domingo, maio 27, 2012

Quando Jesus vomita a gente?







Apocalipse 3.14-22:   E ao anjo da igreja que está em Laodicéia escreve: Isto diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus.  Eu sei as tuas obras, que nem és frio nem quente. Tomara que foras frio ou quente!   Assim, porque és morno e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca. Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta (e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu),   aconselho-te que de mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças, e vestes brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os olhos com colírio, para que vejas. Eu repreendo e castigo a todos quantos amo; sê, pois, zeloso e arrepende-te. Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele, comigo. Ao que vencer, lhe concederei que se assente comigo no meu trono, assim como eu venci e me assentei com meu Pai no seu trono. Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas.

Nas sete cartas para as igrejas, há sempre três coisas que aparecem: uma é Cristo como mensageiro e uma característica especial de sua pessoa, outra é um elogio e, a seguir, uma reprimenda. Laodicéia e Esmirna precisavam de renovação, então, não recebem qualquer elogio, pois a auto-ilusão já se fazia presente em ambas as comunidades.

O auto-engano proporcionado pela prosperidade foi o grande motivo da queda desta igreja, como muitos de nós, por vezes na vida, quando as coisas começam a ir bem, começamos a nos sentir auto-suficientes, achando que em nós temos respostas e suficiência para todos os problemas da vida.

Quando começamos a pensar assim, ficamos como um ser estranho dentro do Corpo de Cristo, e Ele tem mais é que nos vomitar para fora, porque não queremos ser mais alimentados da sua verdade e do seu Espírito,mas das nossas próprias conquistas e sabedoria. Ele nos vomita do seu Corpo santo porque antes o colocamos para fora da igreja. Mas, em sua misericórdia eterna, ele bate querendo entrar de volta.

Jesus quer que aprendamos que a santidade não pode vir de nossas próprias capacidades, que a real segurança não pode vir de nossas conquistas, e que a pureza não pode ser alcançada pelos nossos esforços.

Antes de mais nada, Jesus mostra a realidade de quem nós somos: pobre, cego e nu. Achamos que a riqueza pode nos trazer conforto, mas ela nos traz uma pobreza espiritual. Achamos que o poder pode fazer com que nos sintamos importantes, mas ele apenas nos cega sobre nossa situação. Achamos que nossos prazeres podem enganar nossa corrupção, mas estamos nu e envergonhados diante do Senhor.

Esta lista, João já tinha nos falado dela em outra forma:

1João 2.16   Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo.

Sexo, poder e dinheiro eis a argamassa do mundo, com a qual o inimigo constrói seu império mundano.  Quando a igreja tenta sem Deus, lidar com esses três poderes acaba se tornando refém deles.  A própria palavra Laodicéia pode significar opinião do povo, pensando assim, buscavam seu próprio conselho, e não mais de Deus.

A solução que Jesus busca é que reorientemos nossa vida, descobrimos nele o modo de como devemos lidar com essas três coisas.  A grande lição para Laodicéia é voltar a adorar a Deus, usando tudo para adora-lo e servi-lo, deixar de lado o orgulho espiritual e aprender de Deus como viver.


1. Vestes brancas para tua nudez.

Buscar em Jesus a santificação e a pureza do corpo, não em conselhos humanos.

1 João 2.6   Aquele que diz que está nele também deve andar como ele andou.


2. Colírio para olhos.
Para o problema da busca do poder para dar sentido a vida, João nos ensina a buscar o poder do Espírito Santo para controlar nosso desejo.

1João 2.11   Mas aquele que aborrece a seu irmão está em trevas, e anda em trevas, e não sabe para onde deva ir; porque as trevas lhe cegaram os olhos.


3. Ouro provado no fogo.

Nossa riqueza vem das mãos do Senhor, e não das nossas.

1João 2.15   Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele.

O senhor nos repreende por que nos ama, e quer voltar a ter um relacionamento íntimo e abundante com cada um de nós.

1João 2:4-5: Aquele que diz: Eu conheço-o e não guarda os seus mandamentos é mentiroso, e nele não está a verdade. Mas qualquer que guarda a sua palavra, o amor de Deus está nele verdadeiramente aperfeiçoado; nisto conhecemos que estamos nele.

O único modo que podemos viver a vida cristã não é confiando em nossa própria opinião ou em nossas próprias forças, mas na Palavra de Deus e na força do Espírito Santo, esse é o caminho para andarmos como Jesus em seu corpo, que é a igreja.




sábado, maio 26, 2012

O que significa seguir a Jesus?



LUCAS 9:57-62: E aconteceu que, indo eles pelo caminho, lhe disse um: Senhor, seguir-te-ei para onde quer que fores.  E disse-lhe Jesus: As raposas têm covis, e as aves do céu, ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.  E disse a outro: Segue-me. Mas ele respondeu: Senhor, deixa que primeiro eu vá enterrar meu pai.  Mas Jesus lhe observou: Deixa aos mortos o enterrar os seus mortos; porém tu, vai e anuncia o Reino de Deus.  Disse também outro: Senhor, eu te seguirei, mas deixa-me despedir primeiro dos que estão em minha casa.  E Jesus lhe disse: Ninguém que lança mão do arado e olha para trás é apto para o Reino de Deus.


O que significar seguir a Jesus? A definição mais simples que podemos ter é a de entrar no Reino de Deus. Este reino é o poder de Deus que invade este mundo transforma tudo através do poder do Espírito Santo, não é um reino deste mundo, mas que vêm de Deus.

Diferente dos líderes humanos, Jesus não coloca seu reino como uma fantasia ou mundano, seu reino é celestial, e somente pode se entrar nele se for chamado por Jesus.

Neste texto de Lucas, nós vemos quem são as pessoas que entram e que não entram neste reinado. Para entrar neste reino, precisamos ser salvos por Jesus e ter Ele como nosso rei. Pensando em Bonhoeffer, é preciso duas coisas que, normalmente, separamos: crer (Jesus como salvador) e obedecer (Jesus como senhor).

O primeiro homem narrado por Lucas, é aquele que apenas crê, mas não entende a dureza do reino, não entende o que é obediência. Ele quer seguir a Jesus pensando que se ele seguir Ele por todos os lados,  sua vida ficará melhor. Há apenas obediência, há apenas a ilusão de que o esforço pode mudar a vida. Não há um crença em Jesus como salvador, o que salva este homem é sua obediência.

A resposta de Jesus, é que as raposas tem covis e e as aves tem ninhos, ou seja, haverá problemas. Jesus está dizendo que não tem status, não tem riquezas, não tem influência, não tem ao menos um lugar para morar. A promessa dele não está em comida ou bebida, mas em justiça, paz e alegria que é o Reino de Deus.

Muitos começam a seguir por entusiasmo próprio como este homem, achando que vão melhorar as suas vidas, mas quando acontece um revés não entendem por que aquilo que está acontecendo com eles. Estes não entendem o que Jesus diz, que haverá sofrimentos, haverá problemas, há uma cruz que devemos carregar e compartilhar com Ele, crendo que Ele e não nossos esforços vão produzir descanso para a nossa alma.

Os dois últimos homens são os exemplos de um outro lado da questão, muitos acreditam em Jesus, mas não querem obedecê-lo.  Porque não entendemos a grandeza do chamado de Jesus.

O segundo homem diz que primeiro quer enterrar seus pais, ele coloca as obrigações antes  do seguir a Jesus, ele quer cuidar do seu passado antes de começar a seguir a Jesus.  O terceiro homem diz que primeiro quer despedir dos seus familiares antes de segui-lo.  É a questão de muitos de nós, eu vou segui-lo, contudo, existe o mas antes ou o contanto que.

Entrar no reino de Deus significa um compromisso absoluto com este reinado, Jesus não pode ser nosso salvador e rei se não abrirmos mãos dos nosso mas antes.

Se você tiver qualquer condição ou qualificação, isto é, o seu verdadeiro rei, você mesmo. Você é que está no controle da sua vida. Você diz que quer ser bom, mas ainda não. Ou seja, você diz sim ou não para Jesus, diz acreditar nele mas nega sua obediência.

A primeira resposta de Jesus, deixe os mortos enterrarem seus mortos, quer dizer que se existe alguma coisa mais importante que seguir a Ele, nós estamos mortos.  E isto vai matá-lo. 

Quando dizemos a Jesus, eu vou segui-lo mas antes deixe eu fazer tal coisa ou contanto que tal coisa aconteça, esta condição é, na verdade, nosso rei e salvador, acreditamos que quando resolvemos isto estaremos salvos e vivos, por isto mesmo, estamos mortos.

