terça-feira, maio 01, 2012

O Homem Espiritual - 1


Alguns trechos do livro de Watchman Nee  (pp. 1- 64):


Primeira parte : INTRODUÇÃO SOBRE ESPÍRITO, ALMA E CORPO.
O novo nascimento — receber a própria vida de Deus — é o ponto de partida de toda vida espiritual.

O ser humano em três partes

O fracasso em distinguir entre o espírito e a alma é fatal para a maturidade espiritual. Com freqüência os cristãos consideram espiritual o que é anímico (ou seja, da alma), e desta maneira permanecem em um estado anímico e não procuram o que é espiritual seriamente. 

«Formou o homem do pó da terra» se refere ao corpo do homem; «soprou em seu nariz o fôlego de vida» se refere ao espírito do homem ao vir de Deus; e «o homem se tornou uma alma vivente» se refere à alma do homem quando o corpo foi avivado pelo espírito e convertido em um homem vivo e consciente de si mesmo. Um homem completo é uma trindade: composto de espírito, alma e corpo. Segundo Gênesis 2:7, o homem foi feito de só dois elementos independentes, o corporal e o espiritual. Mas quando Deus pôs o espírito dentro da armação de terra se criou a alma. O espírito do homem, ao entrar em contato com o corpo morto, produziu a alma. O corpo separado do espírito estava morto, mas com o espírito, o homem recebeu a vida. O órgão assim vivificado foi chamado alma. 

Deus considerou a alma humana como algo único. Como os anjos foram criados como espíritos, o homem foi criado de maneira predominante como alma vivente. O homem não só tinha um corpo, um corpo com o fôlego de vida; também se converteu em uma alma vivente. Por isso veremos mais adiante na Bíblia, que Deus freqüentemente se refere aos homens como «almas». Por que? Porque o que o homem é depende de como é sua alma. Sua alma o representa e expressa sua individualidade. É o órgão da livre vontade do homem, o órgão no qual o espírito e o corpo estão totalmente fundidos. Se a alma do homem quer obedecer a Deus, permitirá que o espírito governe o homem conforme o ordenado por Deus. A alma, se o decidir, também pode reprimir o espírito e tomar algum prazer como senhor do homem.

 Para Nee,

CORPO - aspecto material, sensitivo

ALMA-vontade, intelecto, emoções - personalidade.

ESPÍRITO- que se comunica com Deus.


Deus vive no espírito, o eu vive na alma, enquanto que os sentidos vivem no corpo.

O espírito não pode atuar diretamente sobre o corpo. Necessita um meio, e esse meio é a alma criada pelo contato do espírito com o corpo. Assim, a alma se encontra entre o espírito e o corpo, mantendo-os unidos. O espírito pode submeter o corpo através da alma para que obedeça a Deus. Da mesma maneira o corpo, mediante a alma, pode atrair o espírito a amar ao mundo. 


O homem como Templo, Nee  partindo de 1Co 3:16,17, escreve sobre a comparação paulina do homem como um templo santo:


O homem também é o templo de Deus e também tem três partes. O corpo é como o pátio exterior, e ocupa uma posição externa com sua vida visível para todos. Aqui o homem deveria obedecer toda ordem de Deus. Aqui o Filho de Deus serve como substituto e morre pela humanidade. Dentro está a alma do homem, que constitui a vida interior do homem e abrange a emoção, a vontade e o pensamento. Assim é o Lugar Santo de uma pessoa regenerada, porque seu amor, vontade e pensamento estão plenamente iluminados para que possam servir a Deus como o fazia o sacerdote na antigüidade. Na parte mais interna, atrás do véu, está o Lugar Santíssimo, no qual não penetrou jamais nenhuma luz humana e que nenhum olho viu. É o «esconderijo do Altíssimo», o lugar onde vive Deus. O homem não tem entrada ali, a menos que Deus esteja disposto a rasgar o véu. É o espírito do homem. O espírito se encontra além da consciência do homem e por cima de sua sensibilidade. Aqui o homem se une e se comunica com Deus.

