sexta-feira, junho 27, 2014

Romanos 1:18-32: O Deus conhecido e a idolatria

ROMANOS 1:18-32:  Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda impiedade e injustiça dos homens que detêm a verdade em injustiça; 19   porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. 20   Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder como a sua divindade, se entendem e claramente se veem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis; 21   porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. 22   Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. 23   E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis. 24   Pelo que também Deus os entregou às concupiscências do seu coração, à imundícia, para desonrarem o seu corpo entre si; 25   pois mudaram a verdade de Deus em mentira e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém!  26   Pelo que Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza. 27   E, semelhantemente, também os varões, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, varão com varão, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro. 28   E, como eles se não importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convém; 29   estando cheios de toda iniquidade, prostituição, malícia, avareza, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade; 30   sendo murmuradores, detratores, aborrecedores de Deus, injuriadores, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes ao pai e à mãe; 31   néscios, infiéis nos contratos, sem afeição natural, irreconciliáveis, sem misericórdia; 32   os quais, conhecendo a justiça de Deus (que são dignos de morte os que tais coisas praticam), não somente as fazem, mas também consentem aos que as fazem. 

A declaração de Paulo nos versos 16 e 17 deixa uma questão: por que os justos devem viver pela fé? Por que apenas recebendo a justiça é o único modo de ficarmos retos diante de Deus? Paulo vai usar os versos 18 a 32 para responder o porquê nós precisamos que Deus nos dê sua justiça e por que não podemos merecê-la, conquistá-la por nós mesmos. Ele vai nos apresentar um retrato escuro da humanidade.

A IRA REVELADA.

O versículo 18 começa como um porque, então este verso vem dos versículos anteriores 16-17. Paulo está mostrando que o evangelho é necessário porque estamos diante da ira de Deus. Todos os seres humanos sem o evangelho estão debaixo da ira de Deus.

A ira de Deus está sendo manifesta, revelada. Por que está sendo revelada? Como está sendo revelada? São duas perguntas que ele irá responder neste capítulo.

O que atrai a ira de Deus é a impiedade e a injustiça. A primeira fala do não cumprimento das leis de Deus, uma destruição de nosso relacionamento vertical com Deus. A segunda fala sobre o descumprimento em relação aos homens, uma destruição de nosso relacionamento horizontal com os homens. É a quebra do grande mandamento: amar a Deus e aos outros (Mc 12:29-31).

SUPRIMINDO A VERDADE.

Paulo antecipa a objeção de que as pessoas não podem conhecer nada melhor. Como Deus pode fazer alguém responsável por não conhecer a Deus que nunca ouviu falar? Mas em fato, todos conhecem melhor, porque eles conhecem a verdade e suprimem ela. 

Romanos 1:21 vai mais adiante dizendo que todos os seres humanos conhecem a Deus. A criação nos mostra que existe um deus de eterno poder e de natureza divina. Todos nós conhecemos, apesar do que dizemos para nós mesmos, que existe um Criador, de quem nós somos ultimamente dependentes e para quem devemos prestar contas. Não podemos saber tudo sobre Deus a partir da criação- seu amor e sua misericórdia por exemplo- mas nós podemos e fazemos, deduzir de qualquer criatura que há um criador. Mas nós suprimimos isto.

Este é um ensino contra cultural. Cristãos, para quem o Espírito Santo mostrou a verdade sobre o criador, são geralmente acusados de serem repressores- não sendo verdadeiros consigo mesmos ou abertos para a realidade do mundo. Contudo, Paulo está dizendo que, naturalmente, todos nós somos repressores enquanto nós nos mantemos longe da verdade de que existe um Deus criador. Enquanto nós suprimirmos esta verdade, nunca iremos entender quem somos e porque o mundo é o que é. 

TODO MUNDO ADORA ALGUMA COISA.

Então, Paulo diz que os homens estão sem desculpas, todo o ser humano conhece a Deus, mas não glorifica a Deus e nem dá graças a Ele (vs. 21). O que Paulo está dizendo é nós plagiamos Deus, pegamos aquilo que Deus criou e achamos que é nosso. Não percebemos a nossa dependência de Deus, mas clamamos por independência. Preferimos a ilusão que nós podemos decidir o que é certo ou errado. Não somos gratos porque não aceitamos aquilo que foi feito para nós.

O que acontece quando as pessoas se recusam a reconhecer e a depender de Deus como Deus? Não paramos de adorar. Apenas mudamos o objeto de nossa adoração. Paulo diz que mudamos a glória do Deus imortal por imagens que parecem o homem mortal, pássaros, animais e reptéis (vs. 23). Nós vemos esta troca nos versos 25 a 27. 

Nós precisamos adorar alguma coisa. Fomos criados para adorar o Criador, então se rejeitamos a Ele, nós iremos adorar outra coisa. Sempre deve haver algo que capture nossa imaginação ou nossa fidelidade, que é um lugar de descanso para os nossos desejos mais profundos e para onde nós olhamos para nos acalmar de nossos medos mais profundos. Qualquer que seja esta coisa, nós a adoramos, nós a servimos. Se torna a base de nossa vida, não vivemos sem ela, ela valida e determina tudo que fazemos.

O problema dessa troca na nossa adoração e serviço é que ela desvirtua a criação de Deus. Fomos criados como imagem de Deus (Gn 1:26-29), feitos para nos relacionar com Ele e refletir sua natureza e bondade para o mundo. Em Romanos 1:23, a humanidade vira às costas para Deus, e passa se prostrar diante das coisas. 

Da perspectiva divina, nós nos tornamos tolos (vs.22). Deixamos a base de tudo e ficamos sem base alguma para a vida.

A IRA DE NOS DAR O QUE NÓS QUEREMOS.

