segunda-feira, dezembro 14, 2009

C.S. Lewis: O Grande Abismo



“Olhe para mim agora”, falou o Fantasma, batendo no peito (mas as batidas não fizeram ruído algum). “Sempre andei direito. Toda a minha vida. Não digo que fosse religioso ou que não tivesse defeitos, longe disso. Mas fiz o melhor que podia a vida inteira. Fiz o máximo por todo mundo, eu sempre fui assim. Nunca pedi nada a que não tivesse direito. Se queria beber pagava pela bebida e se recebia salário, trabalhava pára isso. Está vendo? Eu era assim e não me importo quem saiba disso.”
“Seria muito melhor não ficar repisando esse assunto agora.”
“Quem está repisando? Não discuto. Estou só lhe dizendo como eu era. Não estou pedindo nada senão os meus direitos. Você pensa que pode me olhar de cima só porque está vestido desse jeito (e não estava quando trabalhava comigo) e eu não passo de um pobretão. Mas tenho de ter os meus direitos do mesmo modo que você, está vendo?
“O, não. Não é tão mau assim. Não tenho direitos. Caso contrário não estaria aqui. Você também não irá obter os seus. Vai ganhar algo muito melhor. Não tenha medo.”

“E isso que estou dizendo. Não tenho direitos. E sempre fiz o meu melhor e nunca nada errado. E não vejo porque devo ser considerado inferior a um reles assassino como você.”
“Quem disse que vai? Alegre-se e venha comigo.”
“Por que continua falando desse modo? Só estou dizendo como sou. Só quero os meus direitos. Não estou pedindo piedade de ninguém.”
“Então faça justamente isso. Peça piedade. Tudo aqui é recebido quando se pede e nada pode ser comprado.”
“Isso pode ser muito bom para você, tenho certeza. Se eles deixam entrar um miserável homicida só porque ele pede piedade na última hora, isso é problema deles. Mas eu não estou no mesmo barco que você, percebe? Por que deveria? Sou um homem decente e se tivesse os meus direitos já estaria aqui há muito tempo, e pode dizer isso a eles.”

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