quarta-feira, junho 12, 2013

Algumas colagens sobre Revelação Geral e Especial



REVELAÇÃO GERAL E ESPECIAL.
“Visto que realidade de Deus é premissa para a veneração humana de Deus, religião tem por ponto de partida o conhecimento de Deus. Conhecimento de Deus, porem, pode ser conhecimento verdadeiro, correspondente à realidade de Deus, somente sob a condição de ter sua origem na própria divindade(PANNENBERG, Wolfhart Teologia Sistemática Santo André:Editora Paulus/Academia Cristã,2009, Vol. 1, p. 261)

Neste texto, será apresentado alguns conceitos a respeito da Revelação Geral e da Revelação Especial. O método que será utilizado vem de cinco textos bíblicos citados pelo professor Franklin Ferreira em sua obra Teologia Cristã, quando trata a respeito do tema da revelação geral. Que são: Gn 1:1, Sl 19:1-6, At. 17:22-31, Rm 1:18-23 e Rm 1:24-32.
Este é um trabalho inicial, não tem pretensões de criar teoria, mas tentar expor diversos pensamentos a respeito do tema seguindo como guia o primeiro do livro Teologia Cristã.

O que seria Revelação.
Alister McGrath, em seu livro Teologia Sistemática, Histórica e Filosófica, aponta quatro formas como podemos entender o que significaria revelação:
a.       Doutrina: se refere à informação relativa à natureza de Deus dada pela Bíblia (Carl Henry, J.I.Packer, Karl Barth)
b.      Presença: seria a junção das informações e a presença pessoal de Deus (Brunner, Buber).
c.       Experiência: Deus se revela através da experiência pessoal (Schleirmacher, Ritschl)
d.      História: revelação seria um evento histórico notório e universal reconhecido e interpretado como um ato divino (Pannenberg).

     A Revelação Geral
A revelação geral é a revelação de Deus para todos os seres humanos, sendo que os meios tradicionais de revelação geral são três: a natureza, a história e a constituição do ser humano segundo vaticina Millard Erickson.

a.       No princípio, criou Deus os céus e a terra (Gênesis 1:1)
A Escritura sagrada não busca provar a existência de Deus, ela parte do pressuposto que Deus já existe e se comunica aos homens.
“Contra a tendência universal das religiões primitivas de deificar a criação. Genesis 1 apresenta um quadro totalmente diferente. Os vários aspectos da criação, como o mar, o ceu, as estrelas, são apresentados como criações inanimadas que servem aos propósitos de Deus. Não são seres vivos e muito menos divinos. Não tem poder de determinar o que será o futuro e não merecem o temor, nem o louvor do homem. A criação dos animais também aponta sua inferioridade a Deus. Os animais não são objeto de louvor. A criação revela a glória de Deus, mas não deve jamais ser confundida com o divino. Deus é distinto da criação”  (FERREIRA,Franklin e MYATT, Alan Teologia Sistemática, p.69)

b.      Os céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos. Um dia faz declaração a outro dia, e uma noite mostra sabedoria a outra noite. Não há linguagem nem fala onde não se ouça a sua voz. A sua linha se estende por toda a terra, e as suas palavras até ao fim do mundo. Neles pôs uma tenda para o sol, O qual é como um noivo que sai do seu tálamo, e se alegra como um herói, a correr o seu caminho. A sua saída é desde uma extremidade dos céus, e o seu curso até à outra extremidade, e nada se esconde ao seu calor.  (Salmos 19:1-6)
Segundo Karl Barth, que não aceitava o conceito de revelação geral:
a revelação é uma automanifestação de Deus. Ele se dá a conhecer a si mesmo. A revelação apresenta ao homem, como suposto e como confirmação, o fato de que as tentativas humanas para conhecer a Deus por seus próprios meios são vãs. Isto não é um principio teórico, senão uma realidade prática. Na revelação, Deus diz ao homem que é Deus e que, como tal, Senhor do homem. Com isto a revelação diz ao homem algo completamente novo. Algo que, se a revelação, não pode nem saber, nem dizer aos outros. Que o homem possa conhecer a Deus, somente pode afirma-lo com verdade a revelação” (BARTH, Karl Revelação de Deus como sublimação da religião Fonte Editorial, p.44)

A revelação geral na natureza
A revelação geral é geral em dois sentidos, segundo Bernard Ramm, primeiro, porque ela é uma revelação geral para todos os homens sem diferenciar algum homem ou povo especificamente. E também porque é uma classe geral da revelação, é aquela que se dá sem linguagem verbal, como vemos no verso 4 do Salmo 19.