Pelo que também Deus os entregou às concupiscências do seu coração, à imundícia, para desonrarem o seu corpo entre si; (vs.24)


"quando a humanidade comete idolatria, adorando aquilo que não é Deus cmo se fosse, concede a outras criaturas e seres do cosmos um poder, um prestígio e autoridade sobre nõs, que nõs, submissos a Deus, deveríamos ter sobre eles. Ao adorar um idolo, seja ele qual for, você abdica algo de sua propria autoridade humana sobre o mundo e concede autoridade a esse idolo, chamado a ser uma força negativa, contrária a Deus, uma força oposta à criação, porque, sendo ela mesma parte do mundo transitório, esta destinada à decadência e morte e, caso nçao tenhamos cuidado, seremos arrastado juntos com essa força".  (N T WRIGHT, O Mal e a Justiça de Deus,p .100)

Desde que nossos corações foram feitos para estar centrados em Deus, sendo Ele o real provedor de satisfação e significância, as coisas não satisfazem a nossa vida, sempre sentimos que precisamos de mais e mais. Falhamos em simplesmente receber e desfrutar da vida de Deus, suprimimos a verdade que iria nos libertar e satisfazer.

As concupiscências do seu coração vem de uma palavra grega chamada epihumia, que significa desejo exagerado. O problema principal do nosso coração não é tanto o desejo por coisas erradas, mas um desejo exagerado por coisas boas, que transforma estas coisas em deuses, em objetos de nossa adoração e serviço.

Então, a pior coisa que pode nos acontecer é quando damos ao nosso coração aquilo que ele deseja demais. A pior coisa que Deus pode fazer com a humanidade no presente é deixar ela alcançar seus objetivos idolatras.  O que leva as pessoas a uma tragédia pessoal. 


Qualquer coisa, boa ou má, pode ser objeto de nossa idolatria: família, sucesso, ministério como também drogas, bebidas, poder.


Se você busca
Seu maior pesadelo
Seus amigos se sentem
Seu problema emocional
PODER (sucesso, vitória, influência)
HUMILHAÇÃO
USADAS
RAIVA
APROVAÇÃO (afirmação, amor, relacionamentos)
REJEIÇÃO
SUFOCADAS
COVARDIA
CONFORTO (privacidade, liberdade)
STRESS, QUESTIONAMENTOS
NEGLIGENCIADAS
TÉDIO
CONTROLE (segurança, certeza)
INCERTEZA
CONDENADAS
PREOCUPAÇÃO



O conceito bíblico de idolatria é uma idéia extremamente sofisticada, integrando categorias intelectuais, sociais, psicologicas, culturais e espirituais. Há idolos pessoais, como um amor romântico e família, ou dinheiro, poder, ou realização, ou acesso a círculos sociais em particular, ou uma dependência emocional dos outros em você, ou saúde, ou forma física, ou beleza física. Muitos buscam em todas estas coisas pela esperança, sentido e satisfação que somente Deus pode dar.  Há ídolos culturais, tais como o poderio militar, o progresso tecnológico, e a prosperidade econômica. Os ídolos de sociedades tradicionais incluem família, trabalho duro, dever e virtude moral, enquanto que na cultura ocidental estão a liberdade individual, auto-descobrimento, influência pessoal, e satisfação. Todas estas coisas podem tomar um tamanho desproporcional e poder na sociedade. Eles prometem para nós, a proteção, paz e feliciade se apenas nós basearmos nossas vidas neles. (TIM KELLER, Counterfeit Gods)
A verdadeira liberdade só pode ser alcançada é quando adoramos que é bendito eternamente. É o único modo de parar de suprimir a verdade, é quando voltamos a Deus como alvo de nossa adoração e vida. 

PAULO E O HOMOSSEXUALISMO.

Pelo que Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza.   E, semelhantemente, também os varões, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, varão com varão, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro. (1:26,27)

Recentemente, muitos tem tentando mudar a interpretação destes versículos, dizendo que Paulo estava tratando de pessoas que agem contra a sua natureza ou se refere a um sexo promíscuo homossexual e não à relações estáveis.

Mas, o texto é claro ao afirmar que o homossexualismo é contra a natureza, é uma violação da natureza criada de Deus. E não nada aqui que possa sugerir que Paulo tem em vista apenas certos tipos de relacionamento homossexual. 

O final do verso 27 deve ser interpretado como uma consequência dos homens terem sido deixados ao seu desejo incontrolado.  A bíblia é clara tanto no Novo como no Antigo Testamento, que a o sexo homossexual é um comportamento pecaminoso de rejeição do senhorio de Cristo e que deixa as pessoas fora do reino de Deus como vemos também em 1Co 6:9-11. 

Nesta passagem, Paulo tem em vista dois comportamentos pecaminosos, o primeiro é o sexo fora do casamento no verso 24 e também o sexo homossexual aqui nos versos 26 e 27. É um comportamento criado pelo desejo desordenado, por uma idolatria como também é a ganância (Cl 3:5). 

O homossexualismo é um pecado sério como também é inveja, a fofoca, a desobediência, a deslealdade (vs. 29-30). Se vemos a homossexualidade como uma perversão do mesmo modo temos que enxergar o engano como uma depravação (vs. 28). 

VENDO A NÓS MESMOS. 

28   E, como eles se não importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convém; 29   estando cheios de toda iniquidade, prostituição, malícia, avareza, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade; 30   sendo murmuradores, detratores, aborrecedores de Deus, injuriadores, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes ao pai e à mãe; 31   néscios, infiéis nos contratos, sem afeição natural, irreconciliáveis, sem misericórdia; 32   os quais, conhecendo a justiça de Deus (que são dignos de morte os que tais coisas praticam), não somente as fazem, mas também consentem aos que as fazem. 

