sexta-feira, junho 12, 2009

MIROSLAV VOLF: O fim da memória





PRIMEIRA PARTE
Lembre-se!
1. Memória de interrogatórios
.
"In the Christian tradition, condemnation is an element of reconciliation, not an isolated independent judgment, even when reconciliation cannot be achieved. So we condemn most properly in the act of forgiving, in the act of separating the doer from the deed. That is how God in Christ condemned all wrongdoing. That is how I ought to condenm Captain G.´s wrongdoing"p. 15
.
"Remember truthfully in such environments is an act of justice; and in order to expose crimes and fight political oppresion, many writers, artists, and thinkers have become soldiers of memory" p. 18
2. Memória: escudo e espada
"Nos lembramos de Auschwitz e de tudo o que ele simboliza por acreditarmos que, apesar dos passado e de seus horrores, o mundo merece salvação; e a salvação, assim como a redenção, só pode ser encontrada na memória" Elie Wiesel in p. 31
.
"When we remember the past, it is not only past; it breaks into the present and gains new lease in life" p. 21
.
"Agostinho dizia: "The learned scholar´s way of forgetting is different from that of the one who has experienced suffering. The scholar forgets by neglecting his studies, the suferer, by escaping from his misery" p. 23
.
"To the extent that we server ourselves from memories of what we have done and what has happened to us, we lose our true identity. If suffering has been part of our past, pain will be part of our identity"p. 24
.
"A questão de como lembramos também entra em jogo. Sendo que podemos reagir as nossa memórias e molda-la, somos maiores que elas. Se nossa reações as nossas memórias fossem determinadas apenas por elas mesmas, então seriamos escravos do passado. Mas, a menos que tenhamos sofrido sérios danos e estejamos desesperadamente precisando de cura, nós temos uma certa medida de liberdade no que diz respeito as nossas memórias. na proporção em que somos psicologicamente saudáveis, nossa identidade consistirá em grande parte nas respostas livres que damos as nossas memórias, não simplesmente as memórias em si"p. 36
.
.
SEGUNDA PARTE
Como devemos lembrar?