“Em essência, é a idéia de que Deus nos deu uma revelação objetiva, valida e racional acerca de si mesmo por meio da natureza, da história e da personalidade humana. Ela é acessível a todas as pessoas que queiram observá-la. A revelação geral não é a natureza interpretada por aqueles que conhecem a Deus por outros meios, ela já está presente, pela criação e pela providência contínua de Deus” (ERICKSON, Millard Introdução a Teologia Sistemática, São Paulo: Edições Vida Nova, 1997, p.49)

Teologia Natural.
A revelação geral não faz com que o descrente possa chegar até Deus, não existe a possiblidade de uma teologia natural, que é uma acomodação do motivo básico graça-natureza conforme Dooyeweerd:
"Na esfera natural, uma autonomia relativa foi atribuída à razão humana, que supostamente seria capaz de descobrir as verdades naturais por sua própria luz. Na esfera sobrenatural da graça, pelo contrário, o pensamento humano era considerado dependente da autorrevelação divina" (DOOYEWEERD, Herman No Crepusculo do Pensamento Ocidental Editora Hagnos p. 96)
Contudo,
 "A tentativa tomista de sintetizar os motivos opostos de natureza e graça, e a atribuição de primazia ao último, encontrou uma clara expressão no adágio: gratia naturam non tollit, sed perfecit ( a graça não cancela a natureza, mas a aperfeiçoa) (...) Qualquer ponto de conexão entre as esferas natural e sobrenatural foi negado. Isso foi a introdução para uma transferência da primazia para o motivo da natureza. O processo de secularização da filosofia havia começado" (DOOYEWEERD, Herman No Crepusculo do Pensamento Ocidental Editora Hagnos p. 97)

Por causa da razão continuar ser autônoma e não foi afetada pelo pecado, o conhecimento da criação e da história é possível para todas as pessoas. Na Teologia Sistemática, Franklin e Myatt apontam cinco caminhos tomistas para Deus: a. o caminho da mutação, b. o caminho da causalidade eficiente, c. o caminho da contigencia, d. o caminho dos graus de perfeição e d. o caminho do finalismo.

“Na teologia natural, a razão usurpa o lugar da fé. Seu resultado é um conhecimento abstrato e impessoal. Em vez de chegar a Deu, ela agarra um sonho fabricado pelo diabo. Por outro lado, a cruz de Cristo significa o fim de toda especulação sobre a natureza invisível de Deus” (FERREIRA, Franklin MYATT, Alan Teologia Sistemática, São Paulo: Edições Vida Nova,  p. 60)


c.       E, estando Paulo no meio do Areópago, disse: Homens atenienses, em tudo vos vejo um tanto supersticiosos; Porque, passando eu e vendo os vossos santuários, achei também um altar em que estava escrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Esse, pois, que vós honrais, não o conhecendo, é o que eu vos anuncio.O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens; Nem tampouco é servido por mãos de homens, como que necessitando de alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, e a respiração, e todas as coisas; E de um só sangue fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados, e os limites da sua habitação; Para que buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, o pudessem achar; ainda que não está longe de cada um de nós; Porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos; como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois somos também sua geração. Sendo nós, pois, geração de Deus, não havemos de cuidar que a divindade seja semelhante ao ouro, ou à prata, ou à pedra esculpida por artifício e imaginação dos homens. Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, e em todo o lugar, que se arrependam; Porquanto tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do homem que destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos.  (Atos 17:22-31)

