Grandes estilos representam a interface entre “mundo” e “eu”, e é na própria noção de ser tal interface diferente da nossa em espécie e qualidade que reside o poder da ficção. Escritores fracassam quando essa interface é feita sob medida para nossas necessidades, quando agencia as generalidades do momento, quando nos oferece um mundo que sabe que aceitaremos, por já tê-lo visto na televisão. A má literatura nada faz, nada muda, não educa as emoções, não redesenha circuitos interiores – fechamos o livro com a mesma confiança metafísica na universalidade de nossa própria interface que tínhamos ao abri-lo. Mas a grande literatura, esta o obriga a se submeter à sua visão. Você passa a manhã lendo Tchecov e, de tarde, dando uma volta na vizinhança, o mundo se tornou tchecoviano (…).
Zadie Smith
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