Aqui está uma lista não exaustiva das consequências da idolatria. Aqui nós temos a desordem econômica (avareza), a desordem social (assassinato, engano e malícia), a desordem familiar ( desobediência), a desordem relacional (irreconciliáveis, sem misericórdia). 

Aqui está o que os teólogos chamam de a doutrina da depravação total, embora nem tudo que a gente faça seja completamente pecaminoso, nada é completamente sem a marca do pecado.

Se você acha que não está na  lista, Paulo lembra que também estão aqueles que aprovam ou consentem com quem as fazem. Pergunte-se a si mesmo se você nunca: concordou com uma inveja alheia, deixou passar adiante uma fofoca ou mesmo criou um ídolo para seus filhos como uma prova na escola.


Cada cultura humana é uma complexa mistura de verdades brilhantes, meia verdades e resistências à verdade. Cada cultura terá um discurso de idolatria com ela. E, ainda assim, cada cultura terá um testemunho da verdade de Deus nela. Deus dá bons dons de sabedoria, talento, beleza, habilidade sem olhar para o mérito, Ele deixa como sementes para enriquecer, abrilhantar e preservar o mundo, sem este entendimento de cultura, cristãos tenderão a pensasr que eles podem viver auto-suficientes, isolados das contribuições daqueles que estão no mundo. Sem uma apreciação da graça de Deus disposta na cultura, cristão poderão lutar para entender porque não-cristãos, por vezes, excedem cristãos em sua prática moral, sabedoria e habilidade. A doutrina do pecado significa que como crentes nunca seremos tão bons como a nossa cosmovisão nos mostra que deveríamos. E ao mesmo tempo, a doutrina da nossa criação como imagem de Deus,  e um entendimento da graça comum, nos lembra que não crentes nunca são tão ruins quanto sua falsa visão de mundo gostaria que fossem. (TIM KELLER, Center Church)


Como responder a isto tudo?

Primeiro, precisamos reconhecer as narrativas que estamos inseridos. São elas que formam nossos desejos e nos levam para a idolatria. O mundo propõe para o nosso coração os ideais de beleza, satisfação e segurança. Precisamos, voltar para a narrativa do evangelho, e entender e desejar aquilo que Deus quer para o nosso coração e vida.

Segundo, não tem um comportamento fariseu, de auto salvação e enxergar só nos outros certos tipos de comportamento de idolatria. Olhar com humildade para o nosso coração e ver quais os padrões de idolatria e de desejo estão habitando em nossa vida, o moralismo não vai ajudar aqui, precisamos de arrependimento.

Terceiro, temos de ler esta passagem com os olhos voltados para os versos 16 e 17, não precisamos temer a ira de Deus pois fomos justificados pela fé, recebemos a graça de Deus. O modo de vencer os desejos do coração desordenado é levá-lo a descansar e a satisfazer-se em Deus apreciando-o em louvor.



fonte bibliográfica:

CENTER CHURCH  de Timothy Keller
COUNTERFEIT GODS  de Timothy Keller
ROMANS 1-7 FOR YOU  de Timothy Keller

O MAL E JUSTIÇA DE DEUS  de N.T. Wright


quarta-feira, junho 25, 2014

Romanos 1:1-17: Introduzindo o Evangelho




ROMANOS 1:1-17: Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para apóstolo, separado para o evangelho de Deus, 1.2   o qual antes havia prometido pelos seus profetas nas Santas Escrituras, 1.3   acerca de seu Filho, que nasceu da descendência de Davi segundo a carne, 1.4   declarado Filho de Deus em poder, segundo o Espírito de santificação, pela ressurreição dos mortos, — Jesus Cristo, nosso Senhor, 1.5   pelo qual recebemos a graça e o apostolado, para a obediência da fé entre todas as gentes pelo seu nome, 6   entre as quais sois também vós chamados para serdes de Jesus Cristo. 7   A todos os que estais em Roma, amados de Deus, chamados santos: Graça e paz de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.  8   Primeiramente, dou graças ao meu Deus por Jesus Cristo, acerca de vós todos, porque em todo o mundo é anunciada a vossa fé.  9   Porque Deus, a quem sirvo em meu espírito, no evangelho de seu Filho, me é testemunha de como incessantemente faço menção de vós, 10   pedindo sempre em minhas orações que, nalgum tempo, pela vontade de Deus, se me ofereça boa ocasião de ir ter convosco. 11   Porque desejo ver-vos, para vos comunicar algum dom espiritual, a fim de que sejais confortados, 12   isto é, para que juntamente convosco eu seja consolado pela fé mútua, tanto vossa como minha. 13   Não quero, porém, irmãos, que ignoreis que muitas vezes propus ir ter convosco (mas até agora tenho sido impedido) para também ter entre vós algum fruto, como também entre os demais gentios. 14   Eu sou devedor tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes. 15   E assim, quanto está em mim, estou pronto para também vos anunciar o evangelho, a vós que estais em Roma. 16   Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego. 17   Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o justo viverá da fé.



Esta carta e verdadeiramente a mais importante peça do Novo Testamento. É o evangelho mais puro. É de grande valor para um Cristão não somente para memorizar palavra por palavra, mas também para o ocupar com isso diariamente, como se fosse o pão diário da alma. É impossível ler ou meditar nesta carta {tão pouco}. Quanto mais alguém lida com ela, mais preciosa ela se torna e melhor ela saboreia. Por esta razão, eu quero completar meu serviço e, com este prefácio, prover uma introdução para a carta, a medida que Deus me dá habilidade, de maneira que qualquer um possa obter o mais profundo entendimento dela. Até agora ela tem sido escurecida{colocada em trevas} pelas interpretações [notas de explicação e comentários que acompanham o texto] e por muitos um comentário sem uso, mas está dentro dela própria uma luz resplandecente, quase resplandecente o suficiente para iluminar toda a Escritura. ( MARTINHO LUTERO, Prefácio à Carta de Romanos)



Romanos é uma carta sobre o Evangelho, foi escrita por um homem que teve a vida e a obra envolvida pelo Evangelho, mostrando a diferença que traz e faz o evangelho.Sem surpresa, o começo desta carta já fala do Evangelho.


