terça-feira, julho 12, 2011

Dietrich Bonhoeffer: O seguimento e a cruz


Partindo de Marcos 8,31-38, Bonhoeffer inicia o 4o. Capítulo do Discipulado,  a chamada encontra uma relação com a paixão. Jesus deve sofrer e ser recusado, o imperativo é que se cumpra a Escritura. Sofrer e ser recusado não são a mesma coisa, a dor dele poderia provocar admiração e piedade, contudo, ele foi recusado em dor. A recusa deixa o sofrimento sem dignidade e honra, sofrer e ser recusado sintetiza a cruz.

O que Pedro fez mostra que desde do princípio a igreja se tem escandalizado de Cristo sofredor, não quer a tal Senhor, não querem que imponha a lei do sofrimento. Com isto, satanás penetra na igreja, quer aparta-la da cruz do Senhor.  

O seguimento em quanto vinculação a pessoa de Cristo situa o seguidor debaixo da lei de Cristo, debaixo da cruz. Se alguém quer o seguir, negue-se a si mesmo,  a negação de si mesmo não consiste em uma multidão de atos isolados ou de exercícios ascéticos,tampouco suicídio.

Negar-se a si mesmo é conhecer somente a Cristo, não a um mesmo, significa que fixamos somente naquele que nos precede, não no caminho que nos resulta tão difícil. Ele vai adiante, mantemos firmes unidos a Ele.

Tome sua cruz, se temos deixado a nós mesmos, estamos dispostos a levar a cruz por amor a Ele. Se somente conhecemos a Ele, conhecemos as dores da nossa cruz, somente vemos a Ele. Jesus nos deixou em condições de ver a graça nestas palavras duras, a alegria do seguimento. A cruz não é o mal e o destino penoso, senão o sofrimento que resulta para nós unicamente do ato de estarmos vinculados a Ele. É necessário, não está vinculado a existência natural, mas ao fato de sermos cristãos. 

A cruz não é apenas sofrimento, mas também recusa. Ser recusado por amor a Jesus, não por outra causa. Um cristianismo de consolo barato entende a cruz como um mal quotidiano, como a miséria e o medo da nossa vida natural. Se esquece que a cruz significa ser recusado, que o opóbrio do sofrimento forma parte da cruz.

A cruz é um com-sofrer com Cristo, cada um tem sua cruz preparada, que Deus destina e prepara. O primeiro sofrimento de Cristo é a chamada que nos convida a liberarmos as ataduras desse mundo. A morto do velho homem. A cruz é o começo da comunhão com Ele. Todo mandamento dEle nos orden a morrer para nossos desejos e apetites. 

O batismo nos lembra isto, situam o cristão no seu combate diário. Cada dia, com suas tentações da carne e do mundo, as feridas que nos são infligidas nesta luta, são sinais vivos da comunidade de Cristo na cruz,

Bonhoeffer lembra que só o sofrimento de Cristo é reconciliador, contudo, como ele sofreu pelo pecado do mundo, o peso da culpa caiu sobre ele, ele tem imputado o fruto do seu sofrimento a todos os que o seguem, a tentação e o pecado também sobre o discipulo, que o expulsam. 


O autor coloca que desta feita o cristão se converte em portador do pecado e da culpa em favor dos outros homens, sustentado por aquele que levou o pecados de todos, contudo, na força do sofrimento de Cristo, é possível triunfar os pecados que recaem sobre ele, na medida em que os perdoa. O cristão se transforma em portador das cargas(Gl 6, 2).


Devo levar o peso do meu irmão, isso inclui seu pecado, a chamada para levar a cruz situa o crente na comunhão do perdão dos pecado. O perdão dos pecados é o sofrimento de Cristo ordenado aos discípulos. Bonhoeffer retoma o tema que elaborou mais detalhadamente em Vida em Comunhão.

Quem não quer carregar sua cruz, quem não quer entregar sua vida a dor e ao desprezo dos homens, perde a comunhão com Cristo, não o segue. Contudo, quem perde sua vida no seguimento, levando a cruz, a voltará a encontrar neste mesmo seguimento, na comunhão da cruz com Cristo. (p. 57) 



Sobre Mt 26,39.42, Bonhoeffer diz que o cálice do sofrimento passa dele, contudo quando ele bebe. Sabe que o sofrimento passará na medida em que sofre, sua cruz é seu triunfo.

O sofrimento é o alheiamento de Deus, ele toma sobre si o sofrimento do mundo inteiro, triunfa sobre ele, carrega com ele todo o distanciamento de Deus, o cálice passa porque ele o bebe, quer vencer o sofrimento do mundo, mas precisa experimenta-lo por completo. Na comunhão com o sofrimento de Cristo, o sofrimento triunfa sobre o sofrimento, se outorga a comunhão com Deus precisamente na dor.

A igreja agora sabe que o sofrimento do mundo busca a alguém que o leve, de forma que no seguimento de Cristo, o sofrimento recai sobre a igreja e ela o leva, sendo levada ao mesmo tempo por Cristo. Ela representa o mundo diante de Deus na medida que segue carregando a cruz. 

Deus é um Deus que leva. Levou nossa carne, a cruz, nossos pecados, nos trouxe a reconciliação. Chama-nos para levar, e assim, conservar a comunhão com o Pai.


O homem que se livra desta carga, leva o jugo de seu próprio eu, de penas e fadigas. Jesus os chama para carregar o seu jugo, que é suave, seu peso que é leve. Seu jugo e seu peso é a cruz. Ir debaixo dela não significa miséria ou desespero, senão recreio e paz para as almas, é a alegria suprema. Debaixo dele, temos a certeza de sua proximidade e de sua comunhão. 

Um comentário:

Ivar A. Queiroz disse...

As vezes eu ficava pensando em fatores não fideístas que diferenciam o sacrifício de Jesus do sacrifício de outros. Um deles é essa recusa, enquanto estadistas criavam mártires quando castigavam e matavam os revolucionários; Com Jesus foi diferente, embora ele tivesse seguidores, foi recusado por sua nação e nos momentos de perseguição até os seguidores o negaram. E ainda hoje muitos que se dizem seus seguidores o negam no dia a dia com seus testemunhos, preferências e atitudes.