sexta-feira, setembro 03, 2010

James K.A. Smith: Mais Desejando o Reino.

 

Pequeno resumo Desiring the Kingdom: Worship, Worldview, and Cultural Formation  - na edição Kindle.

O livro de James K.A. Smith segue conforme o próprio autor, outros livros, tais como Engaging the World de Plating e Transforming Vision de Walsh. Busca dar uma resposta à carência de uma visão cristã de mundo.

 

Logo na introdução, o autor faz uma pegadinha com seu leitor, faz uma descrição de um shopping, que nos engana em algumas vezes, achamos que se tratava de uma igreja. Na verdade, ele já começa a estabelecer seu princípio do homem como um ser litúrgico e o shopping center como umas das liturgias disponíveis e construídas por ele:

The large glass atriums at the entrances are framed by banners and flags; familiar texts and symbols on the exterior walls help foreign faithful to quickly and easily identify what's inside; and the sprawling layout of the building is anchored by larger pavilions or sanctuaries akin to the vestibules of medieval cathedrals.  (…) 

For the seeker, there is a large map-a kind of worship aid-to give the novice an orientation to the location of various spiritual offerings and provide direction into the labyrinth that organizes and channels the ritual observance of the pilgrims….

This is a gospel whose power is beauty, which speaks to our deepest desires and compels us to come not with dire moralisms but rather with a winsome invitation to share in this envisioned good life.

And it is a mode of evangelism buoyed by a transnational network of evangelists and outreach, all speaking a kind of unified message that puts other, fractured religions to shame. If unity is a testimony to a religion's truth and power, it will be hard to find a more powerful religion than this catholic faith.

We are greeted by a welcoming acolyte who offers to shepherd us through the experience, but also has the wisdom to allow us to explore on our own terms.

this is a religion of transaction, of exchange and communion. When invited to worship here, we are not only invited to give; we are also invited to take. We don't leave this transformative experience with just good feelings or pious generalities, but rather with something concrete and tangible, with newly minted relics, as it were, that are themselves the means to the good life embodied in the icons who invited us into this participatory moment in the first place.

we can at once appreciate that the mall is a religious institution because it is a liturgical institution, and that it is a pedagogical institution because it is a formative institution.

The pedagogy of the mall does not primarily take hold of the head, so to speak; it aims for the heart, for our guts, our kardia. It is a pedagogy of desire that gets hold of us through the body.

 

Se o shopping é como uma igreja e sua extensão é a televisão e os anúncios publicitários, que oferecem uma litúrgia diária, quais seriam as medidas de contra-ataque da igreja?

 

Mais adiante, o autor começa a estabelecer o modo como ele enxerga o ser humano

Because our hearts are oriented primarily by desire, by what we love, and because those desires are shaped and molded by the habit-forming practices in which we participate, it is the rituals and practices of the mall-the liturgies of mall and market-that shape our imaginations and how we orient ourselves to the world.

E o ponto principal do seu livro:

The core claim of this book is that liturgies'-whether "sacred" or "secular"-shape and constitute our identities by forming our most fundamental desires and our most basic attunement to the world. In short, liturgies make us certain kinds of people, and what defines us is what we love.

A educação aparece aqui como uma constelação de práticas, rituais e rotinas que inculcam uma visão particular de boa vida inscrevendo ou infundindo esta visão dentro do coração – do gosto – por práticas materiais, corpóreas. O autor rejeita a idéia iluminista baseada na razão, ele diz que nós somos essencialmente animais de desejo ao invés de apenas coisas pensantes, e ele conclui que isto constitui nossa mais profunda identidade.

Mais especificamente, nossa identidade é moldada pelo que nós amamos sobretudo ou que nós amamos como o mais importante, o que faz a gente ser o que somos, o tipo de pessoas que somos é o que nós amamos. Mais especialmente, nossa identidade é formada pelo que nós amamos sobretudo o mais ou o que nós amamos de verdade, aquilo que no fim do dia, nos dá sentido de vida, propósito, entendimento e orientação para ser alguma coisa no mundo.

Pensando no aspecto educacional, se considerarmos dois tipos diferentes de entendimento sobre educação- o informativo ou o formativo-, e os diferentes tratamentos sobre o que é a pessoa humana, elas não acompanham esta definição do ser humano. O resultado tem sido um entendimento na educação em favor da informação, mais especificamente, no fim, a educação cristã acaba se tornando uma disseminação e comunicação de idéias cristãs mais do que a formação de pessoas.

Segundo o autor, isto reduz a fé cristã, primeiramente, a um conjunto de idéias, princípios e proposições que devem ser conhecidas e acreditadas. O objetivo é ter de tudo isto um pensamento correto. Contudo…

 

Being a disciple of Jesus is not primarily a matter of getting the right ideas and doctrines and beliefs into your head in order to guarantee proper behavior; rather, it's a matter of being the kind of person who loves rightly-who loves God
and neighbor and is oriented to the world by the primacy of that love. We are made to be such people by our immersion in the material practices of Christian worship-through affective impact, over time, of sights and smell in water and wine.
Loc. 331-34

 

Neste sentido, o autor continua dizendo que antes de nós teorizarmos sobre a natureza de Deus, nós cantamos louvores a Ele. Antes que expressamos os princípios morais, nós recebemos perdão. Antes mesmo de codificarmos a doutrina de Cristo em duas naturezas, nós recebemos o corpo de Cristo na Eucaristia. Antes de nós pensarmos, nós oramos. Este é o tipo de animais que somos, segundo o autor, primeiramente e antes de tudo: animais amorosos, desejosos, afetivos e litúrgicos que, na maior parte do tempo, não habitam o mundo como pensadores e máquinas cognitivas.