3. Dizer a verdade, praticar a graça
.
O autor aponta cinco caracteristicas da fé cristã que norteiam a remenoração:
1. não estamos como fruto do acaso ou da necessidade, Deus de amor criou cada um de nós.
2. não estamos no mundo simplesmente para lutarmos pela nossa sobrevivência enquanto levamos uma vida que contém o mínimo de dor e o máximo possivel de prazer; Deus nos criou para vivermos com Ele e com os outros.
3. a humanidade não foi abandonada, Deus entrou na história humna e por meio de sua morte na cruz reconciliou definitivamente os seres humanos com Deus e uns com os outros.
4. Deus tornará nossa carne frágil, redimirá tudo, de modo que possamos desfrutar uns dos outros e de Deus em Deus.
5. Deus exporá a verdade sobre as injustiças, condenará cada ato de maldade e redimirá os malfeitores arrependidos bem como suas v´timas, reconciliando-os assim com Deus e uns aos outros.
.
.
4. Eu ferido, memórias curadas
.
"At any given time, we do not hear only the simple, solitary tone of the present; rather, in that present resonate many sounds of past actualities and future possibilities. This is how our present acquires depth" p. 73
.
"lembrar veridicamente é a primeira regra da remenoração salutar. Também sugeri que essa regra tem dois aspectos, um negativo e outro positivo. em seu aspecto negativo- não falar falsamente sobre o passado- a regra fornece um pressuposto indispensável para empregar as memórias como escudo em vez de empunhá-las como espada. Em seu aspecto positivo- falar com amor a verdade sobre o passado- a regra oferece instrumentos para relembrar que consertam relacionamentos abalados ou rompidos por causa das injustiças" p. 73
.
A diferença que Jesus faz neste mundo é apontada pelo autor como dupla para o benefício da memória: Ele nos dá uma nova identidade e abre novas possiblidades.
.
"Em vez de sermos definidos pelo modo como os seres humanos se relacionam conosco, nõs somos definidos pelo modo como Deus relacionar conosco. Sabamos que no fundo somos quem somos, na qualidade de indíviduos únicos que nos mantemos de pé em relação ao próximo e a uma cultura mais ampla, porque Deus nos ama- a tal que na cruz Jesus Cristo, Deus encarnado, carregou nossos pecados e provou do nosso sofrimento" p. 85
.
.
.
5. Arcabouços de memórias
Memória Literal - Memória Exemplar
.
"Segundo Todorov, a caracteristica central da memória literal é seu foco no indivíduo ou no grupo envolvido na rememoração. Procuramos relembrar a fim de reconstruir uma narrativa plausível da injustiça que sofremos, a fim de entender o que aconteceu e por que, compreender seus efeitos em nossa vida, condenar os culpados e, por meio de todas essas atividades, recuperar a saúde psíquica ou social e estabilizar nossa identidade. A preocupação básica da memoria literal é o nosso próprio bem estar" (p. 93) Já a memória exemplar vai além do nosso bem estar, busca ajuda no passado para aplicar em situações novas, com vista não só ao nosso benefício, mas ao do outro.
.
"Every celebration of holy communion is an event of memory, it is conducted in remebrance of Jesus Christ, of waht he has done and of waht he will do. Four formal features shared by memories of Exodus and Passion are important to note before we examine the content of these memories and its bearing on our everyday memories, especially those of wrong suffered: identity, community, the future and God" p. 97
.
A memória define a identidade, ser judeu é lembrar do Exodo, ser cristão é lembrar-se da Paixão de Cristo- sua morte e ressureição.
.
"Todas as memórias são comunitárias", citando Maurice Halbwachs, Miroslav Volf diz que isto não quer dizer " comunidade como sujeito coletivo se lembra, ou que os indivíduos não são sujeitos autênticos do atributo da memória, pelo contrário, sua idéia principal é que os indivíduos não se lembram sozinhos, mas como membros de um grupo. É numa sociedade (ou num grupo, tal como a família, ou uma comunidade tal como uma igreja) que as pessoas normalmente adquirem suas memórias. é também numa sociedade que elas evocam, reconhecem e localizam suas memórias"(p. 103). É por isto que a Santa Ceia, que é quando os cristãos a celebram por meio da leitura da Escritura, narrando a história de Cristo, cantando hinos de louvor, orando, comendo do pão e bebendo do vinho, eles não evocam simplesmente a Paixão de Cristo- narram ritualmente a morte e ressureição de Cristo como acontecimentos que eles mesmos estão envolvidos de modo extremamente íntimo. Na rememoração de Cristo, eles rememoram a si mesmos como parte de uma comunidade do povo que morreu e ressucitou com cristo e cuja identidade essencial consiste na união espiritual com Cristo. Eles relembram a história de Cristo não apenas como a história dele, mas também como a história deles e, num sentido limitado, mas significativo, a história de todos os seres humanos" (p.102-103).
.
