quinta-feira, julho 07, 2011

Dietrich Bonhoeffer: A obediência sincera


Neste capítulo Bonhoeffer continua o tema da crença e obediência.

Quando Jesus chama, devemos abandonar tudo e segui-lo. Confiar na palavra de Jesus como um terreno muito mais firme que todas as seguranças do mundo. 

Se Jesus nos falasse hoje através da Escritura, nós argumentaríamos o seguinte: Ele me ordena uma coisa concreta, mas, quando manda algo, devo saber que nunca exige uma obediência conforme a lei, somente requer de minha uma única coisa: eu creia.  Sem que os bens tivessem que ser vendidos ou não, nossa obediência seria uma negação a obediência sincera, por ser legalista, para ser obedientes na fé. Somos diferentes do jovem rico, que tendo o chamado de Jesus se retirou triste, perdendo a fé por lhe faltar a obediência. Seu fracasso revela que ele não podia obedecer a palavra de Jesus, mas nós temos mais argumentos, que nos distingue totalmente do ouvinte bíblico da palavra de Deus. 

Se Jesus disser: abandona tudo e me segue, deixa tua profissão, tua família, teu povo e a casa do teu pai, este homem sabe que somente pode responder a tal chamada com a obediência sincera, porque precisamente para ela foi concedida a comunhão com Jesus. Mas, nós, diríamos: sem dúvida, a chamada deve ser totalmente totalmente a sério, contudo, a verdadeira obediência a ela consiste em que eu permaneça na minha profissão, com minha família, e o sirva com a liberdade interior.


Jesus diria, buscai primeiro o reino de Deus, e nós, entenderíamos, naturalmente, devemos buscar todas as outras coisas, primeiro. Se não for assim, como subsistiremos. 

Bonhoeffer diz que sempre encontramos a supressão consciente da obediência sincera, da obediência literal. As coisas somente mudam quando se trata das ordens de Jesus, converte-se a obediência sincera em pura desobediência. Isso é possível por causa de no fundo desta falsa argumentação se encontra uma coisa verdadeira.

A ordem de Jesus ao jovem rico foi colocar-se numa situação em que é possível crer, tem efetivamente por único fim chamar o homem a fé em Jesus, a comunhão com Ele. Nada depende da situação, pobreza ou riqueza, nisto temos razão, isso é verdade. 

Contudo, o autor explica que uma possibilidade com vistas a volta iminente de Jesus, uma obediência sincera nunca pode suprimir o que ordena os mandamentos.

Bonhoeffer fala de uma interpretação paradoxal dos mandamentos, intento de compreender as coisas com sinceridade, que sempre correr o perigo de transformar-se em uma escapatória fácil, sem obediência concreta.

Para ele, é muito mais fácil compreender de forma sincera o mandamento, obedecendo-o ao pé da letra, numa compreensão literal. A chamada de Jesus e a obediência sincera tem um sentido irrevogável. Jesus nos dá uma situação concreta em que é possível crer nele, somente aí o homem se acha livre pela fé.

Onde a obediência sincera é eliminada fundamentalmente, a graça cara do chamamento se transforma de novo em graça barata da auto-justificação. Com isto, se proclama a lei do mundo, aquela que opõe a lei da graça. O mundo não é o que tem sido superado em Cristo e aquilo que temos que vencer a cada novo dia em comunhão com ele, senão aquilo que se tem convertido em uma lei rigoroso e intangível.

A graça aí já não é o dom de Deus porque fomos arrancados do pecado e situados na obediência a Cristo, senão uma lei divina geral, um princípio cuja aplicação somente depende do caso particular, o combate sistemático contra o "legalismo" da obediência sincera resultou na mais perigosa das leis: a lei do mundo. 


A obediencia ao chamado de Cristo não é um ato arbitrário do homem, não é um oferecimento do homem a Deus, senão uma oferta graciosa de Jesus. 

Ver mateus 19, 23-26.



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