Pedro Lucas Dulci do Movimento Mosaico escreveu um livro sobre Missão Integral, ou melhor, Ortodoxia Integral que entra na literatura cristã como referência. O livro está junto com Justiça Generosa e Ministries of Mercy do Tim Keller, Missão do Povo de Deus do Christopher J. Wright e Igreja Missional do Michael Goheen etc na galeria dos obrigatórios.
O propósito do livro é conectar novamente a teoria e a prática da vida cristã. Não como elementos opostos ou complementares, mas conexos. A velha questão entre evangelização e ação social.
"O principal desafio que a igreja brasileira tem no início do século 21 é restabelecer o equilíbrio entre pensamento teológico ortodoxo e ação integral da igreja na sociedade" (p. 33)
Utilizando a ferramenta de Foucault de "cuidado de si", o autor começa uma análise sobre oposição artificial entre prática e teoria, a partir do capítulo 4.
No capítulo 5, o autor coloca como a gênese do rompimento entre teoria e prática, a classificação dos saberes de Aristóteles. Como também a valorização do conhecimento teórico em relação ao prático. Se Aristóteles foi a gênese filosófica da separação, por outro lado, o começo religioso veio com o gnosticismo, que prometia aos membros um conhecimento misterioso e místico, de apelo mais individualista.
No próximo capítulo, o autor vai a Tomás, aquele que trouxe a ruptura na teologia, colocando dois modos de conhecimento da realidade, o doutor angélico traz o aristotelismo para a teologia. No sétimo capítulo, o autor fala de que esta ruptura produziu teólogos com grande conhecimento mas sem nenhuma implicação prática na sua vida do conhecimento de Deus.
Na segunda sessão, ele fala da ortodoxia integral como missão e a importância da reforma para romper com essa desconexão entre teoria e prática, entre natureza e graça.
Lutero começa a reforma rejeitando a escolástica tomista, contudo, fica preso ainda a divisão de reinos, daí a teoria luterana dos dois reinos que ainda não conseguiu romper com a divisão entre teoria e prática.
Cabe a geração de Calvino, o restabelecimento da vida prática com a vida teórica. A idéia de Cristo como transformador da cultura
"Que foi formado na criação tem sido historicamente deformado pelo pecado e deve ser reformado em Cristo" Wolters
No capítulo 10, o autor fala como Calvino em sua vivência chegou a conexão entre a teoria e a prática até chegar as esferas de Kuyper.
"Kuyper explica que na ordem criacional de Deus revelada nas Escritura, sua soberania se manifesta culturalmente através de esferas diferentes. Ao invés de qualquer instituição ou grupo de pessoas deterem um poder absoluto sobre o resto da criação, Deus constituiu esferas soberanas diferentes, que devem manter seu campo de atuação dentro dos seus limites particulares" (p. 130)
Kuyper nos ensina a identidade, a natureza e a independência de cada esfera social e as funções legítimas de cada esfera, com isto, há bases teóricas para uma missão integral da igreja.
No capítulo 11, Pedro fala de três equivocos da missão da igreja quando pretende assumir que a integralidade de sua missão é:
1. IMPOR SUA RESPONSABILIDADE A OUTRAS ESFERAS DA SOCIEDADE: o proselitismo.
2. PRIORIZAR OUTRAS RESPONSABILIDADES QUE NÃO SÃO SUAS. o constantismo, quando a igreja busca ser relevante demais ou prioriza um aspecto em detrimento de outros.
3. ISOLAR-SE EXCLUSIVAMENTE NA PREGAÇÃO DO EVANGELHO. a igreja esquece que além do mandato evangelístico, há o cultural (GN 1:27-28, RM 8:19-21), espiritual (AP 19:6-7) e social (GN 1:26, 2:22-24).
Com a visão da reconciliação entre natureza e graça de Calvino e as esferas soberanas de Kuyper, mais do parceiras, a evangelização e a ação social estão ligadas como a teoria e prática cristã. Fé sem obras é morta.
A salvação pela fé leva a as obras por causa da justificação pela graça que nos faz diferentes e sedentos em sermos sinais da graça de Deus entre os homens.
Complementando, há também a questão do reino de Deus, que fomos salvos para a solidificação deste reino, o autor tem uma visão bem a-milenista, que fortalece o compromisso social.
Citando Bonhoeffer- crer é obedecer e obedecer é crer.
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