A terceira resposta de Jesus diz que quem coloca a mão no arado e fica olhando para trás é apto para o reino de Deus.  Quando estamos arando uma terra é essencial que fiquemos olhando para frente para que não saia nada torto e o trabalho seja bem feito, quando estamos seguindo a Jesus há momentos em que não enxergamos claramente o fruto que será produzido com a nossa retidão em segui-lo, mas devemos continuar seguindo crendo que Ele tem o melhor para nós.

A obediência está ligada a crença de maneira inseparável, porque cremos que Ele é o nosso salvador e obedecemos porque ele é o nosso senhor, assim crer em Jesus é que Ele melhor que nós sabe o que é vida para nós e obedecemos porque confiamos em seu juízo.

Quando ficamos olhando para trás para as coisas que deixamos antes de começar a segui-Lo, os antigos ídolos do nosso coração começam a reviver, deixamos o reino de Deus.

Ninguém que ama qualquer coisa mais do que Ele pode permanecer no reino de Deus, para glorificar a Deus em nossa vida, devemos buscar nossa alegria nele somente a todo instante. Nenhum de nós está isento disto.

Para concluir, lembro-me da frase de C.S. Lewis, que muitos preferem reinar no inferno, do que servir no reino de Deus". Esta é a escolha que se coloca para cada um de nós nessa vida, uma vida ou uma morte, crer e obedecer ou morrer.


fonte:

Bonhoeffer - Discipulado.
Timothy Keller - Let the Dead Burry Their Dead
C.S. Lewis- O Grande Abismo


domingo, maio 20, 2012

Como saber se a pregação é evangélica?


Existem três modos de falar sobre Deus numa igreja, uma forma é o que chamamos de religião  (Tim Keller) ou escassez ( Carlos McCord), uma segunda, chamada de liberalismo, pode tudo e mais um pouco, e uma terceira forma bem diferente que é o evangelho ou abundância.

Na primeira visão, infelizmente mais comum em nossos púlpitos, a abordagem parte da escassez da vida, daquilo que você faz e tenta mudar seu comportamento através de idéias ou coisas que você deve fazer. A palavra chave desta pregação é FAÇA!

O foco é aquilo que você faz para Deus, sendo sua motivação com isto ser aceito por Deus com base em sua obediência, a mudança é sempre de fora para dentro, a mensagem principal é que existe uma carência de certas coisas e você precisa fazer alguma coisa para mudar isto na sua vida. Os frutos desta abordagem são orgulho e frustração, acaba gerando uma mentalidade de super crentes versus crentes não tão esforçados. A qualidade da vida espiritual é medida pelo esforço individual de cada crente.

Essas pregações são facilmente reconhecidas em seus temas: Como ser, Como reconhecer, Como tornar-se, 10 regras, 5 leis, 3 atitudes. Enfim, é a alma tentando melhorar o espírito, uma mudança de fora para dentro.


Tim Keller coloca um segundo ladrão para a nossa vida com Deus além do moralismo, há pregações, hoje em dia, que implicam num relativismo moral. O foco delas é o amor de Deus que perdoa tudo, a motivação é apenas ser feliz, Deus nos aceita como somos, não precisamos realmente de mudanças, Deus foi criado para nos fazer feliz, há um Jesus que é sacerdote mas nunca profeta e nem rei. Há uma graça sem verdade, sem arrependimento. A tendência é de um hedonismo religioso, um cristianismo de mercado sem compromisso com Deus ou com o próximo.  Gera uma crença estéril e insubmissa. 

A primeira vista parece que estas duas formas não tem nada em comum, contudo, elas partem do mesmo pressuposto, elas evitam que Jesus seja o centro das suas vidas. Ambas, se alimentam da escassez que há na carne. O moralismo se alimenta das regras e do esforço, o liberalismo da felicidade e do amor natural carnal. 

Ambas tem também uma visão distorcida de Deus, para moralista, Deus é alguém que estabeleceu certas regras pelas quais devemos viver, ele é o chefe, o exemplo moral,mas nunca o salvador. Para o liberal, Deus é alguém que apenas ama, e não se importa com o modo como levamos nossas vidas, sua graça e cruz tornam-se meros acessórios para ambas as visões.



A outra forma bem diferente desta é chamada de Evangelho,  o foco do evangelho é a obra e pessoa de Jesus Cristo, começa com a abundância de vida que há nEle.  A motivação não é fazer, mas descansar no amor de Deus revelado em Jesus, viver em Deus para Deus, a mudança acontece de dentro para fora, nosso espírito é tocado pelo Espírito Santo, nossa alma é moldada e constrangida pelo amor de Jesus Cristo. 

A mensagem é boa notícia, é de vida, que ressoa que somos filhos amados de Deus em Jesus Cristo. A tendência em nossa vida não é para orgulho ou medo, mas para uma vida de humildade e grandeza pois somos totalmente verdadeiros sobre o nosso fracasso e somos totalmente aceitos pela vitória dEle, há uma vida frutífera e multiplicadora pois reconhecemos a graça de Deus em nossa vida, e a abundância que há em nosso relacionamento com Jesus Cristo.


Se a pregação que você ouve não te levar para o descanso que há em Jesus Cristo, ela não pode ser boa nova. Muitos pregadores são tentados hoje em manipular as pessoas com comportamentos em troca de uma vida de felicidade.

Mas, a função principal é levar cada um de nós a um relacionamento com a pessoa de Jesus que é a nossa vida, a nossa transformação e o nosso amor.

Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado.  1Co 2.2




Watchman Nee: Homem Espiritual - O Corpo


A última parte do livro, Nee irá tratar sobre o corpo.


"Se, porém, Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito é vida, por causa da justiça." (V 10.)


O pecado foi expulso do espírito e da vontade, mas não foi eliminado do corpo. E é a permanência do pecado que faz com que o corpo esteja morto.


"Se habita em vós o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos vivificará também o vosso corpo mortal, por meio do seu Espírito, que em vós habita." (Rm 8.11.)


O versículo 10 revela que Deus vivifica nosso espírito; o 11, como Deus dá vida ao nosso corpo. Nee continua explicação de Romanos 8 e versos seguintes dizendo:


Alguns rejeitam a provisão de Deus, pois afirmam que ela nada tem a ver com eles. Outros conhecem essa provisão, crêem nela e a desejam, mas não apresentam seu corpo ao Senhor como um sacrifício vivo. Afirmam que Deus lhes concedeu força para viverem por si mesmos. No entanto aqueles que realmente desejam viver para Deus, e pela fé se apropriam dessa promessa e dessa provisão, experimentam a realidade da plenitude da vida no corpo, conforme o Espírito Santo lhes concede. "Assim, pois, irmãos, somos devedores, não à carne como se constrangidos a viver segundo a carne." (Rm 8.12.)


Se ouvirmos a verdade da cruz, mas não permitirmos que o Espírito a aplique em nossa vida, nosso conhecimento não passa de uma teoria, de um ideal



"Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas." (V. 12.) Como vemos pelos versículos seguintes, o apóstolo Paulo aqui está se referindo ao corpo. Ele julga que tudo lhe é lícito porque, de acordo com a natureza, todas as exigências do corpo, como o comer, o beber ou o sexo são naturais, justas e lícitas (v. 13). Entretanto ele entende que nem todas elas são necessariamente úteis, nem devem escravizar o homem.



"O corpo é para o Senhor." Isso significa que, embora a carne pertença ao Senhor, este a confiou ao homem. E o Senhor quer que a conservemos para ele. São muito poucos os que conhecem e praticam essa verdade!  Deus quer que saibamos que ele deu seu corpo por nós, e também que, se nosso corpo for genuinamente "para ele", vivenciaremos o fato de que o Senhor é para o corpo. A expressão "o corpo é para o Senhor" significa que devemos dedicar nosso corpo totalmente a ele, para viver para ele. "O Senhor é para o corpo" significa que, ao aceitar nossa consagração, ele concede sua vida e seu poder ao nosso corpo físico. Ele cuidará dele, preservando-o e nutrindo-o.


A expressão "o Senhor é para o corpo" possui vários significados:

1. Exprime a idéia de que o Senhor livrará o corpo do pecado.

2. O Senhor é também para nossas doenças físicas. Do mesmo modo que ele destrói o pecado, cura as doenças. Ele é para qualquer problema relacionado ao nosso corpo, e, por conseguinte, para nossas doenças também. As enfermidades são apenas a manifestação do poder do pecado em nosso corpo.

3. O Senhor é também para o nosso viver no corpo. Ele será a força e a vida do corpo, permitindo que vivamos por ele.

4. O Senhor é também para a glorificação do corpo. Isso acontecerá no futuro.

Se acharmos que o Espírito Santo vem principalmente sobre nosso corpo, estaremos enganados. Contudo, se crermos que ele habita apenas em nosso espírito, também seremos  Sejamos sóbrios e vigilantes, a fim de não usarmos nosso corpo para nós mesmos, nem permitirmos que ele chegue a um estado em que pareça que o Senhor não é para o corpo. Desse modo, glorificaremos a Deus e permitiremos que ele demonstre seu poder livremente, libertando-nos das fraquezas, das doenças e dos sofrimentos, bem como do interesse próprio, do amor próprio e do pecado.