SEPARADO PELO EVANGELHO (Rm 1:1).


Paulo se coloca como servo (escravo) de Jesus Cristo. Ele está sob a autoridade do seu Mestre. 


Ele também é um apóstolo, um enviado por Jesus para pregar o Evangelho para os gentios.  Em Atos 9:1-15, lemos sobre esta chamada de Jesus.


Na igreja primeva, alguns discordavam do apostolado de Paulo. Por que?


Paulo era um perseguidor dos cristãos, então para alguns que não aceitavam sua mensagem, ele não poderia ser considerado como um dos apóstolos.


Outra razão é que para ser considerado um apóstolo, teria de ser alguém que fosse uma testemunha ocular da vida de Jesus 



Atos 1:21-26 É necessário, pois, que, dos homens que nos acompanharam todo o tempo que o Senhor Jesus andou entre nós, começando no batismo de João, até ao dia em que dentre nós foi levado às alturas, um destes se torne testemunha conosco da sua ressurreição. Então, propuseram dois: José, chamado Barsabás, cognominado Justo, e Matias. E, orando, disseram: Tu, Senhor, que conheces o coração de todos, revela-nos qual destes dois tens escolhido para preencher a vaga neste ministério e apostolado, do qual Judas se transviou, indo para o seu próprio lugar. E os lançaram em sortes, vindo a sorte recair sobre Matias, sendo-lhe, então, votado lugar com os onze apóstolos.

Mas, Paulo recebeu seu testemunho acerca de Jesus do próprio Senhor. Como vemos em Gálatas:

Gl 1.18-24:  Depois, passados três anos, fui a Jerusalém para ver a Pedro e fiquei com ele quinze dias. 1.19   E não vi a nenhum outro dos apóstolos, senão a Tiago, irmão do Senhor. 1.20   Ora, acerca do que vos escrevo, eis que diante de Deus testifico que não minto. 1.21 Depois, fui para as partes da Síria e da Cilícia. 1.22   E não era conhecido de vista das igrejas da Judeia, que estavam em Cristo; 1.23   mas somente tinham ouvido dizer: Aquele que já nos perseguiu anuncia, agora, a fé que, antes, destruía. 1.24   E glorificavam a Deus a respeito de mim.

O EVANGELHO DE DEUS (Rm 1:2-4).

"O recado que Paulo tem para entregar é o “Evangelho de Deus”; é transmitir aos homens a inaudita, boa e alegre verdade de Deus! Justamente de Deus! Não se trata de mensagem religiosa, ou de notícia ou instrução sobre a divindade ou a divinização do homem, mas da mensagem de um Deus totalmente diferente do qual o homem, como tal, nunca virá a ter conhecimento, ou ter parte, mas de quem, por isso mesmo, vem a salvação; não é algo a ser entendido diretamente, uma coisa a ser compreendida, de uma vez, entre as demais coisas, mas é a Palavra sempre nova que precisa ser percebida sempre de novo, com temor e tremor; é a Palavra sempre reiterada, da origem de todas as coisas." (KARL BARTH, COMENTÁRIO DE ROMANOS,p. 28)

O Evangelho não é uma construção do apóstolo Paulo, mas é algo que ele recebeu de Deus. O Evangelho também não são bons avisos, mas são as boas novas daquilo que Deus fez por nós em Jesus Cristo.

O versículo 2 fala que foi prometido pelos seus profetas nas Sagradas Escrituras. Toda a Bíblia fala a respeito de Jesus.  O Evangelho não é um conceito, mas é uma pessoa.



Jesus é o verdadeiro Adão, que passou no teste do Jardim.


Jesus é o verdadeiro Abel, cujo sangue verteu para a salvação.
Jesus é o verdadeiro Abraão, que respondeu ao chamado de Deus, deixando seu lar, para fazer um novo povo.
Jesus é o verdadeiro Isaque, que foi sacrificado por seu Pai, e agora sabemos que Deus nos ama.
Jesus é o verdadeiro Jacó, que foi ferido por Deus para que possamos ser abençoados.
Jesus é o verdadeiro José, que está à direita do Rei e intercede por nós que o lançamos a morte


O conteúdo do Evangelho é o Filho de Deus.

Totalmente homem (nascido da descendência de Davi (vs.3))

Aquele que cumpre as promessas das Escrituras. 

2Sm 7:11-16:   desde o dia em que mandei que houvesse juízes sobre o meu povo Israel. A ti, porém, te dei descanso de todos os teus inimigos; também o SENHOR te faz saber que o SENHOR te fará casa. 12   Quando teus dias forem completos, e vieres a dormir com teus pais, então, farei levantar depois de ti a tua semente, que procederá de ti, e estabelecerei o seu reino. 13   Este edificará uma casa ao meu nome, e confirmarei o trono do seu reino para sempre. 14   Eu lhe serei por pai, e ele me será por filho; e, se vier a transgredir, castigá-lo-ei com vara de homens e com açoites de filhos de homens. 15   Mas a minha benignidade se não apartará dele, como a tirei de Saul, a quem tirei de diante de ti. 16   Porém a tua casa e o teu reino serão firmados para sempre diante de ti; teu trono será firme para sempre.