Prosseguindo, um entendimento distorcido de visão de mundo que domina os modelos correntes assume um modelo racionalista, intelectualista e cognitivo da pessoa humana. E isto, conforme o autor, erra o alvo porque perde de vista o fato que nós somos corpóreos, materiais, que somos fundamentalmente animais de desejo, quer reconhecemos isto ou não- e talvez, muitos não nos reconhecemos assim- todos os dias estamos sendo formados pelas litúrgiais materiais ou outras pedagogias- seja num shopping, num estádio, na televisão, assim por diante.

Aqui, o autor me lembra o pensamento de Timothy Keller e C.S.Lewis- o sentido de que somos formados pelo desejo- e de Rene Girard – no sentido da própria formação social em torno do desejo-.

Desenvolvendo o ponto das litúrgias materiais e o fracasso idealista cristão, ele evoca a Starbucks, que pega nosso coração através de uma tangível, material litúrgia e as escolas cristãs que lutam de volta dando aos jovens cristãos idéias cristãs. O autor diz que temos posto aos  crentes novos e velhos dando a eles,  uma cosmovisão cristã e, então, dito a eles que devem guardar isto. Contudo, estas estratégias buscam a cabeça e perdem o alvo verdadeiro: nossos corações, nossos amores, nossos desejos. A educação cristã deve ser uma formação das necessidade tal como uma pedagogia do desejo.

Sobre esta pedagogia o autor continua dizendo que se o aprendizado cristão é alimentado por uma cosmovisão cristã, e esta cosmovisão é em primeiro e sobretudo carregada pelo entendimento que está implícito nas práticas de adoração cristã, então a classe do colégio cristão é uma parasita em relação ao louvor da igreja- isto acaba com a capacidade da adoração cristã.

"theology of culture" (or, more generally, a Christian cultural theory) that
• Understands human persons as embodied actors rather than merely thinking things.
• Prioritizes practices rather than ideas as the site of challenge and resistance.
• Looks at cultural practices and institutions through the lens of worship or liturgy
• Retains a robust sense of antithesis without being simply "anticultural
."
Loc. 371-73

 

Por trás de toda pedagogia está uma antropologia filosófica, isto é, implícito em toda constelação de práticas educacionais há sempre um conjunto de pressuposições sobre a natureza humana. O autor nos convida então a vislumbrar o que está implicado nestas escolhas, a enxergar além do aparente. Nos chama a repensar nosso relacionamento com a adoração e a visão de mundo, refletindo sobre a conexão que existe entre liturgia, aprendizado e formação.

A educação é um esforço holístico que envolve a pessoa inteira, incluindo nossos corpos, num processo de formação que visa nossos desejos, dá primazia à nossa imaginação e nos orienta no mundo- tudo isto antes mesmo de nós começarmos a pensar a respeito disto.

Pensando sobre os pressupostos em antropologia filosófica sobre que seria a natureza humana e as implicações na liturgia-aprendizado-formação, o autor chega a René Descartes, que conclui que eu sou uma coisa pensante, em outras palavras, o que eu sou é uma mente essencialmente imaterial ou uma consciência- que ocasionalmente e temporariamente está incorporada, mas não essencialmente.

Este retrato racionalista foi absorvido pelo Protestantismo cristão- seja liberal ou conservador- que tende a operar com um quadro excessivamente cognitivista da pessoa humana e, portanto, tende a estimular uma visão altamente intelectualista do que significaria ser ou se tornar um cristão.

Numa resposta a esta visão, de que ser cristão seria uma concordância a um sistema intelectual, o autor caminha por outra estrada, para ele, antes de sermos pensadores, nós somos crentes; antes de nós podermos ofertar explanações racionais sobre o mundo, nós temos, desde pronto, assumido uma toda constelação de crenças- uma visão de mundo- que governa e condiciona nossa percepção do mundo.

Citando Hauerwas, ele conclui, que quando o cristianismo é colocado dentro de um sistema de crenças, ele é reduzido a algo disponível sem a mediação da igreja. Então, enquanto a pessoa como um modelo de crente, a pessoa humana não é um cérebro numa cuba, e nem a igreja pode ficar parecendo uma ilha isolada e desencarnada de crenças.

Pensando sobre o dinamismo corpóreo e volátil  da pessoa em termos de comparação, Smith diz que a pessoa humana é um tipo de criatura que nunca poderá ser capturada numa foto, nós precisamos de um vídeo para dar justiça ao seu dinamismo.

 

O autor continua esta idéia de dinamismo mental, nunca podemos pensar o pensamento em si só, e lembrando da fenomenologia de Edmund Husserl, o autor conclui que a consciência é sempre a consciência de um algo… Indo adiante neste caminho, o autor lembra que para Heidegger, nós podemos talvez dizer que eu não penso meu caminho através do mundo, eu sinto o caminho ao redor dele.  Concluindo, ser humano é amar, e o que amamos é o que define quem somos.

O autor continua dizendo, que está falando sobre amores definitivos, aqueles que nós orientam fundamentalmente, aqueles que sobretudo orientam nossa visão sobre a boa vida, aqueles que moldam e formam nosso ser no mundo em outras palavras, aqui se aproximando do existencialismo de Heidegger.  Aquilo que desejamos acima de tudo, o desejo final que configura e posiciona e faz sentido para todos os penúltimos desejos e ações.

 

Our ultimate love is oriented by and to a picture of what we think it looks like for us to live well, and that picture then governs, shapes, and motivates our decisions and actions. loc. 562

 

Assim, amplificando este desejo, o autor conclui que ser humano é desejar o reino, ou alguma versão do reino, que é o alvo de uma jornada. Isto é, nós somos fundamentalmente criaturas de desejo ou amor e este amor é sempre orientado para uma visão derradeira da boa vida, um retrato do reino que incorpora uma imagem particular do florescimento humano.

