Em menos de 10 minutos, o vídeo ergue um monumento ao jornalismo de verdade e, simultaneamente, escancara a grandiosa pequenez de um farsante. Repórter da Rádio França Internacional, a jovem venezuelana Andreina Flores precisou de 1 minuto e 39 segundos para emparedar o presidente Hugo Chávez com a interrogação que inquieta os democratas do mundo inteiro. Se o governo ganhou as eleições parlamentares por uma diferença ligeiramente superior a 100 mil votos, como pôde instalar no Congresso uma bancada que tem 37 integrantes a mais que a formada pela oposição? A distorção não seria fruto das mudanças introduzidas por Chávez no sistema eleitoral às vésperas da votação, concebidas para impedir que as urnas traduzissem efetivamente a vontade popular?
Clara, concisa, corajosa, Andreina disse tudo o que o embrião de ditador não queria ouvir. A apresentação de Chávez ocupa os 7 minutos e 58 segundos restantes. Mistura piadas infelizes, grosserias, sorrisos artificiais, frases truncadas, falácias, provocações, alusões preconceituosas, truques de quinta categoria. Tudo, menos argumentos com pé e cabeça. Sentada na primeira fileira, sem arrogância e sem medo, Andreina continua à espera da resposta que não virá.
O rei Juan Carlos desmoralizou o bufão bolivariano com a célebre ordem para calar-se. A jornalista venezuelana desmoralizou-o ao exigir que falasse.
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