Totalmente Deus ( "declarado com poder para ser Filho de Deus pela ressurreição da morte" (vs.4)

Paulo aqui não está dizendo que Jesus apenas se fez Deus após levantar da tumba. Ao invés disso, Ele está dizendo que a tumba vazia é uma grande declaração de quem Jesus é. Sua ressurreição remove toda a dúvida sobre que Ele é o Filho de Deus.  E sua ascensão demonstra que agora Ele está junto ao Pai (Ef 1:19-22) com poder.


Por isto, Ele é o nosso Senhor, que governa sobre tudo.

A OBEDIÊNCIA PELA FÉ. (Rm 1:5)


Paulo diz que recebeu o apostolado e a graça através de Jesus, para a obediência da fé. Na versão NVI, o texto está mais claro:

Por meio dele e por causa do seu nome, recebemos graça e apostolado para chamar dentre todas as nações um povo para a obediência que vem pela fé (Rm 1:5).

A obediência a Deus vem da fé, é uma consequência da fé salvífica e não uma segunda condição para a salvação. 

 A verdadeira fé em nossos corações leva a uma obediência verdadeira em nossas vidas. Por que? Porque o evangelho é uma declaração que Jesus é o rei prometido, o Filho de Deus ressuscitado e cheio de poder, que agora nos convida a desfrutar das bênçãos do seu reinado.  

A fé verdadeira é uma fé no rei divino para quem nós devemos nossa obediência e de quem somos servos agora. Uma obediência alegre flui de uma confiança verdadeira neste rei. 

PORQUE PAULO ENVIOU A ROMA ESTA CARTA? (1: 6-13)

Há quatro características que Paulo fala a respeito da igreja de Roma que servem para qualquer igreja:

1. Chamados para pertencer a Jesus Cristo.
2. Amados por Deus.
3. Chamados para ser santos.
4. Desfrutar da graça e da paz.

Nos versos 8 a 13, vemos que Paulo nunca esteve com esta igreja.  Mas, ele quer encorajar esta igreja e ser encorajado por ela. 

Os versículos 11 e 12 mostram que a obediência pela fé leva a humildade para servir e ser servido pelas pessoas. No verso 11, vemos que os dons servem para fortalecer as outras pessoas na fé. E no verso 12, devemos permitir que os outros a usarem seus dons para nos ajudar.

"Nunca devemos deixar nossos encontros na igreja, gastando um tempo cercado por pessoas amadas, pessoas diferenciadas pela fé, sem que sejamos encorajados" (Keller, p. 16)
A COLHEITA (Rm 1:13-15)

 Paulo fala de sua dívida em pregar o Evangelho que recebeu de Deus, que deve ser falado tanto para os que estão dentro ou fora da igreja.


Existem duas maneiras de alguém se endividar. A primeira é emprestando dinheiro de alguém; a segunda é quando alguém nos dá dinheiro para uma terceira pessoa. Por exemplo, se eu pegasse R$ 1.000,00 emprestados de você, eu seria seu devedor até que lhe restituísse o dinheiro. Da mesma forma, se um amigo seu me desse R$1.000,00 para lhe entregar, eu estaria em dívida com você até que entregasse o dinheiro ao destinatário. No primeiro caso, eu estaria endividado por tomar emprestado; no segundo, seria o seu amigo que, ao confiar-me os R$ 1.000,00, me poria em dívida com você.
É no segundo sentido que Paulo está endividado. Ele não emprestou nada dos romanos que tenha de devolver. Mas Jesus Cristo lhe confiou o evangelho para ser passado a eles. Várias vezes em suas cartas ele fala de como o evangelho "lhe foi confiado", de como foi "encarregado" de anunciá-lo.2 É verdade que essa metáfora tem mais a ver com mordomia (ou administração) do que com dívida, mas a idéia é a mesma. Foi Jesus Cristo quem fez de Paulo um devedor ao confiar-lhe o evangelho. Agora Paulo tinha uma dívida para com os romanos. Como apóstolo dos gentios, ele tinha uma dívida particular para com o mundo gentílico, tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes . Não se sabe ao certo como se deveria entender essa classificação. Pode ser que os dois pares de palavras indiquem contraste dentro de um mesmo grupo, ou então que o primeiro aponte para diferenças de nacionalidade, cultura e linguagem, enquanto o segundo seria uma alusão a diferenças de inteligência e educação. De qualquer maneira, essas duas expressões, juntas, cobrem a totalidade do mundo dos gentios. Foi movido por esse senso de dívida para com eles que Paulo escreveu: Por isso estou disposto a pregar o evangelho também a vocês que estão em Roma (JOHN STOTT, A MENSAGEM DE ROMANOS,p. 28)
A OFENSA DO EVANGELHO (Rm 1:16)

A palavra traduzida por vergonha por também significar no original ofensa. Seria o Evangelho ofensivo?

1. O evangelho por nos falar que a nossa salvação é livre e imerecida, é realmente um insulto. Ele nos fala que nós estamos tão falidos espiritualmente que a única forma de sermos salvos é pela graça. Isto ofende pessoas moralistas e religiosas que pensam que sua decência dá a eles uma vantagem em relação a pessoas imorais.

2. O evangelho também é um insulto quando nos fala que Jesus morreu por nós. Nós diz que estávamos tão perdidos que apenas a morte do Filho de Deus poderia nos salvar. Isto ofende a crença moderna da auto-estima que acredita que as pessoas têm uma bondade inata.

3. O evangelho, ao dizer para nós que tentar ser espiritual ou bonzinho não será o suficiente. Ele insiste que nenhuma pessoa boa será salva, a não ser que aqueles que venham a Deus através de Jesus. Isto ofende a crença moderna que a pessoa pode encontrar Deus em qualquer lugar do seu próprio jeito. Não gostamos de perder nossa autonomia.

