sábado, junho 27, 2009

ALBERT NOLAN: Jesus antes do Cristianismo


NOLAN, Albert Jesus antes do cristianismo São Paulo: Paulus, 2003.


“Milhoes e milhões de pessoas, através do tempos, tem venerado o nome de Jesus, mas poucos conseguiram compreende-lo, e é menor ainda o numero daqueles que tentaram por em pratica o que ele queria que fosse realizado. Suas palavras tem sido interpretadas e deturpadas de modo a significar todas as coisas, qualquer coisa, e nada. Seus nome tem sido usado e abusado para justificar crimes, para assustar crianças e para inspirar uma insensatez heróica a homens e mulheres. Jesus tem sido mais frequentemente honrado e venerado por aquilo que não significou. A suprema ironia é que algumas das coisas, às quais ele fortemente se opôs na sua época, foram ressuscitadas, pregadas e difundidas mais amplamente no mundo- em seu nome” p.15
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"Embora o termo pobre nos evangelhos não se refira exclusivamente àqueles que eram economicamente depossuídos, certamente os inclui. Os pobres eram, em primeiro lugar os mendigos. Esses eram os doentes e aleijados, que tinham recorrido à mendicância porque nao tinham possiblidade de ser empregados e não tinham parentes que pudessem ou quisessem sustentá-los. (...) Os que eram economicamente pobres dependiam totalmente da caridade dos outros. Para um oriental, ainda mais do que para um ocidental, isso é terrivelmente humilhante(...) A pessoa realmente pobre, que depende dos outros e não tem ninguém que dependa dela, se encontra no último degrau da escala social. Não tem prestígio, nem honra. Quase não é humana. Sua vida não tem sentido. Um ocidental, hoje, diria que isso significa perder a dignidade humana." p. 40-41
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"O que tornou diferente o bom samaritano da parabola foia compaixão que sentiu pelo homem deixado semimorto à beira da estrada (Lc 10,33). O que tornou diferente o pai amoroso foi excesso de compaixão que sentiu por seu filho pródigo (Lc 15,20). O que tornou Jesus diferente foi a compaixão sem limites que ele sentiu pelos seus pobres e oprimidos.
A palavra compaixão é fraca demais para exprimir a emoção que movia Jesus. O verbo gregospalgchmizmai, usado em todos esses textos, é derivado do substantivo splagchnon, que signifca intestinos, visceras, entranhas, ou coração, ou seja, as partes inernas das quais parecem surgir as emoções fortes. O verbo grego, portanto, significa movimento ou impulso que brota das próprias entranhas da pessoa, uma reação das tripas. é por isso que os tradutores precisam lançar mão de expressões como ele foi tomado de compaixão ou piedade, ou ele sentiu piedade, ou seu coração se comoveu por eles. Mas nem mesmo essas expressões conseguem captar o profundo sabor físico e emocional da palavra grega para compaixão" p. 49
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Os milagres são frequentemente considerados, tanto por aqueles que neles acreditam como pelos que não creem, como fatos, ou fatos supostos, qu contradizem as leis da natureza, nã podendo portanto ser explicados pela ciencia ou pela razao. Mas não é isso absolutamente que a Bíblia entende por milagre, como qq biblista pode atestar. As leis da natureza são um moderno conceito cientifico. A Bíblia nda sabe sobre a natureza, e menos ainda sobre as leis da natureza. O mundo é criação de Deus e qq coisa que aconteçã no mundo, comum ou extraordinária, é prte da providencia de Deus" p. 55
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"Seria impossível superestimar o impacto que essas refeições devem ter tido entre os pobres e os pecadores . Aceitando-os como amigos e como iguais, Jesus afastara deles a vergonha, a humilhação e a culpa. Mostrando-lhes a importância que tinham para ele como pessoas, deu-lhes um senso de dignidade e libertou-os de seu cativeiro. O contato físico qiue deve ter tido com eles, quando se reclinava à mesa (Jo. 13, 25), e que ele obviamente nunca sonhou em coibir (Lc 7,38-39), deve ter feito com que se sentissem limpos e aceitáveis.
