terça-feira, maio 14, 2013

N.T. Wright: Eu creio. E agora?


Este livro faz parte de uma trilogia, os dois primeiros eram Simplesmente Cristão, onde Wright colocava as bases do que é ser cristão e Surpreendidos pela Esperança, que fala sobre a esperança cristã e seus efeitos no mundo de hoje.

Em "Eu creio. E agora?", N.T. Wright vai falar sobre  as virtudes cristãs na formação do caráter. Como se dá esta construção de caráter e para quê?

A razão para uma vida de virtudes é a ter a vida voltada para um propósito maior, fora de nós mesmos,  colocar o reino de Deus em primeiro lugar e o próximo acima de sua própria satisfação e bem estar.

A transformação do caráter teria três etapas: primeiro, estabelecer o alvo correto, segundo, descobrir os passos necessários, terceiro, tornar os passos hábitos.

"O verdadeiro problema é que as regras sempre parecem ser e se destinam a ser restritivas, No entanto, sabemos, bem no fundo, que algumas das principais características que nos fazem humanos são criatividade, celebração da vida, da beleza, do amor , do riso. Não se chega  a isso por meio da legislação. Regras são importantes, mas não o centro. Podemos mandar as pessoas serem sempre generosas, mas dar um presente apenas como obediência a uma regra, como um dever, acaba com a glória da doação. Se as regras são vistas como o principal, então o "verdadeiro principal" faz falta. O que aconteceu com o caráter?" (p.57-58)

O caráter não nasce da simples obediência ou por esforço próprio, a mensagem cristã é que o caráter surge do seguimento a Jesus.

Wright coloca três movimentos que falaram sobre o caráter até influenciando a visão de alguns cristãos sobre o assunto:

  • 1. O movimento romântico reagiu contra o que achava que era um formalismo frio e racional.
  • 2. O movimento existencialista que enfatizava a noção de autenticidade.
  • 3.O movimento emotivista que insistia que todo discurso moral pode ser reduzido a preferências pessoais.

A ideia de auto-negação cristã foi removida de grande parte do discurso cristão. 

"Deus verdadeiro deu a seu povo em Jesus Cristo e por meio dele (a salvação, vida eterna e assim por diante), ele continua sendo um dom, jamais uma coisa que se pode conquistar. Deus jamais será listado como um de nossos devedores, nós estaremos sempre na lista dos que lhe devem. tudo que afirmo sobre a vida moral,. formação consciente de padrões de comportamento, se enquadra apenas e unicamente na graça que tomou corpo em Jesus, em sua morte e ressurreição" (p. 70)

Tom Wright fala da escatologia cristã e sua importância na formação do caráter, ele critica a visão pré-milenarista e pós-milenarista, para ele:

1. o alvo é o novo céu e a nova terra, com seres humanos levantados dos mortos para serem reis e sacerdotes do mundo renovado.

2. chega-se até o alvo por meio da obra estabelecedora do reino de Jesus e do Espírito, a qual nos apegamos pela fé, da qual participamos pelo batismo e vivemos pelo amor.

3. a vida cristã no presente consiste em antecipar a realidade final por meio da prática da fé, da esperança e do amor, conduzida pelo Espírito, formando novos hábitos, sustentando os cristãos no chamado para adorar a Deus e refletir a glória dele no mundo. (p.78)

A prática da virtude é uma antecipação do novo mundo de Deus. É um aprendizado. A glória da virtude cristã não tem o eu em seu centro, mas Deus e seu reino.

No capítulo 3, ele vai falar do papel central dos seres humanos no reino de Deus - sacerdotes e reis. O autor retorna ao Jardim,  no mandato cultural e vai até a nova Jerusalém onde adorar e reinar será a vocação dupla do novo povo na nova cidade conforme Ap. 22:3-5.

Em Jesus,  a raça humana pode provar da Arvore da Vida.

Tom Wright diz que a glória é a forma padrão que a Bíblia usa para se referir ao governo sábio dos homens sobre a criação.


"Glória é uma qualidade ativa. Sob glorioso governo humano o mundo é levado ao estado frutífero planejado,e os homens chegam a florescer, como planejado para eles. É, na verdade, a glória de Deus - a posição e o status efetivos - que mostram que os homens são mesmo reflexos de Deus. Por meio deles, a soberania sábia e amorosa do Deus criador é trazida à presença poderosa e vivificadora da criação" (p. 96)
Toda a leitura do tema da  glorificação tem este sentido na obra de Wright. Para ele, a santificação é o aprendizado dos hábitos presentes na glorificação, antecipando o futuro definitivo por meio da oração.

"O Espírito capacita o povo de Deus a ser uma comunidade de sacerdotes que reúne a adoração da criação e também o constitui como reis que levam a ordem curadora de Deus ao mundo" (p.101).

No quarto capítulo, O Reino vindouro e o povo preparado, Wright fala que o sermão do monte  aponta que o reino de Deus está chegando no presente, que em Jesus as pessoas já podem encontrar os hábitos de vida que terão no futuro.