2. As Doenças


Pela incredulidade, o homem divide o Salvador perfeito em dois, embora a verdade continue sendo que Cristo é, para sempre, o Salvador do corpo e da alma, competente para curar e para perdoar.  O amor-próprio, naturalmente, cria os seus recursos particulares. Em vez de os cristãos recorrerem a Deus, objetivando eliminar a raiz da doença, eles anseiam pela cura, indo buscá-la nos remédios. Muitos crentes tendem a confiar mais nos recursos intermediários do que em Deus. Por conseguinte, sua vida espiritual passa a sofrer em razão do uso de medicamentos.

Quando os cristãos não recebem a doença de bom grado, não a vendo como o melhor que Deus tem para nós, quando eles buscam outros meios de cura que não o Senhor, recusando-se a submeter-se a ele, adoecem novamente, mesmo depois de terem sido curados. Se se apegarem ao amor-próprio, e ficarem o tempo todo preocupados consigo mesmos, Deus lhes dará mais motivos para sentirem autopiedade. Ele vai lhes mostrar que a medicina terrena não pode curar permanentemente. O Senhor quer que seus filhos saibam que um corpo forte e saudável não é para a satisfação própria, nem para ser usado segundo os próprios desejos, mas somente para Deus. O espírito de cura é um espírito de santidade. Carecemos é de santidade; não de cura. Precisamos ser libertos primeiro é do ego; não da doença.


Entretanto devemos ter cuidado para não cair em extremos. A vontade de Deus é que descansemos exclusivamente nele. Contudo, depois que negarmos definitivamente os nossos próprios meios, e confiarmos nele de maneira plena, pode ser do seu agrado que utilizemos alguns recursos naturais para ajudar nosso corpo.

Guardemos estas três verdades: Deus pode, Deus quer, Deus faz. Quando nossa fé atinge o terceiro estágio, a doença se vai.


Todo crente precisa enxergar com clareza que está unido com o Senhor. Ele é a videira, e nós, os ramos. Assim como os ramos estão unidos ao tronco, assim também estamos unidos com o Senhor. Unidos ao tronco, os ramos recebem o fluxo da vida da planta. Nossa união com o Senhor produz os mesmos resultados. Entretanto, se acharmos que essa união se limita ao espírito, a fé se levantará para protestar. Como Deus nos chama para mostrar ao mundo a realidade da nossa união com Cristo, ele quer que creiamos nesses fatos e recebamos o fluxo de sua vida para o nosso espírito, alma e corpo. Se nossa comunhão for cortada, nosso espírito certamente perderá a paz, e o corpo não terá saúde. Se permanecermos em Cristo, a vida dele estará continuamente enchendo nosso espírito e fluindo para o nosso corpo. Se não participarmos da vida do Senhor Jesus, não poderemos receber cura nem saúde. Deus deseja que seus filhos hoje experimentem uma união mais profunda com o Senhor Jesus.





sexta-feira, maio 18, 2012

Como ler a Bíblia lendo Jesus.

Este texto busca ser uma ajuda para ler a bíblia como uma escritura cristã, há mais livros e autores que aprofundam este assunto, você pode e deve consultá-los:

Pregação Cristocêntrica - Brian Chappel.
Pregando Cristo a partir do Antigo Testamento - Sidney Greiadnus
Preaching Christ in All Scripture- Edmund Clowney
Deuses Falsos - Timothy Keller

Antes de entender como funciona esta leitura, deve-se ter uma clareza da noção do evangelho versus religião (ou moralismo). O Evangelho é Deus em busca do homem para salva-lo e redimi-lo. A religião é o homem que busca Deus através de seus esforços. Então, podemos que existem dois modos de como podemos encarar a leitura da Bíblia.

Estas simples idéias já definem os nossos pressupostos de como leremos a Bíblia, se entendemos a vida cristã como a religião define, estamos em busca de princípios para viver e assim, alcançar a Deus. Agora, se temos uma clara noção do evangelho, notamos que a Bíblia não fala de nós, mas de como Deus nos buscou e encontrou, então, o personagem principal é Jesus Cristo.

Por isto também, o evangelho é um evento histórico de boa nova, algo que já aconteceu em nosso favor pela obra perfeita e redentora de Cristo e não é uma coisa que precisamos construir com nossos esforços. 

Assim, se lemos a bíblia como o famoso manual do fabricante com as regras que Deus deu para alcançar a Ele perdemos toda a obra de Cristo em nosso favor. Jesus é seu modelo, seu mestre, seu chefe mas nunca será seu salvador, seu redentor, enfim, seu amor e vida.



1. Evitando uma leitura moralista.

O grande erro que podemos cometer ao ler e interpretar um texto bíblico é não enxergar a presença de Jesus Cristo nele, isto fica claro como ensina Bryan Chapell de quatro modos dos fatais SEJA, FAÇA, MUDE e DISCIPLINE-SE:

“Mensagens que exortam a ser como, que concentram a atenção dos ouvintes sobre um personagem bíblico, à medida que o pregador os exorta a serem como aquela pessoa ou como alguém aspecto da sua personalidade (...) Simplesmente dizer às pessoas que imitem a piedade de outros sem lembra-luz que qualquer coisa mais que conformidade exterior precisa vir de Deus, leva-as ou a desesperar-se da transformação espiritual ou a negar sua necessidade” p. 306
A carne nunca melhora, mensagens que começam com esforço próprio começam na nossa natureza carnal do eu. A culpa cancelada por esforço ou mudança de comportamento gera somente legalismo e orgulho.




2. Lendo  toda a Escritura sob a luz do Evangelho.


Devemos buscar uma leitura da bíblia sagrada, seja do primeiro e do segundo testamento a luz da obra e vida de Jesus Cristo. 


Como ensina Greidanus:



"A igreja do Novo Testamento pregava o nascimento, o ministério, a morte e a ressureição e a exaltação de Jesus de Nazaré como cumprimento das antigas promessas de aliança com Deus, sua presença hoje no Espírito e seu iminente retorno. Em suma, pregar Cristo significava pregar Cristo encarnado dentro do contexto do pleno escopo da história da salvação" Pregando Cristo a partir do Antigo Testamento,  p. 18

Citando Calvino, que ensina que:

"Devemos ler as escrituras com o propósito expresso de encontrar Cristo nelas. Aquele que se desviar desse objetivo, embora possa se afadigar a vida inteira no aprendizado, jamais alcançará o conhecimento da verdade, pois que sabedoria podemos encontrar sem a sabedoria de Deus? p. 259

Encontrar Cristo é ir além do método moralista, é buscar a boa nova no texto e revelar Cristo em todo texto.

O método moralista/religioso se concentra assim:

1. História.
2. Princípio Moral
3. SEJA: faça, seja, mude ou discipline-se

Uma aproximação cristocêntrica leva o texto até Cristo, e promove a boa nova, começa-se também com uma exegese gramatical histórica do texto, ou seja, entende-se o seu contexto histórico da escrita e sua  interpretação para os ouvintes atuais.

1. história
2. princípio moral.
3. incapacidade humana.
4. história de Jesus diante daquele princípio
5. vitória em Jesus para aquele princípio.