 O serviço do templo funciona segundo a revelação no Lugar Santíssimo. Todas as atividades do Lugar Santo e do pátio exterior estão reguladas pela presença de Deus no Lugar Santíssimo. Este é o setor mais sagrado, o lugar ao qual convergem e se apóiam as quatro esquinas do templo. Pode nos parecer que no Lugar Santíssimo não se faz nada porque está completamente às escuras. Todas as atividades se realizam no Lugar Santo, e inclusive as atividades do pátio exterior são controladas pelos sacerdotes do Lugar Santo. No entanto, todas as atividades do Lugar Santo na realidade são dirigidas pela revelação no absoluto silêncio e paz do Lugar Santíssimo.


 O segundo ponto do primeiro capítulo é sobre o espírito e a alma, primeiro ele fala sobre o espírito humano:


Assim, podemos concluir que estes três elementos, consciência, intuição e comunhão, estão profundamente inter-relacionados e funcionam coordenados. A relação entre consciência e intuição é que a consciência julga segundo a intuição; condenando toda conduta que não siga as diretrizes dadas pela intuição. A intuição está relacionada com a comunhão ou adoração em que Deus se dá a conhecer ao homem pela intuição e lhe revela sua vontade também por meio da intuição. Nem a expectativa nem a dedução nos dão o conhecimento de Deus.  

Antes que o crente nasça de novo, seu espírito fica tão submerso e envolto por sua alma que lhe é impossível distinguir se algo sai da alma ou do espírito. As funções deste se misturaram com as daquela. Além disso, o espírito perdeu sua função original — sua relação com Deus — porque está morto para Deus. Poderia parecer que se converteu em um acessório da alma. E ao crescer e fortalecer o pensamento, a emoção e a vontade, as funções do espírito ficam tão eclipsadas que são quase ignoradas. É por isto que terá que fazer a obra de separação entre alma e espírito quando o crente tiver sido regenerado.

 A alma humana...

O que constitui a personalidade do homem são as três faculdades principais de vontade, pensamento e emoção.
A vontade é o instrumento de nossas decisões e revela nosso poder de escolha. Expressa nosso consentimento ou nossa negativa, nosso «sim» ou nosso «não». Sem ele o homem fica reduzido a um autômato.
A mente, o instrumento de nossos pensamentos, manifesta nosso poder intelectual. É a fonte da sabedoria, do conhecimento e do raciocínio. Sua ausência faz que um homem seja tolo e inepto.
O instrumento de nossas simpatias e antipatias é a faculdade da emoção. Por meio dela podemos expressar amor ou ódio e nos sentir alegres, zangados, tristes ou felizes. Sua escassez fará o homem insensível como a madeira ou a pedra.




O terceiro ponto do primeiro capítulo falará sobre a queda do homem.

Quando Deus criou o homem, deu-lhe liberdade, o homem possuía soberania para exercer sua vontade para escolher entre obedecer ou não.  Para Nee, a vontade do homem é livre:


Deus não levará a termo nada sem nossa colaboração ativa. Nem Deus, nem o demônio podem fazer nada através de nós sem antes ter obtido nosso consentimento, porque a vontade do homem é livre.
Para Nee, a árvore do bem e do mal é um mau em si mesma, pois eleva a porção animica do homem acima da porção espiritual distante do projeto divino. Para Nee, nosso espírito vem diretamente de Deus, já nossa alma,  foi produzida após que nosso espírito entrou em nosso corpo. 

O valor que tem a alma é realmente grande, se mantiver seu papel de mordomo e permitir que o espírito seja o amo. O homem pode então receber a vida de Deus e estar em conexão com o Deus da vida. Se, ao contrário, este mundo anímico se encher, conseqüentemente o espírito ficará reprimido. Todos os atos do homem ficarão limitados ao mundo natural do criado, incapaz de unir-se à vida sobrenatural e incriada de Deus. O homem original sucumbiu à morte porque comeu da fruta do conhecimento do bem e do mal, desenvolvendo assim, de maneira anormal, sua vida anímica.


