segunda-feira, dezembro 22, 2008

Perspectivas da Nova Perspectiva




Romanos 3:21-22


"A resposta, é claro, é que para Paulo há uma conexão íntima entre a justificação gratuita por Deus de pecadores pela morte de Jesus e com base na fé, porum lado, e a criação de Deus, por outro lado, de uma nova família composta por judeus e gentios igualmente. Nós bem que podemos entender que os Reformadores,enfrentando o urgente desafio de um Catolicismo Romano profundamente corrupto,desejassem, corretamente, enfatizar o primeiro ao invés do segundo. Mas ao compartilhar seu princípio fundamental de “Sola Scriptura” nós nos comprometemos a salientar o que está lá no texto, sílaba por sílaba, mesmo que eles não o tenham feito.

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E para Paulo aquela pequena letra e é uma indicação crucial e explicativa de para onde seu verdadeiro argumento estava indo. Seu ponto é simplesmente isto: quese Deus justificasse pessoas em uma base qualquer diferente da fé, então ele seriaafinal Deus dos judeus apenas, e não dos gentios igualmente. E a menos que estejamos preparados para pensar sobre a razão de tal ponto ser assim e captar o fato de que isto é para onde o parágrafo está indo – em outras palavras, a menos que vejamos que Romanos 3:21-31 como está registrado, sílaba por sílaba, no texto da escritura inspirada, esteja indo em direção a este ponto, o qual é fortemente apoiado por todo o capítulo 4, e que este ponto não é uma questão secundária, uma “implicação extra” de um evangelho que é sobre algo muito diferente – então o princípio formal de toda a teologia inspirada na reforma terá sido sacrificado no altarde nossas próprias tradições." (pag.3)


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"Para Paulo, o que ele quer dizer com “evangelho” não é, a despeito do nosso uso atual, a descrição de um modo de salvação; não é umadescrição de como reordenar sua espiritualidade privada; não é uma ordo salutis. O “evangelho” não é, em especial, idêntico à doutrina da justificação. O “evangelho”não é em si mesmo a mesma coisa que a revelação da justiça de Deus; tal revelação tem lugar dentro do evangelho, de modo que quando o evangelho é anunciado ajustiça de Deus é, de fato, manifestada; mas o “evangelho” em si mesmo se refere à proclamação de que Jesus, o Messias crucificado e ressuscitado, é o verdadeiro e único Senhor do mundo.

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Reparem em como isso funciona em Romanos, e novamente devemos prestar atenção ao que a escritura diz ao invés do que nossas tradições teriam preferido que o texto dissesse. Paulo descreve seu evangelho em 1:3-4; então, em 1:16-17, ele explica a razão pela qual ele não se envergonha de seu evangelho, porque nele a justiça de Deus se revela. Aqueles dentre nós que cresceram na tradição da Reforma foram ensinados muitas vezes, implícita se não explicitamente, (a) que 1:16-17 é a primeira afirmação da justificação pela fé, que então se torna o tema principal da carta, (b) que a justificação pela fé é o que Paulo quer dizer por “evangelho” e (c)que 1:3-4 é uma afirmação retirada de uma fórmula de credo primitiva colocada naquele ponto por outras razões que não centrais nem ao pensamento de Paulo nem à mensagem da carta. Eu me lembro bem da luta que tive, intelectual e espiritualmente,no meio da década de 1970, quando percebi que cada um desses três pontos tinha deser desafiado em nome de uma exegese cuidadosa, fiel e acurada daquilo que Paulo de fato escreveu. Meu compromisso contínuo de ler 1:3-4 como a descrição introdutória de Paulo do próprio evangelho, 1:16-17 como uma descrição da revelação da própria justiça de Deus, que por sua vez resulta na justificação pela fé mas é também algo muito maior, e a conseqüente diferenciação entre “evangelho” e “justificação pela fé”,sem diminuir ou desmentir esta última – tal compromisso contínuo tem se justificado,se posso dizer assim, por tantos outros insights teológicos e exegéticos derivados diretamente dele que eu nem posso sonhar em voltar atrás. “Solus Christus”: o próprio Messias, não uma verdade sobre mim mesmo, nem mesmo sobre minha salvação, é o centro do evangelho de Paulo". (pag. 7)

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N.T. Wright PAULO EM DIFERENTES PERSPECTIVAS 3/1/2005 p.3 doc. pdf disponível em http://www.ntwrightpage.com/port/DiferentesPerspectivas.pdf

Um comentário:

Daniel disse...

Muito interessante! Fico curioso de entender o conteúdo da refutação de John Piper ao entendimento de Wright sobre a justificação.