4. O evangelho nos diz que a nossa salvação foi conquistada pelo sofrimento e serviço de Jesus, não por conquista ou destruição. E que seguir a Ele significa que vamos sofrer e servir com Ele. Isto ofende as pessoas que querem salvação para ter uma vida fácil, isto também ofende as pessoas que querem que suas vidas estejam seguras e confortáveis.

Ainda assim, Paulo não tem vergonha deste evangelho que nos envergonha. 

Porque Ele é o poder de Deus:  o evangelho não são só palavras, mas palavras com poder. A mensagem do evangelho é sobre o que Deus fez e fará por nós. É o poder que pode transformar e mudar as coisas em nossas vidas.

O poder de Deus é visto na sua habilidade de transformar completamente as mentes e os corações. É poderoso porque nenhum outro poder na terra pode nos salvar, nos reconciliar com Deus e garantir um lugar no reino de Deus para sempre.

O que é requerido é crer, este poder está oferecido para todos que crerem. Apenas a fé é o verdadeiro canal para o poder de Deus. Esta oferecido para todos, mas só pode ser experimentado para quem crer.

A JUSTIÇA REVELADA (Rm 1:17)

O que faz o Evangelho tão poderoso? É porque nele está revelada a justiça de Deus, aquilo que Jesus conquistou para a humanidade. 


A justiça de Deus pode ser referida para o caráter justo de Deus que nos é revelado pelo Evangelho, por aquilo que Jesus fez e faz por nós. 


"a justiça de Deus" é a iniciativa justa tomada por Deus ao justificar os pecadores consigo mesmo, concedendo-lhes uma justiça que não lhes pertence, mas que vem do próprio Deus. "A justiça de Deus" é a justificação justa do injusto, sua maneira justa de declarar justo o injusto, através da qual ele demonstra sua  justiça e, ao mesmo tempo, nos confere justiça. Ele o fez através de Cristo, o justo, que morreu pelos injustos, como Paulo explica mais adiante. E ele o faz pela fé quando confiamos nele, clamando a ele por misericórdia" (JOHN STOTT, A Mensagem de Romanos, p. 31)
Esta justiça vem para nós através da fé, e uma fé do começo até o fim.  A justiça, a retidão é apenas recebida através da fé.  

Algumas pessoas pensam que Jesus morreu para nos perdoar apenas. Isto é verdade, mas não é tudo. Agora, que fomos perdoados temos que sair da cadeia e viver uma vida digna por nós mesmos. Contudo, no Evangelho nós descobrimos que Jesus tomou sobre si toda a nossa vida, dependemos dele para viver ela.

Como não viver pela fé? 
Quando tentamos viver sendo o nosso próprio salvador.

1. Quando pessoas licenciosas rejeitam a religião e Deus, sua rebelião é realmente uma recusa em acreditar no evangelho - a mensagem que nós somos tão pecadores, que apenas Jesus pode ser o nosso salvador.

2. Quando pessoas moralistas tomam a religião e o moralismo e  se tomar ou ansiosas (porque não conseguem viver de acordo com as regras que estabeleceram ) ou orgulhosas (porque acham que conseguem).  A ansiedade ou o orgulho é uma amostra que recusam o evangelho.

3. Quando o crente peca, isto sempre envolve um esquecimento de que não podem salvar a si mesmos. Busca em outra coisa aquilo que apenas Deus pode dar.



O evangelho sempre nos causa ofensa, porque ele nos revela que temos uma necessidade que não podemos completar. Nós precisamos lembrar que ele é o poder de Deus. Nós precisamos lembrar que ele revela a justiça de Deus. Isto é o que fundamentalmente reverte nossa atitude em compartilhar o evangelho. O oposto de ser envergonhado é disposição e vontade. Nos tornamos dispostos quando nós sabemos a verdade, o poder e a maravilha do evangelho tão profundamente que nós anunciamos isto não porque nós devemos fazer, ou porque nós nos sentimos que teríamos que fazer, mas porque nós queremos e amamos fazer para a glória do nome Dele. (KELLER, p. 23)



BIBLIOGRAFIA

ROMANS 1-7 FOR YOU de TIMOTHY KELLER

A MENSAGEM DE ROMANOS de JOHN STOTT





domingo, junho 22, 2014

AMOR: O Valor da Comunhão

Tiago 2:8-13 : Todavia, se cumprirdes, conforme a Escritura, a lei real: Amarás a teu próximo como a ti mesmo, bem fazeis. Mas, se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado, e sois redargüidos pela lei como transgressores. Porque qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos.Porque aquele que disse: Não cometerás adultério, também disse: Não matarás. Se tu pois não cometeres adultério, mas matares, estás feito transgressor da lei. Assim falai, e assim procedei, como devendo ser julgados pela lei da liberdade. Porque o juízo será sem misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia; e a misericórdia triunfa do juízo.


AMAR- ADORAR -SERVIR - VIVER


O que amamos é o que adoramos. O que adoramos é que servimos. Vivemos para servir aquilo que adoramos/amamos.

QUAL É O SEU MAIO PESADELO?


A resposta a esta pergunta dirá qual é o seu amor?

SE O CENTRO DO AMOR FOR EU.


Será uma fonte limitada pelos meus interesses, minhas vontades, meus desejos, meus amigos.

TIAGO 2.9   Mas, se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado e sois redarguidos pela Lei como transgressores.

O que leva a acepção de pessoas é que a fonte do nosso amor.

O AMOR DE DEUS É

SACRIFICIAL: Portanto recebei-vos uns aos outros, como também Cristo nos recebeu para glória de Deus. Romanos 15:7
MISERICORDIOSO: Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores. Romanos 5:8
GRACIOSO: E a graça de nosso Senhor superabundou com a fé e amor que há em Jesus Cristo. 1 Timóteo 1:14


se o centro do amor for DEUS

O que governará a minha vida são os interesses, os desejos e a vontade de Deus.