"a memória do Exodo e da Paixão não é em primeiro lugar a memória de um nobre exemplo de vitória humana sobre o sofrimento e a opressão. É primeiramente a memória da intervenção de Deus em benefício da humanidade" p.105 (...) lembrando também que a memória sagrada não é apenas um espaço da experiência - o passado que se faz presente na memória-, mas também um horizonte de expectativa- o futuro que se faz presente nessa mesma memória-.
.
"O que quer que façamos sempre agimos dentro de um arcabouço que engloba pelo menos quatro componentes: uma noção de 1. quem somos, 2. o lugar a que pertencemos, 3. o que esperamos e 4. em que ou em quem em última análise confiamos" (p.106)
.
.
6. A memória do Êxodo e da Paixão
.
A memória do Exôdo contém duas liçlões: "a primeira é a da libertação, agir em benefício dos fracos e oprimidos extamente como Deus agiu em teu favor quando tu eras fraco e oprimido. A segunda é a lição inflexível da justiça retributiva - opor-se aos opressores e puni-los exatamente como Deus se opos e puniu aqueles que te oprimiram"(...) "Num mundo injusto e violento, a libertação dos oprimidos exige luta intransigente contra os opressores- ou algo semelhante, sugere a memória do Exodo". (p.111)
.
A história do Exôdo é a de um povo específico, escolhido e liberto por Deus. A da Paixão, é a historia de uma unica pessoa, Jesus Cristo, escolhido por Deus, para a salvação da humnidade. A memória da Paixão compartilha com a memória do Exôdo, sofrtimento e libertação, busca a lembrança das injustiças para que se possa no futuro salvar outros das futuras injustiças, nas histórias há o mesmo Deus redentor e salvador, que ajuda os oprimidos, contudo, ela partilha da mesma fraqueza do Exôdo, como estas memórias podem ajudar num mundo irremediavelmente injusto???
.
"A memória sagrada da Paixão será imperfeita se contiver apenas o binômio sofrimento/libertação. Ela também deve incluir o binômio mais importante: inimizade/ reconciliação" p. 118
.
"Como substituto Cristo pode remover dos malfeitores a culpa de seu pecado, mas ele não distorce nem ignora o pecado em si. Mas ainda, às vítimas Cristo oferece a sua própria presença salvadora. Ele protege o eu do sofredor para que a injustiça não penetre no amâgo da identidade dele nem determine suas possibilidades. Ele promete que a vida do sofredor conseguirá a integridade, possa ou não a injustiça sofrida assumir algum significado. E Cristo, que pelo Espírito está presente nos sofredores, lhes confere poder de imitar a Deus tanto amando os malfeitores quanto lutando contra a injustiça. A memória da Paixão é uma memória que devolve os injustiçados a si mesmos como filhos estimados de Deus com a capcidade de imitar a Deus ao seu próprio modo humano" p. 120
.
"Em resumo, sendo que Cristo identificou-se com os injustiçados e tomou sobre si o fardo da maldade, a memória da Paixão antecipa a ressureição da morte para uma nova vida tanto para os injustiçados quanto para os malfeitores. Mas, sendo que ele também os reconciliou na sua própria carne na cruz, a memória da Paixão também antecipa a formação de uma comunidade reconciliada mesmo a partir de inimigos mortais (...) Essa comunidade é extamente o que nós comemoramos na Santa Ceia. De máxima importância para o rito é a solidariedade de Deus com cada ser humano e reconciliação de cada um com Deus (...) No banquete da ceia lembramo-nos uns dos outros como aqules que estão reconciliados com Deus e entre si. Noso passado, marcado pela inimizade, cedeu lugar a um futuro marcado pelo amor. Relembrando a Paixão de Cristo, relembramo-nos de nõs mesmos como aquilo que seremos -membros de uma comunhão de amor, composta de malfeitores e injustiçados" p. 121
.
“Quando rememoramos a Paixão, rememoramos o que Deus fez por toda a humanidade, pelos injustiçados bem como pelos malfeitores. Exatamente como acontece com a memória do Exôdo, a memória da Paixão evoca atos divinos como exemplares e demonstra de que modo Deus liberta e confere a humanidade poderes para imitá-los. Por meio da morte de Cristo, Deus visa libertar-nos da preocupação centrada exclusivamente em nos mesmos e, por meio da presença do espírito Santo dentro de nós, nos confere poderes para estender a mão aos outros num gesto de boa vontade, mesmo em relação aos que nos ofenderam” 122
.
"Aos pés da cruz eu posso aceitar uma visão diferenciada tanto de mim mesmo quanto de meu malfeitor - uma visão não esquematizada pela nítida polaridade da luz de um lado e das trevas do outro lado, assim, eu posso agir de acordo com a verdade, quer isso me acuse, quer isso me justifique" p. 126
.
"A cura pessoal já não é um problema particular de um indivíduo; já não é um processo que acontece internamente, sem referência ao malfeitor ou à comunidade mais ampla a qual o indivíduo pertence. A remenoração da Paixão traz cura para vítimas, certamente, mas a cura na comunidade e com os malfeitores, não em detrimento deles" p. 127
.
.
TERCEIRA PARTE
Por quanto tempo devemos lembrar?