Transcendência, imanência e cognoscibilidade.
“Devemos notar que um dos argumentos centrais desse sermão é: todas as coisas foram criadas por Deus, e esse Criador é distinto de toda a criação – aliás, o argumento é contundente. Ainda que todas as coisas cridas sejam impressionantes, o Senhor do céu e da terra está acima de toda a criação. E Deus  também não pode ser alcançado pelos seres humanos. Não é o esforço religioso ou piedoso que leva Deus a incluir os seres humanos em sua aliança”  (FERREIRA, Franklin Teologia Cristã,  São Paulo: Vida Nova, p. 39)
Existe a necessidade da revelação por causa da transcendência de Deus e da sua incompreensibilidade. Para entender a transcendência divina, devemos lembrar que Deus é transcendente e imanente, assim, sabemos que Deus é o Senhor da Aliança e que está envolvido com suas criaturas, mas Deus não é aquele que está infinitamente distanciado da criação e também não é idêntico à criação.
Quanto a incompreensibilidade, John Frame nos ensina que “não é inapreensibilidade (ié., incognoscibilidade), porque a incompreensibilidade pressupõe que Deus é conhecido. Dizer que Deus é incompreensível é dizer que o nosso conhecimento jamais é equivalente ao conhecimento que Deus tem, que nunca o conhecemos precisamente como ele se conhece” (FRAME, John M. A doutrina do conhecimento de Deus Cultura Cristã, p. 37)
O que existe é a descontinuidade entre nossas ideias e as de Deus, os pensamentos de Deus são incriados e eternos e os nossos são criados e limitados, por exemplo. Por outro lado, há uma continuidade, os pensamentos humanos somente são verdadeiros na medida de sua conformidade às normas divinas para o pensar o humano.
“Porque ele controla perfeitamente a nossa obra interpretativa, todo o nosso pensamento é uma revelação dele e uma manifestação da sua presença. Assim, não temos necessidade de temer que a obra da mente humana esteja necessariamente competindo com a autoridade de Deus, porque o Senhor se revela em nosso pensar e por meio deste. Dai, a liberdade humana não tem necessidade de bloquear a revelação de Deus” (FRAME, John M. A doutrina do conhecimento de Deus Cultura Cristã, p. 45)

d.      Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos homens, que detêm a verdade em injustiça. Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis; Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis.  (Romanos 1:18-23)
Por que todos os homens conhecem a Deus?
Já vimos que há conhecimento ainda que não regenerador de Deus na natureza externa e na história, contudo, há também este conhecer no interior do ser humano, como se fosse um conhecimento intuitivo de Deus. A passagem paulina é clara os homens conhecem a Deus mas sufocam este conhecimento com a idolatria. Como é este conhecimento interior?
Mais uma vez, Dooyeweerd complementa dizendo que:
Uma vez que a imagem de Deus no homem relaciona-se com a radix, ou seja, o centro religioso e raiz de nossa existência temporal total, segue-se que a queda no pecado pode apenas ser entendida no mesmo sentido bíblico radical. A queda no pecado pode ser resumida como uma ilusão surgida no coração humano,  quando o eu humano creu possuir uma existência absoluta como o próprio Deus. Essa foi a falsa insinuação de satanás à qual o homem deu ouvidos - serás como deus". Essa apostasia em relação ao Deus vivo implicou na morte espiritual do homem, pois o eu humano não é nada em si mesmo e pode apenas viver da palavra de Deus e na comunhão amorosa com seu Criador divino. Entretanto, o pecado original não poderia destruir o centro religioso da existência humana e o seu impulso religioso inato de buscar a sua origem absoluta. Ele poderia apenas conduzir esse impulso central para um direção falsa, apóstata, desviando-o em direção ao mundo temporal com sua rica diversidade de aspectos, os quais, entretanto, têm apenas um sentido relativo" (DOOYEWEERD, Herman No Crepusculo do Pensamento Ocidental Editora Hagnos p. 260)