Ou como ensina Greidanus:

um sermão cristão sobre um texto do Antigo testamento necessariamente irá na direção do Novo Testamento. Isso é óbvio quando o texto contém uma promessa que é cumprida em Cristo: o pregador não pode parar na promessa, mas, naturalmente, irá prosseguir com o sermão até o seu cumprimento. O mesmo ocorre quando o texto contém um tipo que é cumprido em Cristo: o sermão vai do tipo para o antítipo. Isso também acontece quando o texto relata um tema que é mais desenvolvido no Novo Testamento, no sermão, o pregador vai do tema do AT para seu desenvolvimento mais completo no NT p.263



Jesus é o grande herói da Bíblia e não eu ou você, como Timothy Keller coloca:

Jesus é o verdadeiro e melhor Adão, que passou pelo teste no jardim e cuja obediência é imputada a nós.Jesus é o verdadeiro e melhor Abel que, apesar de inocentemente morto, possui o sangue que clama, não para nossa condenação, mas pela absolvição.Jesus é o verdadeiro e melhor Abraão que respondeu ao chamado de Deus para deixar todo o conforto ea família e saiu para o vazio sem saber para onde ia, para criar um novo povo de Deus.Jesus é o verdadeiro e melhor Isaque, que foi não somente oferecido pelo Seu Pai no monte, mas foi verdadeiramente sacrificado por nós. E quando Deus disse a Abraão: "Agora eu sei que você me ama, porque você não poupou o seu filho, teu único filho a quem você ama de mim," agora podemos olhar para Deus levando Seu Filho até a montanha e sacrificá-lo e dizer: "Agora sabemos que nos ama, porque você não poupou o seu filho, teu único filho, a quem você ama de nós."Jesus é o verdadeiro e melhor Jacó que lutou e sofreu o golpe de justiça que merecemos, por isso, como Jacó, só recebêssemos as feridas da graça para nos despertar e disciplinar.Jesus é o verdadeiro e melhor José que, na mão direita do rei, perdoa àqueles que o venderam e traíram e usa seu novo poder para salvá-los.Jesus é o verdadeiro e melhor Moisés que se põe na brecha entre o povo e Deus e que é mediador de uma nova aliança.Jesus é a verdadeira e melhor Rocha de Moisés que, golpeada com a vara da justiça de Deus, agora nos dá água no deserto.Jesus é o verdadeiro e melhor Jó, sofredor verdadeiramente inocente, que então intercede e salva os seus tolos amigos.Jesus é o verdadeiro e melhor Davi, cuja vitória torna-se a vitória do Seu povo, apesar deles nunca terem movido uma única pedra para conquistá-la.Jesus é a verdadeira e melhor Ester que não apenas arriscou deixar um palácio terreno, mas perdeu o definitivo e divino, que não apenas arriscou sua vida, mas deu sua vida para salvar seu povo.Jesus é o verdadeiro e melhor Jonas que foi expulso na tempestade, para que nós pudéssemos ser trazidos para dentroJesus é a verdadeira Rocha de Moisés, o verdadeiro Cordeiro pascal, inocente, perfeito, desamparado, sacrificado para que o anjo da morte vai passar sobre nós. Ele é o verdadeiro templo, o verdadeiro profeta, o verdadeiro sacerdote, o verdadeiro rei, o verdadeiro sacrifício, o verdadeiro cordeiro, a verdadeira luz, o verdadeiro pão.A Bíblia não é realmente sobre você - é sobre ele.

segunda-feira, maio 14, 2012

Marilia de Camargo Cesar: Feridos em nome de Deus

Este é um livro muito recomendado para todo o pastor ou líder em uma igreja, o livro trata sobre o abuso que pode ocorrer entre o líder e liderado dentro de uma igreja, seja ele emocional, espiritual ou social.

Todo pastor dentro de uma igreja encontra-se mesmo numa posição em que pode acontecer tal coisa, seja por iniciativa dele ou mesmo da pessoa que o procura. A igreja é uma situação limite, onde a fraqueza humana está mais exposta.

O livro traz uma série de situações factuais de casos de abuso, mostrando quão complexo e variado é este assunto. 

O que gostei no livro foi a variada tomada de informações e relatos, e a sinceridade de não colocar ninguém como isento de uma possível ocorrência ao fato. O remédio proposto é de humildade ao pastor, reconhecendo que é apenas um ser humano.

Os limites para não haver abuso são o do bom senso, numa relação lider-liderado deve estar sempre claro o limite do serviço, o líder serve.

Outro tema importante é a questão do ungido, usado por alguns para ter poderes especiais, isto não existe e nem é bíblico.

Um terceiro tema importante na questão é a relação de dependência que muitos crentes tem em relação aos seus lideres, como se fosse uma terceirização da fé na pessoa do líder, a doutrina reformada é clara no sentido de universalização do sacerdócio e da responsabilidade pessoal de cada crente por sua vida espiritual. Nesse ponto, a autora foi muito bem, ressaltando ainda aspectos psicológicos dessa relação.( especialmente cap. 11)

O que não gostei foi da constante equalização de pentecostal com abuso, o livro, por vezes, trata os dois termos como sinônimos. 

O estranho mesmo são os capítulos 6 e 7, o seis trata do abuso teológico criado por um pastor impor o teísmo aberto aos seus membro. E no capítulo sete,  a autora busca opinião de Ricardo Gondim, grande defensor do teísmo aberto no Brasil. Não entendi.

Depois de ler este livro, se você quiser o remédio tem que ler O Pastor Desnecessário de Eugene Peterson.


quarta-feira, maio 02, 2012

O Homem Espiritual - A Alma.


Na terceira parte do livro de Watchman Nee,  vai tratar da segunda parte do ser humano, que é a alma. O primeiro ponto desta terceira parte falará sobre a a libertação do pecado e a alma humana.

Nee parte de Romanos 6, a libertação acontece no momento em que o pecador aceita ao Senhor Jesus como salvador e nasce de novo. 