.
.
7.Rio da memória, rio do esquecimento
"O esquecer-se não é uma fuga do que é imperfeito ou insuportável. É um subproduto do apego ao que é perfeitamente bom , mais precisamente, um subproduto do apego ao bem pela pr´pria ação de Deus sobre a alma. O esquecer-se do mal está a serviço do lembrar-se do bem, e lembrar-se do bem é a consequência de estar absorto em Deus, o fim de todos os desejos" p. 141
"Ser humano é ser capaz de lembrar . É simples assim: se não há nenhuma memória, não há identidade humana" p. 146



8. Defensores do esquecimento


O autor diáloga com très outros defensores do esquecimento: Freud, Nietzche e Kierkegaard. Levanta pontos comuns e distanciamentos com sua visão e as dos três:
Sobre Nietzche :
O autor alemão levanta quatro formas de esquecer, que em termos freudianos, são altamente motivadas, elas são mais uma fuga do negativo do que o fruto de um apego ao positivo.
O primeiro sentido seria histórico, "os seres humanos estão interessados na história porque eles atuam no mundo, porque desejam vencer, e porque sofrem e anseiam por libertação".Assim, a história servirá para a vida, o historiador verá o passado, e enfocará o que lhe parecer relevante, então, esta dedicação limita o horizonte, esquecendo-se.
O segundo tipo é o antropológico, que é uma caracteristica da vida humana fundamental: a capacidade humana de lembrar-se exige o esquecer. "para viver e ser capaz de lembrar (aquilo que, por convenção, é passado), é preciso esquecer (tanto o que foi quanto o que é imediatamente presente)"... "um sujeito não poderia ser ele mesmo se não se lembrasse de nada, assim também não poderia ser ele mesmo se não se esquecesse de nada. Exatamente como um sujeito não poderia agir intencionalmente sem lembrar, assim ele não poderia agir intencionalmente sem esquecer. Se não for parcialmente esquecido, o passado torna-se coveiro do presente"(p. 156)
O terceiro modo é o eudemonístico, "o esquecer é uma condição da felicidade, da capacidade de tanto de sentir-se feliz quanto de fazer outros felizes" (p. 157)
"Sendo que só posso perdoar se alguém cometeu uma transgressão contra mim, o perdão exige uma boa dose de clareza sobre justiça. Eu preciso saber identificar a injustiça, ter uma noção se sua extensão e atribuir uma porção adequada de culpa antes de poder perdoar de modo mais adequado. Mas é impossível adquirir clareza sobre a injustiça, argumentava Nietzche. Então perdoar também é impossível" p. 159



Sobre Soreen Kierkegaard:

Para este os seres humanos precisam aprender se mover dentro das duas correntes, se lembrar e se esquecer, ele "sugeriu que parte alguma da vida deveria ter para alguém tanto significado que esse alguém não possa esquecer-se dela a qualquer instante que o queira; em contrapartida, cada uma das partes da vida deveria ser tão significativa para uma pessoa a ponto de esta poder lembrar-se dela a qualquer momento" (p. 160)
...
Ele então discute o que o amor faz com os pecados, estabelecendo que "o amor cobre os pecados basicamente de três modos. O primeiro é não os enxergando- mantendo-se, num certo sentido, cego diante deles; os olhos do amor são caridosos e hesitam quando se trata de ver o pecado, mesmo onde ele está presente. Segundo, os pecados que o amor vê, ele os esconde ou no sliêncio, com uma explicação atenuante, ou com a própria ajuda do perdão. Terceiro, o amor cobre os pecados impedindo que eles aconteçam..." Então, Miroslav Volf cita Kierkegaard:
.
"Ficar em silêncio de fato não retira nada da multidão dos pecados, geralmente conhecida. A explicação atenuante subtrai alguma coisa da multidão mostrando que isso ou aquilo não era nenhum pecado. O perdão remove o que não pode ser negado como pecado. Assim, o amor luta de todas as maneiras para cobrir multidão de pecados; mas o perdão é o modo mais notável" (p. 161)
.
Porque " o pecado é apagado, é perdoado e esquecido, ou, como dizem as Escrituras acerca de algo que Deus perdoa, fica encoberto atrás das costas de quem perdoa. Mas é claro que o indivíduo não ignora o que foi esquecido, pois só se pode ignorar o que não se conhece ou nunca se conheceu; o que se esqueceu também se conheceu. Esquecer nesse sentido mais elevado não é, portanto, o contrário de lembrar, mas sim de esperar. Esperar é criar pelo pensamento, esquecer é, pelo pensamento, subtrair daquilo que, todavia, existe, apagá-lo...O esquecer, quando Deus o faz em relação ao pecado, é o contrário de criar, pois criar é tirar do nada e esquecer é levar de volta ao nada. O que está oculto aos meus olhos, isso eu nunca vi; mas o que está escondido atrás das minhas costas, isso eu já vi. Quem ama perdoa dessa maneira: perdoa, esquece, apaga o pecado, em amor se volta para aquele a quem perdoa, mas quando se volta para ele, não pode obviamente ver o que está escondido atrás de suas costas. É fácil entender que é impossível ver o que está atrás das costas de alguém, por isso, também essa metáfora foi adequadamente inventada pelo amor; mas, em contrapartida, talvez seja muito difícil tornar-se aquele que ama e, com ajuda do perdão, pôe a culpa, mesmo que se trate de um assassinato, na consciência de outra pessoa, mas, a guisa de perdão, colocar a culpa atrás de outro atrás das costas - isso é dificil , Mas não para quem ama, pois quem ama cobre uma multidão de pecados"
...
"Kierkegaard parece confuso. Se banirmos do amor a preocupação com a justiça, como ele faz, então o perdão e o arrependimento continuarão em contradição- o primeiro, seguindo os ditames do amor, libera da culpa permitindo que ela desapareça da memória, e o segundo, seguindos os ditames da justiça, atém-se a culpa" p. 167