Nee traça uma distinção na queda de Adão e Eva, o primeiro não foi enganado e a segunda sim para ele.


Tendo repassado cuidadosamente o relato da queda do homem, podemos ver que, ao rebelar-se contra Deus, Adão e Eva desenvolveram suas almas até o extremo de deslocar seus espíritos e submergir-se nas trevas. As partes proeminentes da alma são a mente, a vontade e a emoção do homem. A vontade é o órgão da decisão e em conseqüência o dono do homem. A mente é o órgão do pensamento, enquanto que a emoção é o do afeto. O apóstolo Paulo nos diz que «Adão não foi enganado», indicando que a mente de Adão não estava em confusão naquele dia fatídico. Quem fraquejou em sua mente foi Eva: «a mulher foi enganada e pecou» (1 Tm. 2:14). Segundo o relato de Gênesis, está escrito que «a mulher disse: «A serpente me enganou e comi» (Gn. 3:13). Mas «o homem disse: «A mulher me deu (não me enganou) a fruta da árvore e comi» (Gn. 3:12). É evidente que Adão não foi enganado. Sua mente estava limpa e sabia que a fruta era da árvore proibida. Comeu por causa de seu efeito pela mulher. Adão compreendeu que o que havia dito a serpente não era nada mais que o engano do inimigo. Das palavras do apóstolo vemos que Adão pecou deliberadamente. Amava a Eva mais que a si mesmo. Fê-la seu ídolo e por ela foi capaz de rebelar-se contra a ordem de seu Criador. Que lástima que sua emoção dominasse a sua mente! Seu efeito superou a sua razão.

O espírito, alma e corpo após a queda.

Nee coloca que a morte é o afastamento da comunicação com o meio ambiente, então, uma morte espiritual é o interrompimento da comunicação do espírito com Deus e a morte física da alma com o corpo.



Os homens caídos estão sob o domínio total da carne, atuando em resposta aos desejos de sua vida anímica e de suas paixões físicas. São incapazes de ter comunhão íntima com Deus. Às vezes desenvolvem seu intelecto, em outras ocasiões sua paixão, mas o mais freqüente é que desenvolvam tanto seu intelecto como sua paixão. Sem empecilhos, a carne controla firmemente o homem todo.

 O plano de Deus para o espírito era que tivesse a preeminência, que governasse nossa alma. Mas uma vez que o homem se torna carnal, seu espírito fica escravizado à alma. A degradação aumenta quando o homem se torna «corporal» (do corpo), porque o corpo, que é mais baixo, sobe até ser o soberano.

 O quarto ponto do primeiro capítulo diz respeito a salvação.

A morte entrou no mundo através da queda, impregnou o espírito,alma e corpo.


O homem que peca deve morrer. Isto está anunciado na Bíblia. Nenhum animal nem nenhum anjo podem sofrer o castigo do pecado em lugar do homem. É a natureza do homem a que peca, por isso é o homem que deve morrer. Só o humano pode expiar pelo humano. Mas como o pecado está em sua humanidade, a morte do homem não pode expiar por seu próprio pecado. O Senhor Jesus veio e assumiu a natureza do homem, para poder ser julgado em lugar da humanidade. Não corrompida pelo  pecado, sua santa natureza humana pôde deste modo expiar pela humanidade pecadora por meio da morte. Morreu como substituto, sofreu todo o castigo do pecado e ofereceu sua vida como resgate por muitos. Como conseqüência, todo aquele que crê nEle já não será julgado (Jo. 5:24).

 Como a humanidade tem que ser julgada, o Filho de Deus — o homem Jesus Cristo — sofreu em seu espírito, alma e corpo sobre a cruz pelos pecados do mundo.