Alguns trechos:
==========
E é por meio deste corpo que o pecado consegue expressar-se, pois de outro modo seria um poder invisível. Para recapitular, pois, o pecado é o poder que nos arrasta a pecar. O velho homem é a parte não corporal que herdamos de Adão. O corpo de pecado é o elemento corporal que herdamos de Adão. O processo de pecar segue esta ordem: primeiro, o pecado; em seguida, o velho homem; finalmente, o corpo.
==========
A Bíblia nunca nos instrui a que crucifiquemos a nós mesmos. Precisamente nos diz o oposto. Nos ensina que quando Cristo foi ao Calvário, nos levou com ele e ali nos crucificou. Não instrui a nos crucificarmos a nós mesmos; em vez disso as Escrituras nos asseguram que nosso velho homem foi tratado no momento em que Cristo foi à cruz.
==========
O pecado já não pode tentar o crente porque é um novo homem; o velho morreu. A ocupação do corpo era antigamente a de pecar, mas este corpo de pecado agora está sem ocupação, posto que o velho homem foi posto de lado.
==========
Quando Deus diz que nosso velho homem foi crucificado, consideramo-nos mortos; quando Ele insiste em que estamos vivos, consideramo-nos vivos.
==========
Deveríamos aprender a viver em Cristo pela fé, nunca nos considerando fora dEle. Aprendamos a crer diariamente que estamos em Cristo e que tudo o que é verdade Dele é verdade nossa.
==========
Temos que enfatizar que ser libertado do poder do pecado significa meramente que «nosso corpo» foi libertado. (Naturalmente, nossa redenção perfeita, que também inclui a libertação da presença do pecado, encontra-se ainda no futuro.) A vida da alma, sobre a qual nos apoiamos, não foi tratada ainda.
==========
Essa vida é inteiramente distinta da nova vida que o Espírito Santo nos dá por ocasião do novo nascimento. O que o Espírito Santo compartilha é a vida incriada de Deus; essa outra é só a vida criada do homem. O Espírito Santo nos concede um poder sobrenatural; a outra é meramente a natural.
==========
A vida da alma proporciona a energia para executar tudo o que se manda. Se reger o espírito, a alma será dirigida pelo espírito a exercer seus atos de vontade, ou decidir, ou operar conforme o desejo do espírito; entretanto, se reinar o pecado no corpo, a alma se verá arrastada pelo pecado a usar sua volição para decidir ou fazer o que o pecado deseja.
==========
Porque vemos que a vida da alma continua, embora a cruz tenha tratado a natureza pecaminosa do crente. É verdade que cada pecado irrompe dessa natureza pecaminosa, com a alma sendo simplesmente uma serva disposta; entretanto, a alma como herdada de Adão está infectada com a queda de Adão.
==========
Depender da vida da alma para realizar o desejo do espírito é usar força natural (ou humana) para realizar bondade sobrenatural (ou divina).
==========
A experiência do crente de ser libertado do pecado pode inclusive continuar, mas nem por isso vai ser feito perfeito. Não tratou ainda inexoravelmente com seu «eu».
==========
O triunfo sobre o pecado é como uma porta: dá-se um passo, e já se está dentro; o triunfo sobre o eu é como um atalho: anda-se por ele, e se continua andando pelo resto de seus dias. Uma vez derrotado o pecado, somos chamados a vencer a nós mesmos — inclusive a melhor parte de nós, o eu cheio de zelo e religioso —, e isto a cada dia.
==========
Um cristão espiritual, portanto, é aquele cujo espírito é guiado pelo Espírito de Deus; recebe o poder para seu caminho diário de vida através do Santo Espírito que reside em seu espírito; não permanece na terra procurando fazer sua própria vontade, mas sim a vontade de Deus; não confia em sua sagacidade para planejar e executar seu serviço a Deus.
==========
O andar pelo Espírito Santo não é só não cometer pecado mas também não permitir que continue o eu.
==========
O Espírito Santo reside de modo genuíno em seu espírito e lhes concedeu a experiência de vencer o pecado por meio da operação da cruz.
==========
Se um crente andar conforme com o Espírito de Deus, não vai originar ou reger nada; em vez disso vai esperar quietamente a voz do Espírito Santo, que ouvirá em seu espírito intuitivamente, e assumirá por sua parte uma posição subordinada.
==========
Muitos crentes anímicos adotam uma atitude de justiça própria, embora freqüentemente seja difícil perceber. Aferram-se tenazmente às mínimas opiniões. Sem dúvida, é correto manter as doutrinas básicas e essenciais da Bíblia, mas certamente podemos nos permitir conceder certa margem de tolerância em questões menores.
==========
Os cristãos carnais têm uma marca comum: a verbosidade. Suas palavras deveriam ser poucas, sabem muito bem, mas se vêem impulsionados a discussões intermináveis, com a emoção mais entusiasta. Carecem de controle de si mesmos na fala; uma vez que tenham aberto a boca, a mente parece não ter rédeas para freá-la. As palavras saem como uma avalanche.
==========
Isso é característico da obra do cristão anímico. Os cristãos carnais se desanimam facilmente por causa de MEUS esforços. Falta-lhes a tranqüila confiança que se apóia em Deus para fazer a obra.
==========
A tendência a apressar-se marca com freqüência aos que partem ao ritmo de sua alma. Não esperam a Deus. Tudo o que fazem é precipitado, impetuoso, com pressa. Operam, mais por impulso que por princípios. Inclusive na obra de Deus, estes cristãos são impulsionados por seu zelo e paixão, até o ponto que não podem esperar que Deus deixe clara sua vontade e seu caminho.
==========
Para eles, o fazer a obra do Senhor é de importância suprema, mas com freqüência se esquecem de que o Senhor é o que dá a obra. A obra do Senhor ocupa o centro, mas o Senhor da obra retrocede ao fundo.
==========
Devido a que não estão enraizados em Deus e, portanto, não aprenderam a esconder-se nele, as pessoas carnais desejam ser vistas. Procuram posições proeminentes na obra espiritual. Se assistem a reuniões esperam serem ouvidos, embora eles não escutem a outros. Experimentam um gozo inexprimível quando são reconhecidos, respeitados e recebem homenagem.
==========
O fato de termos experiências espirituais não nos faz espirituais. Só depois de libertos do pecado e do eu, podemos ser considerados espirituais.
==========
As manifestações da vida da alma geralmente podem ser classificadas em quatro divisões: - força natural; - envaidecimento, dureza e inflexibilidade para com Deus; - sabedoria própria, com muitas opiniões e planos; - busca de sensações emocionais nas experiências espirituais.
==========
Podemos resumir isso dizendo que a tendência da alma caída é a de fazer os crentes andarem segundo seu poder natural, servirem a Deus com sua força e conforme a suas idéias, desejar sensações físicas no conhecimento do Senhor ou no experimentar da Sua presença, e compreender a Palavra de Deus com o poder de sua mente.
==========
Com afã admiram a Palavra de Deus, mas procuram conhecimento somente para satisfazer a aspiração de sua mente; resistem a esperar que Deus lhes dê sua revelação no seu devido tempo. Sua busca da presença de Deus, o ser conscientes de sua misericórdia e proximidade, não é por amor a Deus, mas sim para sua própria felicidade. Fazendo isso, não estão amando ao Senhor, mas ao sentimento que os renova e lhes permite a glória do terceiro céu. Toda sua vida e seu trabalho elevam o eu como seu centro. O que querem é ter o gozo de si mesmos.
==========
O Espírito de Deus necessita da cooperação do espírito humano para levar os crentes em triunfo em seu caminhar diário e prepará-los para as plenas obras designadas por Deus.
==========
Daí que não podemos nos aproximar da cruz e reclamar só a salvação pela substituição, sem ao mesmo tempo aceitar a libertação por meio da identificação. Uma vez que tenhamos recebido, pela fé no Senhor, ao Salvador pessoal, seremos guiados pelo Espírito Santo, que nos reveste a desejar a experiência da morte conjuntamente com Cristo, independente do muito ou do pouco que compreendamos a identificação.
==========
A cruz nunca se limita a sua obra exterior. Vai operar mais e mais profundamente em nós até que a velha criação seja crucificada por completo na experiência. Seu objetivo é deixar completamente de lado tudo o que pertence a Adão.
==========


terça-feira, maio 01, 2012

O Homem Espiritual - A Carne

A segunda parte do livro O homem espiritual, falará sobre a Carne.

Já vimos no post anterior que Nee divide o ser humano em três esferas distintas e ligadas, espírito, alma e corpo.

1. A carne e a salvação.

Nee fala que a carne é usada para a pessoa não regenerada, ao velho eu, o carnal.


 Na queda do homem, a alma se opôs à autoridade do espírito e ficou escravizada ao corpo e suas paixões. Deste modo o homem se converteu em um homem carnal, não em um homem espiritual. O espírito do homem foi despojado de sua nobre posição e foi rebaixado à de um prisioneiro. 

Há três maneiras de  usar carne na Bíblia.

1.  parte branda do corpo, aquela com a qual percebemos o mundo.

2. refere-se ao corpo humano, tanto vivo como morto, como em Rm 7.23, carne psiquica e carne fisica.

3. a totalidade da humanidade, Todo homem é controlado pela composição da alma e do corpo que chamamos carne, e vai atrás dos pecados de seu corpo e do eu de sua alma. Por isso sempre que a Bíblia fala de todos os homens, sua frase característica é «toda carne». Em conseqüência, basar ou sarx se referem aos seres humanos em sua totalidade.


Como homem se torna carne?

O homem é carne.

O homem não se torna progressivamente com o mal, todo o que nasce é carnal, não é determinado nem pela conduta nem pelo caráter.



A carnalidade de um homem não vai ser determinada por ele mesmo, mas sim por seu nascimento. Se nascer da carne, todos os planos para sua transformação serão infrutíferos. Não importa como mude externamente; seja através de uma mudança diária ou de mudanças bruscas, o homem continua sendo carne tão firmemente como sempre.



 O homem não regenerado.



Embora a carne seja extremamente forte pecando e seguindo o desejo egoísta, é extremamente fraca em relação à vontade de Deus. O homem não regenerado é incapaz de cumprir a vontade de Deus, sendo «debilitado pela carne». E a carne é «hostil a Deus; não é sujeita à lei de Deus, nem em verdade o pode ser» (Rm. 8:3, 7). 
 Deus reconhece a impossibilidade de que a carne seja trocada ou melhorada. Por isso, ao salvar ao mundo não tenta modificar a carne do homem. Em lugar disso dá ao homem uma vida nova para ajudá-lo a dar morte à carne. A carne tem que morrer. Esta é a salvação. 

 A salvação de Deus.


A reação de Deus à pecaminosidade de todos os homens é ocupar-se Ele mesmo da tarefa da salvação. Seu método é «enviar a seu próprio Filho à semelhança da carne pecaminosa». Seu Filho é sem pecado, por isso é o único qualificado para nos salvar. A expressão: «À semelhança da carne pecaminosa» descreve sua encarnação: como toma um corpo humano e se une com a humanidade. O único Filho de Deus é mencionado em outro ponto como «o Verbo» que «se fez carne» (Jo. 1:14). Sua vinda à semelhança da carne pecaminosa é o «se fez carne» desse versículo. Por isso nosso versículo em Romanos 8:3 nos explica também de que maneira a Palavra se fez carne. A ênfase, aqui, é que Ele é o Filho de Deus, e portanto é sem pecado. Inclusive quando vem na carne, o Filho de Deus não se faz «carne pecaminosa». Só vem à semelhança da carne pecaminosa». Enquanto viveu na carne, permaneceu como Filho de Deus e sem pecado. Entretanto, como possui a semelhança da carne pecaminosa, está estreitamente unido aos pecadores do mundo que vivem na carne.   

Por isso o Senhor Jesus dá morte ao pecado em sua carne. Por conseguinte, podemos ver em sua morte que não só são julgados nossos pecados mas também inclusive é julgado o próprio pecado. Assim,  o pecado já não tem nenhum poder sobre os que se uniram à morte do Senhor e em conseqüência têm o pecado condenado em sua carne.
A regeneração


Embora Deus não possa modificar nossa carne, nos dá sua vida. A carne do homem permanece tão corrupta nos que nasceram de novo como nos outros. A carne de um santo é tal e qual a de um pecador. Na regeneração, a carne não se transforma. O novo nascimento não exerce nenhuma influência sobre a carne. Permanece tal como é. Deus não nos transmite sua vida para educar ou adestrar à carne. Ao contrário, a dá a nós para vencer a carne.
Como uma pessoa pode saber  que foi regenerada? João nos diz que o homem nasce de novo ao crer no nome do Filho de Deus e ao recebê-lo (1:12). O Filho de Deus se chama «Jesus», que significa «salvará o povo de seus pecados» (Mt. 1:21). Assim, crer no nome do Filho de Deus equivale a acreditar nele como Salvador, acreditar que morreu na cruz por nossos pecados para nos libertar do castigo e do poder do pecado. Acreditar nisso é recebê-lo como Salvador. Se alguém deseja saber se está regenerado ou não, só tem que fazer uma pergunta: fui à cruz como um pecador necessitado e recebi ao Senhor Jesus como Salvador? Se responder afirmativamente, está regenerado. Todo o que crê no Senhor Jesus nasce de novo. 

