quinta-feira, agosto 04, 2011

Dietrich Bonhoeffer: Sermão do Monte, A Justiça de Deus

Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim ab-rogar, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido.Qualquer, pois, que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos céus. Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus. (Mateus 5:17-20)
Não é estranho que ao ouvir essas promessas, alguns pensassem que havia chegado ao fim a lei. Tinham conseguido tudo pela graça de Deus, eram herdeiros do reino dos céus, sal e luz do mundo, tinham a comunidade plena e pessoal com Cristo, por isto, o antigo havia passado. 
Os judeus não acreditavam nele, por isso deviam recusar sua doutrina da lei como uma ofensa a Deus, isto é, uma ofensa a lei de Deus. Jesus morre na cruz como um blasfemo, como um transgressor da lei, por haver revalorizado a verdadeira lei ante a falsa e mal interpretada.

O cumprimento da lei somente poderia ser cumprido com a sua morte na cruz como pecador, Ele mesmo crucificado é o cumprimento pleno da lei. Por isto, ele diz que ele veio cumprir a lei, porque somente ele vive em plena comunhão com Deus.  O caminho dos discípulos até a lei passa pela cruz, assim eles também a cumprem.
Devem recusar a vinculação sem lei, porque seria fanatismo, em lugar de autêntica união. Se eliminarmos a preocupação dos discípulos de que a vinculação a lei os separa de Jesus, esta é uma afirmação errada da lei, em lugar disto, fica clara que a autêntica união com Jesus somente pode ser alcançada estando vinculado a lei de Deus.

É verdade que Jesus está entre os discípulos e a lei, para revalorizar suas exigências, a idéia é que cumprem e ensinem a lei,  há uma ação, como ele a cumpriu. Quem permanece junto dele no seguimento, cumpre a lei, a observa e ensina no seguimento. Somente quem coloca em prática pode permanecer em comunhão. Não é a lei que os distingue dos judeus, senão justiça dos discípulos, que é algo extraordinário e especial. 

Os fariseus nunca caem em erro, contrário a Escritura, de que a lei apenas ensinavam, mas não cumpriam. O fariseu queria ser observante da lei, sua justiça consistia no cumprimento literal,  sua justiça era ação. A observância dos discípulos supera porque sua justiça era perfeita, porque entre eles e a lei está a comunhão com Cristo, que cumpriu perfeitamente a lei.


Antes mesmo de obedecer a lei, já estão cumpridas e satisfeitas suas exigências, a justiça que a lei exige já está presente, a justiça de Jesus que caminha até a cruz por amor a lei. Jesus não somente tem a justiça, como ele mesmo a é, e assim, a justiça dos discípulos, por sua chamada, os faz particípes de sua pessoa. Esta justiça melhor é aquela dada pelo seguimento, que recebe as bem-aventuranças. A justiça dos discípulo está debaixo da cruz.


É  a justiça dos pobres, combatidos, famintos, mansos, pacíficos, perseguidos por amor a Cristo, a justiça visível dos que são luz do mundo e cidade sobre o monte. Ela é melhor por causa da comunhão com Cristo, que cumpriu a lei, é autêntica porque agora eles cumprem a vontade de Deus observando a lei, não só ensinando-a como a cumprindo. Tudo isto, segundo Bonhoeffer pode ser sintetizado numa palavra: seguimento. Na participação real e sincera pela fé na Justiça de Cristo, que é a nova lei, a lei de Cristo.

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