Esta caminhada, deve ser entendida como práticas que são comunitárias ou sociais. Não existe práticas privadas, ao invés, as práticas são produtos sociais que advém de uma base institucional como sua expressão.  Ainda, um “telos” é sempre embutido nestas práticas e instituições. Isto é, existe uma relação íntima e indissolúvel entre o “telos” para o qual estamos sendo orientados e as práticas que estão a nos moldar nesta direção.

As pessoas humanas são criaturas intencionais cuja forma fundamental de intenção com o mundo é amor ou desejo.

 

Deste modo, segundo o autor, a o foco da cosmovisão cristã como um sistema de crenças e doutrinas marginaliza ou ignora a centralidade distintiva das práticas cristãs, que constituem a adoração, que é sem dúvida, para ele, a coisa mais importante que os crentes fazem.

Voltando a visão da  cosmovisão atual em si, este foco nas crenças é desatento com a significância pedagógica das práticas materiais, uma abordagem centrada no cognitivo exibe uma fixação na região cognoscitiva, um tipo de visão de tunel que é estreitamente focada na mente.

 

O papel do imaginário,  o imaginário muda o centro da gravidade da região cognitiva das idéias para uma região mais afetiva, que é mais próxima do corpo, como seria, já que a imaginação fornece energia para o corpo. Continua o autor, mostrado que  um imaginário social não é como nós pensamos sobre o mundo, mas como nós imaginamos o mundo antes mesmo de pensar sobre ele. Assim, o imaginário social é formado das coisas que fundam a imaginação- estórias, mitos, imagens e narrativas.

Assim, segundo Smith, o imaginário social é um entendimento do mundo afetivo, não-cognitivo. E é descrito como um imaginário- ao invés de uma teoria- porque está carregado pelas coisas da imaginação ao invés do intelecto.

I suggest that instead of thinking about worldview as a distinctly Christian "knowledge," we should talk about a Christian "social imaginary" that constitutes a distinctly Christian understanding of the world that is implicit in the practices of Christian worship. Discipleship and formation are less about erecting an edifice of Christian knowledge than they are a matter of developing a Christian know-how that intuitively "understands" the world in the light of the fullness of the gospel. loc. 751-754

Levando adiante estas causa e consequências, na relação entre imaginação e pensamento, o autor diz que se os seres humanos operarem com um imaginário social bem antes de eles entrarem no negócio da teorização cognitiva, então por analogia nós poderiamos dizer que os seres humanos são religiosos muito antes deles desenvolverem uma doutrina teológica, e para a maioria das pessoas, a devoção religiosa raramente é uma questão de teoria.

Refletindo a respeito, o autor conclui que o cristianismo é um imaginário social único que habita e emerge da matriz da pregação e oração, sendo que os ritmos e rituais da adoração cristão não são expressões de uma cosmovisão cristã, mas são em si mesmos um entendimento implícito na prática- um entendimento que não pode ser colocado a parte de suas práticas. O entendimento implícito na prática não pode apenas ser simplesmente identificado com algumas idéias, crenças ou doutrinas que tendem ser correntes na conversa sobre a cosmovisão contemporânea.

A destilação da cosmovisão cristã em termos de criação-queda-redenção e consumação não pode compreender adequadamente o que entendemos quando nós participamos da comunhão e comemos o corpo de Cristo, partido para a renovação de um mundo destruído.

 

What we do (practices) is intimately linked to what we desire (love), so what we do determines whether, how, and what we can know. (loc. 773)

 

As práticas que são parte e parcela das instituições culturais desejam apontar para nosso desejo através de certas finalidades por causa das orientações que estão inscritas nas crença da instituição em si. Nós somente conseguimos ler adequadamente nossa cultura, quando nós reconhecemos uma operação ali, uma série de liturgias que funcionam como pedagogias do desejo.

"renews nature, if only for a moment; it flashes for a moment into the lover the life he was meant to possess"'

 

Nosso modelo desejante, por assim dizer, ou nossa teologia romântica tem enfatizado que nós somos criaturas que amamos antes de tudo e sobretudo, a maneira mais básica que nós significamos no mundo é através da ordem afetiva do amor, segundo Smith. Continuando, todos os hábitos e práticas estão, por último, tentando nos fazer um certo tipo de pessoa. Então, uma das questões mais importantes que nós precisamos perguntar é: simplesmente, qual tipo de pessoa é que este hábito ou prática está tentando produzir e para qual objetivo, esta prática tem por finalidade?

Sobre a operação, o autor, distingue as liturgias como rituais das preocupações máximas: os rituais que são formativos da identidade, por que inculcam certas visões particulares do que seria a boa vida, e então de uma forma em que a liturgia  signifique um trunfo sobre os outros rituais de formação.

Nosso amor supremo é aquilo nos define, retomando o conceito do autor, é aquilo que faz de nós o tipo de pessoas que somos. Em resumo, é aquilo que adoramos. É uma outra forma de ver a coisa, em termos que nós tinhamos usado antes, conectando com as liturgias, podemos dizer que elas são práticas rituais que tem a função de uma pedagogia deste desejo supremo.

Indo adiante, podemos vislumbrar conforme Smith, que as liturgias seculares são formativas fundamentalmente, e está implícita nelas uma visão de reino que precisa ser discernida e avaliada. O pensador diz que da perspectiva da fé cristã, estas liturgias seculares (ou, secularistas) vão, por vezes, constituem-se como uma má formação do nosso desejo- levando nosso coração longe do Criador para algum aspecto da criação, como se isto pudesse ser Deus. Deste modo, as liturgias seculares  capturam nossos corações em pegar nossas imaginações e arrastando-nos para suas práticas rituais que ensinam-nos a amar alguma coisa.