Por fim, a conclusão de FERREIRA e MYATT leva a questão do ponto de contato entre o regenerado e o não regenerado:
“mediante uma iluminação que atinge todos os homens, cada pessoa percebe claramente a existência, o poder e a justiça de Deus. Entretanto, nenhuma delas louva e serve a Deus, por causa do pecado que reina no coração humano. Alias, todos sabem que Deus existe e reconhecem que ele é o criador, o Rei soberano, pefeito, infinito e o juiz do mundo. Existe “terreno comum” entre o descrente e o crente, porque todos têm em comum esse conhecimento de Deus. Conhecimento que pode ser usado como base para evangelizar o não-crente e para a apologética. Essa revelação não é suficiente para salvar porque não revela o evangelho, mas é suficiente para condenar justamente todos os homens” (FERREIRA,Franklin MYATT, Alan  Teologia Sistemática, p. 63)
Em Apologética para o século XXI, Alister McGrath buscando fundamentar um ponto de contato em Calvino diz:
“Calvino afirma que é possível discernir um conhecimento geral de Deus por intermédio de sua criação: na humanidade, na ordem natural e no processo histórico em si. Esse conhecimento consiste em duas áreas principais: uma, subjetiva, outra objetiva. A primeira área é definida como “senso da divindade” (sensus divinitatis) ou “semente da religião” (semem religionis), implantada em todo ser humano por Deus (I,iii, I.v.1). Deus dotou os seres humanos de uma percepção inata ou pressentimento de sua existência. É como se alguma coisa acerca de Deus tivesse sido gravada no coração de cada ser humano (I,x,3). Calvino aponta três consequências dessa consciência inata da divindade: a universalidade da religião (que, se permanecer não informada pela revelação cristã, degenera em idolatria (I,iii,1), uma consciência perturbada (I.iii.2) e um temor servil de Deus (I.iv.4). Todas essas coisas, segundo Calvino, podem servir de ponto de contato para a proclamação cristã” (MCGRATH, Alister Apologética para o século XXI, Editora Vida, p. 41-42)

O ponto de contato entre crentes e descrentes é um fato de divisão na apologética contemporânea, de um lado, há os evidencialistas, que afirmam existir um terreno comum e, por outro lado, há os pressuposicionalistas, que não admite um ponto de contato, entretanto, aceitam a ideia de uma revelação geral.
Vejamos o que diz John Frame, um pressuposicionalista:
"O ponto não é se os descrentes são simplesmente ignorantes da verdade. Antes, Deus se revelou a cada pessoa com evidente claridade, tanto na criação - Sl 19, Rm 1:18-21- quanto na natureza do homem - Gn 1:26ss-. Em certo sentido, o incrédulo conhece a Deus (Rm 1:21). Em algum nível de sua consciência ou inconsciência permanece tal conhecimento.  A despeito desse conhecimento, o incrédulo intencionalmente distorce a verdade, substituindo-a pela mentira (Rm 1:18-32, 1Co 1:18-2:16- observe especialmente 2:14-,2Co 4:4). Portanto, o descrente é enganado (Tt 3:3). Ele conhece a Deus (Rm 1:21)e, ao mesmo tempo, não conhece a Deus (1Co 1:21, 2:14). Evidentemente, esses fatos suportam o ponto de que a revelação de Deus tem de governar  a nossa aproximação apologética. O descrente não pode ( e não quer) chegar à fé  à parte do evangelho da salvação revelado na Bíblia. Nós também não saberíamos a respeito da condição do incrédulo à parte da Escritura. E não poderemos alcançá-lo apologeticamente a menos que estejamos dipostos a ouvir os princípios apologéticos da própria Escritura" (FRAME, John Apologética para a glória de Deus São Paulo: Cultura Cristã, p.17)

e.      Por isso também Deus os entregou às concupiscências de seus corações, à imundícia, para desonrarem seus corpos entre si; Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém. Por isso Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza. E, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro. E, como eles não se importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convêm; Estando cheios de toda a iniqüidade, prostituição, malícia, avareza, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade; Sendo murmuradores, detratores, aborrecedores de Deus, injuriadores, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais e às mães; Néscios, infiéis nos contratos, sem afeição natural, irreconciliáveis, sem misericórdia; Os quais, conhecendo a justiça de Deus (que são dignos de morte os que tais coisas praticam), não somente as fazem, mas também consentem aos que as fazem. (Romanos 1:24-32)