 O conflito entre o novo e o velho.

A cruz de Cristo trata com o pecado, e o Espírito Santo trata com o eu por meio da cruz. Cristo liberta por completo o crente do poder do pecado por meio da cruz, para que o pecado não torne a reinar, mas Cristo, por meio do Espírito Santo que vive no crente, capacita-o para vencer o eu dia após dia e para que obedeça a Ele por completo. A libertação do pecado é um fato consumado. A negação do eu tem que ser uma experiência diária.   


A carne exige soberania absoluta, igualmente a vida espiritual. A carne deseja ter o homem sujeito para sempre a ela mesma, enquanto que a vida espiritual quer ter o homem completamente sujeito ao Espírito Santo. A carne e a vida espiritual diferem por completo. A natureza da carne é a do primeiro Adão, enquanto que a natureza da vida espiritual pertence ao último Adão. O mover da primeira é terrestre, mas o da segunda é celestial. A carne centra todas as coisas no eu; a vida espiritual centra tudo em Cristo. A carne deseja levar o homem ao pecado, mas a vida espiritual deseja levá-lo à justiça. Posto que estas duas são tão essencialmente opostas, como uma pessoa pode evitar se chocar continuamente com a carne?

O propósito de Deus não é, nem será jamais, reformar a carne mas sim destruí-la. O eu na carne deve ser destruído com a vida de Deus que o crente recebe na regeneração.

 A segunda parte do capítulo vai tratar sobre o crente carnal, muitos são controlados pela carne como se não tivessem morrido e ressuscitado. Nee cita 1Co 3.1-3, segundo ele, Paulo faz uma diferenciação entre o crente carnal e o espiritual.

A regeneração bíblica é um nascimento pelo qual a parte mais íntima do ser do homem, o espírito, profundamente oculto, é renovado e habitado pelo Espírito de Deus. Tem que passar um tempo até que o poder desta nova  vida alcance o exterior: ou seja, até que se estenda do centro até a circunferência.    
O propósito da redenção de Cristo é eliminar tudo o que obstaculize o controle do Espírito Santo sobre toda a pessoa para que desse modo possa ser espiritual. Esta redenção não pode falhar jamais porque o poder do Espírito Santo é superabundante. Da mesma maneira que um pecador carnal pode converter-se em um crente regenerado, um crente regenerado mas carnal pode ser transformado em um homem espiritual. O que é lamentável é encontrar cristãos que não realizaram nenhum progresso em sua vida espiritual ao longo de vários anos e até décadas! E estes mesmos se assombram quando encontram  alguém que, ao fim de uns anos, empreende uma vida do espírito. Consideram isso como algo muito estranho e não vêem que se trata simplesmente de algo normal, do normal crescimento da vida.
  
A principal característica de um crente carnal é a infância prolongada, não acredita que o Espírito Santo o liberta do poder da carne. Outra característica é que são incapazes de assimilar o ensino espiritual, Nee fala de Paulo pregando a Corínto, era a igreja mais instruída, mas toda a compreensão estava apenas na mente. Lembrando que a mente para Nee está na esfera da alma e não do espírito, por isso:


 O autêntico conhecimento espiritual não se encontra em pensamentos maravilhosos e misteriosos mas sim na experiência espiritual real através da união da vida do crente com a verdade. Aqui  a inteligência não serve, e o anseio pela verdade também é insuficiente. O indispensável é um caminho de total obediência ao Espírito Santo, que é o único que nos ensina de verdade. Todo o resto é a simples transmissão de conhecimento de uma mente a outra. Estes dados não tornam espiritual alguém que seja carnal.



Nee conclui que na realidade carnal o que se necessita não é de mais ensino, mas de um coração obediente que esteja disposto a obedecer dando sua vida ao Espírito Santo. Um maior ensino espiritual só servirá para enganar seu coração se considerando espiritual.

Outra característica é o pecado do ciúme e da rivalidade, as divisões nascem da falta de amor e da carnalidade.


Pecados da carne.

Quando permanece na carne, o cristão é vencido constantemente pelas tentações.

Para Nee, a primeira tentação está no campo da comida.


Inclusive no jardim do Éden o pecado da gula provocou imediatamente concupiscência e vergonha. Paulo põe juntas estas duas coisas em sua primeira carta aos Coríntios (6:13, 15) e relaciona claramente a embriaguez com a maldade (vs. 9,10).
Depois a reprodução.que se tornou em desejo carnal ou concupiscência. 

E enfim, a defesa própria,  a vaidade , irritação  e rivalidade.

As coisas da carne.

As obras da carne estão listadas em Gálatas 5:19-21, são os desejos do corpo e da mente (Ef. 2:3). 

Podemos dividir estas obras da carne em cinco grupos:
1) pecados que mancham o corpo, tais como a imoralidade, a impureza, a libertinagem;
2) comunicações sobrenaturais pecaminosas com as forças satânicas, tais como a idolatria, a bruxaria;
3) temperamento pecaminoso e suas peculiaridades, tais como inimizade, lutas, ciúmes, ira;
4) seitas e bandos religiosos, tais como o egoísmo, as dissensões, o espírito partidarista, a inveja;  e
5) lascívia, tais como a embriaguez e as orgias. Cada uma destas é facilmente observável. Os que as fazem são da carne.

A necessidade da morte.

Muitos crentes, ignorantes da salvação de Deus, tentam conquistar a carne brigando com ela. Acreditam que a vitória depende da força que possuem. Por conseguinte, contam seriamente com que Deus lhes concederá um grande poder espiritual para que possam dominar a sua carne. Normalmente esta batalha se estende por um longo período de tempo, com mais derrota que vitórias, até que finalmente se vê que uma vitória total sobre a carne é irrealizável.
Durante este tempo o crente continua por uma parte guerreando, e pela outra tentando melhorar ou disciplinar sua carne. Ora, esquadrinhando a Bíblia, estabelece muitas regras («não faça, não prove, não toque»), na vã esperança de dominar e domar à carne. Inconscientemente cai na armadilha de tratar o mal da carne como um resultado da falta de regras, educação e civilidade. Acredita que se pudesse dar a sua carne alguma preparação espiritual se livraria de seu problema. Não vê que semelhante tratamento é inútil (Cl. 2:21-23).
Por causa da confusão em que se acha o cristão, desejando, na aparência, a destruição da carne, mas ao mesmo tempo procurando melhorá-la, o Espírito Santo deve lhe permitir que lute, que seja derrotado e que sofra sob suas próprias acusações. Só depois de ter passado por esta experiência repetidamente, o cristão compreenderá que a carne é irredimível e que seu método é vão. Então procurará outro tipo de salvação. Deste modo conhecerá por experiência o que antes só conhecia mentalmente.
O único caminho é a morte, e não há outro. Preferiríamos domar a carne com nosso esforço, com nossa vontade ou com outros inumeráveis meios, mas a prescrição de Deus é a morte. Se a carne morre, não ficam resolvidos todos os problemas de maneira automática? Não temos que conquistar a carne: ela tem que morrer. É muito razoável, se considerarmos a maneira com que passamos a ser carne já no princípio: «o que nasce da carne é carne». Nos tornamos carne ao nascer dela. Agora bem, a saída simplesmente segue a entrada. A maneira de possuir é a maneira de perder. Como nos fizemos carne ao nascer da carne, se depreende facilmente que nos liberaremos dela, se morrer. A crucificação é o único caminho.







A terceira parte falará sobre a cruz e o Espírito Santo, existem duas obras da cruz, a substitutiva e a identificativa para Nee.

Ele começa falando da libertação da cruz, fala do crente que trabalha para controlar os pecados, enquanto esquece de tratar da própria carne.

Os recém-nascidos em Cristo precisam se apropriar do profundo significado da cruz porque ainda são carnais. O objetivo de Deus é crucificar junto com Cristo o velho homem do crente, com o resultado de que os que pertencem a Cristo «crucificaram a carne com suas paixões e desejos».
Aí, Nee fala das duas obras da cruz: a substitutiva e a identificativa.