9. Redenção: harmonizar e expulsar




"Minha tese na terceira parte deste livro é simples: memórias de injustiças sofridas não virão à mente dos cidadãos do mundo porvir, pois lá eles desfrutarão perfeitamente de Deus e de uns dos outros em Deus" p. 169




"Para que a graça aconteça, dois elementos são essenciais: os pecados cometidos contra Deus e contra o próximo devem ser trazidos à luz em sua total magnitude, e os pecadores devem ser libertados da culpa e transformados" p. 171




"Esse é o meu entendimento do mundo do porvir - uma dança de amor no abraço do Deus triuno, com amor livremente dado, livremente recebido e sem nunca se exaurir. Para que esse mundo aconteça, não bastará que os mortos sejam ressuscitados, mas também será preciso que o Juízo Final exponha os pecados e redima as pessoas e que os redimidos se recebam uns aos outros num mútuo abraço final de amor. E a minha esperança é que as injustiças sofridas não venham à mente nesse mundo que dessa maneira passou a existir" p. 173




"Nem todas as injustiças sofridas são desprovidas de sentido. Acima de tudo, o sofrimento que assuminos por amor aos outros não é sem sentido, por definição, ele está carregado de sentido positivo" p. 180




"Hoje em dia muitos argumentam que a cruz é um acontecimento eterno em Deus. Eu não acho que seja. A afrimação do Novo Testamento de que Cristo era o cordeiro que foi morto desde a criação do mundo ( ap. 13,8) significa que ele esta destinado desde a eternidade a ser crucificado no tempo, não que ele foi crucificado desde a eternidade. Se Cristo nãoi era o Crucificado antes da criação , por que ele deveria continuar sendo o Crucificado depois que a redenção estiver completa e irrefutavelmente assegurada no mundo porvir? Por que o REssuscitado tras as marcas da crucificação? Contra esse pressuposto, muitos grandes teólogos acreditaram que depois da ascensão (Martinho Lutero e João Calvino) ou depois da Segunda Vinda( aparentemente Cirilo de Alexandria) o corpo de Cristo não traria as marcas de suas feridas


(...)


Nós nos relacionamos com o Cristo crucificado na medida em que estamos conquistando a redenção. Assim que houvermos sido redimidos de forma inalterável, su morte será engolida juntamente com o nosso pecado em sua própria vida divina como um dos três santos que são o único santo


(...)


