenha uma oportunidade, passará à ação de modo imediato.
Se um crente chega a
acreditar que está totalmente santificado e que já não tem carne, viverá uma
vida de aparência, falsa, ou uma vida indolente e relaxada. Aqui temos que destacar
um fato. Os filhos nascidos de pais regenerados e santificados ainda são da
carne e precisam nascer de novo como outros meninos.
Se um crente permanecer
totalmente inclinado a pecar, isto mostra que é a carne e que não se apropriou da
salvação total. O Senhor Jesus pode nos desviar do pecado, mas além disso
devemos estar alertas. Sob a influência do mundo e a tentação de Satanás, a possibilidade
de pecar se mantém.
Naturalmente, um crente deve
compreender que em Cristo é uma nova criatura. Como tal, o Espírito Santo vive
em seu espírito; e isto, junto com a morte de Jesus trabalhando ativamente em
seu corpo, pode equipar o crente para viver uma vida santa. Isto só é possível
porque o Espírito Santo aplica a cruz na carne do crente, fazendo morrer as
ações de seus membros. E então fica inativa. Entretanto, isto não implica que
já não existe a carne. Porque um crente continua possuindo uma carne pecaminosa
e é consciente de sua presença e de sua contaminação. O próprio fato de que a
natureza pecaminosa seja transmitida aos filhos deixa claramente estabelecido
de que o que agora possuímos não é a perfeição natural de Adão sem pecado.
A presença da carne não é uma
chamada à rendição, mas sim uma chamada a vigiar. A cruz crucificou por
completo à carne. Se estivermos dispostos a anular as más obras do corpo no
poder do Espírito Santo, experimentaremos seriamente a obra consumada da cruz.
A quarta parte fala da jactância da carne, Nee começa falando do outro lado da carne, que é a ligada a alma e não as paixões do corpo como foi visto até aqui.
A Bíblia emprega a palavra
«carne» para descrever a vida ou a natureza corrupta do homem, que abrange a
alma e o corpo. No ato criador de Deus, a alma foi colocada entre o espírito e
o corpo, ou seja, entre o que é celestial ou espiritual e o que é terrestre ou
físico. Seu dever é administrá-los de acordo com a função de cada um, conforme
a sua adequação, mas mantendo-os intercomunicados, para que, por meio desta
perfeita harmonia, o homem possa finalmente alcançar a plena espiritualidade. Desgraçadamente,
a alma cedeu à tentação que surgiu dos órgãos físicos, escapando assim da autoridade
do espírito e aceitando o controle do corpo. Em conseqüência, a alma e o corpo ficaram
unidos para ser a carne. A carne não só está «livre do espírito», mas também é
totalmente contrária ao espírito. Por isso a Bíblia afirma que «a carne luta
contra o espírito» (Gl. 5:17).
Nee tem uma posição um pouco distinta da reformada em relação a situação da carne na queda.
O que o engana é que a carne
não somente pode produzir pecado mas também pode fazer o bem. Se ainda fizer o
bem é evidente que ainda está viva. Se a carne tivesse morrido definitivamente,
a capacidade do crente de fazer o bem e de fazer o mal teria morrido com ela.
Para provar este argumento ele cita Nicodemos, em Jo 3:6 e Gl 3:3, então as boas ações são boas, mas são carnais.
Isto implica que os carnais
tentaram agradar a Deus, embora sem êxito. Certamente, isto se refere especificamente
às boas ações da carne que fracassam por completo em agradar a Deus. Agora vamos
conhecer, em profundidade, precisamente o que a carne pode fazer: é capaz de realizar
boas ações, de fazê-las com competência. Freqüentemente concebemos a carne sob
o aspecto de suas paixões e concupiscências, e por conseguinte a consideramos categoricamente
poluída, sem ver que compreende mais que o aspecto das paixões. Mas as
atividades das variadas faculdades da alma não têm por que ser tão poluídas
como as paixões.
Mas, Nee se aproxima da doutrina reformada, quando fala do arrependimento tanto das más obras como também das boas obras:
Tudo o que uma pessoa é capaz
de fazer antes da regeneração simplesmente é o resultado dos esforços da carne.
Por isso pode fazer o bem, como também pode fazer o mal. O engano do crente reside
precisamente aqui, em que só sabe que o mal da carne deve ser destruído, mas
ignora que tem que acontecer o mesmo com o bem da carne. Desconhece que a
virtude da carne é da carne tanto quanto a sua maldade. A carne permanece sendo
carne, seja boa ou seja má. O que põe um cristão em perigo é sua ignorância ou
sua rejeição em enfrentar a necessidade de desprender-se de tudo da carne,
inclusive do que é bom. Deve reconhecer categoricamente que o bom da carne não
é em nada melhor que o mau, posto que ambas as coisas pertencem à carne. Se não
se enfrentar com a carne boa, um cristão não pode esperar ser livre do domínio
da carne jamais. Porque se deixar que sua carne faça o bem, logo a encontrará obrando
o mal. Se não destruir sua virtude, sem dúvida alguma teremos que nos enfrentar
com sua maldade.
