terça-feira, junho 04, 2013

Roy Zuck: Interpretação Bíblica


Interpretação Bíblica – Roy Zuck – Edições Vida Nova, 1994.



Após ter realizado a leitura do livro, eis algumas considerações.

Para Zuck, a hermenêutica é a ciência e a arte de apurar o sentido do texto bíblico. Não pode ser confundida com a exegese ou com a exposição.

Para o autor, somente uma pessoa regenerada pode interpretar a Escritura em sua inteireza de significado, incluindo o espiritual (1Co 2:14). Dado o ministério do Espírito, a hermenêutica é uma tarefa para qualquer cristão.

No primeiro capitulo, o autor faz um histórico da interpretação bíblica desde de Esdras, passando pela tradição judaica, patrística, a reforma, iluminismo, neo-ortodoxia. Zuck tem um axioma duplo: a bíblia é um livro humano como também divino.

Nos capítulos de quatro a seis, o autor tenta transpor três abismos: cultural, gramatico e literário. A partir do capítulo sete até o décimo, o autor começa a analisar os elementos técnicos do texto: as figuras de linguagem, tipologia e simbologia, parábolas e alegorias, profecias.  Nos dois últimos capítulos, ele analisa o emprego do Antigo Testamento no Novo e a aplicação da Palavra para os dias atuais.

O aspecto mais forte do livro é a descrição sistemática que Roy Zuck faz de cada elemento da estrutura de interpretação. Principalmente, a abordagem em relação aos abismos, que são o cronológico, geográfico, cultural, linguístico, literário e sobrenatural.

A transposição dos abismos significa a compreensão do significado original do texto bíblico e a aplicação da mensagem para os ouvintes contemporâneos. Transpor da cultura bíblica para a cultura hodierna, a linguagem da Escritura para a linguagem moderna, o estilo literário bíblico para as formas de comunicação atuais como também as figuras das Sagradas Letras para o significado de hoje, ver como a profecia na Bíblia se realiza como realização do plano divino, o uso da Escritura no Texto Sagrado e o modo como se deve usar hoje em dia.

Seguidor do método histórico-gramatical, há uma recusa de alegoria como também do método histórico-critico.

O aspecto mais fraco do livro é que o autor, por vezes, faz uma abordagem mais pessoal do que geral de certos temas, por exemplo, sua leitura é sempre pautada por sua visão dispensacionalista ou quando ele analisa tipologia, ele concentra seu estudo na tipologia explicita, restringindo o uso do tipo à dezessete ocorrências (p. 209), porque para o autor o tipo deve conter cinco elementos: “uma semelhança ou correspondência visível com o antítipo, realismo histórico tanto da parte do tipo quanto do antítipo, o aspecto da prefiguração ou predição do antítipo, o aspecto de prefiguração ou predição do antítipo, a elevação, que confere superioridade ao antítipo, e o planejamento divino” (p.204) 

O livro é bem fundamentado, há uma amplidão de bibliografia para cada tema. O embasamento bíblico de Zuck sempre segue uma linha histórico-gramatical, há sempre exemplos e aplicações bíblicas para cada tópico estudado como também questões para melhor aprendizado do tema. 

Há uma postura positiva em relação à inerrância bíblica: “a autoridade da Bíblia para determinar o que cremos e nossa forma de viver deriva do fato de ser inerrante. A inerrância, por sua vez, decorre da verdade da inspiração pelo Espírito Santo. Visto que a Bíblia é obra de Deus, possui autoridade intrínseca” (p. 82).

O autor indica outros livros para serem estudados, por exemplo, na pagina 103, há uma lista valiosa de livros para ajudar a entender os costumes bíblicos.

Os pontos mais relevantes para minha vida foi a preocupação com uma sistematização do estudo hermenêutico em etapas, para a busca de um significado do texto bíblico que ultrapasse os abismos culturais, linguísticos, geográficos etc.

Uma nova ideia que aprendi com o texto foi a analise estrutural, a analise estrutural das relações existentes nos elementos contidos no texto bíblico e os modelos estruturais: paralelismo, paralelismo circular, alternação, quiasmo, trilogia e construção acrostica etc. Outro aprendizado foi os cinco passos:  observação, interpretação, aplicação, pratica e avaliação.

Quanto a minha discordância com o autor do livro, acredito que já a apontei na minha opinião a respeito do aspecto mais fraco do livro que achei, que foi sua classificação de tipologia e a influencia do dispensacionalismo em sua construção argumentativa.

Em resposta a isto, acredito que, em se tratando de um livro de introdução, poderia ser apresentados os aspectos hermenêuticos gerais sem uma tomada de decisão sobre qual seguir ou uma tomada em que esteja explicitada a decisão do autor sem que isto deixe de lado a apresentação de outros temas ou posições na questão.  Por exemplo, falta uma apresentação de outros conceitos de tipologia, como a implícita, não há uma apresentação do método histórico-redentivo ou do “sensus plenior”.


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