Além do mais, por ser Jesus considerado santo e profeta., teriam interpretado seu gesto de amizade como aprovação de Deus. Eles agora eram aceitáveis aos olhos de Deus. Seu estado de pecado, ignorância e impureza tinha sido esquecido e não mais pesava sobre eles". p.63
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"O perdão significava o cancelamento ou a remissão da dívida para com Deus. Perdoar em grego - aphiemi- significava cancelar, desobrigar ou libertar. Perdoar alguém é libertá-lo da dominação da história do seu passado. Quando Deus perdoa, ele esquece nosso passado e retira as consequências presentes ou futuras de transgressões passadas" p. 64
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"Jesus não só os curava e perdoava, como também lhes dissipava os temores e aliviava as preocupações. Sua simples presença os libertava" p. 67
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"O texto muito citado : Meu reino não é deste mundo (Jo. 18,36) não significa que o reino não está ou não estará neste mundo ou nesta terra. A frase é tipica de João e deve ser compreendida de acordo com o uso que João fazia das palavras. Em Jo 17,11.14-16, quando se diz que Jesus e seus discipulos estão no mundo, mas não são do mundo, o sentido é bastante claro. Embora vivam no mundo, não são mundanos, não concordam com os valores e padrões atuais do mundo. Se no mesmo evangelho se diz também que o reino não é deste mundo, isto deve ser interpretado da mesma maneira. Os valores do reino são diferentes de, e opostos a, os valores deste mundo. Não há razão para se pensar que isto signifique que o reino vai flutuar no ar em algum lugar, acima da terra, ou que seja entidade abstrata sem qualquer estrutura social e política tangível" (p.76)
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"Quando o reino de Deus vier, Deus tomará o lugar de satanás, ele governará sobre toda a humanidade e conferirá o reinado ou o poder de governar àqueles que servirem a seus propósitos, na sociedade. O mal será eliminado e as pessoas serão repletas de seu Espírito .... pode haver muita gente boa no mundo agora, mas o mal continua a ter a supremacia, satanás ainda está no poder" (p.77)
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Milagre dos pães e peixes- "neste caso não se diz que alguém tenha ficado admirado, maravilhado ou atônito, diz-se apenas que os discipulos não compreenderam" (Mc 6,52;8,17;18,21) "
"o acontecimento tem um sentido mais profundo, mas, em si mesmo o acontecimento não foi um milagre de multiplicação, e sim um exemplo notável de partilha"
"o milagre consistiu em que tantas e tantas pessoas deixassem subitamente de ser possessivas em relação à sua própria comida e começassem a partilhá-la, só para descobrir que havia mais do que o suficiente para todos. Dizem-nos que ainda sobraram doze cestos com restos. as coisas tendem a multiplicar-se quando são partilhadas" p.81
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" O reino de Deus será, portanto, uma sociedade na qual não haverá nenhum prestígio, nenhhum status, nenhuma divisão entre pessoas inferiores e superiores (...) Aqueles que nao possam suportar que mendigos, ex-prostitutas, empregados, mulheres, crianças sejam tratados como seus iguais, aqueles que não possam viver sem se sentirem superiores, ao menos em relação a algumas pessoas, simplesmente não se sentirão em casa no reino de Deus, ttal como Jesus o compreendia. Esse vão querer se excluir do reino"p. 89-90
"se o amor significa solidariedade, então o ódio significa não-solidariedade. O que Jesus está pedindo é que a solidariedade grupal da família seja substituída por solidariedade mais fundamental com toda a humanidade"
"Jesus queria libertar todas pessoas da Lei- de todas as leis. Mas isto não pode ser conseguido abolindo-se ou mudando a Lei. Ele precisava destronar a Lei., Tinha que garantir que a Lei estivesse a serviço do homem e não o dominasse - Mc 2,27-28-. O homem precisa ser responsável por sua serva, a Lei, e usá-la para servir às necessidades da humanidade. Isso é muito diferente de licenciosidade, ausência de lei ou permissividade irresponsável. Jesus relativizou a Lei para que seu verdadeiro objetivo pudesse ser alcançado" p. 108
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"Acreditar em Deus é acreditar que o bem é mais poderoso que o mal e que a verdade é mais forte que a mentira. Acreditar em Deus é acreditar que, no fim, o bem e a verdade vão triunfar sobre o mal e a mentira e que Deus vai vencer satanás. Qualquer que acredite que o mal vai ter a ultima palavra, ou que o bem e o mal tem cada um cinquenta por cento de possibilidades de vencer, é ateu. Existe no mundo uma força dirigida para o bem , um poder que se manifesta nos impulsos e forças mais profiundas existentes no homem e na natureza. Se Jesus não acreditasse nisso, não teria nada para dizer.