Em contraposição, o louvor cristão e modo como a liturgia cristã funciona é como uma contra-formação a isto tudo. Isto irá ser mais claro, quando tivermos uma noção que a educação cristã deve operar como uma contra-pedagogia, segundo o autor.

Voltando mais uma vez, que imaginação precede pensamento, que desejo-amor vem antes do pensar. Em qual sentido a adoração precederia uma cosmovisão? Qual seria o retrato do reino que está embutido na liturgia cristã? Qual visão de boa vida está automatizada em nós quando nos participamos na adoração cristã? E como isto pode se comparar com as visões de despertamento humano implicitas em outras práticas culturais?

Um dos aspectos mais importantes desta teologia da cultura é, primeiramente, conforme Smith, um momento de reconhecimento: o reconhecimento das práticas culturais e rituais como liturgias. Nesta mesma linha, o autor busca entre desvelamento das práticas no livros apocalípticos da Bíblia, e completa que o ponto da literatura apocaliptica não é a predição, mas o desmascaramento, desvelamento das realidades em volta de nós para o que elas são realmente, então, a literatura apocalíptica é um gênero que tenta nós mostrar o mundo como  um plano, e nós mostra seu avesso.

Então,  liturgias ou práticas de adoração são rituais que tem a preocupação derradeira de formarem nossa identidade, ambas buscam refletir aquilo que importa para nós e moldar-nos para aquilo que nos concerne. Voltando ao shopping, podemos agora, conforme o autor, notar algumas coisas na versão comercial do reino: 1. há uma noção implícita de quebrantamento, parecida com o pecado, 2. uma configuração estranha de sociabilidade, 3. uma esperança de redenção no consumo e, 4. uma visão de florescimento humano (qualidade de vida) que é insustentável. Grandes marcas como Nike e Starbucks desejam forjar obrigações espirituais para seus consumidores, através da canalização do sentido que seu próprio pode responder as necessidades humanas mais básicas e primárias, ligando isto aos aspectos espirituais e sexuais, num misticismo centrado no produto.

O não desvelamento  destas coisas, é por isto que muitos cristãos não experimentam nenhuma tensão entre o evangelho segundo a América e o evangelho segundo Jesus, porque sutilmente e inconscientemente, as liturgias do nacionalismo norte-americano tem tido uma força tão significante na moldagem da nossa imaginação- Smith é estadounidense- que acabaram por triunfar sobre as outras liturgias. Neste evangelho segundo a América, enquanto Deus é invocado, na verdade, é para a bandeira e para a república que se está prometendo fidelidade, isto é, comprometendo-se a devoção e a lealdade.

Pensando nos E.U.A.,  a universidade é um instituição formativa e litúrgica, animada por rituais e liturgias que constituem uma pedagogia do desejo. Muitos erram ao achar que tanto o nacionalismo do exército ou do governo, ou as práticas de ensino, das instituições e universidades são neutras como pedagogias do desejo ou sem liturgias.

(…)

O que Jesus, conforme Smith, fez como Servo do Senhor não pode ser descrito como um fenômeno de  mera situação paralela, um termo que Hanson usa para deixar de fora uma referência típica. Ele está corretamente insistindo que a atividade do Senhor em si mesmo no Antigo Testamento não é meramente a atividade dele no Novo Testamento, contudo, as ações e papéis de Adão, Noé, Abraão, Isaque, Jacó, José, Moisés, Arão, Josué, Davi e o todo o resto não devem apenas ser colocadas de lado com a pessoa e obra de Jesus Cristo como performances  menos efetivas do mesmo tipo de serviço.  Cristo não é apenas exemplo, e nem os que o antecederam.

Se o discipulado cristão é entendido como uma formação de discípulos que desejam Deus e seu reino, então isto quer dizer que nós devemos ter um preocupação considerável com a formação das liturgias seculares. Não dá para encarar como neutralidade as coisas, devemos explorar o relacionamento entre a adoração e a visão de mundo cristã e considerar, sobretudo o aspecto fundamental da adoração cristã, que nós podemos chamar de sacramentalidade.

Conforme o autor, de acordo com este modelo, nós começamos com a Bíblia como uma fonte de nossas doutrinas e crenças e então aplicamos isto para nossas práticas de adoração, que são consistentes, e expressões, daquilo que a Bíblia ensina. Voltando a sacramentalidade,  as escrituras são lidas e buscadas como um lugar de ação divina, como meios da graça, como se um poder transformador conduzido pelo Espírito Santo, numa parte da pedagogia do desejo.

Através do culto, as últimas palavras de Cristo na cruz são lidas com uma breve meditação, e algumas vezes com uma expressão musical. Levando em conta que historicamente a adoração cristã é fundamentalmente formativa, porque ela educa nossos corações através de nossos corpos- que acaba renovando a nossa mente-. E faz tudo isto, numa forma que é mais acessível universalmente , e o autor conclui que é muito mais efetiva universalmente, que muitas das formas de adoração cognitiva que temos obtido na modernidade.

Assim, as doutrinas, credos e cosmovisão cristã emergem do nexo das práticas de adoração cristã. É fundamental para o autor, que  a adoração seja vista como a matriz da fé cristã, e não como sua expressão ou ilustração.