A cruz de Cristo é, mais propriamente, um estágio no caminho para ressureição e exaltação e finalmentee para aquela libertação divina do sofrimento da rebeldia humana que ocorrerá com a completa e irrevogável redenção divina da humanidade- um estágio que pode ser abandonado no passado mesmo que suas consequências durem eternamente. Então, nós, participantes da glória de DEus, amaremos a Deus por ser ele que é, não por aquilo que ele fez por nós, pecadores e sofredores" p. 181-182
.
.
.
10. Arrebatados na bondade
.
"Sendo que as identidades narrativas são sempre conferidas a posteriori - depois que os fatos aconteceram - e de um ponto de vista particular, o esquecer é um aspecto essencial do trabalho da remenoração formadora da identidade" (p. 186)
.
O autor fala da memória no sentido de não vir a mente, a possibilidade de contar uma história de modo diferente pressupõe que o indivíduo pode acessar memórias diferentes daqyelas usadas na construção de sua história individual, como ele explica na nota.
Continua, citando Aleida Assmann que distingue memória funcional- formadora da identidade- e memória registrada- uma massa amorfa de memórias soltas e não usadas cercando a memória funcional- Assim, sendo as novas configurações de memória fazem uso desta memória registrada, então a memória funcional forma a identidade com seletividade, isto é, esquecendo-se.
O ponto é que nem tudo que há na memória precisa ser lembrado para que possamos manter a nossa identidade, "nossos eus não diferem daquilo que os pensadores pos-modernos dizem que são dispersos em toda a sua centralidade, descontínuos em todas as continuidades, fracionados apesar de todas as tentativas de nos tornamos corentes, e sempre em mutação, emobra claramente sendo sempre os mesmos. E a memória é o centro de todas esssas tensões pulsantes de nossos eus vitais" (p.188).
.
Como isto se relaciona com a vida oculta em Deus?
Sendo a nossa identidade feita e refeita a partir dos fragmentos recolhidos, a não-lembrança das injustiças sofridas não violará nosso senso de identidade.
.
"um cristão não vive em si mesmo, mas em Cristo e no próximo. CAso contrário, ele não é cristão. Ele vive em Cristo pela fé, no próximo pelo amor. Pela fé ele é arrebatado para além de si mesmo em Deus. pelo amor ele desce ao nível do próximo. No entanto, ele sempre permanece em Deus e em seu amor" Lutero na p. 188
.
"O essencial de nossa identidade não está em nossas mãos, mas nas mãos de DEus. Somos nós mesmos, no sentido mais próprio das palavras,porque Deus está em nós e nõs em Deus. Sem dúvida, o que nós e os outros inscrevemos em nossa almas e no corpo nos marca e ajuda a moldar quem somos. Todavia, isto não tem poder para nos definir. O amor de Deus por nós,na verdade, presença de Deus em nós e o fato de sermos arrebatados para além de nõs mesmos e colocados em Deus nos define de modo mais fundamental como seres humanos e indivíduos" p. 189
.
Isto tudo pode soar estranho a mentalidade moderna, que entende que quanto mais memória do passado maior a identidade pessoal, contudo haveria um encolhimento do eu no arrebatamento?
Miroslav Volf acredita que não, que seguindo Lutero:" Realizado e protegido e satisfeito na vida divina, o eu pode renunciar-se a si mesmo e suas memórias de injustiças sofridas e culpa contraída. Contudo, ele não permanece simplesmente com o seu Deus. Se, está verdadeiramene em Deus pela fé, estará no próximo pelo amor, argumenta Lutero, porque Deus é amor. Esse eu age como Cristo em relação ao próximo- perdoa as transgressões e abraça o próximo no amor(...) Deus não retia nosso passado; Deus no-lo devolve- fragmentos recolhidos, histórias reconfiguradas, eus verdadeiramente redimidos, pessoas para sempre reconciliadas. " (p.191)
.
Quanto a justiça, o autor diz que a renúncia a memórias não são atos unilaterais, nem mesmo o perdão o é. Embora, seja dado incondicionalmente, é uma dávida que precisa ser recebida, eu preciso receber perdão para ser perdoado. Quanto justiça, só faz sentido se a vítima tiver sido redimida e o perpetrador estiver transformado, e assim, o relacionamento deles estiver reconciliado. A memória não serve apenas a justiça, mas a justiça e a memória servem para a reconciliação. (p. 194-5).
.
.
"Um mundo porvir que preservasse viva a memória de todas as injustiças sofridas - e não epanas de perversidades horrendas- não seria um lugar de rostos radiantes voltados para o alto, mas um lugar de olhares deprimidos e envergonhados, nao um lugar de deleito mútuo, mas um lugar envolto na névoa de uma profunda tristeza" p. 202
.
.
"A razão da nossa não-lembrança de injustiças será a mesma que foi sua causa. Nossa mente será arrebatada na bondade de DEus, na bondade do mundo novo de Deus, e as memórias de injustiças irão secando como plantas sem água" p. 203.
.
.
.
Pós-escrito: Uma reconciliação imaginada
fontes:
Eerdmans, 2006.
Mundo Cristão, 2009.

Um comentário:

Daniel disse...

Volf está na minha lista. Estive com ele em mãos hoje e adiei a aquisição. Preciso ler o que já comprei primeiro. N. T. Wright cita o autor no seu livro O Mal e Justiça de Deus. O que achou da obra?