A fé no reino de Deus, ent~;ao, não é apenas questão de aceitar os valores do reino e ter vaga esperança de que um dia ele há de chegar à terra. A fé no reino é a convicção de que, aconteça o que acontecer, o reino há de vir. E é essa convicção que fará com que o reino venha, porque essa convicção é verdadeira. A verdade há de vos libertar- Jo 8,32" p. 125
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"Jesus não estava evitando a questão politica. Pois, como mostrou Segundo, localizar o elemento politico no tempo de Jesus nas estruturas do Imperio Romano, porque é isso que mais se assemleha a um moderno imperio politico...é anacromismo. Ele continua explicando: a vida politica, a organizacão civica das multidões judaicas, seus fardos, sua opressão...dependiam muito menos do Imperio Romano e muito mais da teologia que reinava nos grupos de escribas e fariseus. Eles, e não o Imperio, impunham fardos intoleraveis aos fracos...estabelecendo assim a verdadeira estrutura socio-politica de Israel. nesse sentido, a contrateologia de Jesus era muito mais politica do que qualquer declaração ou ato contra o Império Romano" p.141
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"Certamente, a coisa mais surpreendente nos evangelhos é o fato de que Jesus pregou a respeito de um reino reliigioso politico, do qual os homens de religião - zelotas, fariseus, essenios e saduceus- seriam excluídos, ou antes do qual eles se excluiriam a si mesmos. De acordo com Mateus, JEsus disse a eles que os coletores de impostos e prostitutas estão entrando no Reino de Deus e não voces - Mt 21,31" p. 145
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"Há aqui um paradoxo, o paradoxo da compaixão. A unica coisa que Jesus estava decidido a eliminar era o sofrimento: os sofrimentos dos pobres e dos oprimidos, os sofrimentos dos doentes, os sofrimentos que sobreviriam se a catastrofe viesse a acontecer. Mas a unica maneira de acabar com o sofrimento é renunciar a todos os valores mundanos, e suportar as consequencias. Só a disposição de sofrer pode vencer o sofrimento no mundo. A compaixão destroi o sofrimento, por nos levar a sofrer com e em beneficiio dos que sofrem. Um sentimento de simpatia para com os pobres, que nao inclua a disposição de partilhar de seus sofrimentos, seria algo inutil. Não poderemos partilhar as bençãos dos pobres a não ser que estejamos dispostos a partilhar seus sofrimentos" p. 165
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"Salvar a propria vida signifca agarrar-se a ela, ama-la,. dedicar-se a ela, e portanto, temer a morte. Perder a propria vida é desligar-se dela, apartar-se dela e, oprtanto, estar disposto a morre. O paradoxo é que o homem que teme a morte ´já está morto, enquanto o homem que deixou de temer a morte , nesse mesmo momento começou a viver. Uma vida verdadeira, e que vale a pena, só é possível quando se está disposto a morrer" p.165
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