A prática da adoração cristã é muito boa para afastar, ser contrária ao dualismo gnóstico, que deixa nossos corpos e matéria como coisas inerentemente más, e ao reducionismo naturalista, que deixa o mundo como meramente natural. Assim, a imaginação sacramental implícita na adoração cristã pode evitar as dicotomias do naturalismo e do supernaturalismo. Existe, então, no entender do autor, uma curiosidade possiblidade que a sacramentalidade aprendida na adoração cristã pode nos ensinar a bondade da criação e a sacramentalidade do mundo, podendo então marginalizar a igreja, isto é possível porque pode existir uma tentação de naturalizar a liturgia como uma prática corpórea como qualquer outra – um outro tipo de nivelamento. Contudo, a adoração cristã mais que um convite a participar junto com a igreja da vida do Deus que é trindade.

Adoração, lembra o autor, que não é para mim- não é primariamente uma experiência que vem satisfazer minhas necessidades, nem deve ser reduzida também a uma pedagogia do desejo- que seria um jeito mais sofisticado de construir uma adoração para mim-.Ao invés disso, a adoração é sobre e para Deus. Isto é dizer, que Deus é tanto sujeito como objeto da adoração, a ênfase deve ser o Deus triuno. De modo que a adoração é um encontro medidado com o Deus trino, que compassivamente encontra a gene naquilo que criamos, e nisto, ele é um Deus ativo.

Pensando com o autor, ele lembra que nós somos chamados para ser um povo de memória, que somos moldados por uma tradição que é um milênio mais velha que a última lista da Billboard,  nós também somos chamados de povo da expectação, orando e buscando pelo reino vindouro, que irá romper com o nosso presente como um ladrão na noite. Aqui desenhada não é uma sociedade voluntária daqueles cuja principal preocupação é a partilha, a construção de uma comunidade para apenas desfrutar companheirismo e ter instrução moral para seus filhos, o objetivo é mais além do que uma boa vida moral. Ao contrário, é uma sociedade de escolhidos, redimidos, chamados, justificados, que estão sendo santificados até que um dia eles venham a ser glorificados.

Smith coloca que os encontros da igreja, são um ato de esperança escatológica que vale por uma espécie de desafio, enquanto as pessoas e as cores da nossa congregação juntas poderiam sempre nos lembrar que o reino continua a vir, o Espírito Santo também nos chama a superar o momento, lembrando a gente, que apesar das falhas e defeitos internos de nossos ajuntamentos, no mesmo momento, o coro mundial parece com o grande coral do reino, que nos leva a ser um povo que parece cada vez mais com a grande multidão que ninguém pode contar, de todas as nações, de todas as tribos, de todas as línguas que estão de pé diante do trono do Cordeiro, como está descrito em apocalipse.

Disto apreendemos, que não é apenas um chamado para algo religioso, algo que apenas adicionamos a nossa vida normal. É muito mais que isto, é um chamado para ser (e tornar-se) humano realmente, para completar a vocação de ser completamente e plenamente humano, e para ser uma comunidade e um povo que refletem a imagem de Deus neste mundo. O chamado para adoração é um eco da palavra de Deus que chama a humanidade para ser aquilo que ela sempre deveria ter sido: humana. Refletir a imagem de Deus, então, envolve representa-lo e, talvez, alargar de alguma forma, o governo de Deus sobre a terra através da práticas ordinárias comuns da vida sociocultural humana.

Quando nos reunimos, estamos respondendo a um convite à adoração, esta chamada é um eco e a renovação do convite da criação para sermos portadores da imagem de Deus para o mundo, e assim, nós cumprimos a missão de ser portadores da imagem de Deus,  quando assumimos comprometimento com a decisões no fazer cultura. Smith recorda que a bênção aqui é tanto uma afirmação como uma atribuição: na criação, Deus comissionou a humanidade para ser seus portadores da sua imagem em governando corretamente a criação, em adição a isto, a bênção de Deus também conferiu a nós, poder e sustento.

Worship is a space of welcome because we are, at root, relational creatures called into relationship with the Creator, in order to flourish as a people who bear his image to and for the world. In response to God's gracious (loc. 2023)

 

Por exemplo, o autor diz que através da prática de cantar, as disposições e crenças expressas nas palavras do hinos de gratidão, seja a confiança, a tristeza, a alegria, a esperança, elas ficam unidas com nossos corpos como partes integrantes da teologia em que vivemos, há uma integração corpórea com a adoração. Mesmo quando ele diz que o culto cristão é escatológico, ele está enfatizando que existe uma antecipação da vinda do reino, contudo, deve-se lembrar que a esperança cristã não é uma existência somente espiritual em um paraíso desencarnado, mas uma renovada e ressuscitada existência em uma nova terra.

Desta forma, a lei vista sobre o ângulo desta adoração cristã, é pensada como um convite de Deus para viver uma vida de obediência por gratidão, ou seja, a lei divina não é uma restrição severa contra a nossa vontade, mas um convite para encontrar paz e descanso, como Agostinho chamaria de o direito de ordenação da nossa vontade.

James K.A. Smith alia-se ao pensamento agostiniano de que a criação foi criada para algo, para um final particular imaginado pelo Criador, como o próprio Agostinho diz “fizeste-nos para si mesmo,nosso coração está inquieto até não encontrar descanso em Ti”. A proclamação da lei e a leitura da vontade de Deus para nossas vidas representam um desafio significativo para o desejo nosso de autonomia, que a gente pressiona através da liturgias seculares.  Contra isto,  a adoração cristã nos chama para a confissão aberta, onde somos honestos com Deus sobre nossas transgressões, e conforme sua lei, onde estão as violações nossas ao seu direito.

Assim, uma ação desordenada é um reflexo e um fruto do desejo desordenado, como diz o pensamento agostiniano, e os nossos desejos que são mal direcionados constituem tanto uma violação e transgressão, que são ações pecaminosas.