Por que todos os homens não conhecem a Deus?
Os seres humanos não conseguem agir à altura da revelação que eles carregam interiormente, no coração. O fato de termos sido criados como seres morais nos torna indesculpáveis perante Deus (FERREIRA, Franklin Teologia Cristã, p. 42)

“A natureza moral e espiritual da humanidade reflete, mesmo de forma bastante inadequada, o caráter moral de um Criador santo e perfeito. Uma consciência universal (por mais distorcida) da conexão entre a humanidade e Deus é afirmada repetidas vezes nas Escrituras. Que o diga o teste¬munho dos missionários e antropólogos.30 Romanos 2 confir¬ma a validade da revelação divina através da natureza hu¬mana, mesmo à parte de qualquer revelação especial (Rm 2.11-15). Os que não possuem a Lei Mosaica "fazem natural¬mente as coisas que são da lei", pois "mostram a obra da lei escrita no seu coração" (Rm 2.14,15). Até mesmo os que se acham alienados de Deus por causa do pecado não estão destituídos da consciência moral e dos impulsos que refletem as normas de conduta. A graciosa revelação moral de Deus ao coração humano tem preservado a raça adâmica de irrefreada autodestruição”.  (HORTON, Stanley  Teologia Sistemática Rio de Janeiro:CPAD, p.40)

A doutrina da revelação geral nos mostra que Deus já se revelou no mundo, sendo conhecida a verdade da criação para todas as criaturas na natureza, na história e no coração (ou mente) do homem, contudo por causa do pecado, há uma interpretação distorcida destes fatos que leva a todos à condenação por termos transformado a verdade em mentira, servindo às criaturas e não ao Criador.
A revelação geral nos leva ao conhecimento do Deus criador, enquanto que somente a revelação especial pode nos levar ao conhecimento do Deus redentor e salvador.
Outra questão é a própria natureza finita do ser humano:
“Sendo os seres humanos finitos e Deus, infinito, não podemos conhecer a Deus, a menos que ele se revele para nós, ou seja, a menos que ele se manifeste aos humanos de tal forma que estes possam conhecê-lo e ter comunhão com ele” (ERICKSON, Millard Introdução a Teologia Sistemática, São Paulo: Edições Vida Nova, 1997, p.41)

A Revelação Especial é uma revelação remediadora?
Para Erickson, não:
“É comum a ideia de que a revelação especial seria um fenômeno posterior à queda, exigido pelo pecado humano. Com frequência, ela é considerada remediadora (...) O relato sobre Deus à procura de Adão e Eva no Jardim, após o pecado deles (Gn 3:8), dá a impressão de que esse foi um de vários encontros especiais que ocorreram. Além disso, as instruções dadas aos homens (Gn 1:28) acerca da posição e da atividade deles na criação insinuam uma comunicação especial do Criador para a criatura; não parece que tais instruções  fossem meramente inferidas pela observação da ordem criada. Sendo assim, a revelação especial foi anterior à queda” (ERICKSON, Millard Introdução a Teologia Sistemática, São Paulo: Edições Vida Nova, 1997, p.57)

Para Ramm, sim:
“A revelação especial é remediadora porque é o meio que Deus emprega para alcançar o pecador com uma verdade que o salve e o restaure; é também, o conhecimento de Deus ajustado e dado aos pecadores, é a muleta remediadora, a bandagem curadora, as lentes corretivas, para o pecadores coxos, feridos e cegos. Para esses pecadores  a revelação geral já não basta. A revelação remediadora é revelação da graça. No pecado há uma terrível perda: perdeu-se o conhecimento valido de Deus (Rm 1:25)” (RAMM, Bernard  REVELAÇÃO ESPECIAL E A PALAVRA DE DEUS, Fonte Editorial, p. 22)