A natureza das obras da carne.
Como já dissemos, a segurança
e a confiança em si mesmo são as brechas das boas obras da carne. Para a carne é
impossível descansar em Deus. É muito impaciente para tolerar qualquer demora.
Enquanto se considerar forte nunca confiará em Deus.Mesmo nos momentos de desespero,
a carne continua fazendo planos e procurando uma saída. Nunca tem a sensação de
dependência total. Isso pode ser uma indicação para o crente saber se uma obra
é ou não é da carne. Tudo o que não for resultado de esperar em Deus, de
confiar no Espírito Santo, é da carne sem dúvida alguma. Tudo o que uma pessoa
decide segundo seu critério em lugar de procurar a vontade de Deus, surge da
carne. Sempre que há ausência de uma confiança absoluta, isto é obra da carne.
Agora entendam, as coisas que se façam podem não ser más ou equivocadas. De
fato podem ser boas e piedosas (como ler a Bíblia, orar, adorar, pregar), mas
se não são feitas num espírito de total confiança no Espírito Santo, então tudo
é obra da carne. A velha criatura está disposta a fazer qualquer coisa — inclusive submeter-se a Deus — contanto que
se lhe permita viver e permanecer ativa! Por muito boas que possam parecer as
ações da carne, o «eu», oculto ou visível, sempre aparece no horizonte. A carne
jamais admite sua debilidade nem reconhece sua inutilidade; inclusive embora se
evidencie seu fracasso até o ridículo, a carne continua acreditando firmemente
em sua capacidade.
Os pecados resultantes.
Quando um crente tenta completar a tarefa do Espírito com a energia da carne, nunca alcançará a maturidade, ao invés disso, chegará um momento em que os pecados que havia superado anteriormente aparecerão com maior força no futuro.
Por causa de sua ignorância
desta verdade, os crentes da Galácia chegaram a «morder-se e devorar-se uns aos
outros» (Gl. 5:15). Tentaram aperfeiçoar pela carne o que tinha começado no Espírito
Santo, porque desejavam «fazer um bom papel na carne», para «poder
glorificar-se em sua carne» (6:12,13). Evidentemente, seus êxitos em conseguir
fazer o bem com a carne eram muito escassos, enquanto que seus fracassos em
vencer o mal eram numerosos. Não percebiam que, enquanto servissem a Deus com
suas forças e suas idéias, indubitavelmente serviriam ao pecado na carne. Se
não proibiam à carne que fizesse o bem, não podiam impedi-la de que fizesse o
mal. A melhor maneira de não pecar é não fazer o bem com o eu. Ao desconhecer a
absoluta corrupção da carne, os crentes gálatas, em sua necessidade, desejavam
usá-la sem reconhecer que há a mesma corrupção na carne ao gabar-se de fazer o
bem que ao seguir as más paixões. Não podiam fazer o que Deus queria que fizessem,
porque por um lado tentavam realizar o que o Espírito Santo tinha começado, e
pelo outro tentavam inutilmente livrar-se das paixões da carne.
A quinta parte do segundo capítulo fala da atitude definitiva do crente com a carne, para Jesus a carne não vale nada, seja o pecado da carne ou seja a bondade.
- 1) «Porque a inclinação da
carne é morte» (8:6). Segundo Deus há morte espiritual na carne. A única saída
é levar a carne à cruz. Apesar dela ter capacidade para fazer o bem ou planejar
e maquinar para conseguir a aprovação dos homens, Deus pronunciou contra a carne
simplesmente uma sentença: a morte.
- 2) «A inclinação da carne é
inimizade contra Deus» (8:7). A carne se opõe a Deus. Não existe a mínima
possibilidade de uma coexistência pacífica. Isto não só ocorre com os pecados
que surgem da carne mas também com seus pensamentos e ações mais nobres. É
óbvio que os pecados contaminantes são contrários a Deus, mas tenhamos presente
que também se podem fazer boas ações independentemente de Deus.
- 3) «Não é sujeita à lei de
Deus, nem em verdade o pode ser» (8:7). Quanto melhor trabalha a carne mais se afasta
de Deus. Quantas pessoas «boas» estão dispostas a acreditar no Senhor Jesus? A
justiça própria não é justiça absolutamente; em realidade é injustiça. Ninguém
pode jamais obedecer todas as doutrinas da santa Bíblia. Uma pessoa pode ser tanto boa quanto má, mas uma
coisa é certa: não se submete à lei de Deus. Se for má, infringe a lei; se for
boa, estabelece outra justiça fora de Cristo e deste modo passa por cima do
propósito da lei («pela lei vem o conhecimento do pecado» [3:20]).