Abrindo um parêntese aqui, é bom relembrar que o mal para Agostinho é um desejo desordenado ou excessivo sobre algo, quer seja bom ou mau, ou seja, um transtorno do seu amor. Esta desordem no amor afeta a vontade no modo de frustrar a tendência  a tendência para a realização do ser como tal, e assim fica um ser deficiente. Neste sentido, a vontade não é livre totalmente, ela sempre caminha em direção a um objetivo ou objeto, ao amor a alguma coisa ou algo, como explana Smith a partir de Agostinho aqui. No entanto, cabe ressaltar que Deus dá uma liberdade na decisão para Agostinho, contudo, seja no estado original ou no decaído, o homem precisa da ajuda de Deus para tornar-se uma vontade benevolente nesta escolha, sempre disponível para que sua decisão seja santa.

Como explica o autor de Desiring The Kingdom, para que a nossa fragilidade e violência sejam encontradas pela graça de Deus, ele teve que sofrer a violência e fragilidade para o nosso bem, e por conta disso, nos habilita para a reordenação dos nossos desejos, afim de recalibrar nossos objetivos finais, com o propósito de podermos assumir mais uma vez nossa verdadeira vocação como seres humanos, sendo portadores da sua imagem para o mundo.

 

Como isto acontece? Quais são as liturgias de contra-ataque do Reino de Deus?

O batismo é um rito de iniciação em que o povo se efetiva na constituição do povo de Deus. O autor o pensa como um sacramento, e citando Leithart, o batismo em si anuncia a formação de uma polis, que oferece-se como sacerdócio para a plebe. Nosso batismo sinaliza que somos novas criaturas, com novos desejos, com uma nova paixão por um reino muito diferente, portanto, devemos renunciar – e nos manter renunciando- os nossos antigos desejos.

Quando nós nos comprometemos que Jesus é o Senhor, e não mais o imperador Cesar, nem o primeiro-ministro, nem o presidente ou presidente do Banco Central, estaremos envolvidos num ato político- aqui, o autor lembra que o batismo nos constituiu como uma nova poli, e que o credo batismal foi um documento dessa constituição. Levando-se em conta que aquilo que acreditamos não é uma questão, talvez, de intelectualizar a salvação, mas sim uma questão de saber o que é o amor, sabendo a quem juramos lealdade, e conhecendo o que estará em jogo para nós, como povo da cidade batismal com novas práticas sociais e novas confianças, por exemplo, o autor diz que a prática dos bancos de oração a Deus é superior ao nosso espaço de adoração, ela transcende os limites do tempo e do lugar que achamos na adoração comunitária, e tal como o Criador do universo, demonstra que estamos interessados e preocupados com as realidades concretas que enfrentamos aqui na nossa finitude.

Na oração de intercessão, somos lembrados que somos chamados, mesmo escolhidos, como as pessoas não para nosso próprio bem, mas para o bem do mundo, como os indivíduos envolvidos na oração intercessora, somos chamados para fora de nós mesmos e  dos nossos próprios interesses à preocupação com o outro (cf. Fp. 2:4-11), por vezes, nesta oração de intercessão estamos ecoando a confissão através de palavras que busquem articular a visão de justiça que está no cerne da visão bíblica do “shalom”.

Na oração também segundo o autor pode ocorrer que enquanto nos preparamos para ouvir a Palavra proclamada, ela nos leve para uma posição de iluminação sobre os desafios à nossa confiança na nossa própria razão auto-suficiente. Esta provém de uma consciência de que a sabedoria não é algo simplesmente disponível, à mão, e na prateleira para ser apanhada no nosso prazer, a sabedoria vai além daquilo que achamos confortável ou que está nos limites de nossas forças.

Continuando, para James K.A. Smith, a Bíblia Sagrada teria  uma função de script do culto da comunidade, uma história que narra a identidade do povo de Deus, a constituinte da cidade batismal e, também, o combustível da imaginação cristã. O autor enfatiza sempre que os seres humanos são animais litúrgicos, cujo desejo é formado por rituais de coisas supremas que descrevemos como liturgias. Então, a história bíblica situada no contexto do culto da igreja preenche e específica o telos – a finalidade- do povo do reino de Deus como ele deve parecer, e assim, articula o telos no que tange as virtudes dos cidadãos da cidade de Deus, nos mostra o tipo de pessoas que somos chamados a ser.

Neste particular, outro pai da igreja é citado, Orígenes, que foi capaz de ver claramente que os gentios convertidos à fé cristã, era necessário para eles que suas mentes fossem re-feitas,  assim como também em Paulo, a instrução de ler as Escrituras estava no cerne da prática pastoral, desta forma, os gentios precisavam ser iniciados em práticas de leitura, tal como Israel as recebia como se fossem própria deles também, gentios. Então, quando nos deparamos com as Escrituras no culto, somos convidados em seu desenvolvimento e, assim, iniciados numa nova forma de leitura do mundo.

Nesta releitura do mundo ou novo modo de enxergar as coisas, a Santa Ceia, conforme o autor, é uma performance tangível e visível de uma prática que nos afeta profundamente, porque ela é vista e cheirada, tem seus ritmos e movimentos, uma série de coisas que entra dentro de nossa imaginação, e se torna uma segunda natureza nossa. Então, quando o pão é colocando sobre a mesa, há por trás daquilo, um conhecimento agrícola, alimentar e, até mesmo, tecnólogo no fundo… O autor aqui brilhantemente enxerga que na criação não nos foi dado apenas usar os produtos em seu estado natural, mas também a capacidade de transformá-los para o enriquecimento da vida do ser humano, não apenas como guardião do que existe, mas também como criar daquilo que ainda não é, não é só para comer, mas também para assar, conclui o estudioso.

Então, na bênção do pão e nas graças por isso, Jesus não só santifica as coisas da terra, mas também está consagrando o produto das nossas mãos. A Ceia do Senhor é um antegozo do banquete no reino, o que significa que seu significado tem de ser situado dentro de um horizonte escatológico.