Primeiro Cristo morreu na cruz pelo pecador para perdoar seu pecado. Portanto, o Deus santo podia perdoá-lo com justiça. Mas a seguir está o fato de que o pecador também morreu na cruz com Cristo para que não possa ser controlado mais por sua carne. Só isto pode fazer que o espírito do homem recupere seu próprio domínio, que o corpo seja seu servidor externo e que a alma seja sua intermediária. Desta forma, o espírito, a alma e o corpo são restaurados a sua posição original anterior à queda. Se ignoramos o significado da morte que descrevemos, não seremos libertados. Que o Espírito Santo seja nosso Revelador!

Para Nee não importa se conseguiu vitória ou não,  não é uma questão moral, nem coisa da vida, conhecimento ou obras espirituais.  A crucificação da carne não depende das experiências, mas sim depende da obra terminada de Deus.

«Os que pertencem a Cristo Jesus» — tanto os fracos como os fortes — «crucificaram a carne com suas paixões e desejos».
Dizeis que ainda pecais, mas Deus diz que fostes crucificados na cruz.
Dizeis que vosso mau gênio persiste, mas a resposta de Deus é que fostes crucificados.
Dizeis que vossas paixões continuam sendo muito poderosas, mas novamente Deus replica que vossa carne foi crucificada na cruz.
De momento, façam o favor de parar de olhar suas experiências e ouçam o que Deus lhes diz. Se não escutarem sua Palavra e em lugar disso observarem continuamente sua situação, jamais viverão a realidade de que sua carne foi crucificada na cruz. Não façam caso de seus sentimentos e de sua experiência. Deus declara crucificada sua carne, e conseqüentemente, ela foi crucificada. Respondam simplesmente à Palavra de Deus e terão experiência. Quando Deus lhes diz que «sua carne foi crucificada», devem responder: «Amém, é verdade que minha carne foi crucificada.» Atuando desta maneira, segundo sua Palavra, comprovarão que sua carne está verdadeiramente morta.

Sejam quais forem nossas experiências pessoais, Deus declara que «os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a carne». Para possuir esta morte não devemos dedicar muita atenção a investigar ou observar nossas experiências. Em vez disso devemos acreditar na Palavra de Deus. «Deus diz que minha carne foi crucificada e por isso acredito que está crucificada. Reconheço que o que diz Deus é verdade.» Respondendo desta maneira logo nos encontraremos com a realidade disto. Se primeiro olhamos o ato de Deus, nossa experiência virá a seguir. 

O Espírito Santo e a experiência.

A carne já não tem poder sobre nós, pois acreditamos e reconhecemos que ela foi crucificada na cruz.



Nossa união com Cristo em sua morte significa que é um fato em nossos espíritos. O que o crente deve fazer agora é tirar esta morte de seu espírito e aplicá-la a seus membros cada vez que suas paixões despertem. Esta morte espiritual não é coisa para uma vez e pronto. Se o crente não se mantiver vigilante ou se perde a fé, é indubitável que a carne entrará em um frenesi de atividade. Que deseje ser totalmente conformado à morte do Senhor, deve fazer morrer sem cessar as ações de seus membros para que o que é real no espírito se realize no corpo.

 A existência da carne.


É um tremendo engano pensar que já eliminamos a carne e deduzir que a natureza do pecado está completamente aniquilada. Este falso ensino engana às pessoas. A vida regenerada não modifica a carne. A crucificação conjunta em Cristo não suprime a carne. O fato de que o Espírito Santo habite em uma pessoa não a impossibilita para andar segundo a carne. A carne, com sua natureza carnal, vive perpetuamente no crente. Assim que tenha uma oportunidade, passará à ação de modo imediato.



Se um crente chega a acreditar que está totalmente santificado e que já não tem carne, viverá uma vida de aparência, falsa, ou uma vida indolente e relaxada. Aqui temos que destacar um fato. Os filhos nascidos de pais regenerados e santificados ainda são da carne e precisam nascer de novo como outros meninos.

Se um crente permanecer totalmente inclinado a pecar, isto mostra que é a carne e que não se apropriou da salvação total. O Senhor Jesus pode nos desviar do pecado, mas além disso devemos estar alertas. Sob a influência do mundo e a tentação de Satanás, a possibilidade de pecar se mantém. 

Naturalmente, um crente deve compreender que em Cristo é uma nova criatura. Como tal, o Espírito Santo vive em seu espírito; e isto, junto com a morte de Jesus trabalhando ativamente em seu corpo, pode equipar o crente para viver uma vida santa. Isto só é possível porque o Espírito Santo aplica a cruz na carne do crente, fazendo morrer as ações de seus membros. E então fica inativa. Entretanto, isto não implica que já não existe a carne. Porque um crente continua possuindo uma carne pecaminosa e é consciente de sua presença e de sua contaminação. O próprio fato de que a natureza pecaminosa seja transmitida aos filhos deixa claramente estabelecido de que o que agora possuímos não é a perfeição natural de Adão sem pecado. 

 A presença da carne não é uma chamada à rendição, mas sim uma chamada a vigiar. A cruz crucificou por completo à carne. Se estivermos dispostos a anular as más obras do corpo no poder do Espírito Santo, experimentaremos seriamente a obra consumada da cruz.

 A quarta parte fala da jactância da carne, Nee começa falando  do outro lado da carne, que é a ligada a alma e não as paixões do corpo como foi visto até aqui.


A Bíblia emprega a palavra «carne» para descrever a vida ou a natureza corrupta do homem, que abrange a alma e o corpo. No ato criador de Deus, a alma foi colocada entre o espírito e o corpo, ou seja, entre o que é celestial ou espiritual e o que é terrestre ou físico. Seu dever é administrá-los de acordo com a função de cada um, conforme a sua adequação, mas mantendo-os intercomunicados, para que, por meio desta perfeita harmonia, o homem possa finalmente alcançar a plena espiritualidade. Desgraçadamente, a alma cedeu à tentação que surgiu dos órgãos físicos, escapando assim da autoridade do espírito e aceitando o controle do corpo. Em conseqüência, a alma e o corpo ficaram unidos para ser a carne. A carne não só está «livre do espírito», mas também é totalmente contrária ao espírito. Por isso a Bíblia afirma que «a carne luta contra o espírito» (Gl. 5:17).
Nee tem uma posição um pouco distinta da reformada em relação a situação da carne na queda.
O que o engana é que a carne não somente pode produzir pecado mas também pode fazer o bem. Se ainda fizer o bem é evidente que ainda está viva. Se a carne tivesse morrido definitivamente, a capacidade do crente de fazer o bem e de fazer o mal teria morrido com ela. 
Para provar este argumento ele cita Nicodemos, em Jo 3:6 e Gl 3:3,  então as boas ações são boas, mas são carnais.


Isto implica que os carnais tentaram agradar a Deus, embora sem êxito. Certamente, isto se refere especificamente às boas ações da carne que fracassam por completo em agradar a Deus. Agora vamos conhecer, em profundidade, precisamente o que a carne pode fazer: é capaz de realizar boas ações, de fazê-las com competência. Freqüentemente concebemos a carne sob o aspecto de suas paixões e concupiscências, e por conseguinte a consideramos categoricamente poluída, sem ver que compreende mais que o aspecto das paixões. Mas as atividades das variadas faculdades da alma não têm por que ser tão poluídas como as paixões. 

Mas, Nee se aproxima da doutrina reformada, quando fala do arrependimento tanto das más obras como também das boas obras:


Tudo o que uma pessoa é capaz de fazer antes da regeneração simplesmente é o resultado dos esforços da carne. Por isso pode fazer o bem, como também pode fazer o mal. O engano do crente reside precisamente aqui, em que só sabe que o mal da carne deve ser destruído, mas ignora que tem que acontecer o mesmo com o bem da carne. Desconhece que a virtude da carne é da carne tanto quanto a sua maldade. A carne permanece sendo carne, seja boa ou seja má. O que põe um cristão em perigo é sua ignorância ou sua rejeição em enfrentar a necessidade de desprender-se de tudo da carne, inclusive do que é bom. Deve reconhecer categoricamente que o bom da carne não é em nada melhor que o mau, posto que ambas as coisas pertencem à carne. Se não se enfrentar com a carne boa, um cristão não pode esperar ser livre do domínio da carne jamais. Porque se deixar que sua carne faça o bem, logo a encontrará obrando o mal. Se não destruir sua virtude, sem dúvida alguma teremos que nos enfrentar com sua maldade.

A natureza das obras da carne.