O propósito de Jesus não era um plano maravilhoso de vida ou aceito como você é. O começo é do auto-negação, da morte, havia uma doença no coração que não poderia ser curada por aprimoramento pessoal, eles precisam de uma nova vida. 

"O destino real e sacerdotal dos seres humanos  renasceu apenas por causa do Humano perfeito, o único filho do homem que foi tanto rei quanto sacerdote. ele veio para dar início e incorporar o governo soberano e salvador de Deus na criação, incorporar, ainda, a obediência tão aguardada de toda a criação, da humanidade e, em especial,de Israel. No coração das duas vocações - o movimento soberano de Deus rumo à criação e o movimento grato e obediente da criação de volta ao Criador - encontramos nos Evangelhos o movimento não apenas de pensamento, mas de ação, que levou diretamente à cruz.Foi nela que o verdadeiro Deus derrotou os falsos deuses e estabeleceu, com paradoxo profundo e ressoante, seu reino na terra como no céu. Na cruz, a obediência fiel e grata que Deus buscou na criação, nos seres humanos, que carregam sua imagem, e em seu povo escolhido como resposta adequada a seu amor, foi oferecida plenamente, de maneira final.Claro que há muito mais a dizer sobre o significado da cruz, isso é o minimo" (p.121-122) 

A virtude para o cristão é que o você será, você já é em Cristo. Não se trata de uma imitação, Jesus não é para ser um exemplo de vida, ele é o transformador deste mundo. 


Transformado pela renovação da mente, no quinto capítulo vai falar sobre a transformação em si. Pensando em Romanos 12:1-2, a transformação começa com o oferecimento do corpo, que significa todo ser a Deus. Segundo, a oferta  é de um corpo dirigido por uma mente racional. E, em terceiro,  a adoração a Deus com todo o ser leva ao sacrifício de si mesmo em louvor a Deus.

Para Paulo, a mente é o centro do caráter cristão, a virtude resulta de pensamento e escolha (Cl 3:16). Lembrando que para Wright:

"o alvo é a humanidade renovada que reflete a imagem de Deus, e caminho até o alvo é a renovação e a plena atividade da mente. Segue-se uma lista de novos hábitos que devem ser adquiridos e dos antigos, que precisam ser abandonados (Ef. 4:25-5:2, 5:3-20). Como sempre, o viés escatológico está por perto: não se trata (como o título de uma tradução diz) de Regras para a Nova Vida, mas de hábitos de coração e mente, maneiras de aprender como é o pensamento cristão sobre o futuro final e o caminho até lá- caminho que é, digamos assim, ressurreição diária (5.14). (Repito, para não ser mal entendido: não quero dizer que as regras são irrelevantes, nem desnecessárias, na vida de virtude. Apenas penso que não são nem o ponto de partida, nem o destino)" (p.173)

O sexto capítulo fala sobre três virtudes(fé, esperança e amor), nove variedades de fruto  (Gl 5:22-23) e um corpo está baseado em 1Coríntios 13.  

Wright fala da relação do Espírito com a lei, fala que Paulo não faz uma especialização do fruto, pois quando age o Espírito  as nove variedades aparecem. Para ele, o fruto não é automático, se fosse assim, um deles não seria autocontrole.

A unidade da igreja é a uma visão da unidade do reino dos céus. A variedade  dos ministérios busca a construção deste corpo, para crescer numa unidade rica e diversa.

A unidade gera um valor apologético da diferença para o mundo e um valor de atração da benignidade. As virtudes apontam para Deus e para o mundo.

A virtude em ação é o sacerdócio real.

"Paulo e seus companheiros relembraram aos magistrados os deveres deles segundo a lei romana ( Atos 16.35-40), confrontaram a corte pagã mais famosa do mundo greco-romano (Atos 17:22-34), conseguiram veredicto favorável de Gálio, irmão adotivo de Sêneca, e uma defesa implícita do escrivão em Eféso (At 18:12-17,19:35-41), relembraram ao tribuno romano sua posição legal (22:25-29), anunciaram a um governador romano o julgamento iminente de Deus e a outro sua situação legal no momento (24:25-26, 25:6-12) e terminaram usando a cidadania romana para conseguir acesso a Roma, para onde acreditavam havia muito tempo que Deus queria que fossem para anunciá-lo como Rei e a Jesus como Senhor (25:11, 28:3-21, Rm 1:13-15)" (p. 224)

Ser rei significava para os primeiros cristãos viverem juntos de forma que declarava ao mundo que Jesus era o soberano.

"...a glória de Deus será refletida para o mundo quando os seguidores de Jesus aprenderem os hábitos de mente, coração e vida que imitam o amor generoso dele e, assim, levam nova ordem, beleza e liberdade ao mundo" (p.231)
O mundo para Deus na  adoração e Deus para o mundo na missão. 

Por fim, ele fala do círculo virtuoso: ESCRITURAS, HISTÓRIAS, EXEMPLOS, COMUNIDADE E PRÁTICAS. O grande alvo é a transformação da mente.

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