A misericórdia triunfará sobre o juízo. (Tg 2:13b)

Lembrar da história do Bom Samaritano (Lc 10:30-37).

Quem ajuda quem? Amamos porque somos amados.



quarta-feira, junho 11, 2014

Um Povo Formado.


Vou começar uma série de postagens a respeito do livro CREATURE OF THE WORD: the Jesus-Centered Church escrito por Matt Chandler, Josh Patterson e Eric Geiger fala sobre um modelo de igreja centrado no Evangelho, em Jesus. Há um site feito para discutir e propagar o livro:

 http://www.creatureoftheword.com/.

Capítulo 1: UM POVO FORMADO

Existe um grande intervalo entre entender o evangelho e entender o que o evangelho significa para a igreja. Talvez, isto aconteça porque nós tendemos a pensar o evangelho como uma mensagem individual que causa uma transformação individual - isto é parcialmente verdade. Mas, o evangelho é muito mais do que isto. O evangelho também forma a igreja.  As Escrituras dizem que Jesus deu a si mesmo para a igreja (Ef 5:25), comprando a igreja com seu próprio sangue (At 20:28) para nos redimir de e toda a maldade e purificar para si mesmo um povo particularmente seu, dedicado à prática de boas obras (Tt 2:14). O Evangelho precisa ser visto em sua perspectiva total.

O evangelho cria não apenas pessoas individualmente, mas um povo, coletivamente. O evangelho não apenas individual e cósmico, é também profundamente corporativo. Com seus dons individuais, recursos e níveis de fé, os primeiros cristãos construíram-se uns aos outros para a maturidade. Eles encorajavam um ao outro, abençoavam um ao outro, repreendiam um ao outro, disciplinavam um ao outro, ensinavam um ao outro no evangelho. Repetidamente em Atos, o crescimento da igreja é atribuído ao fato de que a a palavra de Deus se espalhava e prevalecia (At 6:7, 13:49, 19:20).

O evangelho

Ele está centrado na pessoa e obra de Jesus. É o próprio Jesus. O evangelho é a obra de reconciliação de Deus em Cristo- através da vida, morte e ressurreição de Cristo. Deus está fazendo nova todas as coisas tanto pessoalmente para aqueles que se arrependem e creem e cosmicamente enquanto Ele redime a cultura e a criação da sujeição à futilidade (p. 8).

Criada pela Palavra.

O título do livro vem de uma citação de Martinho Lutero:

"A igreja nasceu pela palavra da promessa através da fé, e por esta mesma palavra é alimentada e preservada. Isto é dizer que é a promessa de Deus que faz a igreja e não a igreja que cria a promessa de Deus. Portanto a Palavra de Deus é incomparavelmente superior a igreja, e nesta Palavra a igreja, se torna Criatura, tendo a nada a decretar, ordenar ou a fazer, mas apenas ser decretada, ordenada e feita". 

Deus criou a igreja através da proclamação do evangelho da palavra revelada, Jesus Cristo. Sem a Palavra de Deus, não haveria igreja.  

A igreja agora atua pelo poder do Espírito Santo e da graça manifesta de Jesus. Foi liberta da culpa e da vergonha pela imputação da justiça e da condenação na morte de Jesus. Então não precisamos mais temer a rejeição ou a ira de Deus como fatores motivadores da nossa santidade, mas sim, o deleite em sermos amados e salvos por um Pai gracioso. 

"Nós podemos nos aproximar de seu trono com confiança - não confiando em nós mesmos mas em Cristo, que cumpriu todos os requisitos da lei por nós. E isto é porque a igreja prospera, amadurecendo pelo poder do Espírito de Deus na e através da Palavra enquanto Ele coloca isto profundamente na vida do seu Corpo. A igreja é viva e plena quando ela é sustentada pelo sacrifício e ressurreição de Cristo e tem de voltar a esta preciosa realidade, de novo e de novo, sempre que se encontra" (p. 17)

Nossa motivação para obedecer os mandamentos das Escrituras pode se tornar um deleite quando vemos que as razões sempre nos levam para perto do amor e da provisão de Deus para nós em Cristo.


"A igreja que entende onde está seu poder é um lugar onde individuos são transformados e fortalecidos para se juntar a família corporativa de Deus e participar do plano de Deus para reconciliar todas as coisas a Si mesmo". (p.21)

A salvação  e a transformação individual leva a uma identidade corporativa que é então usada por Deus para redimir, restaurar e reconciliar todas as coisas no céu e na terra trazendo a paz através do sangue da Cruz. 

A igreja que é centrada em Jesus, se parece mais e mais com Jesus, já que Ele é o perfeito profeta, sacerdote e rei, a igreja também exercerá estes papeis.






terça-feira, junho 03, 2014

10 paradigmas de Stanley Hauerwas


Stanley Hauerwas começa seu livro COMMUNITY OF CHARACTER: TOWARD A CONSTRUCTIVE SOCIAL ETHIC colocando dez pontos fundamentais para a criação de uma comunidade cristã:

1. A significância social do Evangelho requer o reconhecimento da estrutura narrativa das convicções cristãs para a vida da igreja.

A ética cristã social geralmente toma a forma de princípios e políticas que não estão claramente baseadas ou garantidas pelas convicções centrais da fé. Ainda assim, a base de qualquer ética cristã social deveria ser a afirmação que Deus chamou e formou um povo para servir a Ele através de Israel e da obra de Cristo. A apropriação da significância critica desta última depende do reconhecimento da narrativa como categoria básica para a ética social.


