1. O problema da religião na teologia.
“Afirmar que tudo isso se deu ao lado ou fora do cristianismo significa que reconhecemos que Deus, por sua revelação, entrou numa esfera em que sua realidade e possibilidade desapareceram num mar de paralelos e analogias com o cristianismo mais ou menos precisos, mas que fundamentalmente não podem ser negados” p. 21
“Jesus Cristo, uma vez por todas e em todos os aspectos, teve lugar a decisão divina sobre o homem. Jesus é, precisamente, o Senhor do homem. O homem é propriedade de Jesus Cristo, para que dessa forma viva em seu Reino e, submetido a ele, lhe sirva, de tal maneira que já não pertença a si mesmo, mas sim que pertença a Cristo, se único consolo na vida e na morte” p. 27
“O pecado foi, original e essencialmente, falta de fé, desprezo por Cristo, que começa exatamente na hora em que não se lhe admite como único e como o todo, e quando há um oculto descontentamento de sua soberania e de seu consolo” p. 29
“Revelação é ação soberana de Deus no homem. Se não , não é revelação.” P. 32
“Quando se chega a confrontar e discutir o que não se pode confrontar e discutir, liquida-se a revelação, embora com palavras afirmemos o contrário” p. 33
“Para permanecer na analogia fidei e não abandonar o plano teológico, deve-se orientar sobre a noção cristologica da encarnação da palavra, da assumptio carnis. Revelação divina e religião humana estão unidas da mesma maneira que esta unido, o homem e Deus em Jesus Cristo, em virtude de um evento” p. 35
“Tendo presente a doutrina cristologica da assumptio carnis e fazendo uma aplicação ad sensum, acreditamos poder falar de revelação como abolição da religião”. P.36
2. 2. Religião como incredulidade.
A tese principal de Barth é que a religião é o fato do homem sem Deus, "A religião é incredulidade. A religião é conjuntura. É preciso dizê-lo com toda a clareza: é o fato do homem sem Deus" p. 41
A tese principal de Barth é que a religião é o fato do homem sem Deus, "A religião é incredulidade. A religião é conjuntura. É preciso dizê-lo com toda a clareza: é o fato do homem sem Deus" p. 41
"O que existe aqui expressado fundamentalmente é o juízo condenatório que a revelação faz da religião, de toda religião. Certamente esse juízo, em última instância, pode ser clarificado e desenvolvido, mas de modo nenhum pode ser provado por princípio algum, nem sequer deduzido da revelação, nem tampouco seguindo a fenomenologia ou a Filosofia da religião" p. 43
"A revelação é o uma automanifestação de Deus. Ele se dá a conhecer a si mesmo. A revelação apresenta ao homem, como suposto e como confirmação, o fato de que as tentativas humanas para conhecer a Deus por seus próprios méritos são vãs" p. 44
"A religião, considerada a partir da revelação, aparece como a esforçada tentativa que o homem faz captar precisamente aquilo que Deus manifesta. É uma tentativa que pretende substituir a ação divina, convertendo-a em um fazer humano(...) "O espírito do homem é uma máquina constante de fabricar ídolos. O homem se atreve a tentar expressar suas loucuras que tem concebido a respeito de Deus. Por isso, o espírito humano cria ídolos e a mão os ilumina (Calvino, Instituta, I,18)""Acontece, pois, que Deus, ao condenar as imagens, não faz comparações entre elas para saber qual é boa ou má, sem exceção reprova todas as estátuas, pinturas e outras figuras por meio das quais os idolátras têm procurado fazer dele (Deus) seu próximo (Calvino, Institutas, I,11) "Tudo que os homens falam por meio de suas mentes é derrubado e amontoado, porque somente Deus é testemunha suficiente de si mesmo(Calvino, Institutas,ibidem)" p. 45-46
Assim, a religião criada pelos homens, para Karl Barth, é uma contradição feita à revelação, vai contra a revelação porque a verdade somente se pode chegar ao homem por meio da verdade. Ao tentar por si só, o homem peca, e não é levado pela verdade. Na religião, o homem fala, não escuta. Porque o homem tenta capturar Deus, e a religião consistiria nesta tentativa de capturação, enquanto que a revelação não é isto. Para ele, é a expressão da incredulidade humana, é a atitude do homem e sua ação opondo-se a fé, que recebe a revelação.