 As almas humanas desfrutaram plenamente do prazer dos pecados; por conseguinte, Jesus ia suportar em sua alma a dor destes pecados. Preferiu beber a taça que Deus lhe deu do que a taça que anestesiaria sua consciência. 


Por um lado seu espírito suportou o abandono de Deus e por outro, resistiu ao escárnio do espírito diabólico. O espírito do homem se separou tanto de Deus, exaltando-se a si mesmo e seguindo o espírito diabólico, que o espírito do homem tem que ser quebrantado de tudo para que não possa continuar opondo-se a Deus e estando aliado com o inimigo. O Senhor Jesus se fez pecado por nós na cruz. Sua santa humanidade interior foi completamente aniquilada ao julgar Deus à humanidade ímpia. Abandonado Por Deus, Cristo sofreu, pois, a mais amarga dor do pecado, suportando na escuridão a ira castigadora de Deus sobre o pecado sem o apoio do amor de Deus ou a luz de seu rosto. Ser abandonado por Deus é a conseqüência do pecado. Agora nossa humanidade pecadora foi julgada totalmente porque foi julgada na humanidade sem pecado do Senhor Jesus. Nele, a humanidade santa conquistou sua vitória. Toda sentença sobre o corpo, a alma e o espírito dos pecadores foi lançada sobre Ele. Ele é nosso representante. Por fé estamos unidos a Ele. Sua morte é considerada como nossa morte, e sua sentença como nossa sentença. Nosso espírito, alma e corpo foram julgados e castigados nele. Seria o mesmo que se tivéssemos sido castigados em pessoa.

A regeneração.

O passar da morte para a vida. O espírito do homem precisa ser avivado porque nasceu morto.  Para Nee, o novo nascimento acontece no espírito, não tem relação com a alma ou o corpo.
Nossa regeneração é nossa união com o Senhor em sua ressurreição e também em sua morte. Sua morte terminou com nossa vida pecaminosa, e sua ressurreição nos deu uma vida nova e nos iniciou na vida de cristão. 

Assim, não confundam a posição com a experiência. No momento em que uma pessoa acredita no Senhor Jesus, pode ser muito fraca e ignorante, mas, mesmo assim, Deus a colocou na perfeita posição de ser considerada morta, ressuscitada e levantada com o Senhor. Quem é aceito em Cristo é tão aceitável como Cristo. Esta é a posição. E sua posição é: tudo o que Cristo experimentou é seu. E a posição o faz experimentar o novo nascimento, porque não depende do grau de seu conhecimento experimental da morte, da ressurreição e da ascensão do Senhor Jesus, mas sim de se ter crido nele ou não. Inclusive, se um crente é em sua experiência totalmente ignorante do poder de ressurreição de Cristo (Fp. 3:10),  Ele o tem feito viver junto com Cristo, o ressuscitou com Ele e o assentou com Ele nos lugares celestiais (Ef. 2:5, 6).
Receber a vida de Deus no novo nascimento é o ponto de partida do andar com Cristo, um mínimo absoluto para o crente. Os que ainda não creram na morte do Senhor Jesus nem tenham recebido a vida sobrenatural (que não podem possuir de maneira natural) estão mortos aos olhos de Deus, por muito religiosos, morais, eruditos ou zelosos que possam ser. Os que não têm a vida de Deus estão mortos. 
 Nee termina o primeiro capítulo explicando o que seria o crente carnal.


Um cristão espiritual é aquele em que o Espírito Santo vive em seu espírito e controla todo seu ser. Então, o que significa ser carnal? A Bíblia usa a palavra «carne» para descrever a vida e o valor de um homem não regenerado. Compreende tudo o que surge de sua alma e de seu corpo pecaminoso (Rm. 7:19). Por isso o cristão carnal é o que nasceu de novo e que tem a vida de Deus, mas em lugar de vencer a sua carne é vencido por ela.







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