2. Cada ética social envolve uma narrativa, seja ela concernente a formulação dos princípios básicos para a organização social ou/e políticas concretas alternativas.

A perda da narrativa como categoria central para ética social tem resultado num fracasso em ver que todos os caminhos dos assuntos da ética social são identificados- por exemplo, a relação do pessoal com a ética social, o significado e o status do individual em relação à comunidade, a liberdade versus a igualdade, a interrelação do amor e da justiça- são mais um reflexo de uma política filosófica que eles são categorias cruciais para uma analise da ética social da comunidade. A forma e a substância da comunidade depende da narrativa e então, o que conta como uma ética social é a correlação do conteúdo desta narrativa.

3. A habilidade em prover um relato adequado de nossa existência é o teste primário da veracidade de uma ética social.

Nenhuma sociedade pode ser justa ou boa se for construída em falsidade. A primeira tarefa da ética social, então, não é fazer o mundo melhor ou mais justo, mas ajudar o povo cristão em sua comunidade a formar sua comunidade de maneira consistente com sua convicção que a história de Cristo é um relato verdadeiro de nossa existência. Por isto, ?H.R. Niebuhr defendia que apenas sabemos o que está acontecendo é que poderíamos saber  o que devemos fazer, e cristãos acreditam que nós aprendemos mais precisamente o que está acontecendo na cruz e na ressurreição de Cristo.

4. Comunidades são formadas por uma narrativa verdadeira devem prover as habilidades para transformar os fatos em destino para que o inesperado, especialmente venha na forma de estranhos, que podem ser bem vindos como dons.

Nós vivemos num mundo de poderes que não são a nossa criação e nós nos tornamos determinados por eles quando nós perdemos a habilidade de reconhecer e nominar eles. A história cristã nos ensina a considerar verdadeiramente mais como um dom do que como uma posse e isto requer que nós estejamos dispostos a encarar tanto as possibilidades como as ameaças que os estranhos representam.  Tal comprometimento é uma condição necessária para prevenir que nossa história venha dos nossos fatos.

5. A primeira tarefa social da igreja é ser ela mesma - isto é, um povo que tem sido formado por uma história que provê a eles as habilidades para viver os perigos da sua existência, confiando na promessa de Deus de redenção.

A igreja é um povo numa jornada que insiste em viver consistentemente com a convicção de que Deus é Senhor da história. Eles, então, se recusam a descansar na violência para proteger sua sobrevivência. O fato que  a primeira tarefa da igreja é ser a si mesma não e uma rejeição do mundo ou uma ética de retirada, mas uma lembrança que os cristão devem servir o mundo em seus próprios termos, de outra forma, o mundo não teria meios para conhecer a si mesmo como mundo.

6. A ética social cristã pode apenas ser feita da perspectiva daqueles que não buscam controlar a história nacional ou mundial mas aqueles que estão contentes em viver sem o controle.

Para fazer ética da perspectiva daqueles que estão sem controle significa que os cristãos devem encontrar os modos de deixar claro tanto para o oprimido como o opressor que a cruz determina o significado da história. Cristãos deve, então, prover alternativas imaginativas para a política social como eles tem se libertado das necessidades daqueles que poderiam controlar o mundo em nome da segurança. Por estar sem controle significa que cristãos podem arriscar confiar nos dons porque eles não tem razão nenhuma em negar o caráter contingente da nossa existência.

7. A ética cristã social depende do desenvolvimento de uma liderança na igreja que pode confiar e depender da diversidade de dons que existe na comunidade.

A autoridade necessária para a liderança na igreja deve derivar do nosso desejo dos cristãos de arriscar a falar a verdade e ouvir a verdade daqueles que estão no comando. Nas sociedades que tem medo da verdade,, a liderança depende da habilidade de prover segurança ao invés da habilidade de deixar a diversidade da comunidade servir como modo de viver verdadeiro. Apenas na última forma de comunidade pode sustentar os erros dos líderes conhecendo-o sem que isto cesse seu exercício de autoridade.


8. Para a igreja ser, ao invés de ter, uma ética social significa que nós devemos recapturar a significância social do viver em comum, como os atos de bondade, amizade e a formação das famílias.

A confiança é impossível em comunidade que sempre olham para os outros como um desafio ou ameaça para sua existência. Um dos mais profundos comprometimentos de uma comunidade é prover um contexto que nos encoraja a confiar e a depender um do outro. Particularmente significante é a determinação da comunidade a se abrir para uma nova vida em que é destinada a desafiar e também cuidar na história.

9. Em nossa tentativa de controlar nossa sociedade, os cristãos nos EUA tem  aceitado rapidamente o liberalismo como uma estratégia social para a história cristã.

Liberalismo, em suas muitas formas e versões, pressupõe que a sociedade pode ser organizada sem qualquer narrativa que seja comumente segurada como verdadeira. Como resultado isto nos tenta a acreditar que a liberdade e a racionalidade são independentes da narrativa-  por exemplo, nós somos livres à medida que nós não temos história. Liberalismo, então, é particularmente pernicioso na medida que nos previne de entender profundamente como nós somos capturados por seu relato de existência.

10. A igreja não existe para prover um ethos para a democracia ou qualquer outra forma de organização social, mas fica como uma alternativa politica para toda nação, testemunhando o tipo de vida social possível para  aqueles que foram formados pela história de Cristo.

Por vezes, o chamado da igreja por justiça sem querer reforça as declarações liberais sobre liberdade em nome do evangelho. A primeira tarefa da igreja é nos ajudar a ter uma perspectiva crítica destas narrativas que são capturam nossa visão e vida. Ao fazer isto, a igreja pode ajudar a prover um paradigma de relações sociais que de outra forma seria impossível.


Fonte: páginas 9-11