A Ceia é comunhão graciosa com um perdão a Deus, mas também é uma ceia comemos uns com os outros, e que também vai exigir perdão. projeto de Deus para o desenvolvimento humano não podem ser satisfeitas de forma isolada. Criaturas como dependente, social, somos criados para a comunidade.

A partir deste ponto, o autor coloca que uma comunidade em forma de reino não pode ser satisfeita com a iniciativa privada, isolada de alguns indivíduos reconciliados, de forma apenas vertical a Deus, a comunidade deve buscar uma expressão horizontal também, através do testemunho manifesto, pela reconciliação no amor ao próximo. Neste mundo quebrado e fragmentado, a igreja é chamada para ser as primícias  da nova criação, encarnando uma comunidade reconciliada, de forma que começamos a aprender o que está disposto na mesa da comunhão.

Assim como a adoração toca em nossos físicos, também deve tocar em nossos bolsos, pois temos assim que a adoração é mundana, ela abrange todas atividades e esferas da nossa vida, seja emocional, seja financeira.Sobre ofertas e dízimos, ou melhor dizendo, a vinculação financeira da nossa adoração, não é uma simples troca ou compra,  como muitos acreditam, ou como diz o autor, os antropólogos marcianos. Porque não há qualquer proporcionalidade ou reciprocidade aqui, pois há uma distância imensa entre os presentes que recebemos e os presentes que oferecemos numa chamada troca. De forma que a ekklesia é distinta pelos seus  processos muito diferentes e os critérios estranhos que possui para a distribuição de bens e riquezas . Sendo que o reino é vislumbrado como uma economia onde podemos comprar vinho e leite sem dinheiro, onde os alimentos ricos estão disponíveis de graça para todos.

O culto cristão é visto pelo autor como uma escola afetiva, uma pedagogia do desejo, em que nós não aprendemos apenas a ser espiritual ou religioso, mas a sermos humanos. Como levarmos em conta a vocação que nos foi dada na criação. E agora, somos enviados a partir desta prática para a arena que é o mundo real, indo até lá para sermos testemunhas, portadores da imagem de Deus, pessoas que cultivam o mundo de uma forma que demonstre o trabalho perfeitamente cultural de Jesus.

Nesse sentido, a igreja deve ser vista como um centro cultural e não apenas uma estação espiritual de enchimento ou um hospital para a alma. Ela é o centro cultura da cidade batismal, a cidade de Deus. Se nós pudéssemos começar a enxergar as práticas culturais pelo que elas realmente são, isto é, como se nós disséssemos a elas: “eu vejo que você que está fazendo isto…” Então, este reconhecimento juntamente com a participação intencional no culto cristão, podem diminuir (mas, não eliminar) o poder formativo das liturgias seculares.

O desafio da quantidade de imersão que temos observado, é que uma comunidade cristã que procura ser uma força cultural, precisamente por se tornar um exemplo vivo de uma nova humanidade, deverá considerar a abstenção na participação de algumas práticas culturais que os outros consideram normais. O autor começa a considerar o monasticismo de algumas práticas como uma forma de expressão de contra-cultura. Contudo, tal monasticismo não seria um recuo para a segurança de uma igreja fortaleza isolada – Agostinho, mais uma vez, aconselha sobre a importância de mosteiros urbanos bem no meio do corre-corre-. A igreja também não pode se abrigar num sentimento retirada piedosa. O autor estabelece que a abstenção não é sinônimo de reclusão. Contudo, também não se trata de um projeto triunfalista de mudar o mundo.

Assim James K.A. Smith define as práticas cristãs como aquelas coisas que as pessoas cristãs fazem juntas ao longo do tempo em resposta e à luz da presença ativa de Deus na vida do mundo. As práticas cristãs estão além do domingo, podem ser melhor entendidas como extensões das práticas litúrgicas da reuniões de culto, elas são importantes e formativas, porque e na medida em que se desenham no poder formador das práticas especificamente litúrgicas em geral. Ou, pensando de forma oposta, as práticas extra dominicais se enfraqueceriam caso não estivessem ligadas às práticas litúrgicas da adoração comunitária eclesial, poderiam até se tornar substitutos enfraquecidos do culto.

 

As práticas da adoração cristã funcionam como um altar da formação cristã, o coração e a alma, o centro de gravidade da tarefa do discipulado. Contudo, a energia e o poder formativo da reunião de adoração é estendido e ampliado para as “capelas” em torno da catedral- nos diferentes encontros e práticas das comunidades cristãs e amigos que juntos, de forma intencional, buscam uma vida formada pelo Espírito, envolvida em práticas formativas que estão empenhadas em nos fazer o tipo de pessoas que desejam o reino. (Loc. 2608-11 )

Uma das bases funcionais do livro, conforme o autor, é entender que nós, seres humanos, somos animais litúrgicos cuja orientação fundamental para o mundo não estaria regulada por aquilo que pensamos, principalmente. Contudo, estaria ligada ao que amamos, o que nós desejamos. Nossas ligações no estar-no-mundo estão fundamentalmente associadas aos desejos do coração. Nossos amores e desejos são destinados e dirigidos por hábitos que nos torna certos tipos de pessoas moduladas a partir de certas visões do bem da vida, que seriam visões particulares do reino, este poderia ser um resumo do primeiro capítulo do livro.

