A chamada converte o discípulo num indivíduo isolado, que deve decidir sozinho. Deve seguir individualmente. Com medo de ficar sozinho frente a Ele, busca proteção nas pessoas e nas coisas. Nem pai, nem mãe, nem mulher, filhos podem proteger neste momento que foi chamado.
Há ruptura entre os dados naturais onde se encontra o homem, Cristo liberta o homem das relações imediatas com o mundo, para situa-lo numa relação imediata consigo mesmo.
É certo que algo se interpõe entre o que foi chamado por Cristo e seus dados naturais, contudo, não se trata de um depreciativo da vida, nem código de piedade. É vida e o evangelho, é Cristo mesmo. Na encarnação se colocou entre mim e o mundo, ele quer ser o meio, tudo deve suceder unicamente através dele.
Ele é o mediador, não somente entre Deus e os homens, mas também entre homem e homem, entre o homem e a realidade. - Jo 1,3 -. Existem muitos deuses que se oferecem como um acesso imediato, os homens buscam um relacionamento assim entre eles, contudo,isso mostra a hostilidade a Cristo, o mediador.
Romper as relações imediatas com o mundo é reconhecer Cristo como Filho de Deus,mediador. Somente o reconhecimento dele como mediador, separa o discípulo do mundo dos homens e das coisas; pensando assim, a chamada não é um ideal, realiza-se nesta ruptura completa com o mundo.
Não se trata de ideais, valores, responsabilidade, mas de atos cumpridos e de seu reconhecimento da pessoa mesma do mediador, quem foi chamado aprende que suas relações com o mundo foram vividas numa ilusão. Agora, sabe que não pode ter nenhum intermediário, nem sequer os laços mais estreitos de sua vida, os de sangue, os de amor conjugal, os da responsabilidade histórica.
Depois de Jesus, não há nenhuma relação imediata no plano natural, histórico ou vivencial. O caminho para o proximo passa por Ele, por sua palavra e nosso seguimento.
Sempre que uma comunidade nos impeça de ser um indivíduo diante de Cristo, sempre que uma comunidade reivindique sua imediatez, há que detesta-la a causa de Cristo, porque toda imediatez é conscientemente ou não, um ódio a Cristo. Para Bonhoeffer, é um erro a teologia usar a mediação de Jesus para justificar as relações imediatas da vida. Se reduz o amor de Deus e o amor do mundo a coisa comum, e a ruptura com os atos do mundo agora é uma incompreensão legalista da graça de Deus, o ódio de Jesus as relações imediatas com o mundo se transforma num sim ao mundo, mais uma vez a justificação do pecador se transforma numa justificação do pecado.
A ruptura com as relações imediatas é inevitável, é um chamada a levar de modo visível o opóbrio de Cristo. Abraão é o exemplo, deve abandonar a seus amigos e a casa do seu pai, Cristo se colocou entre ele e os seus, então, a ruptura deve ser visível. Abraão se converte em um estrangeiro por causa da terra prometida.
Depois foi chamado para sacrificar Isaque, ele deveria aprender que a promessa não depende de Isaque, mas somente de Deus. Esta chamada ele não a espiritualiza, não dá voltas em busca de explicações, toma Deus ao pé da letra e está disposto a obedecer. Contra toda imediatez natural, ética ou religiosa, obedece a palavra de Deus.
Neste mesmo momento, se devolve tudo que ele havia deixado,ele recebe de novo seu filho. Deus lhe deu uma vítima melhor. Abraão recebeu seu filho de volta, mas agora recebeu das mãos do mediador, por causa dele. Por estar disposto a escutar e obedecer literalmente a ordem de Deus, lhe é permitido ter a Isaque como se não o tivesse, te-lo por Jesus Cristo.
Abraão abandonou tudo para seguir a Cristo, agora lhe é permitido viver de novo no mundo que antes vivia, por fora, tudo parece como antes, mas, o velho se passou, e aqui tudo se fez novo.
Essa é a possibilidade de ser um indivíduo no meio da comunidade, é a ruptura secreta com os bens deste mundo, a outra é a ruptura aberta. A secreta é mais díficil, depende da fé, quem não conhece ou experimenta isto, se engana.
Para Bonhoeffer, não depende de nossa vontade eleger uma ou outra, somos chamados por Jesus para sair da imediatez, e devemos converter visivel ou secretamente em indíviduos transformados pelo fundamento da comunhão completamente nova.
Tomando Marcos 10, 28-31, Bonhoeffer fala daqueles que abandonaram tudo quando ele os chamou, para eles há uma nova comunhão, a comunhão da igreja. Se faz uma comunidade fraternal visível que devolve multiplicadamente aquilo que ele perdeu,
Jesus precede os discípulos, para a cruz, os que o seguem se assombra - Mc 10,32- mas, isto é porque não são forças humanas que nos levam a este caminho, mas sim o chamado do próprio Deus.
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