"O Deus de Israel não poderia ser representado por nenhuma obra humana, porque seu nome é santo e ao longo de toda a sua obra, em sua revelação, em sua ação como o Senhor da Aliança, em sua Palavra transmitida pelos profetas, é sempre ele mesmo, o autor do testemunho que ele se dá, ou seja, seu próprio mediador(...)Porque Israel participa da revelação de Deus por si mesmo, lhe é proibido tanto tomar parte na idolatria das religiões pagãs como fazer para si uma imagem de YAHWEH e adorá-la. Tanto em um caso como no outro é o próprio YAHWEH quem é esquecido" p.49
"A graça revela que não existimos senão em oposição à verdade e que, nessa, oposição, a negamos e traímos (...)No momento em que penetram a luz da mensagem da graça, esse testemunho desperta, fala, chega a ser testemunho contra eles mesmos, os torna inescusáveis diante de Deus, o mesmo que chega a seu encontro na revelação (Rm. 1,20)" p. 51
"porque Cristo nasceu, morreu e ressuscitou, já não há paganismo abstrato, fechado e tranquilo. E porque esse Cristo é o conteúdo de sua mensagem, paulo pode dizer aos pagãos que pertencem a Deus e que o conhecem, que na verdade se lhes manifesta e que lhes tem manifestado nas obras da criação como Deus cujo poder eterno e divindade são precisamente os de Jesus Cristo" (p. 54)
Sobre o texto de Romanos 1:20 e 1:28 - Barth diz que "Para Paulo não há, pois, lugar para apelação a um conhecimento imediato de Deus, do qual se beneficiam os pagãos desde a criação do mundo, e ainda menos se apoiar pedagogicamente nesse pretendido conhecimento para evangelizá-los" p. 55
"A revelação é, enquanto manifestação de Deus, o ato mediante o qual o homem, de graça e pela graça, é reconciliado com Deus....Somente na revelação, isto é, em Jesus Cristo, pode o homem recobrar a situação que perdeu; e isso de maneira totalmente nova...A revelação de Deus em Jesus Cristo significa que nossa justificação e nossa santificação, que nossa conversão e nossa salvação foram realizadas plenamente de uma vez por todas em Jesus Cristo. Nossa fé em Jesus Cristo consiste, precisamente em reconhecermos e termos por válido que tudo isso aconteceu. Ou seja, nossa salvação de uma vez por todas em Jesus Cristo"p. 57
Karl Barth coloca que a piedade como busca de Deus através de nossos próprios esforços é errada a Deus, porque a idolatria é tanto pressuposto como a consequência dessa postura. O homem deve alcançar a um fim que ele mesmo se propõe, ou seja, contrário ao próprio Deus. Para se chegar a Deus, o homem deve experimentar uma ruptura, ou em termos kierkegaardianos, "dar um salto que supere seu caminho no terreno dos sonhos religiosos" p. 59
O ateísmo na concepção de Barth -
"O ateísmo vive em seu não e de seu não. Não tem razão de ser mais que esvaziar e destruir até o infinito. Por isso, antes ou depois ele cai no vazio. Mas, de qualquer maneira, há um segundo aspecto no ateísmo que nós devemos destacar: é muito mais puro e mais consequente que o misticismo no que toca a negação da religião enquanto tal, à negação de Deus e de sua lei. No ateísmo é mais patente o sentido que tem a crítica como ataque ao que o homem pensa e afirma,e que agora se apresenta como indigno de ser crido e afirmado: o dogma e a certeza" p.80
3. A VERDADEIRA RELIGIÃO
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