Estes hábitos são formados por práticas que treinam o nosso desejo, alimentando a nossa imaginação a partir do concreto, de rituais materiais. Essa formação é em grande parte afetiva e pré-cognitiva, molda nosso inconsciente adaptativo, contudo, porque somos seres afetivos e criaturas criativas, estas criações se tornam mais poderosas e eficazes- e também, elas se engendram de forma encoberta e subterrânea.  Sendo que algumas destas práticas são mais visíveis que outras,  que seriam os rituais de maior preocupação que estão empenhados em moldar as nossas vontades e nossos desejos mais fundamentais, tentando nos fazer o tipo de pessoas que aspiram a uma visão de reino que é contrária ao Reino de Deus.

Aqui, entra a importância da adoração segundo Smith, numa reconsideração do que está em jogo na adoração cristão, a preocupação do autor foi, fundamentalmente, a de enfatizar que o cristianismo não seria apenas e nem principalmente um conjunto de competências cognitivas, uma crença inebriante, o cristianismo não pode ser visto como fundamentalmente uma visão de mundo, deve ir além do nível cognitivo, e materializar como desejo e amor para ser completo, eis a importância da adoração, como prática que abrange  o ser humano por completo.

Citando Bento XVI, enquanto Ratzinger, que diz:  "O cristianismo não é um sistema intelectual, uma coleção de dogmas ou  um moralismo. Cristianismo é, em vez de um encontro, uma história do amor, é um evento” (loc. 2625).

Então inverte-se o pressuposto a respeito da cosmovisão intelectual e a adoração, as práticas cristãs, particularmente as práticas do culto e adoração cristãs são a matriz para o que pode ser articulado como uma cosmovisão cristã. De forma que o culto cristão é visto, pelo autor, como sua própria pedagogia do desejo, instaurando uma contra-formação para as liturgias seculares em que estamos imersos.  Assim, está implícito e incorporado em nossa participação da adoração cristã sua distinção e riqueza que contribui e cria um imaginário social.

 

Como o autor coloca uma educação cristã? Ou, como ser uma universidade cristã?

No último capítulo, seguindo a linha de raciocínio presente no livro, o autor se opõe ao modelo atual de educação cristã que parte da cosmovisão cristã como formadora cultural.  Para ele, quando o cristianismo da educação cristã é reduzido aos elementos intelectuais de uma cosmovisão cristã ou de uma perspectiva cristã, o resultado é o cristianismo transformado em um sistema de crenças que a pessoa humana pode concordar ou não, sem qualquer mediação da igreja em si. Contudo, se o objetivo do culto e do discipulado cristã é a formação de um povo peculiar, a proposta do ensino cristão deve ser a mesma. Então, a tarefa da educação cristã deve ser reconectar às práticas litúrgicas da igreja, a adoração deve ser o princípio da educação e não idéias.

 

 

 

 

 

Table of Contents

introduction
Beyond “Perspectives”: Faith and Learning Take Practice
Making the Familiar Strange: A Phenomenology of Cultural Liturgies
The End of Christian Education: From Worldview to Worship (and Back Again)
Picturing Education as Formation in Orwell’s Road to Wigan Pier
Elements of a Theology of Culture: Pedagogy, Liturgy, and the Church
PART I. DESIRING, IMAGINATIVE ANIMALS: WE ARE WHAT WE LOVE
Chapter 1
Homo Liturgicus: The Human Person as Lover
From Thinking Things to Liturgical Animals
From Worldviews to Social Imaginaries
From Spheres to Aims: Liturgical Institutions
Chapter 2
Love Takes Practice: Liturgy, Formation, and Counter-Formation
Why Victoria’s In on the Secret: Picturing Discipleship at the Moulin Rouge
“Thick” and “Thin” Practices: Ritual Forces of Cultural Formation
Formation, Mis-Formation, and Counter-Formation: Liturgies Secular and Christian
Chapter 3
Lovers in a Dangerous Time: Cultural Exegesis of “Secular” Liturgies
“Reading” Culture Through the Lens of Worship
Consuming Transcendence: Worship at the Mall
Marketing (as) Evangelism: Picturing the Liturgy of Consumerism in The Persuaders
Sacrificial Violence: The “Military-Entertainment” Complex
Cathedrals of Learning: Liturgies of the University
Picturing the University’s Liturgies in Wolfe’s I Am Charlotte Simmons
Apologetic Excursus: The Persisting Witness of Idolatry
Picturing Resistance in 1984
PART II. DESIRING THE KINGDOM: THE PRACTICED SHAPE OF THE CHRISTIAN LIFE
Chapter 4
From Worship to Worldview: Christian Worship and the Formation of Desire
The Primacy of Worship to Worldview
The Sacramental Imagination: Resisting Naturalism and Supernaturalism
Picturing the Sacramental Imagination in Graham Greene and Anne Sexton
Excursus: The Shape of Christian Worship
Chapter 5
Practicing (for) the Kingdom: An Exegesis of the Social Imaginary Embedded in Christian Worship
Liturgical Time: Rhythms and Cadences of Hope
Call to Worship: An Invitation to Be Human
God’s Greeting: Hospitality, Community, and Graced Dependence
Baptism: Initiation into a Royal Priesthood/Constitution of a New People
Song: Hymning the Language of the Kingdom
Confession: Brokenness, Grace, Hope
Law: Order, Norms, and Freedom for the Good
The Creed: Situating Belief
Prayer: Vocalizing Desire
Scripture and Sermon: Re-narrating the World
Eucharist: Supper with the King
Offering: Kingdom Economics
Sending: The Great Commission as Cultural Mandate
Worship, Discipleship and Discipline: Practices Beyond Sunday
Chapter 6
A Christian University is for Lovers: The Education of Desire
A New Monasticism for the University: Why Christian Colleges Should Corrupt the Youth
Christian Education Takes Practice: Three Monastic Opportunities
Excursus: Christian Worship as Faculty Development: From Christian Scholars to “Ecclesial” Scholars

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