- 4) «Os que estão na carne não
podem agradar a Deus» (8:8). Este é o veredicto final. Apesar de quão bom um homem possa ser, se o que faz sai dele,
não pode agradar a Deus. Deus só se compraz com seu Filho. Além dEle e de sua
obra, ninguém pode agradar a Deus. O que se faz com a carne pode parecer
perfeitamente bom, mas como vem do eu e se faz com a força natural não pode
satisfazer a Deus. O homem pode planejar muitas formas de fazer o bem, de
melhorar e de avançar, mas isso é carnal e não pode agradá-Lo. Isto ocorre não
só com os não regenerados; também é o mesmo com os regenerados. Por muito
louvável e efetivo que seja o que o crente faça com suas próprias forças, não
conseguirá a aprovação de Deus. Agradar ou desagradar a Deus não depende do
princípio do bom e do mau. Pelo contrário, Deus procura a origem de todas as
coisas. Uma ação pode ser totalmente correta, mas entretanto Deus pergunta:
«Qual é sua origem?»
Se um crente aspirar alcançar
a maturidade espiritual, deve preservar sempre esta atitude que o apóstolo
Paulo apresenta ao longo do caminho espiritual; ou seja: «não que já a tenha
alcançado». O cristão não deve atrever-se a ter a menor confiança em si mesmo,
satisfação e gozo em si mesmo, pensando que pode confiar em sua carne.
A cruz e a obra mais profunda do Espírito Santo
A cruz é o lugar em que as
paixões e os desejos — e a mola que ativa estas paixões e desejos — são crucificados,
por admiráveis que possam parecer. Só no caso que alguém ver isso e estar
disposto a negar toda sua carne, boa ou má, pode, de fato, andar conforme o Espírito
Santo, agradar a Deus e viver uma vida espiritual genuína. Esse "estar
disposto" não deve faltar, por sua parte, porque embora a cruz, como um
fato consumado, seja completa em si mesma, sua realização na vida de uma pessoa
é medida pelo conhecimento, pela preparação e pela fé da mesma.
Em João 1.13 - temos a vontade da carne, em Cl 2.18 termos a mentalidade da carne e em 2Co 1.12, temos a sabedoria da carne.
Quando consignamos nossa carne à cruz a
entregamos a maldição, reconhecendo que na carne não há nada bom e que não
merece nada a não ser a maldição de Deus. Sem esta atitude no coração é extremamente
difícil que nós aceitemos a circuncisão da carne. Todo afeto, desejo, pensamento,
conhecimento, intenção, adoração e obra da carne deve ir para a cruz. Ser crucificado com Cristo
significa aceitar a maldição que nosso Senhor aceitou. Não foi um momento
glorioso para Cristo ser crucificado no Calvário (At. 12:2). Seu corpo foi pendurado
no madeiro, o que significava ser maldito de Deus (Dt. 21:23). Como
conseqüência, que a carne seja crucificada com o Senhor implica simplesmente
ser maldito pelo Senhor. Tal como temos que receber a obra consumada de Cristo
na cruz, assim também temos que entrar na comunhão da cruz. O crente deve
reconhecer que sua carne não merece outra coisa senão a maldição da morte. Sua
comunhão prática com a cruz começa depois que vê a carne tal como Deus a vê.
Antes que o Espírito Santo possa encher plenamente uma pessoa, tem que haver
uma entrega completa da carne à cruz. Oremos para que possamos saber exatamente
o que é carne e como tem que ser crucificada.
Nossa segurança se acha no
Espírito Santo. O caminho seguro está em nossa boa disposição para sermos
ensinados, temerosos de que do contrário cedamos terreno à carne. Temos que nos
submeter alegremente a Cristo e confiar no Espírito Santo para que nos aplique
a morte de Jesus, para que possa ser ostentada em nós a vida de Jesus. Tal como
antes estávamos cheios da carne, agora seremos cheios do Espírito Santo. Quando
Ele tenha controle completo, vamos derrotar o poder da carne e manifestar
Cristo em nossa vida. Poderemos então dizer que «a vida que agora vivo na
carne, não a vivo eu, mas Cristo que vive em mim». Entretanto, o fundamento dessa
vida é e foi sempre o «fui crucificado com Cristo» (Gl. 2:20).Se vivermos por
fé e obediência podemos esperar que o Espírito faça uma obra extremamente Santa
e maravilhosa em nós.
O melhor que a carne tem para
oferecer deve ser entregue de modo inexorável à morte, pela simples razão de
que pertence à carne. A justiça da carne é tão aborrecível como o pecado. Seus
atos bons deveriam ser objeto de arrependimento por nossa parte com a mesma
humildade que se fossem atos pecaminosos. Sempre temos que ter em conta o ponto
de vista que tem Deus da carne.