Em Jeremias 28 e 29, temos uma história que nos ajuda a entender como deve ser o relacionamento dos cristãos com suas cidades. No capítulo 28, temos Hananias dizendo que Deus iria deixar o povo somente dois anos na Babilônia, então, era para o povo suportar o jugo que logo ele iria se quebrar.
Jeremias profetiza dizendo que Hananias não falou pelo Senhor, mas era para o povo de Israel procurar o bem da cidade porque eles iriam passar setenta anos por ali (29:4-11).
A bíblia não defende um modelo tribalista do relacionamento do cristão com a cultura, ela defende um modelo redentor a partir da obra de Jesus Cristo.
Os seres humanos foram criados por Deus à sua imagem e semelhança, cada um de nós recebemos de Deus um mandato cultural de preservar e cuidar da terra, esta ordem não foi apagada pela queda, ela persiste na busca de um conceito perdido que permeia toda a Escritura, "shalom":
"Na Bíblia, shalom significa florescimento universal, compleição e regozijo- um contexto rico e satisfatório de circunstâncias, no qual as necessidades naturais são satisfeitas e os dons naturais são empregados produtivamente, e tudo isso acontecendo debaixo da cobertura do amor de Deus. Em outras palavras, shalom representa o modo como as coisas deveriam ser." Cornelius Plantinga Jr. - O Crente no mundo de Deus, p. 31
Toda cultura humana carrega o selo do pecado, antes ela para fazer parte da vontade de Deus para a humanidade, agora é um meio e expressão da exploração das pessoas. Com o pecado, as relações do homem com Deus, com seu semelhante e com o mundo foram maculadas.
Contudo, na obra redentora de Deus através vida, morte e ressurreição de Jesus, o pecado deixou de ter seu domínio sobre o homem, que passa a ser luz do mundo e sal da terra. O domínio de Deus sobre a terra volta a se instaurar, ainda que de maneira incompleta até sua volta.
O cristão deve entender que não há nada que não seja sagrado em seu viver, afinal, sua vida agora é pelo Espírito Santo em Cristo Jesus. Isto inclui toda a sua vida, agora redimida.
Tudo está debaixo da soberania divina, como Paulo diz em Rm 13:1-7. Cada um de nós foi chamado por Deus, a manifestar sua obra em nosso chamado particular neste mundo - 1 Co 7.17.
O crente precisa da política para obedecer a Deus, sendo o contraste que o mundo precisa. As conquistas mais significativas em direitos humanos partiram de cristãos - a liberdade de escravos por Wilberforce ou os direitos civis por Martin Luther King jr-.
No Brasil, na última eleição presidencial, nós tivemos um vislumbre desta força cultural que possui a igreja, a questão do aborto.
Há inúmeras questões em que os cristãos brasileiros devem e podem participar por meio da política - direitos, saúde, educação, trabalho, renda digna-.
Mas, vivemos com uma mentalidade tão "gnóstica" que ficamos fazendo divisão entre sagrado e profano, que engolimos sem pensar muitas coisas por acharmos que está fora de nosso mandato como cristãos, tais como corrupção, perca de valores familiares, a exploração de sexo e violência na televisão.
Talvez o exemplo mais claro desta passividade brasileira cristã seja em torno do ensino da teoria evolucionista em nossas escolas, nossos filhos aprendem uma cosmovisão materialista e achamos normal. Isto é simplesmente falta de participação política somado ao anti-intelectualismo da igreja brasileira.
O crente precisa de política sim. Mas, para estabelecer seu contraste. O crente não precisa da política realizada fora da soberania de Deus ou para a glória de Deus, aquela que procura o favor, a vantagem e meios para mais e mais opressão e injustiça.
A Bíblia tem livros inteiros dedicados a questão da justiça social, para que a shalom de Deus conquistada em Jesus se anuncie ao mundo, é preciso que os crentes passem a perceber que eles precisam da política, porque mais do que eles, a política precisa deles.
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