Como já dissemos, a segurança e a confiança em si mesmo são as brechas das boas obras da carne. Para a carne é impossível descansar em Deus. É muito impaciente para tolerar qualquer demora. Enquanto se considerar forte nunca confiará em Deus.Mesmo nos momentos de desespero, a carne continua fazendo planos e procurando uma saída. Nunca tem a sensação de dependência total. Isso pode ser uma indicação para o crente saber se uma obra é ou não é da carne. Tudo o que não for resultado de esperar em Deus, de confiar no Espírito Santo, é da carne sem dúvida alguma. Tudo o que uma pessoa decide segundo seu critério em lugar de procurar a vontade de Deus, surge da carne. Sempre que há ausência de uma confiança absoluta, isto é obra da carne. Agora entendam, as coisas que se façam podem não ser más ou equivocadas. De fato podem ser boas e piedosas (como ler a Bíblia, orar, adorar, pregar), mas se não são feitas num espírito de total confiança no Espírito Santo, então tudo é obra da carne. A velha criatura está disposta a fazer qualquer coisa  — inclusive submeter-se a Deus — contanto que se lhe permita viver e permanecer ativa! Por muito boas que possam parecer as ações da carne, o «eu», oculto ou visível, sempre aparece no horizonte. A carne jamais admite sua debilidade nem reconhece sua inutilidade; inclusive embora se evidencie seu fracasso até o ridículo, a carne continua acreditando firmemente em sua capacidade.




Os pecados resultantes.

Quando um crente tenta completar a tarefa do Espírito com a energia da carne, nunca alcançará a maturidade, ao invés disso, chegará um momento em que os pecados que havia superado anteriormente aparecerão com maior força no futuro.

Por causa de sua ignorância desta verdade, os crentes da Galácia chegaram a «morder-se e devorar-se uns aos outros» (Gl. 5:15). Tentaram aperfeiçoar pela carne o que tinha começado no Espírito Santo, porque desejavam «fazer um bom papel na carne», para «poder glorificar-se em sua carne» (6:12,13). Evidentemente, seus êxitos em conseguir fazer o bem com a carne eram muito escassos, enquanto que seus fracassos em vencer o mal eram numerosos. Não percebiam que, enquanto servissem a Deus com suas forças e suas idéias, indubitavelmente serviriam ao pecado na carne. Se não proibiam à carne que fizesse o bem, não podiam impedi-la de que fizesse o mal. A melhor maneira de não pecar é não fazer o bem com o eu. Ao desconhecer a absoluta corrupção da carne, os crentes gálatas, em sua necessidade, desejavam usá-la sem reconhecer que há a mesma corrupção na carne ao gabar-se de fazer o bem que ao seguir as más paixões. Não podiam fazer o que Deus queria que fizessem, porque por um lado tentavam realizar o que o Espírito Santo tinha começado, e pelo outro tentavam inutilmente livrar-se das paixões da carne.



A quinta parte do segundo capítulo fala  da atitude definitiva do crente com a carne, para Jesus a carne não vale nada, seja o pecado da carne ou seja a bondade.

  • 1) «Porque a inclinação da carne é morte» (8:6). Segundo Deus há morte espiritual na carne. A única saída é levar a carne à cruz. Apesar dela ter capacidade para fazer o bem ou planejar e maquinar para conseguir a aprovação dos homens, Deus pronunciou contra a carne simplesmente uma sentença: a morte.
  • 2) «A inclinação da carne é inimizade contra Deus» (8:7). A carne se opõe a Deus. Não existe a mínima possibilidade de uma coexistência pacífica. Isto não só ocorre com os pecados que surgem da carne mas também com seus pensamentos e ações mais nobres. É óbvio que os pecados contaminantes são contrários a Deus, mas tenhamos presente que também se podem fazer boas ações independentemente de Deus.
  • 3) «Não é sujeita à lei de Deus, nem em verdade o pode ser» (8:7). Quanto melhor trabalha a carne mais se afasta de Deus. Quantas pessoas «boas» estão dispostas a acreditar no Senhor Jesus? A justiça própria não é justiça absolutamente; em realidade é injustiça. Ninguém pode jamais obedecer todas as doutrinas da santa Bíblia.  Uma pessoa pode ser tanto boa quanto má, mas uma coisa é certa: não se submete à lei de Deus. Se for má, infringe a lei; se for boa, estabelece outra justiça fora de Cristo e deste modo passa por cima do propósito da lei («pela lei vem o conhecimento do pecado» [3:20]).
  • 4) «Os que estão na carne não podem agradar a Deus» (8:8). Este é o veredicto final. Apesar de quão  bom um homem possa ser, se o que faz sai dele, não pode agradar a Deus. Deus só se compraz com seu Filho. Além dEle e de sua obra, ninguém pode agradar a Deus. O que se faz com a carne pode parecer perfeitamente bom, mas como vem do eu e se faz com a força natural não pode satisfazer a Deus. O homem pode planejar muitas formas de fazer o bem, de melhorar e de avançar, mas isso é carnal e não pode agradá-Lo. Isto ocorre não só com os não regenerados; também é o mesmo com os regenerados. Por muito louvável e efetivo que seja o que o crente faça com suas próprias forças, não conseguirá a aprovação de Deus. Agradar ou desagradar a Deus não depende do princípio do bom e do mau. Pelo contrário, Deus procura a origem de todas as coisas. Uma ação pode ser totalmente correta, mas entretanto Deus pergunta: «Qual é sua origem?»



Se um crente aspirar alcançar a maturidade espiritual, deve preservar sempre esta atitude que o apóstolo Paulo apresenta ao longo do caminho espiritual; ou seja: «não que já a tenha alcançado». O cristão não deve atrever-se a ter a menor confiança em si mesmo, satisfação e gozo em si mesmo, pensando que pode confiar em sua carne.

A cruz e a obra mais profunda do Espírito Santo

A cruz é o lugar em que as paixões e os desejos — e a mola que ativa estas paixões e desejos — são crucificados, por admiráveis que possam parecer. Só no caso que alguém ver isso e estar disposto a negar toda sua carne, boa ou má, pode, de fato, andar conforme o Espírito Santo, agradar a Deus e viver uma vida espiritual genuína. Esse "estar disposto" não deve faltar, por sua parte, porque embora a cruz, como um fato consumado, seja completa em si mesma, sua realização na vida de uma pessoa é medida pelo conhecimento, pela preparação e pela fé da mesma. 

Em João 1.13 - temos a vontade da carne, em Cl 2.18 termos a mentalidade da carne e  em 2Co 1.12, temos a sabedoria da carne.


 Quando consignamos nossa carne à cruz a entregamos a maldição, reconhecendo que na carne não há nada bom e que não merece nada a não ser a maldição de Deus. Sem esta atitude no coração é extremamente difícil que nós aceitemos a circuncisão da carne. Todo afeto, desejo, pensamento, conhecimento, intenção, adoração e obra da carne deve ir para a cruz. Ser crucificado com Cristo significa aceitar a maldição que nosso Senhor aceitou. Não foi um momento glorioso para Cristo ser crucificado no Calvário (At. 12:2). Seu corpo foi pendurado no madeiro, o que significava ser maldito de Deus (Dt. 21:23). Como conseqüência, que a carne seja crucificada com o Senhor implica simplesmente ser maldito pelo Senhor. Tal como temos que receber a obra consumada de Cristo na cruz, assim também temos que entrar na comunhão da cruz. O crente deve reconhecer que sua carne não merece outra coisa senão a maldição da morte. Sua comunhão prática com a cruz começa depois que vê a carne tal como Deus a vê. Antes que o Espírito Santo possa encher plenamente uma pessoa, tem que haver uma entrega completa da carne à cruz. Oremos para que possamos saber exatamente o que é carne e como tem que ser crucificada.

Nossa segurança se acha no Espírito Santo. O caminho seguro está em nossa boa disposição para sermos ensinados, temerosos de que do contrário cedamos terreno à carne. Temos que nos submeter alegremente a Cristo e confiar no Espírito Santo para que nos aplique a morte de Jesus, para que possa ser ostentada em nós a vida de Jesus. Tal como antes estávamos cheios da carne, agora seremos cheios do Espírito Santo. Quando Ele tenha controle completo, vamos derrotar o poder da carne e manifestar Cristo em nossa vida. Poderemos então dizer que «a vida que agora vivo na carne, não a vivo eu, mas Cristo que vive em mim». Entretanto, o fundamento dessa vida é e foi sempre o «fui crucificado com Cristo» (Gl. 2:20).Se vivermos por fé e obediência podemos esperar que o Espírito faça uma obra extremamente Santa e maravilhosa em nós. 

 O melhor que a carne tem para oferecer deve ser entregue de modo inexorável à morte, pela simples razão de que pertence à carne. A justiça da carne é tão aborrecível como o pecado. Seus atos bons deveriam ser objeto de arrependimento por nossa parte com a mesma humildade que se fossem atos pecaminosos. Sempre temos que ter em conta o ponto de vista que tem Deus da carne.