quarta-feira, julho 27, 2011

Levy da Costa Bastos: Caminhos da Salvação.

Jurgen Moltmann é o teólogo da esperança em meio ao sofrimento, da escatologia, em dias de tanto sofrimento sem explicações, sua teologia ganha espaço no Brasil.  Neste livro, Bastos analisa a obra de Moltmann a respeito da salvação e seus caminhos.

“Quando aqui se afirma a existência dos caminhos da salvação o que se pretende realçar é simplesmente que, partindo de uma experiência salvadora com Deus, o individuo crente é convocado a dar expressão para este acontecimento redentor sob diversas formas ao longo de sua vida” p. 11

O primeiro capitulo da historia da redenção começa com a criação, Bastos busca mostrar a partir de Moltmann como se deu a expressão do amor divino na criação.

“Em volta deste desígnio criador Divino, podemos afirmar que o ser humano (todo ser humano) está vocacionado por Deus a intervir na historia e na criação, tornando-se parceiro de Deus, visto que a criação ainda não encontrou sua consumação. Isto demanda, por outro lado, rompimento com  o principio do eterno retorno (Eliade)” p. 18

“A criação teve seu ponto inicial no ato Trinitário Divino, na Palavra criadora de Deus, que do nada fez tudo existir, mas não se esgota nisso. Ela acontece ainda agora e para isso o ser humano redimido é convocado a tomar parte. Este fato nos serve de analogia da forma como acontece a salvação. Ela é um acontecimento sinérgico. Começa sempre com Deus, por meio da sua graça infinita e imerecida, mas pressupõe uma resposta sempre criativa e responsável da pessoa humana (Ef. 2,8-10)” p. 19

Quanto as atitudes dos fieis em relação a criação...o autor diz “o ser humano não foi vocacionado por Deus para estar fechado ou fixo em si mesmo, mas aberto às novas possibilidades  que lhes estao sendo prometidas pela Palavra Divina. Ele é um ser de vocação transcendente a si mesmo, de vocação decisivamente escatológica, tendo no Espírito Santo o operador dessa transcendência e na Palavra de Deus a causa instrumental fundamental. Por meio destes fatores se vê impelido e convocado como uma nova criação de Deus. O ser humano não é, assim, um sub-sistente, mas um ek-existente, isto é, não sendo um ser fixo e imutável estará sempre em processo aberto , de devir – in fieri-, de metamorfose –Rm 12,1-2-. O ser humano é  de fato um ser inacabado” p. 21

Capitulo 2 – um novo nome para a salvação.

O novo nome é a doutrina da justificação pela fé. Trata-se de um belo capitulo onde o autor analisa as diferentes concepções do tema, desde Tiago, Lutero e Concilio de Trento, vale uma leitura para quem se interessa pelo assunto.
Sobre o conceito paulino, o autor diz
“a justificação é compreendida por Paulo como um evento em que os crentes são declarados livres da culpa do pecado, e mais do que isso, são tambem habilitados a vencer a força com que o pecado os assedia” p. 30
“A centralidade da cruz de Cristo na teologia paulina expressa-se como sinal de humilhação e fraqueza Divinas. Na cruz de Cristo, o Deus trino se apropriou graciosamente de todos os pecadores. Isto permite concluir que ninguém é indigno, sem valor ou tão distante de Deus, que não possa ser alcançado por seu amor redentor” p. 31
 “A experiência de ser justificado por Deus se da única e exclusivamente por meio da fé em Jesus Cristo. Por meio de uma confiança total e exclusiva na graça de Deus – Rm 3,26;28;5,1;Gl 2,16). Por meio de Cristo, sua vida, morte  e ressurreicao, Deus Pai permite aos seres humanos experimentarem sua salvação –Rm 3,5ss -. A despeito da situação de alienação do gênero humano, Deus lhe faculta o exercício de uma fé confiante, por meio da qual ele entre em uma nova relação com Deus e recebe novidade de vida – Rm 5,17ss-. Em terminologia paulina, justificação é uma nova criação pela ação do Espírito. A justificação é, assim, o penhor da absolvição final de Deus e o começo de uma nova vida” p. 33
                


A seguir, o autor prossegue analisando a doutrina da justificação em Tiago, Martin Lutero e no Concílio de  Trento. Sobre Lutero, ele diz:


"a fé  que realmente justifica, não é um assentimento intelectual  a certas verdades - assensus- mas um entregar-se confiante a Deus com compromisso, uma auto-doação (fiducia) .... No ato de crer, o ser humano  devencilha-se de seu isolamento pessoal e, vocacionado pela Palavra de Deus, se abandona em Seus braços, tornando-se um com Ele, contudo, sem se perder como pessoa .... Desde, então ele passou a defender a tese de que a justificação é um ato motivado exclusivamente no amor de Deus por meio do que a justiça de Cristo é imputada aos que crêem" (p. 39) " O evangelho revela-se como um instrumento, por meio do qual Deus cria e opera um desejo incontido no coração do homem de honra-Lo e obedientemente servi-Lo. O evangelho é a única força que permite ao ser humano ser liberto de si mesmo, de sua auto-justificação" (p. 42)
O concílio de Trento "não tratou especificamente da doutrina da justificação, mas pode-se dizer que esta foi uma de suas mais fortes questões motivadoras. Se por um lado a fé reformada preconizava o não cancelamento dos pecados, a fé católica afirmou o verdadeiro cancelamento dos pecados no ato da justificação. Para Trento, a justificação também se mescla com a santificação o que o Cristianismo da Reforma negou com veemência. p. 47

a conclusão do autor é que

"A justificação deveria ser, então, interpretada escatologicamente, pois isto permitiria superar o que fosse passado e fazer surgir a Nova Criação de Deus. Em um contexto cmo este, o mundo seria recebido não obstante suas contradições e ambiguidades internas, como um presente de Deus, como boa obra da criação a ser continuamente recriada no poder do Espírito de Deus" p.51

"O evento Cristo - sua vida, morte e ressurreição- aponta para uma forma de compromisso com a vida que determina a existência dos justificados. Na sua cruz, Ele assumiu as fragilidades e pecados humanos, tornando-se abandonado por Deus. Na sua morte de cruz fica explicitada não somente o seu compromisso com a libertação da vida no mundo, mas a solidária proximidade Divina com todos os pecadores e crucificados do mundo" p.  54

No capítulo 3, chamado PARA QUEM ESTÁ A ESCUTA DE DEUS, o autor desenvolve uma abordagem prática da esperança numa pneumatologia marcada pela libertação da opressão.

"Uma pneumatologia integral. ...



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