A necessidade de um novo coração.
"Assim, o tema central das Escrituras sagradas, ou seja, a criação, queda no pecado e redenção por Jesus Cristo na comunhão do Espírito Santo, tem uma unidade radical de sentido que está  relacionada à unidade central da existência humana. Ele efetiva o verdadeiro conhecimento de Deus e de nós mesmos. se nosso coração estiver realmente aberto para o Espírito Santo de forma a se encontrar cativo da palavra de Deus e prisioneiro de Jesus Cristo. À medida em que esse sentido central da palavra-revelação estiver em questão, encontrar-nos-emos além dos problemas científicos, tanto da teologia como da filosofia. Sua aceitação ou rejeição é uma questão de vida ou morte para nós, e não uma questão de reflexão teórica. Nesse sentido, o motivo central das sagradas Escrituras é o ponto de partida comum, supracientífico, tanto de uma teologia bíblica quanto de uma filosofia realmente cristã. Ele é a chave do conhecimento, a qual Jesus Cristo mencionou em sua discussão com os escribas e doutores da lei. Ele é a pressuposição religiosa de qualquer pensamento teórico capaz de reivindicar para si, com justiça, a posse de um fundamento bíblico. Mas, como tal, ele nunca poderá se tornar o objeto teórico da teologia, assim como Deus e o eu humano não podem se tornar esse objeto" (DOOYEWEERD, Herman No Crepusculo do Pensamento Ocidental Editora Hagnos p. 188)

Finalmente, a necessidade do novo nascimento para que possamos entender e compreender a revelação de Deus.  Acredito que há pontos em comum, contudo, não são argumentos que transformam o coração do descrente, somente a revelação especial realizada pelo Espírito Santo.
Há um trabalhar da Trindade que deseja ser conhecida por nós. O Pai que conhece tudo e a todos se revela a nós através do seu Filho que mediante a obra do Espírito atua em nosso coração.
Concordo com a noção de James W.Sire a respeito da cosmovisão, que ela “é um compromisso, uma orientação fundamental do coração, que pode ser expresso como uma estória ou num conjunto de pressuposições (suposições que podem ser verdadeiras, parcialmente verdadeiras ou totalmente falsas) que sustentamos (consciente ou subconscientemente) sobre a constituição básica da realidade, e que fornece o fundamento no qual vivemos, nos movemos e existimos(SIRE, James W. Dando nome ao Elefante Brasília:Editora Monergismo, 2012, p. 179)
“Chamo piedade à reverência associada com o amor de Deus que nos faculta o conhecimento de seus benefícios. Pois, até que os homens sintam que tudo devem a Deus, que são assistidos por seu paternal cuidado, que é ele o autor de todas as coisas boas, daí nada se deve buscar fora dele, jamais se lhe sujeitarão em obediência voluntária. Mais ainda: a não ser que ponham nele sua plena felicidade, verdadeiramente e de coração nunca se lhe renderão por inteiro.” (CALVINO, João Institutas,1.II.1)

Conclusão
Por fim, termino este trabalho, voltando ao começo, os textos bíblicos. Em sua obra Teologia Sistemática, FERREIRA E MYATT fazem uma concatenação interpretativa dos trechos bíblicos aqui levantados:
“Nossa exegese das Escrituras mostra que Deus é revelado no mundo físico (Sl 19:1-6; Rm 1:18ss), na lei moral presente no coração do homem (Rm 2:14-15) e na história (At 17:26-27). A complexidade do mundo, com suas leis, ordem e beleza, revela os atributos invisíveis de Deus. O invisível é visto através do visível. A racionalidade suprema e absoluta de Deus é revelada na ordem racional da criação. Assim, a eternidade, a divindade, o poder, a sabedoria e a glória de Deus são revelados (sl 29:4, 93:1,4;104:24, Rm 1:20)” (FERREIRA,Franklin MYATT, Alan  Teologia Sistemática, p. 73)
                                                                                                                         

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