quinta-feira, março 25, 2004

Amar até o fim (João 13:21)

Por Carlos Alberto Bezerra da www.cgbr.com.br



É com tristeza que vejo ser pregado, em nosso país, um evangelho diluído. Uma mensagem que torna muitas igrejas um grande balcão de negócios. Um lugar onde milhares buscam, todos os dias, a melhora de sua situação financeira, um novo companheiro para o casamento, a saúde física, a prosperidade material e o livramento imediato para os sofrimentos comuns à condição humana.

O verdadeiro cristianismo é Cristo vivendo em nós. Cristo vivendo novamente a sua vida em nós e através de nós. Abençoando as pessoas, promovendo salvação, resgate e cura. Isso não acontece plenamente em grandes reuniões. Acredito que isso só é possível através dos pequenos grupos, os GCEMs. Este é o momento em que os milagres acontecem, as curas e os livramentos se manifestam. A chave para o fortalecimento da igreja em nossos dias é a multiplicação dos pequenos grupos, propiciando cuidado, atenção, pastoreio e serviço de uns para com os outros.

Quero chamar a sua atenção para o texto das Escrituras Sagradas onde Jesus, por ocasião da Páscoa, celebra a última ceia antes de sua crucificação. Nesta reunião, Jesus demonstra a seus discípulos qual deve ser o foco principal da vida cristã e qual é a mais importante manifestação de amor, o serviço. Para marcar de forma indelével este ensinamento na vida de seus discípulos, Jesus lava-lhes os pés. Através deste ato de serviço e humildade, Ele estabelece o modelo.

Existem, neste texto, três características e aspectos marcantes da vida cristã que faltavam aos discípulos, lições importantes que Jesus fez questão de ensinar naquela ocasião:



1. Faltava intimidade e comunhão



No verso 22 do capítulo 13 do Evangelho de João, a Bíblia registra: “Seus discípulos olharam uns para os outros, sem saber a quem Jesus se referia...” Sabemos que, nesta passagem, Jesus menciona o fato de um dos discípulos estar prestes a traí-lo. Imediatamente os discípulos passaram a olhar uns para os outros questionando interiormente quem seria o traidor. Esta atitude revela a primeira fragilidade: apesar de andarem há algum tempo juntos, eles não se conheciam. Andavam juntos, mas não tinham comunhão. E por que não se conheciam?

A resposta talvez esteja no fato de não encontrarem ocasião e oportunidade para compartilhar as tentações, crises existenciais, morais, pessoais com ninguém. Na verdade, estavam sozinhos dentro do contexto do ministério de Jesus. Imagine Judas pensando em seu coração: “Se compartilhar com algum dos discípulos as minhas fraquezas e tentações, o que vão pensar de mim?” Infelizmente este é o retrato da igreja hoje.

Nossas relações são superficiais. Pense bem: o que significa a vida cristã se ela não vier acompanhada de comunhão e relacionamento? Não podemos esquecer que, sozinhos, somos alvos fáceis para o diabo. Cristianismo solitário é cristianismo egoísta. Quando insistimos em viver sozinhos, provamos que não entendemos nada do cristianismo. A Comunidade da Graça prioriza os relacionamentos. Prioriza comunhão e valoriza isto.





2. Faltava responsabilidade, solidariedade e cuidado mútuo



O que diferenciava Judas Iscariotes dos demais discípulos? No verso 27 do capítulo 13, a Escritura registra o fato de o diabo ainda não haver entrado em Judas, apesar de oprimi-lo.

Quem nos garante que Judas estava predestinado ao inferno sendo o nosso Deus um Pai tão amoroso e perdoador? Quem pode garantir que quaisquer um dos outros onze discípulos não pudessem traí-Lo? Penso que, neste grupo, faltava compromisso de cuidado recíproco. Faltava responsabilidade entre eles. Talvez Judas não tenha encontrado ajuda, companheirismo e solidariedade em seu grupo. O que propiciou ocasião para o ataque do diabo. Talvez não tenha achado alguém que estivesse disposto a ajudá-lo em seu recomeço.

Na verdade, a Bíblia relata o fato de após ter tentado devolver as trinta moedas de ouro, Judas ter buscado perdão e um recomeço. As palavras que ouviu foram duras. Como não encontrou forma de reparar seu erro, arrependido, saiu e suicidou-se.

Existem muitos que ainda pensam não possuir responsabilidade alguma sobre os seus irmãos. Quando formos tentados a pensar desta forma devemos lembrar do discurso de Caim narrado em Gênesis capítulo 4 verso 9, onde, questionado por Deus a respeito do paradeiro de seu irmão, respondeu: “Não sei. Sou eu o responsável por meu irmão?”

Infelizmente ainda hoje milhares em nossas igrejas agem como Caim, considerando-se isentos de responsabilidade sobre o naufrágio e a morte espiritual de seus irmãos. Existem muitos que chegam até a se alegrar com a queda e o fracasso. Isto não é cristianismo.



3. Faltava amor genuíno



Depois de errar, cometer um pecado e fracassar em sua caminhada cristã, a vida de uma pessoa torna-se extremamente difícil. Depois de causado o dano, é muito doloroso o recomeço, entre nós cristãos. A razão de muitos se afastarem da igreja na fase em que mais precisam dela é justamente o fato de temerem o preconceito e as demonstrações de rejeição.

Pesquisas recentes indicam que a cada mil conversões seiscentas fracassarão devido à falta de cuidado e discipulado responsável. Deve estar nos faltando amor para com aqueles que vem até nós. Estes, ao se afastarem, nunca entrarão novamente em uma igreja evangélica. Portanto, vamos insistir e persistir em amar até o fim, perdoando, sendo misericordiosos e pacientes, pois desta forma estaremos preservando da morte e semeando vida e paz. Em 1 Pedro 4:9, a Bíblia registra: “Sobretudo, amem-se sinceramente uns aos outros, porque o amor perdoa muitíssimos pecados.”